A geração Z não quer trabalhar. Muitos trocam de emprego a cada três meses. São jovens nascidos entre os anos 1990 e 2000 que valorizam mais o tempo livre – e menos o compromisso com a ideia de garantir uma aposentadoria.
O fenômeno é praticamente global. Na Alemanha, onde tem fartura de ofertas de trabalho, os mais novos preferem contratos de meio período. O que não é toda empresa que oferece.
No Brasil, tem os casos em que não trabalhar é uma escolha pessoal. Mas muitas vezes, o problema é justamente a falta de escolha. A maioria dos jovens, inclusive aqueles conhecidos pelo termo nem-nem, está submetida aos estigmas da desigualdade social.
“Existe um grupo, sim, que é mais vulnerável de estar na condição de não estudar nem estar ocupado. E que é justamente das mulheres pretas ou pardas”, afirma Denise Guichard Freire, analista de indicadores sociais do IBGE.
Nem-nem quer dizer não estuda nem trabalha. Uma palavra importada do inglês que rotula jovens desalentados. Sem um emprego e sem vínculo com uma formação profissional.
Entre os quase 11 milhões de brasileiros de 15 a 29 anos nessa situação, a predominância é de mulheres (63,4%), pressionadas por tarefas domésticas e cuidados com a família.
“Inclusive era uma geração que estava no caminho do seu projeto de vida de acesso à universidade, do final do ciclo universitário, de acesso ao mercado de trabalho formal. E que, por exemplo, tem esse sonho interrompido. Por essa mulher negra jovem periférica ter que cuidar da sua família, dos mais velhos e dos mais novos”, Sonora Bárbara Barboza, coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam.
O avanço tecnológico, a pandemia e sucessivas crises econômicas mundo afora deixaram o futuro da juventude mais incerto. Um fardo pesado para uma geração tão heterogênea.
“Os jovens na região Norte e Nordeste do país já têm uma condição um pouco mais precarizada, porque eles têm mais dificuldade de acesso ao mercado de trabalho por serem de regiões menos desenvolvidas”, acrescenta Denise Guichard Freire, do IBGE.
A condição de nem-nem é considerada transitória, por isso especialistas criticam o rótulo. Mas não é fácil tirar esses jovens de onde estão. E quanto mais o tempo passa, pior é para achar uma porta que se abra.
“Se a gente de fato quer enfrentar essa questão, a gente precisa de políticas públicas que apostem nesses eixos de investimento em educação em tempo integral, em escola e ensino vocacional, em políticas que apostem na igualdade de gênero, na igualdade racial e que distribuam renda e estimulem a aquisição de novas qualificações”, conclui Ruy Braga, do Departamento de Sociologia da USP.
IstoÉ