O ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), afirmou em entrevista à CNN Brasil que o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido atualmente integrante da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não fará parte do bloco de apoio ao petista na próxima eleição presidencial, em 2026. Segundo o ministro, o cenário político em São Paulo sugere uma configuração desfavorável para a permanência da legenda em um possível quarto mandato do petista.
“O MDB está na Prefeitura de São Paulo e está no governo de São Paulo. E essa somatória, a Prefeitura de São Paulo e o governo de São Paulo, eles se juntarão para montar o ovo da serpente que virará o adversário do Lula na próxima eleição”, afirmou França.
Ele acrescentou que, em seu lugar de Lula, não firmaria uma aliança com o MDB. “Cachorro mordido por cobra tem medo até de salsicha. Se eu tivesse que construir uma nova relação, não seria com o MDB”, disse, fazendo referências ao passado.
Quando do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, quem assumiu o cargo foi Michel Temer, vice dela e que até hoje faz parte da legenda. O então presidente da Câmara e um dos principais articuladores do processo de impedimento da ex-presidente era Eduardo Cunha, também do MDB. Dos 66 deputados que eram do partido, 55 votaram a favor da destituição da petista, enquanto apenas 7 votaram contra; o restante se absteve ou estava ausente.
No Senado, Renan Calheiros, presidente da Casa na época, teve postura ambígua durante o processo. Embora tenha permitido o andamento do processo no Senado, ele adotou uma postura de aparente neutralidade e evitou uma posição pública forte, buscando preservar a “institucionalidade” da Casa.
Ainda assim, a bancada do MDB no Senado apoiou, em sua maioria, o afastamento definitivo de Dilma. Dos 18 senadores do partido, 13 foram a favor da cassação definitiva da petista, ante apenas 2 contrários.
França ainda pontuou que, apesar de haver membros do MDB no Nordeste simpáticos a Lula, o controle do partido está nas mãos de figuras alinhadas com a oposição. “O MDB está na mão do Tarcísio, que por sua vez está na mão do (Gilbero) Kassab, do Valdemar (Costa Neto, presidente do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro). É uma opção, eu acho que é legítimo, mas esse grupo estará contra a gente na próxima eleição”, afirmou.
Nomes do partido divergem sobre 2026
Integrantes do próprio MDB divergem sobre continuarem ou não apoiando o presidente Lula em 2026. Em entrevista ao Estadão, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, foi taxativo ao dizer que quer a sigla fora do projeto petista em 2026, afirmando que trabalharia para a legenda apoiar uma possível candidatura do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou de Bolsonaro.
“Não tem o menor sentido, aqui em São Paulo, eu defender o apoio à reeleição do presidente Lula ou do PT porque eles agiram de forma muito contundente contra a minha candidatura”, afirmou Nunes. “É natural, e óbvio, que eu vou defender quem me apoiou. E quem me apoiou foi o Tarcísio, quem me apoiou foi o presidente Bolsonaro”, acrescentou.
O presidente nacional do partido, Baleia Rossi, também em entrevista ao Estadão, deu um recado direto aos postulantes ao Planalto: os vitoriosos da corrida municipal de 2024 não foram os dois mandatários, mas sim os partidos de centro, com o próprio MDB. “O recado das urnas é: o centro saiu fortalecido e pode dialogar para buscar alternativas”, afirmou.
Por outro lado, o ex-presidente da República e quadro histórico do partido José Sarney, ex-adversário político e hoje aliado de Lula, entende que não há motivos para a sigla não estar alinhada ao petista.
“Sou amigo pessoal do Lula, gosto muito dele. De maneira que, se o Lula for candidato, sou da opinião que nós devemos apoiar o Lula. E ele está fazendo um bom governo, não tá? Tá. Como sempre fez em outros mandatos”, afirmou Sarney.
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A vitória de Nunes na capital paulista cacifou o MDB como peça-chave para a disputa presidencial de 2026, especialmente no projeto de reeleição de Lula, que pretende atrair o apoio de partidos de centro ainda no primeiro turno. O MDB vai travar uma disputa acirrada com o PSD, de Kassab, pelo título de sigla que governa o maior número de brasileiros. No primeiro turno, o partido de Nunes perdeu a liderança que mantinha há anos no número de prefeitos, ficando atrás do PSD por uma diferença ínfima de cerca de 30 cidades.
As duas siglas, em nível federal, integram o governo de Lula, cada um com três pastas. O MDB tem os ministérios do Planejamento, comandado por Simone Tebet, Cidades, chefiado por Jader Filho, e Transportes, sob a batuta de Renan Filho. Já o PSD é representado nos ministérios da Agricultura, com Carlos Fávaro, Pesca e Aquicultura, com André de Paula, e Minas e Energia, com Alexandre Silveira.
Estadão