Enquanto o tarifaço de 50% assinado pelo ex-presidente Donald Trump assombra exportadores de várias regiões do país, o Centro-Oeste respira aliviado. A região, fortemente ancorada no agronegócio e na exportação de commodities como carne bovina, aves e minérios metálicos, apresenta a menor vulnerabilidade econômica entre todas as regiões brasileiras diante da nova política tarifária dos Estados Unidos.
De acordo com estudo do pesquisador Flávio Ataliba, do FGV IBRE, o impacto sobre o Centro-Oeste tende a ser baixo, principalmente porque os principais mercados da região não estão no hemisfério norte, mas sim no Oriente e na Europa. “A região possui uma baixa exposição relativa aos EUA, o que a coloca em posição privilegiada neste cenário”, afirma Ataliba.
Segundo os dados, apenas 3,7% das exportações do Centro-Oeste têm como destino os Estados Unidos, o que representa US$ 1,5 bilhão. Em comparação, o Sudeste, por exemplo, responde por US$ 28,6 bilhões em vendas para o mercado americano. Ou seja, 71% das exportações brasileiras para lá saem de estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
No caso do Centro-Oeste, o que embarca rumo aos EUA são produtos de base: carnes bovinas e aves, ferro-gusa, aço e minérios metálicos. Embora relevantes, esses itens não se encaixam nas faixas mais altas de valor agregado e, por isso, tendem a sofrer menos pressão tarifária, especialmente quando comparados aos manufaturados e calçados do Nordeste, que são intensivos em mão de obra e muito mais sensíveis a choques externos.
“O tarifaço impacta mais onde há produtos de baixa escala e forte concentração de pequenos produtores, como o mel do Piauí ou as frutas de Pernambuco. No Centro-Oeste, temos grandes grupos exportadores e cadeias produtivas integradas, o que confere mais resistência e capacidade de resposta”, explica o pesquisador.
Alívio no campo
O estudo ainda alerta para os riscos socioeconômicos do tarifaço. As regiões mais afetadas são, principalmente Norte e Nordeste, onde as cadeias produtivas são mais frágeis e a estrutura empresarial, pulverizada. Já o Centro-Oeste, epicentro do agro nacional, mostra musculatura. Os grandes frigoríficos, cooperativas robustas e alto nível de mecanização da produção blindam a região contra perdas severas.
Mas isso não significa cruzar os braços. Ataliba defende que o país precisa aproveitar o momento para qualificar e diversificar suas cadeias produtivas, com foco em três frentes: cooperação federativa para políticas regionais, reforço à inteligência comercial subnacional e investimento pesado em inovação, infraestrutura e certificações internacionais.
O prefeito Sandro Mabel, por meio do Consórcio Limpa Gyn e da Secretaria Municipal de Educação (SME), lançou, na manhã desta terça-feira (5/8), o projeto Eco Escolas: Reciclando Ideias, que promove a educação ambiental na Rede Municipal de Ensino, com foco na coleta seletiva, na conscientização ecológica e premiação por desempenho. O evento de lançamento foi realizado na Escola Municipal Professora Leonísia Naves de Almeida, no Setor Morada do Sol, com a presença de estudantes, professores, gestores e autoridades.
Com o slogan “Reciclando ideias para transformar o futuro”, o projeto prevê a instalação de quatro bags de 2m³ em cada uma das 30 escolas selecionadas para participar do projeto. Os recipientes serão utilizados para a separação de resíduos recicláveis (como papel, plástico, alumínio e eletrônicos) coletados não apenas pelos alunos, mas por toda a comunidade escolar. A cada bag cheia, a escola recebe um ticket. Ao atingir a marca de 100 tickets, a unidade escolar será premiada com um tablet, ou dispositivo similar, incentivando o engajamento coletivo e a cultura da reciclagem.
Para o prefeito Sandro Mabel, o projeto vai além da coleta de resíduos – é uma ação pedagógica com potencial transformador. “A infância é uma só. Ela passa, e não volta. Por isso, precisamos ensinar desde cedo a importância de separar o lixo, de reciclar, de preservar o meio ambiente. É isso que queremos com o Eco Escolas: ensinar, cuidar da cidade e envolver toda a comunidade num esforço contínuo de educação e responsabilidade ambiental”, afirmou Mabel. Ele destacou que a iniciativa integra o programa Goiânia Limpa: Educação em Ação, lançado em fevereiro deste ano, como resposta direta aos desafios ambientais da capital, como o descarte irregular de resíduos e a sobrecarga dos aterros.
A diretora da escola anfitriã, Sandra Araújo, celebrou a chegada do projeto, destacando o impacto positivo, tanto na educação dos estudantes, quanto na logística escolar. “Temos aqui mais de 1.200 alunos. O que gastamos com sacos de lixo é muito, porque cada turma produz muito resíduo diariamente. Agora, vamos economizar e ainda contribuir com o meio ambiente. É uma mudança concreta, que une teoria e prática”, explicou. Sandra também destacou o envolvimento da comunidade local, inclusive com a participação de feirantes da região, que se comprometeram a destinar seus resíduos recicláveis à escola.
O diretor do Consórcio Limpa Gyn, Renan Andrade, reforçou o aspecto social do projeto. Segundo ele, todo o material coletado será encaminhado para as 12 cooperativas cadastradas pela Prefeitura de Goiânia. “Nossa meta é dobrar a quantidade de recicláveis coletados em Goiânia nos próximos 12 meses. Hoje, são cerca de 3.200 toneladas por mês. Com esse projeto, queremos envolver as escolas, os alunos, as famílias e gerar mais renda para as cooperativas, além de prolongar a vida útil dos aterros sanitários”, disse. Ele explicou que as bags poderão receber materiais da própria comunidade e que os resíduos devem ser entregues limpos, para evitar a contaminação do restante da coleta.
A secretária municipal de Educação, Giselle Faria, reforçou a importância de tratar a sustentabilidade como eixo central da formação escolar. “Estamos educando cidadãos mais conscientes, com compromisso com o planeta. E fazemos isso com a melhor estrutura, com os melhores professores e com a parceria de uma gestão que se importa com cada detalhe, desde a limpeza da cidade, até a qualidade do ensino oferecido em sala de aula”, afirmou.
O prefeito ainda ressaltou que essa é uma ação que fará parte de uma política contínua. “Agora começamos com a premiação de tablets, mas novas campanhas virão. O importante é que essa transformação seja permanente e alcance todas as escolas do município. Temos cerca de 370 unidades e queremos, passo a passo, chegar a todas elas”, pontuou.
Também participaram do lançamento a vice-prefeita Coronel Cláudia, o secretário de Infraestrutura Urbana, Francisco Lacerda, o presidente do Procon Goiânia, Mizair Lemes Júnior, além dos vereadores Tião Peixoto e Pedro Azulão Júnior.
Parcerias
Ainda durante o lançamento do projeto, o prefeito Mabel destacou a intenção da atual gestão em implementar soluções sustentáveis para Goiânia, firmando cooperações com a iniciativa privada, por meio de parcerias público-privadas (PPPs), para a manutenção de praças e parques da capital, a exemplo do que já é realizado em outros municípios.
“Quando uma praça ou parque é bem cuidado por meio dessas parcerias, todos ganham, desde a população desfruta de espaços limpos e seguros, até a cidade, que reduz custos com manutenção, podendo investir em outras áreas, tudo isso para deixar Goiânia mais limpa e bonita”, afirmou o prefeito. A proposta, segundo ele, integra um esforço de gestão mais inteligente e colaborativa, que fortalece o compromisso com a qualidade de vida dos goianienses e a preservação do espaço urbano.
Fotos: Alex Malheiros
Secretaria Municipal de Comunicação (Secom) – Prefeitura de Goiânia
A partir de segunda-feira (4), o Brasil conta com o lançamento de sua primeira caneta para emagrecimento fabricada localmente: a Olire, desenvolvida pela EMS, similar do Ozempic.
Inicialmente, o produto estará disponível nas redes RD Saúde (RADL3), dona das marcas Raia e Drogasil, e Grupo DPSP, resultado da fusão entre as Drogarias Pacheco e a Drogaria São Paulo. O medicamento é à base de liraglutida, o mesmo princípio ativo do Saxenda, da Novo Nordisk, cuja patente expirou no Brasil em novembro de 2024.
Embora a liraglutida seja diferente da semaglutida — princípio ativo do Ozempic e Wegovy —, o desempenho da Olire pode oferecer uma prévia do que esperar quando os genéricos do Ozempic chegarem ao mercado no próximo ano, aponta o Itaú BBA em relatório.
Para o banco, não se espera impacto relevante da Olire nas vendas de farmácias neste momento. Apesar de estar disponível desde 2016, a liraglutida provavelmente representa uma fatia pequena do mercado brasileiro de canetas para emagrecimento, estimado em R$ 5,5 bilhões.
Na RD Saúde, por exemplo, a estimativa é de que Wegovy/Ozempic respondam por cerca de 5% das vendas, enquanto a participação do Saxenda é ainda menor. O Itaú BBA aponta duas razões para a menor popularidade da liraglutida: eficácia e conveniência.
Estudos mostram que pacientes com semaglutida perdem cerca de 15,8% do peso corporal, contra aproximadamente 6,4% com liraglutida. A proporção de pacientes que alcançam perda de peso significativa (acima de 15%) também é bem maior com semaglutida: 56% versus 12%. A conveniência também pesa: a liraglutida exige injeções diárias (cada caneta dura seis dias na dose máxima), enquanto a semaglutida é administrada semanalmente, fator relevante considerando a duração do tratamento.
O preço, porém, favorece a liraglutida. Um kit de Saxenda com três canetas custa cerca de R$ 725, aproximadamente 60% mais barato que o Wegovy, vendido por R$ 1.699. A Olire será comercializada de 20% a 30% abaixo do Saxenda, reduzindo o custo de um tratamento anual para cerca de 30% abaixo do Wegovy, levando em conta a duração das canetas e a progressão recomendada da dose.
Para o Itaú BBA, embora essa diferença dificilmente leve usuários de semaglutida a migrar para a liraglutida, pode ampliar o mercado potencial, ainda que de forma limitada devido à eficácia menor.
O banco avalia que o verdadeiro divisor de águas será a chegada dos genéricos de Ozempic, esperada para o segundo semestre de 2026. Várias empresas, incluindo EMS, Cimed, Hypera e Biomm, já se preparam para lançar suas versões. A Novo Nordisk tentou estender sua patente no Brasil, alegando que o processo de aprovação de 13 anos reduziu seu período de exclusividade. Até agora, a Justiça rejeitou o argumento, e aguarda-se decisão final do Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o mercado trabalha com a expectativa de entrada dos genéricos no próximo ano.
Segundo o Itaú BBA, a grande questão para investidores é o que os genéricos do Ozempic significarão para as redes de farmácias. De um lado, a tendência é de preços menores; de outro, margens possivelmente mais altas e expansão do mercado. Ainda é cedo para definir onde preços e margens vão se estabilizar. Na RD, os medicamentos genéricos têm, em média, margem bruta de 50% a 55%, mas a semaglutida é uma molécula complexa, o que pode limitar tanto o ganho de margem quanto a queda de preços.
Para medir possíveis impactos nas estimativas de lucro ao fim de 2026, o banco realizou duas análises de sensibilidade para a RD. Na primeira, modelou diferentes reduções de preço e margens brutas, sem expansão de mercado e com SG&A (despesas de vendas, gerais e administrativas) constante em valores nominais. Mesmo em um cenário conservador, com queda de 35% nos preços e margem bruta de 25%, a categoria já seria positiva para o lucro.
Na segunda análise, assumiu uma redução fixa de 35% no preço e testou diferentes níveis de demanda adicional. Num cenário com margem bruta de 30% e aumento de volume de 20%, as estimativas de lucro líquido para o fim de 2026 subiriam 11%.
Na visão do Itaú BBA, embora ainda haja incertezas, as análises indicam que o fim da patente do Ozempic pode se tornar um importante vento favorável para as redes de farmácias.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), teria violado a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) ao investigar envolvidos nos atos criminosos do dia 8 de janeiro de 2023. É o que aponta uma denúncia publicada pela Civilization Works — organização americana que defende ideais liberais.
A Civilization Works é uma organização de pesquisa e causas públicas, com posicionamento em defesa da civilização liberal-democrática e crítica ao que considera autoritarismo progressista.
A publicação exibe a troca de mensagens que seriam do ex-assessor de Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Eduardo Tagliaferro, com outros juízes e auxiliares do ministro, entre eles a chefe de gabinete no STF Cristina Kusuhara.
As conversas vazadas indicam que o Moraes teria contado com funcionários do TSE para realizar uma investigação extraoficial sobre os detidos.
Por lei, qualquer pedido de dados pessoais deve ser feito pelo Ministério Público ou via autoridades policiais, devidamente justificado e autorizado por um juiz competente.
As unidades internas do TSE não têm autoridade para conduzir investigações criminais ou substituir funções da polícia judiciária.
Segundo o texto da Civilization Works, a AEED (Assessoria Especial para o Combate à Desinformação) teria começado a operar como uma estrutura paralela de triagem criminal sem qualquer base legal. Equipes sob a direção do TSE, ainda segundo o texto, teriam acessado bancos de dados biométricos do tribunal e vasculhado perfis nas redes sociais, gerarando relatórios internos.
Certidões produzidas com essas informações nunca foram compartilhadas e submetidas às defesas, nem fizeram parte dos autos, diz a organização na publicação.
O texto afirma também que a equipe da AEED teria recebido acesso ao GestBio e começado a usá-lo para identificar manifestantes com base em imagens — GestBio é o sistema do TSE que armazena os dados biométricos dos eleitores, como impressões digitais, fotos do rosto e assinaturas coletadas durante o cadastro eleitoral, informações usadas para evitar fraudes e duplicidade de registros.
O objetivo dessa busca seria encontrar uma foto recente de cada detido. Depois de associar um nome a um rosto, a equipe teria vasculhado as plataformas de mídia social em busca de postagens que pudessem ser interpretadas como “antidemocráticas”.
“As mensagens mostram funcionários recebendo listas informais de detidos diretamente da polícia — incluindo nomes, fotos e números de identidade — sem qualquer cadeia de custódia formal. Em um áudio, um policial federal pediu para manter a confidencialidade porque os dados eram ‘muito procurados’. O pedido não era apenas por discrição – revelava a consciência de que o material estava sendo compartilhado fora dos canais legais adequados”, diz a publicação.
A CNN procurou as assessorias do STF e do TSE para comentar a publicação, mas ainda não recebeu retorno.
Lideranças da oposição no Congresso Nacional anunciaram nesta terça-feira (5) que irão obstruir os trabalhos legislativos em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que a oposição está se preparando para a “guerra”. Segundo ele, os parlamentares estarão “entrincheirados com uma série de ações” para pressionar as Casas legislativas em prol da anistia dos condenados do 8 de janeiro e do processo de impeachment de Moraes.
“A partir de agora estamos nos adestrando e nos apresentando para a guerra. Se é guerra que o governo quer, guerra que o governo terá. Não haverá paz no Brasil enquanto não houver discurso de conciliação que passe pela anistia, pela mudança do fim do foro e impeachment de Moraes”, disse a jornalistas.
As medidas fazem parte do chamado “pacote da paz”, anunciado por integrantes da oposição nesta terça durante declaração a jornalistas na rampa do Congresso. Na lista de prioridades, também consta a proposta de emenda à Constituição que acaba com o foro privilegiado de parlamentares.
Os parlamentares também cobraram diálogo e uma reação dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
“É importante que o presidente Davi Alcolumbre entenda e é necessário que ele tenha estatura neste momento e permita a abertura de processo de impedimento por crime de responsabilidade em desfavor do ministro Alexandre de Moraes”, declarou o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).
Marinho criticou a falta de diálogo com Alcolumbre. Ele anunciou que a oposição se movimenta para ocupar as mesas dos plenários da Câmara e do Senado para obstruir as atividades legislativas.
“Vamos obstruir as sessões. O Senado já está lá com cinco senadores sentados na Mesa e deputados também estão na Câmara. É uma medida extrema, entendemos, mas faz mais de 15 dias que eu, como líder da oposição, não consigo interlocução com o senador Davi Alcolumbre. É um desrespeito com a Casa”, disse.
Anistia
Na declaração a jornalistas, o deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), primeiro vice-presidente da Câmara, anunciou ter avisado Motta que, caso assuma a presidência plena da Casa, irá colocar em pauta o projeto sobre a anistia. Isso ocorrerá, segundo ele, se Motta se ausentar do país.
“Eu, como vice da Câmara e do Congresso, sempre busquei equilíbrio e diálogo. Sempre respeitei Motta, que tem a pauta na sua mão. Diante dos fatos, já comuniquei Motta que, no primeiro momento em que eu exercer a presidência plena da Câmara, quando Motta se ausentar do país, irei pautar a anistia”, disse.
A proposta sobre a anistia está parada na Câmara desde o ano passado. Mesmo com a pressão de deputados, Motta decidiu, em abril, que não pautaria a urgência do projeto.
O texto em análise não beneficia Bolsonaro, que está inelegível até 2030, mas a intenção da oposição é que o perdão se estenda ao ex-chefe do Executivo, para que ele retome seus direitos políticos e possa disputar as próximas eleições.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que não vai telefonar para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para negociar as tarifas de 50% impostas sobre produtos brasileiros por considerar que Trump não quer conversar, mas disse que irá telefonar para convidá-lo para a cúpula climática COP30 deste ano no Brasil.
Em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado “Conselhão”, Lula disse ainda que o Brasil nunca saiu da mesa do diálogo e que o dia em que Trump assinou a medida impondo as tarifas ao Brasil passará para a história como o mais lastimável na relação entre os dois países.
A reeleição presidencial por tempo indeterminado aprovada em El Salvador parece dar razão a um aforismo frequentemente atribuído ao escritor americano Mark Twain: “a história não se repete, mas muitas vezes rima”.
Neste caso, a história é de um presidente popular que concentra poder e é autorizado, por meio de uma mudança constitucional, a se candidatar à reeleição quantas vezes quiser, em nome da soberania popular.
A reforma em El Salvador foi votada de forma acelerada na última quinta-feira (31/07) na Assembleia Legislativa, onde o presidente Nayib Bukele tem ampla maioria.
A mudança na Constituição, aprovada por 57 dos 60 legisladores, ainda ampliou o mandato presidencial de cinco para seis anos e eliminou o segundo turno das eleições.
Por mais drástica e inédita que essa reforma pareça para El Salvador, está longe de ser algo inusitado na América Latina, onde diferentes países permitiram a reeleição presidencial indefinida nos últimos anos.
E, segundo os especialistas, a evidência regional mostra que, permitir, sem limites, a continuidade dos mandatários em regimes presidencialistas, representa sérios riscos para a democracia.
“A reeleição por tempo indeterminado é sinônimo de autocratização”, afirma Mario Torrico, cientista político que tem estudado o fenômeno, à BBC Mundo — serviço em espanhol da BBC.
‘Um tecnicismo’
Bukele foi eleito inicialmente em 2019, reeleito no ano passado por ampla margem e com maioria absoluta de seu partido na Assembleia Legislativa — com base no apoio popular à sua política de segurança de linha dura.
Sob um estado de exceção, seu governo prendeu dezenas de milhares de pessoas acusadas de envolvimento com gangues, uma estratégia que, segundo organizações de direitos humanos, envolve abusos de poder.
Getty Images-apesar das denúncias de abuso de poder, o governo de Bukele tem altos índices aprovação por causa da sua política de segurança
O mandatário, de 44 anos, agora pode tentar permanecer no cargo sem um prazo de saída obrigatório.
Diante das críticas à reforma, Bukele respondeu que “90% dos países desenvolvidos permitem a reeleição por tempo indeterminado do seu chefe de governo, e ninguém se incomoda”.
“Mas, quando um país pequeno e pobre como El Salvador tenta fazer o mesmo, falam que é o fim da democracia”, disse o presidente em uma publicação na rede social X.
Bukele incluiu nesse comentário tanto os sistemas parlamentares de países desenvolvidos quanto os regimes presidencialistas da América Latina, e afirmou que distinguir entre eles é um “tecnicismo” e “um pretexto”.
Contudo, os especialistas acreditam que essa diferença é fundamental.
“Em um regime parlamentarista, a eleição do primeiro-ministro ou presidente acontece por meio de um acordo no Parlamento entre forças políticas diversas”, disse Agustín Grijalva, ex-juiz da Corte Constitucional do Equador.
“Em um regime presidencialista, há duas eleições separadas e independentes: a do Parlamento, por um lado, e a do presidente, por outro, que não depende da escolha parlamentar. E cada um tem um mandato fixo”, acrescenta.
“É outra estrutura institucional totalmente diferente, que exige o cumprimento desses mandatos fixos.”
Crédito,Getty Images
Legenda da foto,Hugo Chávez conseguiu fazer com que a reeleição presidencial indefinida fosse aprovada na Venezuela
Segundo Grijalva, que é professor na Universidade Andina e pesquisa o tema, “o argumento de Bukele seria crível se ele nos desse exemplos de países com regimes presidencialistas que têm reeleição indefinida: aí veríamos que são os autoritários, como a Venezuela e Nicarágua”.
De fato, esses dois países, assim como Equador e Bolívia, permitiram a reeleição por tempo indeterminado de seus presidentes neste século, anos antes de El Salvador.
A mudança permanece em vigor na Venezuela e na Nicarágua, cujos governos passaram a ser considerados autocráticos por boa parte da comunidade internacional, enquanto Equador e Bolívia voltaram atrás e limitaram a permanência no poder.
Um paradoxo é que esses quatro países autorizaram a reeleição sem limites sob governos de esquerda, supostamente com ideologias opostas a de Bukele, estrela da direita continental.
E a forma como isso foi feito também revela semelhanças que chamam atenção.
‘Vamos fazer isso rápido’
A reeleição por tempo indeterminado na América Latina sempre foi aprovada durante o governo de presidentes que já haviam cumprido mais de um mandato e se aproximavam do limite constitucional que os obrigava a deixar o poder.
Ou seja, foi feita com nome e sobrenome.
Esses presidentes contavam com maiorias no Legislativo, no Judiciário ou em ambos os poderes ao mesmo tempo, para mudar as regras do jogo.
Bukele e o nicaraguense Daniel Ortega são os primeiros a governar por dois mandatos consecutivos em seus países desde a década de 1980, com base em decisões judiciais que derrubaram a proibição de reeleição imediata prevista em suas constituições.
Depois, em ambos os casos — assim como no Equador, sob a presidência de Rafael Correa —, maiorias legislativas mudaram as constituições para permitir a reeleição ilimitada. Atualmente, Ortega governa a Nicarágua há mais de 18 anos.
Getty Images-Daniel Ortega foi o primeiro presidente da Nicarágua a ser reeleito para mandatos consecutivos desde 1980, algo que a Constituição do país antes proibia
Na Bolívia, o Tribunal Constitucional autorizou o então presidente Evo Morales a tentar a reeleição por tempo indeterminado quando ele terminava seu terceiro mandato consecutivo, ainda que a Constituição permitisse apenas uma reeleição — e mesmo após a população ter rejeitado a mudança em referendo.
A eleição daquele ano na Bolívia acabaram em uma crise maior, e Morales abandonou o país acusado de golpe.
Assim como El Salvador aprovou a reeleição indefinida por meio de um trâmite acelerado, a Venezuela também fez o mesmo às pressas quando o então presidente Hugo Chávez solicitou isso ao Legislativo no fim de 2008. “Se é para fazer, vamos fazer isso rápido”, declarou.
A proposta foi aprovada em menos de dois meses e ratificada em um referendo pouco mais de um ano depois de essa possibilidade ter sido rejeitada também pelo voto popular.
Chavez defendia que os eleitores é que deveriam determinar se um presidente deve ou não continuar no cargo, porque “o povo é o dono de um país”.
Argumento similar ao que tem sido usado por Bukele.
“O poder voltou ao único lugar a que pertence verdadeiramente…ao povo salvadorenho”, disse a vice-presidente do Congresso, Suecy Callejas, ao votar a emenda.
Getty Images-Bukele aumentou gradualmente seu poder em El Salvador até conseguir aprovar a reforma constitucional no Legislativo, onde tem maioria absoluta
Mas Grijalva também rejeita essa ideia.
“Não é que se esteja devolvendo um direito à maioria. A maioria se expressa na Constituição e nas leis para que haja um regime democrático. O que está acontecendo é que essa maioria está sendo invocada para se estabelecer um regime autoritário.”
Consequências
O alerta de que o El Salvador de Bukele está trilhando “o mesmo caminho” que a Venezuela de Chávez também foi feito por Juanita Goebertus, diretora para as Américas da organização Human Rights Watch.
“Começa com um líder que usa sua popularidade para concentrar poder e termina em ditadura”, escreveu Goebertus na rede social X, quando El Salvador aprovou a reeleição por tempo indeterminado.
Chavéz, por exemplo, presidiu a Venezuela por 14 anos consecutivos até sua morte, em 2013. Seu sucessor, Nicolás Maduro, segue no poder até hoje.
Os especialistas acreditam que aprovar uma reeleição indefinida em um país é mais fácil quando há flexibilidade para alterar a Constituição ou quando o Judiciário está subordinado ao Poder Executivo.
Como exemplo oposto, destacam o caso da Colômbia, quando a Corte Constitucional impediu, em 2010, que o então presidente Álvaro Uribe concorresse a um terceiro mandato.
“É importante que as instituições construam reputação e atuem com profissionalismo. A Corte Constitucional [colombiana] era assim e conseguiu frear Uribe”, afirma Torrico, que é pesquisador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais no México.
Getty Images- Em 2010, a Corte Constitucional colombiana impediu que um referendo fosse convocado para decidir se o presidente Álvaro Uribe poderia se candidatar a um terceiro mandato
Ainda não sabemos até que ponto El Salvador vai se parecer, daqui para frente, com os países da região que autorizaram a reeleição por tempo indeterminado de seus presidentes.
Os casos da Bolívia e do Equador, que reverteram essa regra depois que Morales e Correa deixaram o poder, sugerem que também é possível voltar atrás.
Mas os especialistas veem motivos suficientes para se preocupar com os sinais vitais da democracia de El Salvador.
“A reeleição consecutiva já nos coloca em apuros, porque os presidentes, para se reelegerem, distorcem regras e acumulam poder”, diz Torrico.
“Mas, quando, além disso, se introduz uma reeleição indefinida, eles tentam controlar tudo. E o que se vive já é um regime autocrático.”
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse nesta terça-feira, 5, que o Itamaraty continua mobilizado contra o tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil e que o governo está coordenando uma resposta a ser apresentada até o dia 18 de agosto. “Sobre a investida da Seção 301 da Lei de Comércio norte-americana, que questiona o nosso PIX e outras práticas brasileiras absolutamente legítimas, gostaria de informar que o Itamaraty está coordenando a preparação da resposta a ser apresentada pelo governo brasileiro no próximo dia 18 de agosto”, afirmou, na abertura da 5ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o Conselhão, no Palácio Itamaraty.
E acrescentou: “O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social sustentável agrega talentos, experiência e articulação. Representa a independência, a força e o dinamismo do povo brasileiro. Será, não tenho dúvidas, instância estratégica no amplo esforço de defesa da economia nacional e do direito soberano do Brasil de definir o seu próprio destino.”
O vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), disse nesta terça-feira (5) que, na primeira oportunidade que tiver de ocupar a presidência da Câmara, irá pautar o projeto de lei que anistia condenados por participação no 8 de Janeiro.
Como vice-presidente, uma das possibilidades para que Côrtes assuma plenamente o comando da Câmara seria em viagens internacionais do presidente Hugo Motta.
“Eu, como vice da Câmara e do Congresso, sempre busquei equilíbrio e diálogo. Sempre respeitei Motta, que tem a pauta na sua mão. Diante dos fatos, já comuniquei Motta que, no primeiro momento em que eu exercer a presidência plena da Câmara, quando Motta se ausentar do país, irei pautar a anistia”, afirmou a jornalistas.
Travado na Câmara dos Deputados desde o ano passado, o projeto beneficia os envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
Na prática, o texto não beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030, mas a intenção da oposição é que o perdão se estenda ao ex-chefe do Executivo, para que ele retome a elegibilidade e possa disputar as eleições no próximo ano.
Após ameaças de obstrução e diversas manifestações da direita pela anistia, o presidente da Câmara decidiu que não iria pautar o requerimento de urgência do projeto.
Hugo chegou a buscar diálogo com representantes dos Três Poderes para chegar a uma alternativa de consenso, já que o governo é contrário à proposta, mas não houve avanço prático.
A Polícia Civil deflagrou, nesta terça-feira (5), a Operação Ritual do Desvio, que apura o repasse irregular, até para bruxaria, de aproximadamente R$ 425 mil em recursos públicos da Prefeitura de Goiânia. Foram expedidos três mandados de prisão e cinco de busca e apreensão, para Goiás e Alagoas.
A principal investigada é uma servidora municipal que, na época dos fatos, teria realizado 14 pagamentos fraudulentos inserindo dados falsos no sistema contábil da administração. Os desvios foram identificados pela Controladoria Geral do Município.
Entre os beneficiários estão uma mulher que oferece serviços de bruxaria, uma associação desportiva, uma farmácia registrada em nome da cunhada da servidora e faturas de cartões de crédito de uso pessoal.
A Justiça também determinou o bloqueio de contas dos investigados e a suspensão da servidora de suas funções públicas.
Conforme divulgado pela polícia, apenas em 2025, ela fez 14 pagamentos fraudulentos, que contabilizaram um desvio de aproximadamente R$ 425 mil.
De acordo com a polícia, uma prestadora de serviços, uma associação desportiva e uma farmácia que pertence a uma cunhada da servidora estão entre os beneficiários do dinheiro desviado. Além disso, faturas de cartões de crédito da investigada também foram pagas com os valores.
A corporação determinou ainda outras medidas cautelares, além dos mandados de prisão e busca e apreensão, e bloqueou valores nas contas dos envolvidos.
Nota da Prefeitura de Goiânia
A atual gestão da Secretaria Municipal da Fazenda (Sefaz) esclarece que, assim que identificou irregularidades no uso de verbas públicas, afastou a servidora envolvida e encaminhou à Controladoria-Geral do Município (CGM) todos os elementos e indícios apurados.
Diante das irregularidades constatadas, a CGM e a Procuradoria-Geral do Município repassaram as informações à Polícia Civil, para que o órgão desse andamento à investigação, que resultou na operação deflagrada na manhã desta terça-feira (5/8).
A atual gestão da Prefeitura de Goiânia reforça seu compromisso com a transparência e o bem público, e segue à disposição para colaborar com as investigações.
Polícia Civil mandados de prisão e busca e apreensão em Goiás e Alagoas — Foto: Divulgação/Polícia Civil