O ex-presidente Jair Bolsonaro reforçou o movimento de pressão para que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se filie ao PL e deu indicativos de que o político não deve tardar a trocar de legenda. Em evento de filiação do senador Izalci Lucas (DF) ao partido, Bolsonaro disse que “em breve vai filiar um governador peso pesado”.
“Outros pesos pesados do Poder Executivo também virão (para o PL). Eu filei nesta semana em Rio Branco, capital do Acre, o prefeito Bocalom. Virá brevemente um governador peso pesado para o nosso partido. São pessoas que têm um pensamento muito semelhante”, disse Bolsonaro.
Lideranças do PL têm feito sucessivos gestos para que Tarcísio troque de partido. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, por exemplo, cobrou publicamente que o governador paulista passe a integrar os quadros da legenda. “Tarcísio, vem você para o PL também, vem’”, disse Michelle na última segunda-feira, 25, na cerimônia que a reconheceu como cidadã paulistana.
Tarcísio, por sua vez, tem tido cautela ao analisar a proposta de troca de partido, mesmo as que têm sido feitas pelo seu padrinho político. Como mostrou o Estadão, o governador tem tido divergências com setores do Republicanos em negociações para definir o apoio a candidatos a prefeito no Estado.
Outro fato que tem feito Tarcísio pender para o lado do PL é a aproximação do cacique do Republicanos, o deputado federal Marcos Pereira, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva com vistas à eleição para a Presidência da Câmara. O governador paulista avalia que as movimentações de Pereira atrapalham as suas chances de reeleição em 2026 e fortalecem o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que foi o mais longevo chefe do Executivo paulista.
Com a filiação de Izalci nesta quarta-feira, o PL contará com 13 representantes no Senado. A sigla é a segunda força na Casa Alta do Congresso, onde interesses imediatos dos governadores são discutidos. A única sigla com mais senadores é o PSD, cuja bancada é formada por 15 parlamentares.
Bolsonaro evita embate com o STF e não se encontra com Valdemar no palco
O ex-presidente teve uma participação protocolar no evento de filiação de Izalci e evitou embates com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que relata as diversas investigações na qual é investigado.
Em vez de abordar temas que causam desgastes políticos e fragilizam a sua posição perante os investigadores da Polícia Federal (PF), como a estadia de duas noites na Embaixada da Hungria, Bolsonaro optou por antagonizar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em pautas morais e de costumes.
O ex-presidente citou criticamente a portaria editada pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, que previa a interrupção da gravidez até o nono mês de gestação, nos casos previstos por lei. A decisão repercutiu negativamente a ministra recuou da medida.
Outro fator que deu ares protocolares ao evento de filiação de Izalci foi a questão judicial a qual Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, estão submetidos. Os dois respondem a medidas cautelares impostas por Moraes, que, dentre outras implicações, os impede de se comunicarem e participarem de eventos juntos.
O PL montou um “esquema tático” para que Bolsonaro e Valdemar não se encontrassem. O presidente do partido participou da abertura do evento e deixou o palco logo após a filiação de Izalci para que Bolsonaro pudesse discursar. Em sua breve fala, Valdemar lembrou que estava impedido de frequentar os mesmos espaços que o ex-presidente, mas alegou que essa imposição “não é problema” e que vai se “resolver logo”.
Estadão