O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou que o órgão irá revogar a nova fiscalização do Pix diante da circulação de informações falsas e distorcidas por conta do ato que aconteceu nos últimos dias. De acordo com ele, a Receita irá investigar e responsabilizar as pessoas, junto com a AGU e a Polícia Federal, que disseminaram fake news e fizeram o uso do nome e do símbolo do órgão para dar golpe.
A declaração aconteceu nesta quarta-feira, 15, no Palácio do Planalto após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração ocorreu ao lado do advogado-Geral da União, Jorge Messias, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Segundo Barreirinhas, nos últimos dias, as pessoas distorceram e manipularam o ato normativo da Receita, o que prejudicou milhões de pessoas e gerou pânico na população. De acordo com ele, isso desacreditou o instrumento de pagamento.
“Por conta dessa continuidade do dano, da manipulação desse ato da Receita, eu decidi revogar esse ato”, afirmou, dizendo que virou arma na mão de criminosos. Segundo o secretário, a Receita não aceitará o uso do nome do órgão para dar golpes.
Uma instrução normativa da Receita que entrou em vigor no dia 1º de janeiro obrigava instituições financeiras a informar movimentações, incluindo via Pix, acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e de R$ 15 mil para pessoas jurídicas.
Sob a nova regulamentação, todas as movimentações de pagamentos instantâneos e de cartões de crédito que ultrapassassem os valores estipulados em um mês seriam reportadas à Receita Federal, permitindo um controle e fiscalização mais efetivos dessas transações.
Equiparação a dinheiro
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou há pouco que o governo vai publicar uma Medida Provisória para reforçar a gratuidade e sigilo do Pix. Esta é a reação do governo a onda de fakes news que circulam em torno do Pix, com mentiras como a que o governo passaria a taxar as transações feitas com o instrumento. Esse movimento foi provocado por causa de uma instrução normativa da Receita Federal que passou a vigorar neste ano.
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, em San Diego, forneceram novos possibilidades sobre o desenvolvimento do câncer de fígado. O estudo, publicado na revista científica Nature, destaca uma relação complexa entre o metabolismo celular e o dano ao DNA que alimenta a progressão da doença hepática gordurosa. Essas descobertas abrem novos caminhos para prevenir e tratar o câncer de fígado, ao mesmo tempo em que aprofundam nossa compreensão de como o tumor se desenvolve e o impacto da dieta no DNA.
O câncer de fígado é classificado como o sexto câncer mais comumente diagnosticado e a quarta principal causa de mortes relacionadas ao câncer em todo o mundo. Nos últimos 20 anos, os casos de carcinoma hepatocelular (CHC) — o tipo mais prevalente de câncer de fígado — aumentaram de 25 a 30%.
Um fator significativo nesse aumento é o aumento da prevalência de doença hepática gordurosa, que agora afeta 25% dos adultos nos Estados Unidos, ou seja, um em cada quatro. Cerca de 20% dos indivíduos com doença hepática gordurosa desenvolvem uma forma mais grave chamada esteato-hepatite, associada à disfunção metabólica (MASH, da sigla em inglês), que aumenta significativamente o risco de CHC. Apesar disso, os mecanismos que impulsionam a progressão do MASH para o câncer de fígado permanecem pouco compreendidos.
“Ir de doença hepática gordurosa para MASH e câncer de fígado é um cenário muito comum, e as consequências podem ser mortais”, diz o professor emérito, Michael Karin, do Departamento de Farmacologia da Escola de Medicina da UC San Diego ao site especializado, Scitechdaily. E continua: “Quando você tem MASH, você acaba destruindo seu fígado e precisa de um novo fígado, ou progride para câncer de fígado frequentemente fatal, mas ainda não entendemos o que está acontecendo no nível subcelular durante esse processo.”
Danos ao DNA
Os pesquisadores usaram uma combinação de modelos de camundongos e amostras de tecido humano e bancos de dados para demonstrar que as dietas indutoras de MASH, que são ricas em gordura e açúcar, causam danos ao DNA nas células do fígado que as levam a entrar em senescência, um estado em que as células ainda estão vivas e metabolicamente ativas, mas não podem mais se dividir.
A senescência é uma resposta normal a uma variedade de estressores celulares. Em um mundo perfeito, a senescência dá ao corpo tempo para reparar danos ou eliminar as células danificadas antes que elas possam proliferar mais amplamente e se tornarem cancerosas.
No entanto, como os pesquisadores descobriram, não é isso que acontece nas células do fígado, também conhecidas como hepatócitos. Nos hepatócitos, algumas células danificadas sobrevivem a esse processo.
Essas células são, de acordo com Karin, “como bombas-relógio que podem começar a proliferar novamente a qualquer momento e, finalmente, tornar-se cancerígenas”.
“Análises genômicas abrangentes do DNA tumoral indicam que eles se originam de células hepáticas danificadas pelo MASH, enfatizando uma ligação direta entre o dano ao DNA induzido pela dieta e o desenvolvimento de câncer”, acrescenta o co-autor do estudo Ludmil Alexandrov, professor associado de medicina celular e molecular e bioengenharia na UC San Diego.
Potenciais abordagens terapêuticas e insights sobre o envelhecimento
Os resultados sugerem que o desenvolvimento de novos medicamentos para prevenir ou reverter danos ao DNA pode ser uma abordagem terapêutica promissora para prevenir o câncer de fígado, particularmente em pessoas com MASH.
Para Karin, existem algumas possibilidades de como isso pode ser aproveitado em um tratamento futuro, mas levará mais tempo e pesquisa para explorar essas ideias.
“Uma hipótese é que uma dieta rica em gordura pode levar a um desequilíbrio nas matérias-primas que nossas células usam para construir e reparar o DNA, e que poderíamos usar drogas ou nutriquímicos [compostos bioativos encontrados em alimentos, com um papel fundamental na promoção da saúde e prevenção de doenças., mas não são considerados essenciais] para corrigir esses desequilíbrios. Outra ideia é desenvolver novos antioxidantes, muito mais eficientes e específicos do que os que temos agora, e usá-los pode ajudar a bloquear ou reverter o estresse celular que causa danos ao DNA em primeiro lugar”, conclui Karin.
Além de abrir esses novos caminhos de tratamento para o câncer de fígado, o estudo também oferece uma nova visão sobre a relação entre envelhecimento e câncer.
“Sabemos que o envelhecimento aumenta o risco de praticamente todos os cânceres e que o envelhecimento está associado à senescência celular, mas isso introduz um paradoxo, já que a senescência deve proteger contra o câncer”, diz Karin. E prossegue: “Este estudo ajuda a revelar a biologia molecular subjacente que permite que as células entrem novamente no ciclo celular após a senescência, e acreditamos que mecanismos semelhantes podem estar atuando em uma ampla gama de cânceres.”
As descobertas também ajudam a quantificar diretamente os efeitos prejudiciais da má alimentação no metabolismo celular que, de acordo com Karin, poderia ser usado para ajudar a orientar as mensagens de saúde pública relacionadas à doença hepática gordurosa.
“Uma dieta pobre de fast-food pode ser tão perigosa quanto fumar cigarros a longo prazo”, disse Karin. “As pessoas precisam entender que dietas ruins fazem muito mais do que apenas alterar a aparência cosmética de uma pessoa. Eles podem mudar fundamentalmente a forma como nossas células funcionam, até o DNA.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, defenderá nesta quarta-feira a resposta do governo do presidente Joe Biden à pandemia da Covid-19, argumentando que os gastos com estímulo e outras políticas levaram a um crescimento robusto e evitaram a perda de milhões de empregos.
Em seu último discurso importante antes de deixar o cargo na terça-feira, Yellen argumentará que os cheques do governo Biden, os créditos fiscais mensais a crianças e o aumento dos benefícios de desemprego reduziram os principais riscos de queda, e que a inflação – que disparou no mundo todo – desacelerou mais cedo nos EUA do que em outros países ricos.
A economia dos EUA se saiu “notavelmente bem” após a pandemia, superou o desempenho de outras economias avançadas e teve desempenho melhor do que em recessões passadas, disse Yellen em trechos divulgados pelo Departamento do Tesouro. O ritmo da inflação reduziu drasticamente à medida que as interrupções no fornecimento diminuíram.
O governo Biden e os democratas no Congresso promulgaram a Lei do Plano de Resgate Americano, de 1,9 trilhão de dólares, em março de 2021, depois de mais de 3 trilhões de dólares em gastos com a Covid-19 aprovados durante o primeiro governo de Donald Trump em 2020.
As ações mantiveram os contracheques dos trabalhadores fluindo, pagaram o aluguel e colocaram milhares de dólares diretamente nas contas bancárias dos norte-americanos, fomentando aumentos acentuados nos gastos dos consumidores em um momento em que a economia era assolada pela escassez.
Yellen, que na semana passada fez uma rara concessão de que os gastos com estímulo podem ter contribuído “um pouco” para a inflação, argumentou nesta quarta-feira que eles compensaram substancialmente as lacunas de renda enfrentadas por cerca de 10 milhões de pessoas que perderam seus empregos ou deixaram a força de trabalho até o final de 2020.
Os gastos evitaram “dificuldades significativas” e apoiaram a demanda, o que permitiu que os norte-americanos voltassem a trabalhar rapidamente, o que, por sua vez, ajudou os EUA a evitar a erosão das habilidades e as consequências do desemprego de longo prazo, disse ela.
Uma política que visasse apenas a evitar o aumento de preços pós-pandemia, sem considerar as consequências para o emprego, teria resultado em gastos muito menores ou até mesmo contracionistas, disse Yellen.
A redução dos gastos provavelmente teria levado a uma produção e emprego muito menores, com potencialmente mais milhões de pessoas desempregadas, famílias sem renda para cumprir suas obrigações financeiras e gastos do consumidor sem brilho, disse ela.
Yellen disse que a economia dos EUA está indo bem agora, com crescimento sólido, inflação baixa e um mercado de trabalho forte, mas que é necessário mais trabalho para abordar as tendências estruturais que dificultam que muitas famílias tenham uma vida de classe média.
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta terça-feira (14) a exclusão da União Brasileira de Educação e Assistência (Ubea) da lista de entidades com pagamentos de emendas parlamentares suspensos por falta de transparência. A decisão foi tomada após a Advocacia-Geral da União (AGU) enviar ao STF uma nota técnica da Controladoria-Geral da União (CGU), mostrando que a entidade realizou mudanças no seu site oficial e cumpriu “os requisitos de transparência” determinados. Segundo a CGU, a Ubea disponibiliza uma página de transparência de fácil acesso, com informações sobre emendas parlamentares com empenho emitido entre de 2020 a 2024.
O ministro também determinou que o governo federal, por meio da AGU, exclua a entidade do Cadastro de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim) e do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (Ceis) no prazo de cinco dias. “Informe aos Ministérios a inexistência de impedimento de novos repasses em benefício da entidade”, disse Dino. Na mesma decisão, o ministro suspendeu a Ubea de uma auditoria que havia sido solicitada à CGU, pois a entidade demonstrou o cumprimento das regras de transparência.
Dino suspende repasses
No início do mês de janeiro, o ministro determinou a suspensão imediata dos repasses de emendas parlamentares a 13 organizações não governamentais (ONGs) que não cumprem regras adequadas de transparência sobre o recebimento do dinheiro e o seu uso. A decisão se baseia em relatório da CGU enviada ao Supremo. De acordo com o órgão, na época, de um total de 26 ONGs analisadas, 13 não fornecem “transparência adequada ou não divulgam informações”. Dino também pediu para que a CGU também realizasse uma auditoria específica nessas organizações. Outras entidades Em um despacho também realizado nesta terça, o ministro intimou a CGU para que analise as informações enviadas por outras cinco entidades que também reivindicam a suspensão da lista de entidades com pagamentos de emendas suspensos.
O presidente Lula terminará o atual mandato com inflação acima da meta, juros ainda altos, dólar caro e crescimento econômico medíocre, segundo projeções incluídas no boletim Focus desta semana. Tendo subido 4,83% no ano passado, os preços ao consumidor deverão aumentar 5% em 2025, estourando mais uma vez o teto da meta, 4,5%, e avançar 4,05% em 2026, deixando-o, longe o centro do alvo, 3%.
A expansão da atividade, a desculpa mais frequente para a tolerância inflacionária, ficará reduzida a 2,02% neste ano e continuará em torno de 2% nos anos seguintes. Empenhado em conter a alta de preços, o Banco Central (BC) deverá elevar os juros básicos para 15% no final deste ano e reduzi-los lentamente, em 2026, até o patamar de 12%, ainda muito alto e prejudicial aos negócios e à expansão do emprego.
Inflação elevada e persistente é geralmente um efeito de contas públicas desarrumadas. Essa relação é indicada claramente na projeção do déficit fiscal.No fim deste ano o buraco nas finanças federais deverá equivaler a 0,60% do Produto Interno Bruto (PIB).
Em 2026, de acordo com a estimativa indicada no boletim Focus, essa proporção deverá ficar em 0,50%, ainda longe do limite apontado como tolerável pela equipe econômica, 0,25%. Poderá, segundo o mesmo conjunto de avaliações, cair para 0,30% em 2027, um patamar ainda alto. Déficit volumoso encarece o financiamento das contas federais, afetando também, por extensão, o custo do capital empregado na atividade empresarial.
Embora registrados claramente na experiência de muitos países, esses efeitos são com frequência desprezados por figuras do PT, raramente comprometidas com a busca do equilíbrio fiscal.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ter aprendido, em mandatos anteriores, a conveniência da gestão prudente das contas públicas, mas parece render-se, de vez em quando, às velhas pregações petistas, favoráveis à gastança.
Suas palavras de apoio à prudência defendida pela equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, têm contrastado com atitudes mais favoráveis à gastança. A desconfiança do mercado está refletida, claramente, na instabilidade do câmbio e nas projeções pessimistas das contas públicas e da inflação.
Aparentemente convencido por alguns auxiliares, o presidente da República resolveu investir na melhora da comunicação oficial. Essa decisão poderá produzir alguns efeitos positivos, mas dificilmente resultará em projeções de inflação mais animadoras, se o chefe de governo continuar pouco ou nada engajado na busca do equilíbrio fiscal.
Para produzir efeitos mais sensíveis e duradouros, o poder central deveria, além de se mostrar moderado na condução da despesa, cuidar de uma revisão ampla dos componentes do gasto público.
Essa revisão poderá ser politicamente complicada, mas será um passo relevante para tornar o gasto público mais disciplinado, menos voltado para itens inúteis e mais produtivo. Se avançar nesse rumo, o atual governo poderá deixar um legado importante e inovador.
No “Estadão Analisa” desta quarta-feira, 15, o colunista Carlos Andreazza fala da comunicação do governo Lula em relação as mudanças no Pix.
É falsa a informação de que Haddad pretende taxar o Pix, mas o boato só prosperou porque faz sentido, diante da sanha arrecadatória de um governo que não quer cortar gastos
Mesmo após a Receita Federal, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva negarem que haverá taxação do Pix, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados insinuam o contrário, insistem nas fake news e tentam mobilizar a oposição, pedindo até o impeachment de Lula.
Parlamentares bolsonaristas dizem que o objetivo da nova instrução da Receita – que obriga instituições financeiras a informar movimentações, incluindo via Pix, acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e de R$ 15 mil para pessoas jurídicas – seria o de “taxar os brasileiros” e até estimulam uma “revolta do Pix”.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira ser “de bom tom” esperar a eleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado, prevista para o início de fevereiro, para posteriormente enviar ao Legislativo a proposta de reforma do Imposto de Renda.
Em entrevista a jornalistas, Haddad afirmou que o governo trabalha para que o Orçamento de 2025, ainda não votado, preveja que a isenção do IR valha para trabalhadores que recebem até dois salários mínimos, mesmo parâmetro do ano passado.
O governo anunciou no fim de 2024 que vai propor a elevação da faixa de isenção do IR para 5 mil reais, com as devidas compensações, mas a medida ainda não foi formalizada.
Ele acrescentou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sancionar a regulamentação da reforma tributária do consumo ainda nesta semana, com “alguns poucos vetos” técnicos e que não comprometem os eixos principais do projeto.
O zumbido das máquinas de costura é constante em partes de Guangzhou, uma cidade portuária próspera às margens do rio das Pérolas, no sul da China.
O som passa pelas janelas abertas das fábricas da manhã até tarde da noite, enquanto as máquinas finalizam camisetas, shorts, blusas, calças e roupas de banho que serão enviadas para encher guarda-roupas em mais de 150 países.
Esse é o som de Panyu, o bairro conhecido como “vila Shein”, um labirinto de fábricas que abastecem a maior varejista de fast fashion do mundo.
“Se houver 31 dias em um mês, trabalharei 31 dias”, disse um trabalhador à BBC.
A maioria diz que só tem um dia de folga por mês.
A BBC passou vários dias na região: visitamos 10 fábricas, conversamos com quatro proprietários e mais de 20 trabalhadores. Também passamos um tempo no mercado de trabalho e nos fornecedores têxteis.
Descobrimos que o coração pulsante desse império é uma força de trabalho que passa cerca de 75 horas por semana sentada atrás de máquinas de costura, violando as leis trabalhistas chinesas.
Esses horários não são incomuns em Guangzhou, um centro industrial que emprega trabalhadores rurais em busca de uma renda maior – ou até na China, que há muito tempo é a maior fábrica do mundo.
Os questionamentos às condições de trabalho se somam à lista crescente de perguntas feitas por muitos sobre a Shein, que já foi uma empresa pouco conhecida, mas que se tornou um gigante global em pouco mais de cinco anos.
De capital privado, estima-se que a companhia fundada na China valha cerca de US$ 60 bilhões de dólares (R$ 370 bilhões). Agora, ela está de olho em uma listagem na Bolsa de Valores de Londres.
Sua ascensão meteórica foi marcada por polêmicas sobre o tratamento dado aos trabalhadores e alegações de trabalho forçado.
No ano passado, a empresa admitiu ter encontrado crianças trabalhando em suas fábricas na China.
A Shein não aceitou os pedidos de entrevista feitos pela reportagem, mas disse à BBC em nota que “está comprometida em garantir o tratamento justo e digno de todos os trabalhadores de nossa cadeia de suprimentos” e está investindo dezenas de milhões de dólares no “fortalecimento da governança e da conformidade”.
“Nós nos esforçamos para estabelecer os mais altos padrões de remuneração e exigimos que todos os parceiros da cadeia de suprimentos sigam nosso código de conduta. Além disso, a Shein trabalha com auditores para garantir a conformidade”, diz ainda o comunicado.
O sucesso de Shein está no volume – o estoque online chega a centenas de milhares de peças – e nos grandes descontos: vestidos de R$ 50, blusas de R$ 30 e preços que oscilam abaixo de R$ 60, em média.
A receita da marca aumentou, superando redes como H&M, Zara e Primark do Reino Unido.
As vendas a preços reduzidos são impulsionadas por lugares como a “vila de Shein”, que abriga cerca de 5 mil fábricas, a maioria delas fornecedoras da empresa.
Os prédios foram esvaziados para dar lugar a máquinas de costura, rolos de tecido e bolsas cheias de restos de tecido. Os portões estão sempre abertos para o ciclo aparentemente interminável de entregas e coletas.
Com o passar do dia, as prateleiras se enchem de sacolas plásticas transparentes rotuladas com o nome da loja.
Mas mesmo depois das 22:00, as máquinas de costura – e as pessoas debruçadas sobre elas – não param. Rolos de tecidos continuam a chegar em caminhões abarrotados.
“Normalmente trabalhamos 10, 11 ou 12 horas por dia”, diz uma mulher de 49 anos de Jiangxi que preferiu não se identificar.
“Aos domingos, trabalhamos cerca de três horas a menos.”
Ela está em um beco, onde uma dúzia de pessoas estão amontoadas em torno de uma fileira de quadros de avisos. Eles estão lendo os anúncios de emprego no quadro, enquanto a mulher examina a costura de um par de calças.
Esta é a cadeia de suprimentos da Shein. As fábricas são contratadas para fazer roupas sob encomenda — algumas pequenas, outras grandes. Se as peças forem um sucesso, os pedidos aumentarão, assim como a produção.
As fábricas então contratam trabalhadores temporários para atender à demanda que sua equipe permanente não pode atender.
O trabalhador migrante de Jiangxi está procurando um contrato de curto prazo — e costurar calças é uma opção.
“Nós ganhamos tão pouco. O custo de vida agora é muito alto”, diz ela, acrescentando que espera ganhar o suficiente para mandar de volta para seus dois filhos que moram com os avós.
“Somos pagos por peça”, explica ela. “Depende da dificuldade do item. Algo simples como uma camiseta custa de um a dois yuans [menos de R$2] por peça e eu posso ganhar cerca de 12 yuans em uma hora.”
Examinar a costura das calças jeans é crucial para tomar essa decisão. Reunidos em torno dela, os trabalhadores estão calculando quanto receberão para fazer cada peça de roupa e quantas poderão fazer em uma hora.
Os becos de Panyu funcionam como mercados, lotados pela manhã enquanto trabalhadores e patinetes passam correndo pelos carrinhos que vendem bolos e café.
O horário de trabalho padrão parece ser das 8 da manhã até bem depois das 22, conforme observado pela reportagem da BBC.
A informação é consistente com um relatório do grupo suíço de defesa Public Eye, baseado em entrevistas com 13 trabalhadores têxteis em fábricas que produzem roupas para Shein.
Eles descobriram que vários funcionários estavam trabalhando horas extras excessivas. A investigação também apontou que o salário básico sem horas extras era de 2.400 yuans (R$ 2030) — abaixo dos 6.512 yuans que a Asia Floor Wage Alliance diz serem necessários para um “salário digno”.
Os trabalhadores com quem conversamos, entretanto, diziam conseguir ganhar entre 4.000 e 10.000 yuans (R$ 3.380 a R$ 8.500) por mês.
“Essas horas [de trabalho] não são incomuns, mas está claro que são ilegais e violam os direitos humanos básicos”, disse David Hachfield, do grupo. “É uma forma extrema de exploração e isso precisa ser visível.”
A semana média de trabalho não deve exceder 44 horas, de acordo com as leis trabalhistas chinesas, que também afirmam que os empregadores devem garantir que os trabalhadores tenham pelo menos um dia de descanso por semana. Se um empregador quiser estender esse horário, deve ser por motivos especiais.
Embora a sede da Shein esteja agora em Cingapura, não há como negar que a maioria de seus produtos é fabricada na China.
Seu sucesso chamou atenção dos Estados Unidos, que está cada vez mais cauteloso com empresas chinesas.
Em junho, o secretário de Estado dos EUA indicado por Donald Trump, Marco Rubio, disse que tinha “sérias preocupações éticas” sobre os “laços profundos de Shein com a República Popular da China”: “Trabalho escravo, fábricas e truques comerciais são os segredos sujos por trás do sucesso de Shein”, escreveu ele.
Nem todo mundo concordaria com a escolha de palavras de Rubio para descrever as condições dos fornecedores da Shein. Mas grupos de direitos humanos dizem que as longas horas de trabalho que se tornaram um estilo de vida para muitos em Guangzhou são injustas e exploradoras.
As máquinas ditam o ritmo do dia.
Eles fazem uma pausa para almoçar e jantar quando os trabalhadores, com pratos de metal, entram na cantina para comprar comida. Se não houver mais espaço para sentar, eles ficam na rua.
“Trabalho nessas fábricas há mais de 40 anos”, disse uma mulher que passou apenas 20 minutos comendo.
No interior, as fábricas que visitamos não são apertadas. Há luz suficiente e ventiladores de tamanho industrial para manter a temperatura resfriada.
Cartazes enormes exortam a equipe a denunciar trabalhadores menores de idade — provavelmente uma resposta à descoberta de dois casos de trabalho infantil na cadeia de suprimentos no ano passado.
A BBC entende que a empresa está monitorando seus fornecedores antes de concretizar os planos de abrir capital na Bolsa de Valores de Londres.
“Isso tem a ver com a reputação deles”, diz Sheng Lu, professora de Estudos de Moda e Vestuário na Universidade de Delaware.
“Se a Shein conseguir um IPO com sucesso, isso significa que ela é reconhecida como uma empresa decente. Mas se quiserem manter a confiança dos investidores, precisam assumir alguma responsabilidade.”
Um dos maiores desafios que a Shein enfrenta são as acusações de que compra algodão da região chinesa de Xinjiang.
Antes considerado um dos melhores tecidos do mundo, o algodão de Xinjiang caiu em desuso após alegações de que é produzido usando trabalho forçado por pessoas da minoria muçulmana uigur — uma acusação que Pequim sempre negou.
A única maneira de contornar essa crítica é ser mais transparente, diz o professor Sheng.
“A menos que divulgue totalmente sua lista de fábricas, torne sua cadeia de suprimentos mais transparente para o público, acho que será muito desafiador para Shein.”
Uma grande vantagem, acrescenta, é que a cadeia de suprimentos da Shein está na China: “Muito poucos países têm uma cadeia de suprimentos completa. A China tem isso — e ninguém pode competir.”
Rivais aspirantes, como Vietnã e Bangladesh, importam matérias-primas da China para fazer roupas. Mas as fábricas chinesas dependem inteiramente de fontes locais para tudo, de tecidos a zíperes e botões.
Portanto, é fácil fazer uma variedade de roupas e eles podem fazer isso rapidamente.
Isso funciona especialmente para Shein, cujo algoritmo determina as ordens. Se os compradores clicarem repetidamente em um determinado vestido ou passarem mais tempo procurando um suéter de lã, a empresa sabe que deve pedir às fábricas que produzam mais — e rapidamente.
Para os trabalhadores em Guangzhou, isso pode ser um desafio.
“A Shein tem seus prós e contras”, disse um proprietário de fábrica. “O bom é que o pedido acaba sendo grande, mas o lucro é baixo e fixo.”
A Shein, devido ao seu tamanho e influência, é uma negociadora difícil. Portanto, os proprietários das fábricas precisam cortar custos em outros lugares, geralmente resultando em salários mais baixos dos funcionários.
“Antes da Shein, produzíamos e vendíamos roupas sozinhos”, disse o proprietário de três fábricas. “Poderíamos estimar o custo, decidir o preço e calcular o lucro. Agora, a Shein controla o preço e você precisa pensar em maneiras de reduzir o custo.”
Quando os pedidos atingem o pico, no entanto, é uma bonança. A empresa envia cerca de um milhão de pacotes por dia, em média, de acordo com dados da ShipMatrix, uma empresa de consultoria logística.
“A Shein é um pilar da indústria da moda”, disse Guo Qing E, fornecedora da Shein.
“Comecei quando a Shein começou. Testemunhei sua ascensão. Para ser honesta, a Shein é uma empresa incrível na China. Acho que vai ficar mais forte, porque paga em dia. É a que é mais confiável.”
“Se o pagamento de nossos produtos for devido no dia 15, não importa se são milhões ou dezenas de milhões, o dinheiro será pago em dia.”
Shein, com suas longas horas e, às vezes, salários mais baixos, pode não ser uma fonte de conforto para todos os seus trabalhadores. Mas é motivo de orgulho para alguns.
“Essa é a contribuição que nós chineses podemos dar ao mundo”, disse uma supervisora de 33 anos de Guangdong, que não quis ser identificada.
Está escuro lá fora e os trabalhadores estão voltando às fábricas após o jantar para a reta final. Ela admite que as horas são longas, mas “nos damos bem um com o outro. Somos como uma família”.
Horas mais tarde, depois que muitos trabalhadores voltam para casa à noite, as luzes de vários prédios permanecem acesas.
Algumas pessoas trabalham até meia-noite, disse um proprietário de fábrica. Eles querem ganhar mais dinheiro, segundo ele.
Afinal, em Londres, Chicago, São Paulo, Dubai e tantos outros lugares, alguém está procurando sua próxima pechincha.
A Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo realizam nesta terça-feira (14) uma operação para cumprir 12 mandados de prisões preventivas e 14 de busca e apreensão contra advogados e líderes de uma ONG (organização não governamental envolvidos com o crime organizado.
De acordo com o governo do estado, os mandados são cumpridos nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Presidente Prudente, Flórida Paulista, Irapuru, Presidente Venceslau e Ribeirão Preto, no estado paulista, e em Londrina (PR).
As investigações começaram há cerca de três anos, quando um visitante da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau tentou entrar com cartões de memória escondidos nas roupas.
Os itens foram apreendidos e analisados, além de manuscritos de detentos, que apontaram para a prática criminosa de setores de uma facção, divididos em “gravatas”, “saúde” e “financeiro”.
Os advogados são os responsáveis pelo setor dos “gravatas”, os quais têm a função de assistência jurídica, além de gerenciar outros departamentos da organização criminosa, como os da “saúde”, para selecionar médicos e dentistas para prestar atendimento dentro das penitenciárias.
Esses profissionais da saúde são selecionados e prestam o serviço, inclusive com intervenções cirúrgicas e estéticas, sem saber que estão colaborando com os integrantes da facção, mesmo recebendo valores altos para o atendimento médico.
De acordo com as investigações, a organização financia esses procedimentos por meio de recursos obtidos em crimes intermediados pelo setor “financeiro”.
Os policiais descobriram também que há um quarto setor da facção, o das “reivindicações”, que promove ações judiciais ilegítimas, com manifestações populares e denúncias sem fundamento, para desestabilizar o sistema de justiça criminal e colocar a opinião pública contra o poder estatal, de acordo com o governo.
Uma ONG sediada no interior de uma comunidade em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, que reivindica o direito dos presos, estaria sendo usada para a ser a “voz” das lideranças dessa organização criminosa. A entidade teve os seus serviços suspensos por ordem judicial.
O presidente e o vice-presidente da ONG também são alvos da operação, que ainda estava em andamento na manhã desta terça.
Mireylle Fries, de 41 anos, uma das vítimas da queda do avião em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, na quinta-feira, 9, teve papel decisivo no salvamento da família, segundo reportagem veiculada no Fantástico, da TV Globo, desse domingo, 12. Foi ela quem ajudou a retirar as duas crianças, de dentro dos escombros, mesmo ainda dentro da aeronave.
“Ela foi que nem uma leoa para salvar os filhos, com a força. Acho que estava até fora de si, dentro de toda aquela fumaça, ferida que estava. Conseguiu tirar uma criança, tirou a outra, e quis tirar o esposo também”, contou à TV Gilmar Destefano, um dos moradores que ajudou no salvamento das vítimas.
Outro homem que ajudou no resgate comentou sobre a atitude da mãe. “Um instinto materno muito grande porque ela ajudou a tirar as crianças”, disse Pedro Romano, em entrevista à emissora carioca.
“Toda uma equipe de desconhecidos que trabalhou junto para conseguir resgatar essas quatro vidas“, completou.
No avião, estavam Mireylle, Bruno Souza, os dois filhos do casal e o piloto. A família foi salva e está internada em um hospital de São Paulo. As crianças e Bruno estão com quadro estável de saúde, mas Mireylle precisou passou por cirurgia e está entubada, de acordo com a reportagem.
O piloto não resistiu. Paulo Seghetto era piloto profissional da área desde 1997, atuou como piloto comercial e, desde 2014, dedicava-se à aviação executiva.
Ainda segundo a TV Globo, Mireylle é diretora do grupo Fries, comandado pela família gaúcha de mesmo nome, que chegou a Goiás há 50 anos para investir no agronegócio do Estado. Bruno, é produtor rural. O avião era da família, usado para viagens de trabalho e férias. Paulo Seghetto, o piloto, trabalhava para a empresa.
Acidente
A aeronave havia partido de Mineiros, cidade situada a 364 km de Goiânia, para o município do litoral norte paulista. O avião tentou pousar no Aeroporto de Ubatuba, em um momento de chuva e com pista molhada. Segundo a Rede Voa, concessionária que administra o terminal, a aeronave ultrapassou a pista, atravessou o alambrado e a cabeceira 09 e explodiu na orla da praia do Cruzeiro, perto de uma pista de skate.
UBATUBA/SP 09/01/2025 AVIAO ACIDENTE Avião de pequeno porte cai em Ubatuba – Um avião de pequeno porte caiu na manhã desta quinta-feira, 9, na orla da Praia do Cruzeiro, próximo à pista de skate, em Ubatuba, no litoral de São Paulo. O piloto morreu na ocorrência. FOTO Francisco Trevisan/GBMar Foto: Francisco Trevisan/GBMar
Segundo o especialista em aviação Lito Sousa, o modelo do avião, um Cessna Citation 525 CJ1, pode pousar em diferentes pistas, até mesmo não pavimentadas, sendo muito procurada por produtores rurais.
Conforme a Força Aérea Brasileira (FAB), investigadores do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) foram acionados para realizar a ação inicial da ocorrência. A apuração do acidente também será feita pelo Ministério Público de São Paulo.