
Linha adotada pelo petista é de demonstrar preocupação com violações de direitos humanos, mas defender posição construtiva
Governo Lula afirma estar preocupado com ‘sérias violações de direitos humanos’ na Nicarágua, como ‘execuções sumárias, detenções arbitrárias e tortura contra dissidentes políticos’, mas não usa termo adotado por peritos da ONU para se referir aos crimes do regime de Daniel Ortega e sugere ‘saída construtiva’
O governo brasileiro anunciou nesta terça-feira (7), durante participação no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, que vai receber cidadãos da Nicarágua que perderam sua nacionalidade após decisão do presidente ditatorial Daniel Ortega.
“O governo brasileiro se coloca à disposição para receber as pessoas afetadas por essa decisão nos termos da Lei da Migração brasileira”, disse o embaixador do Brasil na ONU, em Genebra, na Suíça, Tovar da Silva Nunes.
Ortega voltou ao poder em 2007 após ter presidido o país pela primeira vez entre 1985 e 1990. No ano passado, ele conquistou seu quinto mandato, o quarto consecutivo. Ele era um conhecido guerrilheiro, preso repetidas vezes por crimes que incluem um assalto à mão armada a uma filial de um banco norte-americano em solo nicaraguense.
A linha do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo diplomatas envolvidos no caso, será a de demonstrar preocupação com as violações de direitos humanos na Nicarágua, mas ainda defender uma “posição construtiva” do Brasil no trato com o regime ditatorial.
Na sexta-feira (3), o Brasil não aderiu à declaração que denunciou crimes contra opositores de Ortega apurados por especialistas independentes. Há governos de esquerda que estão entre os signatários do documento, como o chileno e o colombiano.
Ao longo da semana passada, houve um esforço por parte do Brasil para que o texto e as discussões contemplassem a perspectiva de uma tentativa de saída negociada. A diplomacia brasileira diz se incomodar com a indicação de aumento de pressão máxima internacional — quando países começam a adotar sanções, por exemplo, ou medidas unilaterais — sem previsão de mediação.
Após o resultado do primeiro turno das eleições brasileiras, Ortega publicou uma carta em apoio a Lula. Na mensagem, que usa pronomes neutros de linguagem, o ditador e sua mulher, Rosario Murillo, que também ostenta o cargo de vice-presidente, reforçam que ‘estão juntos’ com o petista.
“Este primeiro momento de triunfo para as famílias e o povo do Brasil, que se levantam com esperança e as vozes de gigantes, anima e alenta a tod@s nós. Parabenizando você e o Brasil, nos congratulamos sabendo que o mundo pertence a quem luta e que estamos realizando as transformações necessárias, com coragem diária. Estamos com vocês…”, segue o ditador.
*Com informações da Agência Estado