O influenciador Pablo Marçal (PRTB) ultrapassou o prefeito Ricardo Nunes (MDB) entre eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mostra pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (22).
Marçal agora lidera com folga as intenções de voto entre os eleitores de Bolsonaro, com 44%, frente a 30% de Nunes. No levantamento anterior, realizado no início de agosto, o influenciador tinha 29%, e o prefeito, 38%.
Entre os que se declaram como bolsonaristas, Marçal subiu de 25% para 46% no mesmo período, enquanto Nunes variou de 37% para 26%.
Já entre os eleitores de Tarcísio, o empresário agora reúne 41% das intenções de voto, em comparação a 28% do prefeito. No início do mês, Marçal tinha 25% entre o grupo, enquanto Nunes somava 42%.
O Datafolha entrevistou pessoalmente 1.204 eleitores nesta terça (20) e quarta-feira (21). A pesquisa foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número SP-08344/2024. A margem de erro total é de três pontos percentuais e sobe para cinco pontos entre os eleitores de Bolsonaro e de Tarcísio, para cima ou para baixo. A pesquisa foi encomendada pela Folha de S.Paulo e pela TV Globo.
Quase todas as variações citadas, portanto, ocorreram fora da margem de erro -exceto a oscilação de Nunes para baixo entre os eleitores do ex-presidente.
Já entre os eleitores do presidente Lula (PT), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) segue liderando com folga, com 44% das intenções de voto. A marca fica muito acima dos 14% de Nunes, dos 10% de Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) e dos 5% de Marçal nesse grupo, no qual a margem de erro é de quatro pontos.
Ao longo dos últimos meses, o influenciador tem ativado símbolos que são caros para o eleitor do ex-presidente, aproveitando-se do baixo entusiasmo de apoiadores de Bolsonaro com a candidatura do prefeito.
Nunes não empolga os aliados de Bolsonaro por ser visto como alguém que evita o confronto e que não é verdadeiramente alinhado às pautas do grupo, apesar de ser oficialmente o candidato do ex-presidente, que indicou para vice Ricardo Mello Araújo (PL), ex-comandante da Rota.
Nas últimas semanas, Bolsonaro e seu entorno estavam incomodados com o prefeito por dois motivos. Um foi o apoio de Nunes à ex-deputada federal Joice Hasselmann (Podemos), hoje candidata a vereadora, considerada “persona non grata” por bolsonaristas desde que rompeu com o grupo em 2019.
Outro diz respeito ao fato de que, mesmo depois de ter aceitado o indicado de Bolsonaro a vice, o prefeito vinha evitando explorar a imagem do ex-presidente em sua campanha. Nunes segue numa corda bamba: precisa do eleitorado bolsonarista, mas teme herdar a rejeição do aliado e perder votos do campo moderado.
O ex-presidente chegou a elogiar Marçal em entrevista à Rádio 96 FM, de Natal, no dia 15 de agosto. Ele disse que o influenciador “fala muito bem”, é “uma pessoa inteligente” e “tem suas virtudes”. Afirmou, ainda, que o prefeito não é o “candidato dos sonhos”, ainda que tenha assumido o compromisso de ajudá-lo.
Poucos dias depois, porém, Bolsonaro ajustou o discurso e afirmou à CNN que Marçal mentiu ao dizer que nunca buscou seu apoio. No início da semana, o PL publicou nas redes um vídeo no qual o ex-presidente reforça o apoio à candidatura de Nunes.
Segundo uma pessoa próxima de Bolsonaro, caciques partidários pressionaram o ex-presidente a manifestar, mais uma vez, que está com o prefeito. O pedido teria partido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, do presidente do PP, Ciro Nogueira, e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Tarcísio já manifestou a aliados, diversas vezes, preocupação com o crescimento do influenciador. Ele foi peça-chave no processo de aceitação de Mello Araújo como vice de Nunes, defendendo que a indicação seria importante para amarrar o ex-presidente com o prefeito e estancar a onda Marçal.
Nos últimos dias, o influenciador, Bolsonaro e seus filhos têm entrado em confronto nas redes. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) partiu para o ataque, pedindo em vídeo que apoiadores “tomem cuidado”. Ele citou suspeitas que ligam a sigla de Marçal à facção criminosa PCC e associou a conduta do influenciador a uma tentativa de “lacração”.
“Começa a perder um pouco da moral para ficar fazendo aquela gracinha acusando os outros de cheirador. Inclusive falou que havia dois, e um não apontou quem é. Enfim, tem gente que gosta da lacração”, disse.
Nesta quinta-feira (22), a discussão continuou. Eduardo repercutiu comentário de Marçal em que que disse que a situação já estava resolvido com Bolsonaro. “Se tivesse resolvido com meu pai não precisaria editar meu vídeos retirando-os de contexto para enganar eleitores de Bolsonaro de que eu vou votar em você. Isso é estelionato eleitoral”, rebateu o deputado federal.
Marçal também trocou farpas diretamente com o ex-presidente. Ele comentou em uma publicação de Bolsonaro: “Pra cima capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós”. O ex-presidente então respondeu: “Nós? Um abraço.”
O influenciador, então, disse que doou R$ 100 mil para a campanha de Bolsonaro em 2022 e o ajudou com a estratégia digital. “Entendo sua palavra ao Valdemar Costa Neto [presidente do PL], mas a honra e a gratidão são frutos de um homem sensato (…) Se o capitão quiser me tirar do ‘nós’, me ajude devolvendo os 100 mil reais depositando na minha campanha aqui de prefeito a São Paulo”, afirmou.
Folha de São Paulo