Familiares do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) são os alvos de busca e apreensão na quinta fase da operação Overclean nesta quinta-feira (17), por suspeita de desvio de emendas.
Entre eles, estão Elmo Nascimento, irmão do deputado, e Francisco Nascimento, ex-vereador de Campo Formoso e primo de Elmar.
Ao todo, estão sendo cumpridos 18 mandados de busca e apreensão. O próprio deputado, entretanto, não conta na lista dos alvos desta fase da operação.
Francisco Nascimento é o mesmo que, segundo a PF, jogou dinheiro pela janela durante uma operação no ano passado. Seria uma tentativa de se livrar de provas. Agora, ele é alvo novamente por suspeita de intermediar contratos fraudulentos com a prefeitura local.
Outros alvos
O empresário Alex Parente também é alvo da operação. Ele foi preso na primeira fase e é alvo de bloqueio de bens. Ele é investigado nessa fase porque as empresas dele ganharam contratos em Campo Formoso.
Marcos Moura, conhecido como Rei do Lixo, também é alvo de bloqueio de bens. A PF não viu necessidade de pedir buscas contra ele novamente.
O ex-presidente da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf) também é alvo de buscas. Havia afastamento do cargo contra ele, mas o investigado foi exonerado antes.
A CNN tenta contato com os citados, mas ainda não teve retorno.
O deputado Kim Kataguiri (União-SP) e a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) discutiram, na madrugada desta quinta-feira (17), durante uma sessão na Câmara dos Deputados, que resultou no acionamento da Polícia Legislativa.
No momento do bate-boca, a Casa debatia o projeto de lei que altera o texto do licenciamento ambiental.
Kataguiri defendeu que haveria muitos parlamentares contra a proposta por questões financeiras: “Agora eu quero falar aqui para esse Plenário qual é a verdadeira razão de ter tanta oposição para o direito do licenciamento ambiental: é dinheiro, é grana, é esquema”.
Xakriabá contestou a alegação do deputado e o chamou de deputado “estrangeiro” e “reborn”.
“Primeiro esse deputado estrangeiro, esse deputado reborn que acabou de falar e quer ter o direito de falar da questão indígena. O senhor não sabe da história, portanto o senhor fica quieto, o senhor é estrangeiro aqui, tinha de pedir perdão para os povos indígenas”, declarou a parlamentar, que teve o seu microfone cortado por falta de tempo.
Kataguiri rebateu e disse que a parlamentar estaria fazendo “cosplay” de pavão, em referência ao cocar da deputada, que é indígena.
“Determinada deputada me chamou de ‘deputado estrangeiro’. E, ali, próximo de onde estão meus ancestrais, tem o pavão, um animal lá da Ásia. Não tem nada a ver com tribo indígena aqui no Brasil, mas tem gente que parece que gosta de fazer cosplay”, alegou o parlamentar.
O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) também fez referência à Xakriabá, quando a denominou de “pavão misterioso”.
“Já que o assunto é o pavão misterioso, queremos saber do licenciamento ambiental do pavão aqui presente. Nossa, se para abrir uma estrada, abrir um empreendimento precisa de um licenciamento, para abater um animal também precisa de licenciamento ambiental”, disse Nogueira.
Por fim, a deputada pediu direito de resposta ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que lhe concedeu permissão.
“As pessoas podem ter bancadas inteiras para defender seu interesse, mas atacar uma mulher indígena pelo que se veste, eu não tenho problema de saber de onde eu venho, eu não preciso chamar de cosplay, porque isso é um racismo televisionado daqui e certamente eu tomarei as medidas necessárias”, a deputada afirmou até ter novamente seu microfone cortado por Motta.
Célia Xakriabá continua sua fala mesmo inaudível, mas logo é silenciada por aplausos da oposição. Uma discussão intensa se inicia entre os parlamentares na Casa e Motta solicita a intervenção da Polícia Legislativa na tentativa de manter a ordem da sessão.
A sessão encerrou com a aprovação do projeto de lei que altera as regras para a emissão de licenciamento ambiental no país. A proposta recebeu 267 votos favoráveis e 116 contrários.
A comitiva liderada pelo governador Ronaldo Caiado, em missão comercial no Japão, tem consolidado a posição do estado de Goiás como polo atrativo para empresas estrangeiras de diversos segmentos. Ao longo de três dias, o governo recebeu a sinalização de investimentos privados de R$ 2,7 bilhões, com projeção de aportes ainda maiores nos próximos anos.
“Esta proximidade entre o Japão e o Brasil chega hoje aos 130 anos de uma aliança consolidada, baseada em princípios de liberdade e democracia, que somos parceiros e simpáticos àquilo que é o avanço com o Japão”, afirmou Caiado. E acrescentou que o país é considerado um parceiro estratégico e que, por isso, Goiás está “de portas abertas” para fortalecer as relações bilaterais.
Logo na segunda-feira (15/07), o governador acompanhou a assinatura de um contrato que viabiliza a exportação de veículos produzidos na fábrica da HPE, subsidiária da Mitsubishi Motors localizada em Catalão, para países da América Latina.
Até então, a unidade só podia fabricar carros para o mercado brasileiro. Recentemente, a montadora havia anunciado um aporte de R$ 4 bilhões até 2032 para ampliar a atividade no estado.
O governo também conheceu a tecnologia utilizada pela startup japonesa Tsubame para a geração de amônia verde, matéria-prima para a produção de fertilizantes agrícolas. Segundo a empresa, será destinado um total de R$ 200 milhões para a implantação de uma fábrica em Mineiros, dentro de uma planta do grupo Atvos. A expectativa é de que a construção comece em 2026, com início da operação em 2027.
Fábrica da Mitsubishi em Catalão poderá exportar para América do Sul (Foto: Júnior Gumarães)
Terras raras
Além de garantir investimentos privados, o governador apresentou ao governo japonês as potencialidades de Goiás para a exploração de elementos de terras raras (ETRs). Isso porque o território goiano possui jazidas promissoras nas regiões Nordeste (Nova Roma, Monte Alegre, Cavalcante) e Oeste (Iporá). Além disso, já está em atividade uma grande mineradora em Minaçu, com foco exclusivo nesse tipo de produto.
Os ETRs são utilizados em veículos elétricos, baterias, equipamentos militares e data centers (estruturas físicas de processamento de dados), por exemplo.
O ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Ogushi Masaki, explicou que o país compra o produto majoritariamente da China e deseja diversificar a importação. Ele confirmou que há empresas interessadas em se instalar em Goiás e que uma comitiva virá ao estado na segunda quinzena de agosto.
Outras agendas no Japão
Uma reunião com lideranças do Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC) tratou do início da operação da instituição em Goiás. O JBIC, que pertence ao governo japonês e atua no financiamento de projetos internacionais, tem relacionamento no Brasil desde 1958, mas nunca chegou ao território goiano. No encontro, houve uma manifestação de apoio aos projetos localizados no estado.
Caiado teve audiência ainda com a ministra dos Negócios Estrangeiros do Japão, Arfiya Eri, para dialogar sobre a abertura do mercado japonês à carne bovina goiana.
Ele destacou que o estado foi reconhecido, neste ano, como livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Em junho, o Brasil bateu um recorde no abate de carne bovina, com mais de 1 milhão de animais, e o estado ficou na 3ª posição no ranking nacional.
Etanol
Enquanto cumpria agendas no país asiático, o governador Ronaldo Caiado recebeu a confirmação positiva de uma negociação que estava em curso no Brasil, com a biorrefinaria Inpasa. Com apoio da Prefeitura de Rio Verde e do Estado, a maior fabricante de etanol de milho do Brasil vai instalar sua primeira unidade goiana nesse município.
O aporte será de R$ 2,5 bilhões para a construção de uma usina, com expectativa de geração de cerca de 3 mil empregos.
O Senado aprovou a medida provisória que reajustou o soldo dos militares das Forças Armadas a partir de abril último. A MP 1.293/2025 segue para promulgação.
O soldo é o vencimento básico dos militares e varia conforme posto e graduação. O texto apresentado pelo Poder Executivo estabelece o reajuste em duas parcelas de 4,5%: uma que entrou em vigor em abril deste ano e outra para janeiro de 2026.
O impacto orçamentário estimado é de R$ 3 bilhões no primeiro ano e R$ 5,3 bilhões no segundo. Segundo o governo, o reajuste beneficia aproximadamente 740 mil pessoas, abrangendo militares da ativa, da reserva e pensionistas.
A medida reajusta os chamados “soldos”, ou seja, os salários-base pagos aos integrantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, além de pensionistas. O impacto estimado pelo governo é de R$ 3 bilhões neste ano e R$ 5,3 bilhões em 2026.
No topo da tabela, conforme o texto aprovado, está o soldo pago ao almirante de esquadra, ao general de exército e ao tenente-brigadeiro do ar, que passará de R$ 13.471 para R$ 14.711 após a aplicação das duas parcelas.
No piso da tabela, o soldo de R$ 1.078 chegará a R$ 1.177 em janeiro. Nesta faixa, estão marinheiro-recruta, recruta, soldado, soldado-recruta, soldado de segunda classe (não engajado) e soldado-clarim ou corneteiro de terceira classe.
Durante a tramitação, MP proposta pelo governo não sofreu mudanças; medida reajusta os “soldos” dos militares em 9% e tem impacto estimado de R$ 3 bi em 2025
Dulcineia Luz, 47, saiu de Rondonópolis, Mato Grosso, e passou dois dias viajando de ônibus rumo a Ubá, em Minas Gerais, uma cidade que nunca havia visitado — e da qual, até poucas semanas antes, nunca sequer havia ouvido falar.
Foram vídeos no TikTok que a apresentaram, por acaso, à cidade de cerca de 100 mil habitantes que, nas redes sociais, se vende como a “capital das plásticas”.
“Minha irmã já tinha feito cirurgia e ficou maravilhosa. Eu não pensava em fazer também, mas quando vi no TikTok… Olhei para minha barriga caída e pensei: ‘Tô precisando’. Aí eu vim realizar esse sonho.”
O principal atrativo que faz com que vídeos de mulheres recém-operadas dançando, ainda com suas cintas e drenos pós-cirúrgicos, somem milhões de visualizações e atraiam pessoas como Dulcineia, é o preço acessível.
João da Mata/BBC News Brasil -Dulcineia Luz fotografada durante sua estadia na Casa das Irmãs Condé, local que oferece cuidados pós-operatórios para mulheres que vêm de outras cidades para realizar cirurgias em Ubá
Em Ubá, é possível encontrar, por exemplo, a famosa cirurgia “x-tudo” (que consiste em elevação dos seios, remoção de gordura das costas com retirada do excesso de pele e gordura da barriga e possível aumento dos glúteos) por um total de R$ 18 mil — um valor que, em muitas capitais brasileiras, corresponde apenas ao custo de internação em hospitais de alto padrão.
Também há ofertas de mastoplastia (cirurgia nas mamas) por menos de R$ 11 mil, incluindo custos de hospital e anestesista, e abdominoplastia (cirurgia no abdômen), por menos de R$ 9 mil — um preço mais de 50% abaixo da média em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A depender do profissional escolhido, a única opção é pagar em dinheiro vivo.
Diariamente, mulheres de diferentes partes do Brasil — e até algumas brasileiras morando no exterior — chegam a Ubá atraídas pela chance de renovar a autoestima por um preço acessível.
Mas, para algumas pacientes, o que era um sonho se transformou em pesadelo, com resultados muito diferentes de suas expectativas, infecções e falta de assistência médica.
Hoje, pelo menos seis cirurgiões plásticos realizam procedimentos diariamente em Ubá. Dois deles — Maurino Grossi e Júlio Cesar Ferreira, considerados pioneiros da especialidade na cidade — acumulam, cada um, mais de 30 processos na Justiça.
Ao investigar o histórico de Júlio Cesar, a reportagem encontrou cerca de 40 ações contra ele. As acusações se concentram principalmente em supostos erros médicos, especialmente em mamoplastias. Dos 16 processos que já tiveram sentença, ele foi condenado em 7. Em outros 4 casos, o processo foi extinto — por acordo ou desistência do paciente — e 5 foram julgados improcedentes.
Já contra Maurino Grossi, a BBC News Brasil localizou cerca de 40 processos. Dos 28 já sentenciados, ele foi condenado em 5. Outros 2 foram considerados improcedentes. Nos 21 restantes, o processo foi extinto, seja por desistência dos pacientes ou por acordo entre as partes.
A BBC News Brasil procurou ambos e foi recebida por Maurino Grossi em seu consultório, em dezembro de 2024, como descreveremos ao decorrer do texto.
Júlio Cesar Ferreira não aceitou dar entrevista, mas foi contatado por mensagem com questionamentos sobre os casos relatados aqui e enviou uma nota por meio de seu advogado, descrita ao longo deste texto.
João da Mata/BBC News Brasil – O cirurgião Maurino Grossi com a paciente Claudineia Dias
‘Uma máfia que deu certo’
Pelas ruas de Ubá, nada indica que a cidade, mais famosa pela venda de móveis de madeira, esteja tão economicamente aquecida pela cirurgia plástica. Mas as redes sociais fizeram com que o engajamento nas redes se convertesse, de fato, em negócios.
A fama criada online impulsionou uma rede de novos trabalhos: motoristas especializados no transporte de pacientes, lojas de material hospitalar, casas de cuidado e até uma modalidade financeira voltada especialmente para quem deseja operar.
Lucilene Queiroz é a responsável pela Pag Crédito Ubá, que tem atraído clientes com um financiamento programado, pensado especificamente para cirurgias estéticas.
Ela recebeu a reportagem em um coworking e contou como as redes sociais têm feito com que ela receba mais de 80 mensagens de interessadas por dia e quais são as opções das clientes.
“Funciona basicamente como um consórcio: a cliente escolhe o plano, começa a pagar as parcelas e já sabe quando vai operar — sem lance e sem sorteio”, explica Lucilene.
João da Mata/BBC News Brasil – Lucilene Queiroz, responsável pela Pag Crédito Ubá
Segundo ela, é possível aderir ao programa mesmo com o nome negativado, com valores que variam entre R$ 5 mil e R$ 100 mil e parcelamento fixo que pode chegar a até 120 vezes.
“Muitas vêm só pela curiosidade, mas ainda assim o movimento é grande. Nos meses de férias, temos uma média de 40 mulheres operando por mês só pelo plano, fora as que vêm com recurso próprio.”
Lucilene relata que esse movimento começou há cerca de um ano e meio, quando as casas de cuidados pós-operatório e fisioterapeutas que oferecem esse serviço começaram a viralizar no Instagram e, principalmente, no TikTok, com posts sobre o quão baratas são as cirurgias na cidade.
“Não foram nem os médicos que apareceram primeiro — foram elas que puxaram todo mundo junto, e aí virou esse boom que até hoje impressiona.”
“Eu brinco que é uma máfia que deu certo, uma máfia ‘do bem’. A gente já consegue girar tudo em torno da cidade — do médico a essas casas que recebem as mulheres no pós-operatório, que é tão importante quanto a cirurgia em si.”
A Casa das Irmãs Condé
No Whatsapp, dezenas de grupos com os nomes dos cirurgiões — mas, usualmente, sem a presença deles — compartilham fotos de “antes e depois”, expectativas, indicações de serviços (como as casas de cuidados) e orçamentos.
Há também dicas de como levar o dinheiro vivo — no caso de médicos que não aceitam pix ou cartão.
Algumas mulheres colocam as notas em fraldas, pochetes, ou avisam o banco antecipadamente para conseguir sacar as quantias altas depois de chegar à cidade.
Grupos das casas de cuidados também são usados para divulgar seus serviços, e alguns compartilham arquivos em PDF com informações detalhadas sobre médicos.
“A gente não indica médico, tá? Hoje temos vários aqui em Ubá. O que eu faço é orientar: temos um grupo no WhatsApp onde as meninas postam fotos de antes e depois, comentam sobre as cirurgias, e cada uma escolhe com base nessas trocas. Sempre falo que é uma decisão muito pessoal. Para ajudar, até montei um guia com o trabalho de todos os médicos — assim, cada uma pode olhar e dizer: ‘é com esse que eu quero operar’”, diz Ana Paula Condé, uma das donas da casa de cuidados conhecida como Casa das Irmãs Condé.
Ela, enfermeira, e sua irmã gêmea, Juliana, que é fisioterapeuta, recebem mulheres de diferentes lugares e, em alguns meses, têm uma fila de espera.
Há outros estabelecimentos na cidade que parecem também receber muitas pacientes, como a Casa de Cuidados Shekinah e o Spa de Cuidados Fernanda Varella. As responsáveis pelas casas disseram “não ter interesse” em conversar com a reportagem.
Quando questionadas sobre por que a cirurgia em Ubá é tão mais barata, as irmãs Condé dizem que, para quem é da cidade, o preço não é barato, mas simplesmente o valor que se cobra usualmente.
“Eu falo pra vocês, gente: fiz minha cirurgia há 13 anos, abdômen e mama, e paguei R$ 3.600. Pra gente, aqui em Ubá, isso é um preço normal. Normal! Aí as meninas comentam: ‘Na minha cidade custa R$ 100 mil!’ Gente, como assim? Cem mil por uma plástica? Pra gente, isso não existe. Não sei se é pela cidade, pela economia local… mas esse é o valor aqui em Ubá”, diz Juliana.
Ana Paula conta que a demanda já cruzou o país — e até o oceano.
“A gente recebe pessoas do mundo inteiro. Tem gente de Londres, da Guiana, do Suriname — vem bastante gente de lá, muitas vezes com pepitas de ouro. E do Brasil todo: Paraná, Mato Grosso, Bahia, Acre, Belém, Tocantins, Belo Horizonte… Mato Grosso, então, tem vindo demais. É o Brasil inteiro e um pouquinho do mundo.”
Apesar das origens diferentes, na “pousada”, a reportagem encontrou algo em comum entre as dezenas de mulheres que se recuperavam das cirurgias e aceitaram conversar sobre suas experiências: a visão da cirurgia plástica como um sonho e como resgate da autoestima.
João da Mata/BBC News Brasil -Casa das irmãs Condé recebe mulheres de diferentes lugares e, em alguns meses, tem fila de espera
A reconstrução da autoestima
Talita, 25, natural de Niterói, no Rio de Janeiro, acompanhava o trabalho de uma cirurgiã que atua em Ubá há 4 anos, até que conseguiu ter dinheiro para realizar diferentes procedimentos de uma vez: mamoplastia com aumento, abdominoplastia e lipo com enxerto de glúteo.
“Bastante coisa, né? Meu sonho mesmo era só o abdômen, mas já que eu vinha, falei: ‘vou recauchutar tudo e nunca mais entro em centro de cirurgia’. Agora é atividade física e manter uma vida mais saudável.”
O total saiu por cerca de R$ 34 mil.
Para ela, a vontade de mudar o corpo surgiu depois do nascimento de suas duas filhas.
“Depois das gestações, fiquei com uma diástase enorme, o que abalou muito minha autoestima. Claro que foi por um bom motivo — minhas filhas são tudo para mim. Mas queria voltar a me sentir confortável usando um biquíni”, diz.
Claudineia Dias tem 33 anos e foi de Rondônia até Minas Gerais para conseguir realizar a cirurgia, um sonho que cultivava há dois anos.
“Eu queria muito fazer, mas queria fazer na minha cidade, no meu Estado — só que lá era muito caro, e eu não tinha o dinheiro. Aí engravidei, tive meu bebê, esperei um tempo… agora ele tá com um ano e dois meses. Foi quando conheci a casa das irmãs Condé, com os médicos e tudo mais, e pensei: agora eu consigo.”
Para fazer uma abdominoplastia e mamoplastia com o cirurgião Maurino Grossi, ela viajou por mais de um dia, entre avião e ônibus.
“Foi cansativo, mas valeu a pena. Nossa, como valeu a pena! Meu Deus! Eu faria tudo de novo. Tem mulheres que dizem: ‘Ah, eu fiz cirurgia plástica, mas nunca mais faria’. Eu não. Eu faria novamente, passaria por todo o processo outra vez, sem pensar duas vezes.”
‘O barato sai caro’
João da Mata/BBC News Brasil – Gelva Consuelo acusou médico de ter feito lipoaspiração ‘ultra superficial’ em suas costas
Já Gelva Consuelo, 56, diz que a cirurgia com o mesmo médico, feita em 2016, não valeu a pena. Ela acusou Maurino Grossi de ter feito uma lipoaspiração “ultra superficial” em suas costas.
“Decidi operar em Ubá depois de ouvir muitas propagandas sobre os cirurgiões de lá, que eram maravilhosos, e porque o preço estava mais acessível do que aqui em Belo Horizonte, onde moro. Mas, infelizmente, não deu certo.”
O médico ofereceu outra cirurgia, reparadora, e Gelva aceitou — mas continuou insatisfeita após o procedimento, que ocorreu no ano seguinte, em 2017.
Os prontuários hospitalares dos procedimentos mostram que o primeiro durou 15 minutos, e o segundo, 25 minutos.
“Eu sou esteticista há 20 anos, trabalho muito com drenagem pós-cirúrgica e eu mesma já tinha feito uma lipo de costas antes, então eu sei reconhecer quando uma cirurgia não foi bem feita. Eu percebi que a cânula só passou pela camada superficial.”
Gelva decidiu levar o caso à Justiça, e chegou a um acordo com o médico. Ele devolveu o dinheiro que ela investiu na cirurgia.
À reportagem, ela mostrou fotos de seu antes e depois como um indicativo de que não houve mudança.
“Se eu não tivesse essas fotos e não soubesse do assunto, eu seria só mais um caso perdido, como milhares de mulheres que esperam que a cirurgia seja a solução para tudo. E sabe o que ele diz para elas? ‘Foi o melhor que eu pude fazer por você, porque você estava muito ruim’.”
A reportagem questionou Maurino Grossi, cirurgião plástico especialista pelo Hospital Barata Ribeiro, no Rio de Janeiro, sobre o caso de Gelva. Ele disse que não se lembra especificamente da paciente, e que é impossível que uma lipo de costas tenha durado apenas 15 minutos.
“Não, isso não existe. Olha, deixa eu te falar — eu não sei exatamente do que estão falando, mas é o seguinte: às vezes, a paciente volta para fazer algum retoque, corrigir uma irregularidade, entende? Por exemplo, se for uma correção de lipo e a queixa for pequena, aí o tempo de cirurgia pode variar. Mas uma lipo nas costas em 15 minutos? Isso não existe.”
Quando questionado sobre os mais de 30 processos em seu nome, Grossi respondeu:
“Eu tenho 20 anos de profissão, devo ter feito quase 10 mil cirurgias. Você acha essa estatística tão alta assim? Hoje em dia, é muito fácil para uma paciente dizer ‘meu médico errou’ e levar o caso para a Justiça. Mas quem decide isso não é o paciente, nem o advogado — é o perito. É ele, um médico indicado, que vai avaliar se houve ou não erro médico. Só ele.”
Nos processos, também é possível ver que Grossi optou por acordo, como fez com Gelva, com várias das pacientes.
“Hoje, não faço mais. Porque quanto mais a gente faz acordo, mais eles acham que a culpa é do médico, que é fácil tirar algum dinheiro. Já cheguei a receber muitas ameaças de paciente, sabe? Agora eu não faço mais. Se quiser levar pra Justiça, pode levar. Porque senão vira chantagem — casos que seriam simples de resolver viram uma tentativa de conseguir o dinheiro de volta à força.”
Além de Gelva, a reportagem conversou com mais mulheres que ficaram insatisfeitas com o resultado das cirurgias performadas por Grossi. A maioria delas não quis levar o caso à Justiça. Muitas relatam que acreditam que o médico realizava várias cirurgias no mesmo dia, com duração curta, mas não apresentaram evidências.
A isso, Grossi responde que hoje faz uma ou duas cirurgias no dia — e que, no passado, fazia, no máximo, quatro.
“Quanto mais cirurgias você faz, mais cansativo é — e maior a chance de complicações. Então, foi uma escolha que eu fiz. Já são 20 anos operando, e agora eu quero menos complicações. Quero viver uma vida mais tranquila.”
A reportagem também encontrou casos mais graves de complicações por cirurgias realizadas na cidade.
Rosimar Cordeiro Messias, 53, foi atraída pelos preços baixos de Ubá antes da fama chegar às redes sociais.
Em 2015, circulava por Crucilândia, sua cidade natal, a cerca de cinco horas de Ubá, a notícia de cirurgias plásticas acessíveis — e com resultados considerados excelentes.
“Quando eu fiz 40 anos, já tinha passado por três gestações, e minha barriga ficou bem grande. Era um sonho meu ter uma barriga bonita. Com o tempo, fui juntando dinheiro pra fazer essa cirurgia lá em Ubá, com o doutor Júlio Cesar. Era o meu sonho, porque eu ia pra praia em janeiro, e operei no dia 2 de novembro — achei que até lá já estaria tudo bem. Achei que a cirurgia ia ser maravilhosa, só que não foi. Era um sonho meu ficar com o corpão bonito, sabe? Mas nada deu certo. Fiz também a retirada do excesso dos seios, e também deu errado, ficou torto.”
João da Mata/BBC News Brasil – Rosimar Cordeiro, fotografada em sua casa, em Crucilândia (MG), a cerca de cinco horas de carro de Ubá
Rosi, como é conhecida, sabia de duas vizinhas que já tinham passado pelo procedimento e, animada com os relatos, decidiu embarcar na jornada com outras duas amigas.
“Uma dessas vizinhas teve um problema e ficou sem jeito de me contar. Era uma coisa simples, uma inflamação, mas ela ligava lá e ninguém dava atenção. Meses depois, quando ela viu o que aconteceu comigo… Teve um dia que ela me ligou chorando, dizendo que ficou com muito remorso por não ter me contado.”
O que aconteceu com Rosi começou também, aparentemente, como uma inflamação simples. Mas se tornou um quadro sério que a deixou de cama durante sete meses.
As duas cirurgias escolhidas por ela, mamoplastia (para tirar excesso dos seios) e abdominoplastia (para diminuir a gordura e excesso de flacidez na região), custaram um total de R$ 6.400.
“Eu achei muito barato, mas só não sabia que esse barato ia ficar muito, muito caro no final.”
“Depois da cirurgia, senti dor a noite inteira. Quando foi no outro dia, na hora de tirar o curativo, minha barriga já estava vermelha. A enfermeira me deu alta e disse como eu precisava limpar, se não teria uma infecção. Eu respondi: ‘Mas eu não tô bem, como é que eu vou embora? Vou viajar assim?’. E ela disse: ‘Ué, você quer morar aqui?’. Ela era sempre grosseira. Eu fiquei sem reação.”
Dias após a abdominoplastia, a região operada começou a se abrir. Em pouco tempo, a incisão se transformou numa ferida profunda, com secreção amarelada e sinais claros de infecção. Rosi relata que sentia dor extrema, não conseguia trabalhar ou se alimentar.
Por e-mail, uma de suas filhas enviava imagens e pedia orientações ao consultório do cirurgião. As respostas, assinadas por uma secretária do médico, mostram indicação de limpar o local com gaze e soro, e recomendação de remédios para dor.
Procurado pela BBC News Brasil, o advogado do médico Júlio Cesar Ferreira argumentou que pontos se abrem em razão de a paciente não obedecer ao repouso absoluto orientado no momento da alta ou se a paciente não toma os devidos cuidados após voltar para casa.
Ele disse ainda que, para que ocorra o acompanhamento pós-cirúrgico, é necessário que a paciente retorne ao consultório nas datas pré-agendadas, mas que algumas pacientes que não moram na cidade se recusam a retornar.
Rosimar diz que voltou quatro vezes para consultas pós-operatórias e afirma que seguiu os cuidados indicados pela equipe do médico no pós-operatório.
Ao pesquisar o histórico do doutor Júlio Cesar, a reportagem descobriu que ele é alvo de dezenas de processos na Justiça.
Neles, ele é acusado principalmente de erros médicos, em especial em mamoplastias. Muitos ainda estão em andamento, mas dos 16 processos em que a sentença já foi proferida, ele foi condenado em sete. Em outros quatro casos, o processo foi extinto ou porque houve um acordo, ou porque os pacientes desistiram. E cinco processos foram considerados improcedentes, ou seja, não houve condenação.
A BBC News Brasil também questionou o médico sobre esses processos.
Na mesma nota, o advogado disse que “alguns já tiveram proferida a sentença de improcedência”.
João da Mata/BBC News Brasil – Rosimar Cordeiro mostra sua cicatriz pós-cirúrgica
“Foi só piorando. A gente mandava foto pro doutor todo dia. Quando comecei a chorar de tanta dor, a Carla tentou de novo o contato com o consultório, mas eles só diziam que era normal.”
Rosi conta que chegou a voltar a Ubá duas vezes para ser avaliada pessoalmente pelo médico, encarando novamente viagens de 10 horas de carro, ida e volta. Em uma das visitas, relata ter sido atendida apenas pela enfermeira, que chegou a cortar uma parte da gordura que saía da ferida, sem que o cirurgião a visse.
Durante esse período, a recuperação foi marcada por dor intensa, secreção com mau cheiro e tentativas de aliviar o sofrimento com medicamentos fortes e chás caseiros. “Quando fui ao clínico geral, ele olhou e disse: ‘Você devia processar esse médico. Não tem condição. Ele deveria ter te internado’. Eu viajei daquele jeito, com dor, e ele ainda mandou eu ir embora. Eu não aguentava nem fazer o curativo. Quando colocavam a gaze, ela entrava no buraco e a dor era insuportável. Tiveram que usar compressa aberta. Se colocasse gaze, ela ficava lá dentro.”
Após meses de tratamento, Rosi conseguiu fechar a ferida com sessões de laser, que ajudam a regenerar a pele e a estimular a cicatrização. Ela conta que precisou gastar grande parte de suas economias para arcar com os custos do procedimento e dos cuidados posteriores.
Quando estava melhor, Rosi procurou o médico Júlio Cesar pessoalmente. “Eu disse que queria o meu dinheiro de volta para poder consertar essa cicatriz. Aí ele falou que ele mesmo poderia fazer isso, mas eu jamais confiaria nele de novo”, diz.
Na saída do consultório, desabafou com outras mulheres que aguardavam atendimento.
“O lugar estava sempre lotado. Eu estava nervosa e gritei: ‘Vocês vão ter coragem de fazer cirurgia com esse médico? Ele não dá atenção. Se passar mal, se não der certo, ele não tá nem aí.’”
Rosi chegou a considerar uma ação judicial. “Eu falei que ia processar. Ele me desafiou a tentar, dizendo que tinha mais de cinco advogados. Aí eu desisti, fiquei desanimada. Mas ainda penso em tanta gente que continua fazendo cirurgia com ele…”
Em nota, o advogado de Júlio Cesar Ferreira afirma que o médico jamais disse que Rosimar não poderia entrar na Justiça porque ele teria “uma variedade de advogados à sua disposição”.
A cicatriz profunda na barriga não foi a única marca deixada pela experiência. Cerca de um mês após a cirurgia, Rosi parou de se alimentar e precisou de atendimento médico. Ela relata que desenvolveu depressão em decorrência do trauma.
“Tinha um mês, mais ou menos, que eu realmente não comia. Fui ao posto de saúde e tive que ficar no soro. Achei que ia morrer, porque já não tinha força física ou mental nem pra sair da ambulância e entrar no posto. Estava muito fraca, sabe? Foi uma fase em que eu pensei que não ia dar conta. Não mesmo.”
A reportagem também conversou com mulheres que ficaram satisfeitas com o resultado de cirurgias feitas pelo doutor Júlio Cesar. Uma delas é Daniela Vieira, de 45 anos, que foi de Primavera do Leste, no Mato Grosso, até Ubá, para ser operada pelo médico.
“Eu fiquei muito feliz com o resultado, foi exatamente o que eu esperava. Não tive nenhum problema na cirurgia, graças a Deus. Em 2023, eu fiz abdominoplastia, redução de mama com prótese e lipoaspiração — tudo com o doutor Júlio, que foi o médico que eu escolhi pra mim. A experiência foi excelente, fiquei realmente muito satisfeita.”
O que considerar antes de optar por uma cirurgia plástica
Tanto Rosi como Gelva recomendam que, antes de decidir pela cirurgia em Ubá ou em qualquer outra cidade, a pessoa interessada faça muita pesquisa e não se deixe atrair tanto pelo preço.
“É um barato que pode sair caro”, diz Gelva.
O médico Marcelo Sampaio, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, indica que há fatores importantes a se considerar na hora de escolher um procedimento cirúrgico.
“O primeiro passo para uma cirurgia segura é buscar indicações confiáveis. Quem te indicou? Conhece alguém que já operou com esse médico? Como foi a experiência no pré e no pós-operatório? Depois, é importante confirmar se o profissional é habilitado para o procedimento. Dá pra checar no site do CRM ou da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.”
Na consulta, diz Sampaio, o médico precisa te explicar os resultados possíveis e também os riscos.
“Se ele só mostra o lado bom, desconfie. Por fim, veja onde ele opera. É um hospital autorizado, com estrutura adequada e registrado na Anvisa? Tudo isso faz diferença na sua segurança.”
Consultado pela BBC News Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) disse que não há nenhum processo administrativo em curso contra os dois médicos citados na reportagem.
O CFM alerta que, por vezes, valores atrativos podem ocorrer às custas da supressão de condições mínimas de segurança para o paciente e precariedade da estrutura dos estabelecimentos assistenciais onde os procedimentos são realizados. E diz que tais práticas colocam em risco a vida, a saúde e a segurança das pessoas.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu preservar quase integralmente o decreto do governo federal que elevou as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Moraes é relator de ações que contestam ou defendem o decreto no STF, ponto central de um impasse entre o Executivo e o Congresso Nacional.
A única exceção de Moraes foi a tributação sobre as operações conhecidas como “risco sacado” — um modelo usado principalmente no varejo, no qual empresas antecipam o pagamento a fornecedores com a intermediação de bancos, que cobram uma taxa pelo serviço. Antes da mudança feita pelo governo, essa operação não era considerada crédito e, portanto, não estava sujeita ao IOF.
Com o decreto, o governo passou a tratar o risco sacado como operação de crédito, sujeitando-o à tributação. A expectativa era de arrecadar R$ 12 bilhões em 2025 e R$ 31,2 bilhões em 2026. A retirada do risco sacado da base de cálculo do imposto, contudo, deve reduzir essa projeção em R$ 450 milhões no próximo ano e em até R$ 3,5 bilhões em 2026.
Ao justificar sua decisão, Moraes afirmou que o governo ultrapassou sua competência ao tentar, por decreto, equiparar o risco sacado a uma operação de crédito, prática que fere o princípio da legalidade tributária. Segundo o ministro, essa equiparação também compromete a segurança jurídica, já que o próprio poder público sempre diferenciou os dois tipos de operações.
Ainda assim, o ministro reconheceu que o Executivo tem prerrogativa constitucional para alterar alíquotas do IOF por decreto, dado seu caráter extrafiscal. Ele destacou que não foi comprovado qualquer abuso de poder ou desvio de finalidade na elevação das alíquotas.
A decisão desta quarta-feira (17) ocorre após semanas de disputa entre Executivo e Congresso e sucede uma tentativa de conciliação conduzida pelo próprio Moraes no Supremo. No início do mês, o ministro havia suspendido tanto os decretos do governo que aumentavam o IOF quanto o decreto legislativo aprovado pelo Congresso para anulá-los. Ele também marcou uma audiência de conciliação entre representantes dos três Poderes para o dia 15 de julho, mas o encontro terminou sem acordo.
O caso chegou ao STF por meio de três ações. De um lado, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, protocolou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) para barrar os decretos presidenciais que elevaram o imposto. De outro, o PSOL questionou o decreto legislativo que derrubava as medidas do governo. Já a Advocacia-Geral da União (AGU) entrou com uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), defendendo a validade do ajuste promovido pelo Executivo.
Ao decidir pela suspensão dos decretos no início do mês, Moraes já havia ressaltado que o STF tem competência para resolver impasses entre os Poderes e zelar pelo cumprimento da Constituição. Na decisão, ele escreveu que o confronto entre Executivo e Legislativo, com medidas e contramedidas sucessivas, ameaçava a harmonia entre os Poderes prevista no artigo 2º da Constituição.
“Mais do que determinar a independência dos Poderes, o texto constitucional exige a harmonia entre eles, como princípio básico e inafastável de nosso Estado democrático de direito em busca do bem comum para toda a sociedade brasileira”, afirmou Moraes à época.
A linha do tempo da batalha do IOF
O governo enviou uma primeira proposta de aumento do IOF em maio, que reforçaria o caixa em R$ 20,5 bilhões em 2025 e em R$ 41 bilhões em 2026.
Com a resistência do Congresso, a equipe econômica alterou a proposta, sugerindo uma alta menor do imposto. Com isso, a arrecadação prevista caiu para R$ 10 bilhões neste ano e R$ 30 bilhões no seguinte.
Por outro lado, o Executivo propôs outras medidas para compensar a arrecadação menor do IOF, como taxar em 5% títulos financeiros que hoje são isentos de Imposto de Renda (IR), como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).
Essa proposta também sofre resistência no Congresso. A apresentação do parecer do relator do projeto na Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), estava prevista para o último dia 27 de junho, mas foi adiada após a derrubada dos decretos do IOF, que aconteceu na antevéspera.
No dia 3/7, Lira retomou o tema, disse ter concluído o primeiro esboço do texto que será apresentado à Comissão Especial do tema na Casa e sinalizou que as negociações devem avançar na próxima semana.
Junto ao aumento do IOF, o governo anunciou em maio um congelamento de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano, com objetivo de cumprir a meta fiscal de 2025.
Em 25 de junho, o Congresso aprovou a anulação do decreto presidencial que aumentava alíquotas do IOF, em uma derrota para o governo.
A decisão foi aprovada na Câmara dos Deputados e depois no Senado.
Na Câmara, foram 383 votos a favor e 98 contra a derrubada da medida, um placar que mostrou que mesmo parlamentares de partidos da base aliada do governo ficaram contra os interesses do Palácio do Planalto.
No Senado, a votação foi simbólica — sem contagem de votos.
No dia 30/6, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, publicou vídeo nas redes sociais defendendo a derrubada do aumento do IOF pelo Congresso e rebatendo críticas do governo à decisão.
Aumento do IOF virou disputa entre o Ministério da Fazenda e o Congresso/Agência Brasil/Câmara dos Deputados
“Quem alimenta o ‘nós contra eles’ acaba governando contra todos. A Câmara dos Deputados, com 383 votos de deputados de esquerda e de direita, decidiu derrubar um aumento de imposto que afeta toda cadeia econômica. A polarização política tem cansado muita gente, e agora querem criar a polarização social”, disse Motta.
Na postagem, o parlamentar negou ter traído o governo por ter pautado o projeto que derrubava a alta do IOF sem avisar.
“Capitão que vê o barco indo em direção ao iceberg e não avisa não é leal, é cúmplice, e nós avisamos ao governo que essa matéria do IOF teria muita dificuldade de ser aprovada no Parlamento. Presidente de qualquer Poder não pode servir ao seu partido, tem que servir ao seu país”, afirmou.
Em 1º de julho, a AGU protocolou ação junto ao STF com o objetivo de reverter a derrubada do decreto que aumentava alíquotas do IOF.
Na ação, a AGU alegava que a decisão do Congresso de barrar o aumento do IOF “violou os princípios da separação dos poderes e da legalidade tributária”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu a judicialização do caso.
“Se eu não entrar com um recurso no Poder Judiciário, não for à Suprema Corte, não governo mais”, disse ele em entrevista à TV Bahia, afiliada da Globo, no dia 2/7.
“Cada macaco no seu galho. Ele [Congresso] legisla, e eu governo.”
Em 5 de julho, o ministro Alexandre de Moraes suspendeu temporariamente os efeitos da decisão do Congresso que anulou o decreto do IOF e convocou uma mediação entre Executivo e Legislativo para tentar resolver o impasse.
Contudo, a mediação não avançou e, em 16 de julho, Moraes revogou a suspensão, confirmando a decisão do Congresso e encerrando o aumento do IOF.
Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil – ‘Se eu não entrar com um recurso no Poder Judiciário, não for à Suprema Corte, não governo mais’, disse Lula em entrevista à TV Bahia, na quarta (2/7)
Por que o governo propôs a alta do IOF
A elevação do IOF foi proposta pelo Ministério da Fazenda com objetivo de equilibrar as contas públicas e cumprir as regras do arcabouço fiscal.
Sem a medida, a pasta terá que buscar outras fontes de receita extra ou cortar gastos.
O governo argumenta que a alta do IOF impactaria sobretudo os mais ricos. Já o corte de despesas, diz a gestão Lula, afetaria programas que atendem os mais pobres.
“O decreto do IOF corrige uma injustiça: combate a evasão de impostos dos mais ricos para equilibrar as contas públicas e garantir os direitos sociais dos trabalhadores”, argumentou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A oposição, por sua vez, diz que a população já paga muitos impostos e que o ajuste das contas públicas tem de vir de cortes de despesas. Para os oposicionistas, o imposto maior aumentaria o custo de produção no país.
“É um confisco unicamente visando arrecadar recursos. Ataque ao setor produtivo: agro, serviços, comércio, indústria, tudo afetado”, argumentou em suas redes sociais o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Luciano Zucco (PL-RS).
Congresso protege o ‘andar de cima’, diz economista
Em entrevista recente à BBC News Brasil, o economista-sênior da consultoria LCA e pesquisador-associado da FGV, Bráulio Borges, defendeu que o governo Lula adote medidas para conter a alta de despesas, como interromper os reajustes do salário-mínimo acima da inflação.
A medida tem impacto importante nas contas públicas, porque as aposentadorias e pensões pagas pelo INSS são atreladas ao piso salarial.
Por outro lado, ele afirmou que o ajuste fiscal também demanda aumento de receitas e concordou com o governo sobre o impacto do IOF atingir os mais ricos.
Borges ressaltou ainda que o Congresso tem dificultado o trabalho do governo de ajustar as contas públicas, ao aprovar benefícios tributários para empresas que desfalcaram a arrecadação nos últimos anos, como as prorrogações de um programa emergencial criado para o setor de eventos na pandemia (Perse) e da desoneração da folha de pagamentos — uma política de emprego ineficiente, segundo estudos econômicos.
O Congresso não só manteve a desoneração de empresas, como estendeu o benefício a pequenos municípios no final de 2023, uma medida “eleitoreira”, na visão de Borges.
As duas medidas (Perse e desoneração) representaram uma renúncia de receita de quase R$ 50 bilhões no ano passado.
“Irrita ver o Congresso querendo posar como se fosse o adulto na sala, sendo que o Congresso, do ponto de vista do equilíbrio fiscal, atrapalhou muito”, criticou.
Borges também aponta limitações em uma das propostas que a oposição e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), mais têm defendido para equilibrar as contas públicas: uma reforma administrativa para reduzir o custo com servidores.
Na sua visão, a medida é importante para melhorar o serviço público, mas faria apenas “cócegas” na questão fiscal, ao gerar uma economia de até R$ 3 bilhões.
Muito mais eficiente, argumenta, seria reduzir as emendas parlamentares, que mais que quadruplicaram a partir de 2020.
“É uma excrescência. As emendas parlamentares não eram para estar nos R$ 50 bilhões por ano. Eram para estar em R$ 10 bilhões, que é mais ou menos a média que a gente teve de 2015 a 2019”, crítica.
O governo dos Estados Unidos (EUA) abriu uma investigação contra o Brasil por supostas práticas comerciais desleais. A apuração, anunciada pelo representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, inclui críticas ao sistema de pagamentos Pix e ao combate à pirataria em território brasileiro.
A medida é baseada na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, que permite a imposição de sanções comerciais em casos de restrições consideradas abusivas. O inquérito também menciona tarifas sobre o etanol dos EUA, regras sobre a transferência internacional de dados e acusa o Brasil de favorecer economicamente parceiros como Índia e México, em prejuízo das exportações americanas.
O relatório aponta ainda que a Rua 25 de Março, em São Paulo, continua sendo “um dos maiores mercados de produtos falsificados” , apesar das operações de fiscalização.
A inclusão do Pix como ponto central da investigação causou reação no mercado financeiro e no setor de criptoativos. “A declaração de Trump revela uma contradição difícil de ignorar: ao mesmo tempo em que se posiciona como pró-cripto e defensor da liberdade econômica, ele ataca justamente o Pix, ferramenta essencial para a democratização do acesso aos criptoativos no Brasil” , disse Sarah Uska, analista do Bitybank.
Ela destacou ainda que “o Pix se tornou a principal ponte entre o real e o universo cripto, sendo responsável por mais de 90% dos depósitos em corretoras nacionais. Atacar o Pix é, na prática, fragilizar a infraestrutura que viabilizou a entrada de milhões de brasileiros no mercado de ativos digitais”.
Tarifa de 50% acirra tensão entre os países
A nova investigação acontece dias após o presidente Donald Trump impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, acirrou a tensão entre os dois países.
Na semana passada, Trump afirmou que o Brasil estaria tratando “de forma injusta” o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de “honesto” e “bom negociador”. Lula, por outro lado, respondeu que “o Brasil é um país soberano” e que “não aceitará ser tutelado”.
Um repórter da emissora Al Jazeera, do Catar, foi surpreendido por uma explosão em um prédio em Damasco, na Síria, no momento em que se preparava para entrar ao vivo, nesta quarta-feira (16). O ataque gerou uma grande nuvem de fumaça no local.
O jornalista se abaixou assim que o edifício foi atingido.
Israel vem realizando ataques aéreos contra a Síria como parte de seu compromisso de proteger os drusos, uma minoria árabe no centro dos confrontos com apoiadores do governo.
Um ataque aéreo israelense atingiu o palácio presidencial na capital da Síria, Damasco, na quarta-feira (16), de acordo com uma testemunha da Reuters.
Os ataques aéreos massivos danificaram o Ministério da Defesa em Damasco.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, alertou o governo sírio na quarta-feira (16) para “deixar os drusos em paz” após confrontos ocorridos na cidade síria de Sweida, de maioria drusa.
Os drusos são uma minoria étnico-religiosa árabe de aproximadamente um milhão de pessoas que vivem principalmente na Síria, Líbano e Israel.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), empregou em seu gabinete quatro parentes da fisioterapeuta e funcionária fantasma Gabriela Batista Pagidis, desde 2015. São eles: a mãe de Gabriela, Athina Batista Pagidis; a irmã, Barbara Pagidis Alexopoulos; a tia Adriana Batista Pagidis França; e o primo Felipe Pagidis França.
Athina Pagidis, a mãe, foi nomeada em fevereiro de 2011 e permaneceu no cargo até julho de 2019. Barbara Pagidis, a irmã, trabalhou no gabinete de Hugo Motta de julho de 2012 a outubro de 2015 e de novembro de 2021 a dezembro de 2024. Nesse meio-tempo, ela alcançou o posto de salário mais alto no gabinete do parlamentar.
A tia, Adriana Pagidis, foi nomeada em setembro de 2017 e sua exoneração ocorreu em dezembro de 2022. Já o primo, Felipe Pagidis, começou em novembro de 2021 e ficou até março de 2023 no gabinete de Hugo Motta. Nas redes sociais, ele se apresenta como músico e guitarmaker, um artesão de guitarras.
Juntos, os cinco integrantes da família Pagidis receberam mais de R$ 2,8 milhões da Câmara enquanto estavam lotados no gabinete de Hugo Motta, que se tornou deputado federal em 2011. Com exceção de Gabriala Pagidis, não é possível afirmar que os demais parentes são funcionários fantasmas. A coluna mostrou nessa terça-feira (15/7) que, sozinha, Gabriela Pagidis levou mais de R$ 805,7 mil em oito anos.
Veja o total de salários:
Adriana Pagidis: R$ 244.858,89;
Athina Pagidis: R$ 919.917,83;
Barbara Pagidis: R$ 710.579,65;
Felipe Pagidis: R$ 94.702,19.
Todos eles ocuparam funções de secretários parlamentares, exceto Felipe que tinha o Cargo de Natureza Especial (CNE). Levantamento da coluna registrou uma variação de salários ao longo dos meses. Os valores aumentavam ou caíam abruptamente com mudança de cargo entre níveis muito diferentes, o que não é usual. É como se fossem promoções e rebaixamentos de posto – às vezes, mais de uma vez no mesmo ano.
A coluna procurou Adriana, Athina, Barbara e Felipe por telefone e por mensagem de texto em diferentes ocasiões. Não houve resposta. O deputado Hugo Motta também não se manifestou.
O dia-a-dia de Gabriela Pagidis
A coluna acompanhou a rotina da fisioterapeuta Gabriela Pagidis nos últimos dias. Nessa segunda-feira (14/7), ela bateu ponto por volta das 10h30 da manhã em uma das clínicas que trabalha, o Instituto Costa Saúde, no fim da Asa Norte, em Brasília. A própria funcionária fantasma recepcionou a reportagem e orientou como agendar uma consulta.
No Instituto Costa Saúde, Gabriela Pagidis trabalha às segundas e quartas-feiras. Já no Centro Clínico Bandeirantes, no Núcleo Bandeirante, também em Brasília, o expediente é às terças e quintas à tarde.
Manuel Marçal/Metrópoles
Na última sexta-feira (11/7), Gabriela Pagidis foi à academia por volta das 11h. Também visitou o Zoológico de Brasília à tarde, horário que deveria estar na Câmara dos Deputados.
A coluna solicitou, via Lei de Acesso à Informação (LAI), os registros de acessos de Gabriela Pagidis à Câmara, assim como eventuais crachás e vagas na garagem. A Casa respondeu que servidores com crachá não são registrados na portaria; que o acesso à garagem exige apenas credenciamento; e que o controle de frequência é responsabilidade do gabinete.
Antes de constar como secretária parlamentar de Hugo Motta, Gabriela foi nomeada em 5 de fevereiro de 2014 na mesma função no gabinete do ex-deputado federal Wilson Filho, hoje secretário de Educação da Paraíba e aliado do presidente da Câmara. Se somar ambos os períodos como funcionária fantasma, a remuneração supera R$ 890,5 mil, sem correção da inflação.
Gabriela estudou fisioterapia na Universidade de Brasília (UnB), campus Ceilândia, de 2014 a 2019. Como o curso ocorre em período integral e diurno, não seria possível conciliar a graduação com as atividades de secretária parlamentar. A funcionária fantasma também fez duas pós-graduações: uma em fisioterapia cardiorrespiratória, também na instituição, e outra em fisioterapia pélvica no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
O que diz Hugo Motta sobre a contratação da família Pagidis
A equipe de Hugo Motta não se manifestou sobre a contratação de familiares de Gabriela Pagidis. Especificamente sobre a atuação da funcionária fantasma, a assessoria do presidente da Câmara enviou a seguinte nota:
“O presidente Hugo Motta preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, incluindo os que atuam de forma remota e são dispensados do ponto dentro das regras estabelecidas pela Câmara.”
O governo brasileiro comunicou, nesta quarta-feira (16/7), que já enviou uma carta à Casa Branca cobrando respostas para avançar nas negociações com os norte-americanos no âmbito da imposição de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras. Documento foi assinado por Alckmin, direcionada à Donald Trump.
A carta, enviada nessa terça-feira (15/7), foi assinada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O texto é endereçado ao secretário de Comercio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer.
A mensagem do governo brasileiro é dividida em cinco termos.
“Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira”, diz trecho do texto.
O governo brasileiro reforçou que “permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral”.
Reuniões com setores
Durante essa terça-feira, a cúpula do Planalto se reuniu com representantes dos setores da indústria e do agronegócio para buscar soluções ao tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump contra as exportações brasileiras.
Ao fim da roda de conversas, ficou decidido que a ideia não é pedir que o prazo seja estendido, mas procurar reverter a sanção comercial até 31 de julho. Para isso, Alckmin conta com a ajuda dos setores na interlocução com os parceiros nos EUA.
Brasil é principal alvo do tarifaço
Desde o início da semana passada, os EUA têm notificado oficialmente os países sobre a implementação de tarifas unilaterais na importação de produtos e bens. Até o momento, 24 países e a União Europeia foram taxados.
Lei de Reciprocidade Econômica
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou o decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica.
O texto estabelece critérios para suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual, em resposta a medidas unilaterais adotadas por países ou blocos econômicos que impactem o Brasil.
O decreto também formaliza a criação do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, responsável por deliberar sobre a aplicação de contramedidas provisórias e acompanhar as negociações sobre as medidas unilaterais impostas contra o país.
Integram o comitê os ministros do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que o presidirá, da Casa Civil da Presidência, da Fazenda e das Relações Exteriores.