O Ministério Público de Goiás (MPGO) ingressou com uma ação civil de improbidade administrativa contra o ex-prefeito de Goiânia Rogério Cruz (SD) e dois de seus ex-auxiliares. A denúncia envolve o ex-secretário de Administração, Denes Pereira (SD), e o ex-Controlador-Geral do Município, Gustavo Cruvinel (PDT), acusados de descumprir compromissos assumidos com o Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO).
Segundo o órgão ministerial, os ex-gestores omitiram informações sobre atos de pessoal e a folha de pagamento entre 2021 e abril de 2024, o que teria comprometido a transparência e dificultado o controle externo da administração pública.
A ação foi acolhida pela juíza Simone Monteiro, titular da 2ª Vara da Fazenda Pública Municipal e de Registros Públicos, que determinou a citação dos investigados nesta segunda-feira, 25. A partir da notificação, os ex-gestores terão 30 dias para apresentar defesa e informar se pretendem propor acordo de não persecução cível ou outra solução consensual.
Procurado pelo Jornal Opção, o ex-prefeito Rogério Cruz afirmou: “Não fui acionado ainda, não recebi nada sobre e só vou me posicionar mesmo sobre quando receber todas às informações sobre esse caso”.
O processo, que tramita desde 15 de agosto, poderá resultar em sanções previstas pela legislação de improbidade administrativa, incluindo ressarcimento ao erário, pagamento de multa e até a suspensão de direitos políticos.
De acordo com o MPGO, a irregularidade se baseia no descumprimento reiterado do Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) firmado com o TCM-GO. Mesmo após sucessivas prorrogações de prazo, os relatórios técnicos do Tribunal apontaram a reincidência das falhas. Para o Ministério Público, os documentos revelam indícios de uma “ocultação intencional de informações”, prática que enfraqueceu os mecanismos de fiscalização.
O Jornal Opção procurou Denes Pereira e Gustavo Cruvinel, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno. Também buscou posicionamento do MPGO e do TCM-GO a respeito da ação, sem resposta até o momento. O espaço permanece aberto para manifestações.
Na próxima segunda-feira (1º/09), às 9 horas, a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) realiza uma ação de cidadania voltada à pessoa idosa no Centro de Idosos Sagrada Família, no Jardim Bela Vista, em Goiânia. O evento será promovido em parceria com a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) e a Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO).
A iniciativa do Centro de Atendimento Multidisciplinar (CAM) tem como objetivo garantir acesso à documentação civil e fortalecer os direitos da população idosa. Por isso, serão ofertados os serviços de solicitações de segunda via de registros civis e orientações socioassistenciais gerais.
Além disso, o Núcleo Especializado de Direitos Humanos (NUDH) vai realizar uma roda de conversa para abordar temas como direitos da pessoa idosa, curatela e cidadania.
A ação é fruto de dois acordos de cooperação firmados entre as instituições. O Acordo de Cooperação Técnica 001/2019, entre DPE-GO e OVG, tem por objeto a prestação de assistência jurídica integral e gratuita aos beneficiários vinculados aos programas executados pela OVG. O Termo de Cooperação 003/20255, entre DPE-GO, OVG e PCGO, tem por objeto a promoção da cidadania e facilitação da obtenção da identificação civil da população em situação de vulnerabilidade.
Serviço:
Local: Centro de Idosos Sagrada Família – Alameda do Contorno, nº 3.038, Jardim Bela Vista, Goiânia-GO
Kamilla Martins vai conduzir a próxima atividade que integra o projeto de manutenção da Cia Corpo na Contramão. A oficina de dança contemporânea será oferecida gratuitamente entre 15 e 27 de setembro. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas acessando o link na bio do Instagram da companhia: @corponacontramao. A oficina vai acontecer na sede da companhia, o Esparta Arte e Cultura, no Jardim Atlântico, entre 14h e 15h30 entre os dias 21 e 27 de setembro. No dia 27 de setembro, às 20 horas, acontece mais uma edição do Sarau na Lua, também na sede da companhia. Todas estas atividades são gratuitas. Este projeto foi contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).
A oficina de dança contemporânea vai abordar os princípios e elementos básicos que compõem a dança contemporânea, tais como o contato, experimentação coreográfica e bases técnicas. A atividade vai investigar e experimentar linguagens contemporâneas na busca do domínio do movimento próprio e na relação com outros atuantes. Há dez vagas disponíveis e uma reserva para estudantes de escolas públicas. Não é necessário pré-requisito para participação.
Mais atividades
Além desta oficina e do sarau, o projeto Todos os Sentidos ainda vai oferecer outra oficina e três palestras neste mês de setembro. No dia 5 de setembro, Alexandre Augusto vai falar sobre “A inclusão no teatro para crianças”. No dia 13 de setembro, Norval Berbari fará uma palestra cujo título é “Cenários de diversidade: acessibilidade e inclusão de corpos LGBTQIAPN+ nas artes cênicas”. Fátima Martins vai falar sobre “Experiências Multissensoriais” no dia 26 de setembro. Todas as palestras vão acontecer às 20 horas no Esparta Arte e Cultura.
Entre os dias 1º de setembro e 29 de outubro, Cauê Marques e Luis Rick vão oferecer a oficina “Todos os Sentidos”. A oficina é um convite para artistas que querem criar com propósito, ampliando horizontes por meio da inclusão e da acessibilidade. Serão selecionados trabalhos entre os participantes que vão participar de uma mostra final que celebra novas formas de sentir, ver e experienciar a arte.
Segundo Lua Barreto, criadora do espaço Esparta Arte e Cultura e da Cia Corpo na Contramão, “Todos os Sentidos nasce do desejo de ampliar o alcance da arte, tornando-a acessível a diferentes formas de perceber o mundo. É um convite para quem acredita que a arte pode (e deve) ser sentida de formas diferentes”, destaca a artista e produtora.
SERVIÇO:
Cia Corpo na Contramão oferece Oficina de dança contemporânea e Sarau na Lua
Kamilla Martins vai conduzir a próxima atividade que integra o projeto de manutenção da Cia Corpo na Contramão. A oficina de dança contemporânea será oferecida gratuitamente entre 15 e 27 de setembro. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas acessando o link na bio do Instagram da companhia: @corponacontramao. A oficina vai acontecer na sede da companhia, o Esparta Arte e Cultura, no Jardim Atlântico, entre 14h e 15h30 entre os dias 21 e 27 de setembro. No dia 27 de setembro, às 20 horas, acontece mais uma edição do Sarau na Lua, também na sede da companhia. Todas estas atividades são gratuitas. Este projeto foi contemplado pela Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).
A oficina de dança contemporânea vai abordar os princípios e elementos básicos que compõem a dança contemporânea, tais como o contato, experimentação coreográfica e bases técnicas. A atividade vai investigar e experimentar linguagens contemporâneas na busca do domínio do movimento próprio e na relação com outros atuantes. Há dez vagas disponíveis e uma reserva para estudantes de escolas públicas. Não é necessário pré-requisito para participação.
Mais atividades
Além desta oficina e do sarau, o projeto Todos os Sentidos ainda vai oferecer outra oficina e três palestras neste mês de setembro. No dia 5 de setembro, Alexandre Augusto vai falar sobre “A inclusão no teatro para crianças”. No dia 13 de setembro, Norval Berbari fará uma palestra cujo título é “Cenários de diversidade: acessibilidade e inclusão de corpos LGBTQIAPN+ nas artes cênicas”. Fátima Martins vai falar sobre “Experiências Multissensoriais” no dia 26 de setembro. Todas as palestras vão acontecer às 20 horas no Esparta Arte e Cultura.
Entre os dias 1º de setembro e 29 de outubro, Cauê Marques e Luis Rick vão oferecer a oficina “Todos os Sentidos”. A oficina é um convite para artistas que querem criar com propósito, ampliando horizontes por meio da inclusão e da acessibilidade. Serão selecionados trabalhos entre os participantes que vão participar de uma mostra final que celebra novas formas de sentir, ver e experienciar a arte.
Segundo Lua Barreto, criadora do espaço Esparta Arte e Cultura e da Cia Corpo na Contramão, “Todos os Sentidos nasce do desejo de ampliar o alcance da arte, tornando-a acessível a diferentes formas de perceber o mundo. É um convite para quem acredita que a arte pode (e deve) ser sentida de formas diferentes”, destaca a artista e produtora.
SERVIÇO:
Cia Corpo na Contramão oferece Oficina de dança contemporânea e Sarau na Lua
O ministro do Turismo, Celso Sabino (União-PA), tem feito um esforço nos bastidores para tentar se manter no cargo por mais tempo no governo Lula. Sabino está sendo pressionado pela cúpula do União Brasil a deixar o ministério depois que o partido antecipou a discussão para o desembarque do governo.
👉🏽 Ainda assim, interlocutores da legenda consideram a saída do governo irreversível e dizem que, se Sabino não sair do governo “por bem”, a alternativa será expulsá-lo da agremiação.
Apesar de cobrarem a saída do ministro do Turismo, interlocutores dizem que “ninguém quer comprar briga com [Davi] Alcolumbre”, presidente do Senado Federal, e lembram que as outras duas vagas de ministérios são indicações dele. Alcolumbre é filiado ao União Brasil.
Os ministros Waldez Góes, da Integração e do Desenvolvimento Regional, e Frederico Siqueira, das Comunicações, não são filiados ao partido e foram indicados pelo presidente do Senado.
Integrantes do União avaliam que Davi Alcolumbre tem direito de continuar no governo se quiser e pode indicar o próximo nome do Turismo, mas isso não significa vínculo com o partido.
Relação com o governo
A avaliação interna no partido é de que a situação se tornou insustentável após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dizer que o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, não gosta dele, nem do governo. Lula disse que também não gosta de Rueda.
Durante a reunião, Lula cobrou os ministros do União Brasil e do Progressistas a tomarem lado e saírem em defesa do governo.
À GloboNews, Sabino disse que não vê sentido em discutir a saída do governo neste momento, considerando que ainda falta mais de um ano para a eleição de 2026.
“Somos um partido que tem muitos filiados e tenho certeza que vários deles estão dispostos a apoiar o presidente Lula. Não vejo razão, por causa de uma eleição que vai acontecer daqui a mais de um ano, em antecipar agora uma discussão e uma decisão para esse momento que nós temos tanto prazo para decidir”, declarou o ministro.
Mais cedo, durante discussão sobre o tema no grupo de Whatsapp do diretório nacional do União Brasil, Sabinofez uma argumentação semelhante, mas não convenceu os correligionários.
Na conversa, ele argumentou que outros partidos também possuem pré-candidatos à eleição de 2026 contrários a Lula e, ainda assim, mantém cargos na Esplanada, em uma referência indireta ao PSD. Também reforçou a ideia de que não considera prudente antecipar discussões sobre o pleito do próximo ano.
Para integrantes do União, no entanto, a fala de Lula levaram a situação para o pessoal e a permanência no governo ficou “insustentável” e “humilhante”. A insistência de Sabino em continuar no ministério também tem incomodado interlocutores de Rueda.
Antonio Rueda, presidente eleito do União Brasil — Foto: Divulgação
Antonio Rueda, presidente eleito do União Brasil — Foto: Divulgação
Na terça-feira (26), após a fala de Lula, Rueda soltou uma nota rebatendo o presidente.
“A fala do presidente evidencia o valor da nossa independência e a importância de uma força política que não se submete ao governo”, diz trecho da nota.
Saída de Sabino
A ala do União Brasil mais próxima ao presidente do partido defende Sabino entregue o cargo já nos próximos dias.
“Ou ele sai do ministério ou ‘é saído’ do partido”, diz um integrante ligado à cúpula do partido.
Além disso, Sabino já vinha desagradando parlamentares desde que assumiu o ministério. A queixa é que o ministro não teria priorizado o partido na distribuição de convênios e emendas no Turismo.
Apoio do União a Tarcísio
Internamente, a cúpula do União avalia apoiar a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência da República – mesmo com a pré-candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União).
A expectativa entre integrantes do partido é que o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) assim como o governador de São Paulo, se lance como vice na chapa de Tarcísio.
Essa possível configuração da chapa fez parte de um acordo para que Rueda assumisse o comando da federação entre o União e o Progressistas – e não Ciro Nogueira.
Nas matérias exatas, os círculos representam ciclos contínuos: têm início, meio e fim, sempre retornando ao mesmo ponto. A vida de Vitória Pereira Salomão parecia seguir esse desenho, até que ela decidiu romper o ciclo da violência. Com o apoio do Núcleo Especializado de Defesa e Promoção dos Direitos da Mulher (Nudem) da Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), conquistou o divórcio como medida protetiva de urgência – uma decisão inédita no estado, que transformou sua trajetória em um novo caminho rumo ao recomeço.
Professora de matemática, Vitória exala coragem desde o olhar. Aos 38 anos, e mãe de quatro filhos, há alguns anos deparou-se com um desafio que supera todos os já enfrentados: o de encerrar um relacionamento marcado por violência doméstica, que já havia deixado feridas profundas. “Para mim era muito importante simplesmente não estar mais vinculada. Eu só queria encerrar esse laço que me prendia nessa relação que já era inexistente”, exprimiu.
O passo para a liberdade se concretizou em setembro de 2024, depois que o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em recurso apresentado pelo Nudem, confirmou a competência do Juizado da Violência Doméstica e Familiar para a ação de divórcio, conforme prevê a Lei Maria da Penha. A decisão criou um precedente histórico, permitindo que mulheres em situação de violência possam pedir o divórcio diretamente nos Juizados de Violência Doméstica.
Busca por acolhimento
Vitória já possuía uma medida protetiva contra a aproximação do ex-companheiro desde 2023, que ainda sim insistia em manter contato. Foi por acaso que a assistida descobriu que poderia requerer o divórcio liminarmente pelo próprio Juizado de Violência Doméstica, que possui competência híbrida, ou seja, pode analisar tanto questões civis quanto criminais envolvendo a mulher vítima de agressão.
“Eu não queria passar por uma revitimização caso tivesse que buscar a Vara de Família. Quando eu tive acesso ao texto da Lei, percebi que ele expressava exatamente o meu sentimento. Então, eu busquei essa possibilidade no Judiciário para que o meu problema fosse resolvido”, contou Vitória. Inicialmente, a professora procurou um amigo advogado, mas foi junto ao Nudem que encontrou apoio. “Senti necessidade de um acolhimento feminino”, disse.
Em ação ao 4° Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Goiânia, o Nudem, por meio da defensora pública Tatiana Bronzato, requereu o divórcio com base no artigo 14-A da Lei Maria da Penha, que desde 2019 permite a tramitação de divórcios nesses juizados especializados. “A permanência do status do matrimônio com o ofensor lhe causa constrangimentos e abalos emocionais”, sustentou.
Apesar da objetividade da legislação, o pedido foi inicialmente negado em primeiro grau, sob argumento de que a competência seria da Vara de Família. Em recurso ao Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), a Defensoria reforçou que a própria Constituição garante o direito à solicitação do divórcio, e que a Lei Maria da Penha estabeleceu competência híbrida aos Juizados de Violência Doméstica para assegurar a proteção integral da mulher.
Recomeço
O Tribunal acolheu os argumentos e, em decisão unânime, reconheceu a possibilidade de decretação de divórcio liminar como medida protetiva de urgência. “Foi muito emocionante perceber que a minha luta não era só por mim, mas por todas as mulheres que precisam encerrar seus vínculos por questões de violência doméstica” enfatizou Vitória, que carrega no nome o resultado da decisão.
Do luto pela perda da família idealizada ainda na infância ao fim de um relacionamento abusivo, Vitória aprendeu a se reinventar. A docência continua sendo paixão, mas agora divide espaço com o Direito, curso que ela abraçou após vivenciar de perto o funcionamento da Justiça. E, como em sua matemática, provou que nem todo fim é encerramento: às vezes, é apenas o traço de uma nova elipse. Hoje, ela redesenha a própria história.
Série de reportagens
Durante o Agosto Lilás, mês dedicado ao enfrentamento à violência contra a mulher, a Defensoria Pública apresenta a série de reportagens que compõem a campanha Agosto Lilás: assistência que acolhe. A iniciativa tem como objetivo demonstrar os avanços alcançados pelo Núcleo Especializado de Defesa e Promoção dos Direitos da Mulher (Nudem) na garantia de direitos à mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Ao longo da campanha, que também celebra os sete anos do Nudem, as vozes e histórias de assistidas ganham espaço, revelando caminhos de luta, acolhimento e transformação.
O homem preso por ameaçar o youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, também vendia material infantil na internet, segundo o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite. Felca ganhou destaque ao publicar um vídeo viral denunciando a “adultização” e exploração de menores nas redes sociais, especialmente o caso do influenciador Hytalo Santos.
O secretário comemorou a prisão de Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, de 21 anos, em Pernambuco, nesta segunda-feira (25), em uma publicação nas redes sociais:
“A Polícia Civil de São Paulo acaba de prender em Pernambuco um indivíduo que ameaçou o youtuber Felca após as suas denúncias. Um belo trabalho de investigação que levou até a esse criminoso que, além das ameaças, vendia material infantil nas redes”, escreveu.
Segundo a polícia, o suspeito lucrava com a venda de vídeos e fotos das vítimas de estupro virtual e, por isso, passou a ameaçar Felca.
A prisão de Cayo é decorrente de uma decisão judicial do Tribunal de Justiça de São Paulo, emitida em caráter de urgência no dia 17 de agosto. O influenciador solicitou ao Google Brasil a quebra de sigilo de dados de um e-mail específico que o ameaçava. A TV Globo tenta contato com a defesa dele.
Felca alega ter recebido ameaças de morte e falsas acusações de pedofilia após publicar o vídeo sobre a “adultização” nas redes sociais, o que configurava um risco concreto à sua segurança pessoal. O tribunal acolheu o pedido e ordenou que o Google fornecesse em 24 horas as informações de identificação do usuário responsável pelo e-mail, incluindo IPs de acesso e dados cadastrais.
Preso por ameaçar Felca é preso pela Polícia Civil de SP — Foto: Reprodução/Polícia Civil
O suspeito estava acompanhado de outro homem quando foi preso em sua casa em Olinda. No momento da prisão, constatou-se que o computador de Cayo estava aberto na tela de acesso à plataforma de Segurança Pública do Estado de Pernambuco, “circunstância que reforça a gravidade da conduta e será objeto de análise pericial”.
Após ser preso, Cayo foi levado à delegacia responsável, onde os procedimentos legais foram formalizados. Já o outro homem deve ser apresentado à autoridade policial, sob a suspeita de envolvimento no crime previsto no artigo 154-A do Código Penal — que trata de invasão de dispositivo informático — em situação de flagrante.
O que diziam os e-mails
Os e-mails com ameaças foram enviados no dia 16 de agosto e fazem referência ao vídeo no qual Felca denunciou o influenciador Hytalo Santos por exploração de menores de idade nos conteúdos que divulga nas redes sociais.
Em um dos e-mails, enviado às 5h30 da manhã, o remetente diz “você acha que vai ficar impune por denunciar o Hytalo Santos”. A mensagem prossegue com ameaças: “Você tá enganado você vai ferrar muito sua vida”, “prepara pra morrer” e “você vai pagar com a sua vida”. Um segundo e-mail, enviado às 8h05 pelo mesmo remetente, reitera as ameaças.
Seguranças e carro blindado
Felca revelou durante entrevista ao podcast PodDelas que passou a andar com carro blindado e seguranças na capital paulista, onde mora, para se proteger de ameaças depois de publicar vídeos com denúncias.
Ele ganhou destaque ao se posicionar contra o envolvimento de influenciadores com apostas esportivas, conhecidas como bets, criticando a forma como as plataformas são divulgadas nas redes. Em seu vídeo mais recente, intitulado “Adultização”, Felca denunciou o influenciador paraibano Hytalo Santos por exploração de menores e alertou sobre os riscos das redes para crianças e adolescentes.
“[Estou recebendo] muitas [ameaças], de assuntos delicados. Muitas, muitas. Comecei a andar com carro blindado e segurança. Muitas ameaças, sim. A questão das bets, por exemplo, vieram muitas ameaças. A questão da adultização existe uma ameaça de processo. Provavelmente existe e a gente conta com isso, que vai existir alguns processos aí. Mas é o lado da verdade. Se ninguém fala, ninguém vai falar”, afirmou, ao ser questionado se havia recebido ameaças por conta de seus vídeos.
O youtuber também afirmou que levou cerca de um ano para fazer o vídeo e ouviu uma psicóloga para explicar sobre adultização.
Polícia Civil de São Paulo prendeu um homem nesta segunda-feira (25) acusado de fazer ameaças ao youtuber Felca. — Foto: Reprodução/Polícia Civil
“Quando eu tive a ideia de fazer o vídeo, foi há mais de um ano. Esse vídeo demorou muito para fazer, porque a gente teve que procurar psicóloga, a gente teve uma entrevista com a psicóloga falando sobre adultização. É uma psicóloga maravilhosa de São Paulo, especializada em criança”, contou.
“Eu realmente mergulhei no lamaçal. Foi muito aversivo fazer esse vídeo. É terrível a gente olhar essas cenas. Dá vontade de chorar, de vomitar, é terrível. Mergulhei no lamaçal. O que a gente está fazendo aqui é uma gota no oceano. Mas, sem essa gota, o oceano seria menor. Então, vale a pena fazer”, ressaltou.
O vídeo tem 50 minutos e, nele, o youtuber faz um compilado de denúncias sobre influenciadores que abusam da imagem de crianças. Também relata como o algoritmo funciona para divulgar esse tipo de conteúdo.
A denúncia de Felca viralizou e reacendeu o debate público sobre a exposição de crianças e os direitos delas na internet.
“A gente fala sobre esses casos e de como algoritmo favorece. Você vê que o público dessa criança, por exemplo, não são pessoas que estão engajadas no conteúdo que a criança está fazendo. É um público de pedófilos. Você vê nos comentários que são pessoas mandando coraçãozinho, falando para mostrar mais. Os pais incentivam isso porque eles entendem que existe o universo de consumidores sobre isso. Os vídeos monetizam, e os pais expõem a criança a isso”, afirmou ele na entrevista ao podcast PodDelas.
A juíza alertou que, muitas vezes, a publicação de imagens de crianças e adolescentes nas redes sociais pode facilitar o acesso de criminosos, que utilizam esses conteúdos para cometer crimes.
“Quando um pai e uma mãe postam fotos e vídeos dos filhos pequenos em perfis de redes sociais abertos ou mesmo fechados, eles estão entregando esse material de bandeja para predadores sexuais, para pedófilos”, alertou.
Ela também falou sobre o conceito de “sharenting”, a exposição de conteúdos pelos pais na internet: “É importante lembrar que a imagem dos filhos pertence aos filhos, não aos pais. Nós não somos donos dos conteúdos dos nossos filhos, e é injusto a gente usar essa imagem só porque eles são pequenos”.
Quem é Felca
Felca — Foto: Reprodução/Canal Youtube
Felca é natural de Londrina, no norte do Paraná, mas atualmente mora em São Paulo. Ele possui mais de 5,23 milhões de inscritos no canal dele no Youtube, que foi criado em julho de 2017. No Instagram, são mais de 13,7 milhões de seguidores.
Ele ficou famoso ao publicar vídeos de reacts, conteúdos em que pessoas falam sobre as suas reações com produtos ou serviços ou até sobre outros vídeos, e conteúdos humorísticos.
Em setembro de 2023, o g1 conversou com o youtuber sobre as lives NPC, após ele conquistar 1 milhão de seguidores no Tik Tok em apenas quatro dias.
Infográfico – Entenda o debate sobre ‘adultização’ que viralizou nas redes envolvendo Felca e Hytalo. — Foto: Arte/g1
No Nordeste brasileiro, em Messejana, bairro pobre na periferia de Fortaleza, capital do Ceará, uma construção de tijolinhos com estrelas de Davi e candelabros na fachada destoa das casas vizinhas.
Antes de virar a sinagoga Beitel, em 2014, o edifício abrigava uma igreja evangélica que foi se tornando “cada vez mais judaica”, conta Flávio Santos, um dos líderes da comunidade e seu cantor litúrgico.
Negro e criado em uma família evangélica, Flávio personifica a jornada de vários bnei anussim — expressão que significa “os filhos dos forçados” em hebraico e se refere aos judeus compelidos a se converter ao cristianismo na Península Ibérica, no século 15.
Vários séculos depois, milhares de seus descendentes estão retornando ao judaísmo — um movimento com epicentro em bairros periféricos e pequenas cidades da região Nordeste.Como resultado, judeus convertidos fundaram nos últimos anos várias sinagogas Brasil afora, muitas delas em locais sem qualquer presença judaica até então.
O movimento já produz efeitos em Israel, onde parte desses convertidos passou a viver e até a servir no Exército, mas também vem enfrentando resistências em algumas comunidades judaicas tradicionais brasileiras.
A história é contada no documentário Os novos judeus do Nordeste: a tribo perdida do sertão, disponível no canal da BBC News Brasil no YouTube, resultado de uma expedição que percorreu mais de mil quilômetros em quatro Estados para retratar este fenômeno.
Flávio Santos diz que, em seus primórdios, a igreja evangélica em Messejana que viraria a sinagoga Beitel dava grande ênfase ao Antigo Testamento.
Depois, a comunidade aderiu ao judaísmo messiânico, que combina práticas judaicas com a adoração a Jesus, mas não é considerado parte do judaísmo pela maioria dos rabinos.
Até que, por volta de 2018, o grupo abandonou a fé em Cristo e aderiu ao judaísmo ortodoxo, corrente que eles consideram mais próxima da religião praticada nos tempos bíblicos.
Flávio diz que, para boa parte da comunidade, a adesão ao judaísmo significou um regresso à fé de seus antepassados. Como ele, muitos na sinagoga dizem ter descoberto vínculos com o judaísmo ao estudarem a história de suas famílias, montarem suas árvores genealógicas ou fazerem testes genéticos.
Flávio, no caso, diz ter percebido possíveis laços familiares com a religião ao analisar práticas de uma avó nascida no interior de Alagoas, como o costume de se banhar na sexta-feira à tarde e a recusa dela em apontar para estrelas com os dedos.
Para ele e outros bnei anussim, a primeira prática é uma reminiscência dos preparos para o shabat, o dia sagrado do judaísmo, enquanto o segundo estaria ligado ao medo que judeus tinham de serem denunciados durante a Inquisição, já que o aparecimento das estrelas marcava o fim do shabat.
A avó dele, porém, se definia como cristã e desconhecia qualquer vínculo com o judaísmo — algo que Flávio atribui aos séculos de repressão contra a religião.
Felix Lima/BBC – Cerimônia religiosa na sinagoga Beitel, em Messejana, na periferia de Fortaleza
Hoje, segundo ele, a sinagoga tem 45 membros já convertidos. Os trabalhos religiosos são orientados à distância por um rabino de Israel.
O movimento de retorno ao judaísmo no Nordeste teve seus primeiros capítulos nos anos 1960, quando pessoas nascidas católicas passaram a reivindicar laços sanguíneos e culturais com a religião e a frequentar sinagogas em cidades como Recife e Natal.
Os pioneiros do movimento eram conhecidos como “marranos”, antiga alcunha pejorativa que significa “porcos”, em espanhol, mas foi apropriada pelo grupo.
A novidade dos últimos anos é o surgimento de várias comunidades formadas só por judeus convertidos e a grande presença de ex-evangélicos entre seus membros.
No Recife, a tradicional Synagoga Israelita, fundada em 1926 por judeus do Leste Europeu e que foi frequentada pela família da escritora Clarice Lispector (1920-1977), hoje é dirigida e frequentada quase exclusivamente por bnei anussim.
O fenômeno coincide com uma aproximação cada vez maior entre igrejas evangélicas e Israel e com a popularização de testes genéticos, que têm apontado ancestralidade judaica em muitos brasileiros.
O movimento ocorre ainda em meio à explosão de cursos online sobre judaísmo e o papel de judeus e cristãos-novos na história do Brasil.
Felix Lima/BBC – Judia na Synagoga Israelita do Recife, hoje frequentada quase exclusivamente pela comunidade bnei anussim.
Quantos judeus há no Brasil?
Não há dados oficiais sobre a quantidade de convertidos ao judaísmo no Brasil, e o último Censo, de 2022, não apresentou informações sobre judeus em seu levantamento sobre religiões.
O Censo anterior, de 2010, contabilizou 107 mil, e a Confederação Israelita do Brasil (Conib) estima em 120 mil.
Há indícios, porém, de que o número esteja aumentando. Em 2021, uma pesquisa do Samuel Neamen Institute, um centro de estudos de Israel, estimou que 30 mil bnei anussim brasileiros se converteram ao judaísmo nos últimos anos.
Segundo a pesquisa, há ainda 4 milhões de brasileiros com ancestralidade judaica que poderiam se enquadrar na categoria bnei anussim, mas ainda não se converteram.
Para o escritor pernambucano Jacques Ribemboim, autor de livros sobre a história do judaísmo no Nordeste, o número de nordestinos com antepassados judeus pode ser ainda maior e superar até a população de Israel, de 10 milhões de habitantes.
“Há no Nordeste brasileiro um potencial para algumas dezenas de milhões de descendentes de judeus que podem eventualmente voltar a se identificar com o judaísmo e a vontade de retomar a prática judaica”, afirma Ribemboim.
“É um fenômeno extraordinário”, acrescenta o escritor, ele próprio judeu, mas do ramo asquenazi, da Europa Oriental.
Felix Lima/BBC – Para o escritor Jacques Ribemboim, pode haver dezenas de milhões de nordestinos com ancestralidade judaica.
Convertidos no Exército israelense
Quando a BBC News Brasil esteve na sinagoga de Messejana, havia um visitante de destaque: um antigo membro da comunidade que hoje mora em Israel e é soldado do Exército israelense.
De férias no Brasil, o jovem não quis falar sobre a atuação como militar e pediu para não ter a identidade revelada, citando preocupações com a segurança.
Em uma rápida conversa, disse ter se convertido ao judaísmo há poucos anos e obtido a cidadania israelense por meio da aliá — nome do processo legal pelo qual qualquer judeu pode se tornar cidadão do país.
Membros da sinagoga afirmaram que há ainda outro ex-frequentador que hoje é militar em Israel. “Eles servem ao Estado de Israel, mas, mais que isso, servem ao povo judeu como um todo”, afirma Flávio Santos, o cantor litúrgico da sinagoga.
Questionado sobre críticas de que Israel usaria uma força desproporcional em Gaza, Santos atribuiu a responsabilidade pela guerra ao Hamas por ter atacado o território israelense, em 7 de outubro de 2023.
Cerca de 1,2 mil pessoas morreram no ataque do Hamas e outras 257 foram sequestradas. Já na resposta israelense morreram mais de 60 mil palestinos, incluindo 18,5 mil crianças e 9,8 mil mulheres, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
“É algo duro de assistir”, diz Flávio sobre a morte de civis palestinos. “Mas é uma questão de soberania nacional, de defesa da população.”
Felix Lima/BBC – Em Tibau (RN), primeiras conversões ao judaísmo ocorreram em 2016.
Mudança de país (e de nome)
Há casos de famílias inteiras de judeus convertidos nordestinos que hoje vivem em Israel, embora a maioria das pessoas migre sozinha.
Uma antiga frequentadora da sinagoga em Messejana que hoje mora em Israel é Shoshana Lima, de 25 anos.
Formada em Jornalismo na Universidade Federal do Ceará, ela visitou a sinagoga pela primeira vez em 2022 e se converteu no ano seguinte. Meses depois, mudou-se sozinha para Israel e se tornou israelense neste ano.
Shoshana diz que jamais soube de qualquer vínculo familiar com o judaísmo e que “se sentiu em casa” ao visitar a sinagoga pela primeira vez, em um momento em que estava em busca de uma religião e de “pertencer a uma comunidade”.
Ao migrar para Israel, a jovem teve a opção de trocar de nome. Ela escolheu Shoshana — que significa “rosa” ou “lírio” em hebraico — e abandonou o anterior, Suyane.
Em Israel, onde pretende se casar e trabalhar na área de tecnologia, Shoshana diz ter vivenciado uma liberdade inédita: “Não preciso explicar para ninguém por que eu não toco um homem ou por que uso as roupas que uso”.
Indagada sobre a decisão de se tornar israelense em um momento em que Israel é acusado por vários países de promover um genocídio em Gaza — acusação refutada pelo governo israelense —, ela afirma que boa parte do mundo tem uma visão maniqueísta sobre o conflito.
Em sua visão, Israel está agindo para evitar um novo ataque do Hamas. “Espero que haja paz, mas as pessoas precisam parar de ver essa guerra como preto no branco.”
Arquivo Pessoal – A jornalista Shoshana Lima se converteu ao judaísmo e hoje mora em Israel
Era de ouro do judaísmo
Engana-se, porém, quem pensa haver unidade política e um alinhamento automático entre os bnei anussim e o governo israelense.
O historiador Aldrey Ribeiro, de 31 anos, é o líder da sinagoga Branca Dias, fundada por judeus convertidos em Campina Grande, no interior da Paraíba.
O nome da sinagoga homenageia a luso-brasileira Branca Dias (1515-1589), condenada pela Inquisição por praticar o judaísmo em Olinda.
Para Aldrey, os palestinos também devem ter seu próprio Estado — uma posição que é rejeitada pelo governo de Israel e é minoritária entre a população israelense, segundo pesquisas recentes.
Ele diz ainda que metade de sua congregação tem posições de esquerda, e a outra metade, de direita — o que não é um problema para o grupo.
Para Aldrey, os bnei anussim são herdeiros da “era de ouro do judaísmo”, período em que judeus, cristãos e muçulmanos conviviam na Península Ibérica antes da Inquisição.
“Foi a época em que o judaísmo mais floresceu nas artes, nas ciências e na poesia, e o segredo para isso era saber dialogar com o outro”, afirma o historiador.
“Por carregar essa herança, nós, bnei anussim, sabemos conviver com diferenças.”
Felix Lima/BBC – Aldrey Ribeiro se formou em História para estudar origem judaica da família
Aldrey afirma ainda que, ao investigar o passado de sua família, fez testes de DNA que detectaram genes comuns entre populações judaicas e que, ao montar sua árvore genealógica, descobriu ser descendente de um rabino que viveu na Espanha no século 15.
Para ele, o retorno dos bnei anussim ao judaísmo é uma “reparação histórica”.
“A possibilidade de ser judeu foi roubada da gente, e isso é muito dolorido”, diz.
Felix Lima/BBC -Povoado Tapuia, na Paraíba, abriga vestígios de judaísmo, segundo historiador
Perseguidos pela Inquisição
Os judeus chegaram à Península Ibérica depois da destruição de Jerusalém pelo Império Romano, no ano 70, e viveram ali séculos de relativa liberdade religiosa.
Até que, em 1492, eles foram expulsos da Espanha por reis católicos que buscavam a unificação religiosa do reino.
Cinco anos depois, foi a vez de Portugal obrigá-los a deixar o país ou a se converter ao cristianismo.
Mesmo após a conversão, no entanto, muitos continuaram a ser perseguidos pela Inquisição, tribunal criado pela Igreja Católica no século 12 para punir heresias.
Segundo o pesquisador Jacques Ribemboim, muitas famílias cristãs-novas viram então no Brasil uma chance de praticar o judaísmo às escondidas.
Em Olinda, uma das maiores cidades do Brasil nos primórdios da colonização, os cristãos-novos chegaram a compor entre um terço e metade da população local, afirma Ribemboim.
O grupo pôde até professar o judaísmo abertamente por um curto período, no século 17, quando holandeses assumiram o controle de boa parte da região Nordeste e estabeleceram um regime de maior tolerância religiosa.
Em 1654, porém, com a expulsão dos holandeses, os judeus foram obrigados a voltar à cristandade.
“Então, eles começam a se interiorizar, e só ficou alguma prática judaica, aqui e ali, em algum bolsão remoto dos sertões brasileiros”, diz Ribemboim.
Para ele, é possível que algumas dessas práticas judaicas tenham sobrevivido nas famílias bnei anussim atuais, mas os vários séculos transcorridos impedem uma comprovação categórica dos vínculos. “Como pesquisador, tenho de tratar essas possíveis conexões como hipóteses.”
Felix Lima/BBC-Grupos bnei anussim dizem ter herdado tradições judaicas de seus antepassados
Judeus convertidos brasileiros em Israel
Não se sabe quantos brasileiros convertidos ao judaísmo moram em Israel, porque os dados do governo israelense não diferenciam judeus convertidos de não convertidos.
Segundo o governo de Israel, 257 brasileiros se tornaram cidadãos israelenses em 2024 — número próximo ao da média histórica, mas abaixo ao de anos anteriores à guerra em Gaza.
Não há dados sobre quantos membros do Exército israelense nasceram no Brasil.
Comunidades visitadas pela BBC News Brasil estimaram em “algumas centenas” os bnei anussim brasileiros que hoje moram em Israel.
Líderes comunitários disseram que a maioria dos bnei anussim não pretende deixar o Brasil, mas que a presença do grupo em Israel poderia ser maior não fossem algumas barreiras enfrentadas pelo grupo.
O comerciante Antonio Fabiano de Oliveira Cavalcante é o líder da comunidade judaica ortodoxa de Tibau, cidade com 5,6 mil habitantes no litoral do Rio Grande do Norte.
Fundada em 2014, a sinagoga da cidade tem cerca de 40 membros e um redário para hospedar integrantes durante o shabat. Em períodos de festas, alguns chegam a passar três dias seguidos dentro da sinagoga.
A própria comunidade abate os animais que consome, seguindo os ritos da lei dietética judaica, e hoje todos os meninos são circuncidados oito dias após nascerem, conforme manda a Lei Judaica.
As rezas na sinagoga são em hebraico e em ladino, antiga língua dos judeus sefarditas, mas têm um quê regional: alguns cantos litúrgicos ganharam a melodia de clássicos da música nordestina, como Asa Branca, de Luiz Gonzaga, e Eu só quero um xodó, de Dominguinhos.
Outra particularidade dos bnei anussim nordestinos são as vestimentas do dia a dia. Enquanto muitos judeus ortodoxos do ramo asquenazi (Leste Europeu) costumam vestir ternos escuros e chapéus, os bnei anussim têm como referência as roupas mais leves do judaísmo sefardita, mais adequadas aos trópicos.
Felix Lima/BBC- Comunidade judaica em Tibau (RN) tem mais de 40 integrantes.
Apesar do rigor com que o grupo diz viver a religião, Antonio Fabiano afirma que algumas pessoas no Brasil ainda questionam seu judaísmo.
Ele afirma que a principal dificuldade da comunidade é enviar os jovens para um período de estudos em Israel — prática comum entre judeus de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.
Há vários programas de estudos em Israel financiados pelo governo israelense. A seleção para parte desses programas é feita pela Agência Judaica, órgão ligado ao Ministério do Interior israelense com escritórios no Brasil.
A agência também faz uma triagem dos judeus interessados em fazer a aliá e migrar legalmente para Israel com as despesas custeadas pelo governo israelense.
Antonio Fabiano afirma, porém, que bnei anussim não filiados a congregações judaicas tradicionais ainda são barrados nas seleções, o que os obriga a buscar outros caminhos e a bancar a viagem do próprio bolso.
A BBC News Brasil questionou a Agência Judaica e o Ministério do Interior israelense sobre queixas de que os bnei anussim estariam sendo preteridos nas seleções, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.
Em um processo judicial recente, o ministério israelense expressou a preocupação de que pessoas de países pobres estejam usando possíveis laços com o judaísmo como desculpa para migrar para Israel e obter vantagens econômicas.
Felix Lima/BBC – Educadora Jacqueline Passy discursa na sinagoga Branca Dias, em Campina Grande
A educadora Jacqueline Passy, uma judia nascida no Rio de Janeiro que há mais dez anos assessora grupos bnei anussim,diz compreender que o movimento desperte receios em Israel.
“Eles pensam: ‘Onde vamos botar 40 milhões de pessoas?’”, diz Passy, citando uma das estimativas mais elevadas da população bnei anussim no Brasil.
Mas ela diz acreditar que os temores estão diminuindo conforme Israel percebe que o grupo pode contribuir com o país e não pretende imigrar em massa.
“São pessoas que querem botar a mão na terra, e Israel precisa dessa gente”, defende Passy.
Ela diz que já prestou consultoria a milhares de bnei anussim, dos quais 70 hoje são cidadãos israelenses. Para atender o grupo, ela criou uma escola online sobre judaísmo, a Raízes Judaicas do Brasil.
A BBC News Brasil também procurou a Confederação Israelita do Brasil (Conib) para saber a posição da entidade sobre o movimento bnei anussim e as reclamações de comunidades quanto à falta de diálogo com instituições judaicas tradicionais.
Em nota, a Conib não comentou as críticas, mas disse ver “com satisfação esse grande movimento de apoio e pertencimento ao judaísmo e a Israel”.
“A relação do nosso país com o judaísmo é profunda e muito antiga, e esse fenômeno religioso é mais uma prova disso”, afirmou a confederação.
Felix Lima/BBC – Legenda da foto,Moradora do povoado Caracolzinho (PB), onde historiador Aldrey Ribeiro diz ter encontrado vestígios de judaísmo
Barrado à porta da sinagoga
Os bnei anussim citam ainda outros problemas na convivência com congregações judaicas tradicionais.
Aldrey Ribeiro, o historiador que lidera a sinagoga em Campina Grande, descreve um episódio que diz ter vivido há alguns anos durante uma visita a São Paulo.
Acompanhado por um grupo de judeus paulistanos, ele pretendia visitar uma grande sinagoga, que prefere não nomear.
À porta, porém, diz ter sido barrado pelo segurança. “Ele perguntou meu sobrenome, e eu falei com todo orgulho: ‘Ribeiro’. Então, ele falou: ‘Não entra’.”
Já os outros judeus que o acompanhavam, todos de famílias judias de imigração recente, puderam entrar, segundo o historiador.
Ribeiro diz que o segurança não explicou a decisão e que ele saiu de lá constrangido e envergonhado.
Para o historiador, o episódio ilustra o “preconceito” com que, segundo ele, os bnei anussim ainda são tratados por parte da comunidade judaica brasileira, algo que também se manifesta nos obstáculos à conversão em congregações tradicionais, diz Ribeiro.
Vários líderes do movimento disseram à BBC News Brasil que tiveram de buscar rabinos estrangeiros, porque encontraram portas fechadas em muitas sinagogas brasileiras.
Já rabinos brasileiros de diferentes correntes apontam dificuldades para acolher o grupo, entre os quais a sobrecarga de funções e preocupações com a segurança.
Felix Lima/BBC – O rabino João Medeiros é um dos precursores do movimento de retorno ao judaísmo
Lei do Retorno
Em parte, as dificuldades enfrentadas pelos bnei anussim refletem disputas em torno de quem tem o poder de fazer conversões no judaísmo e as fronteiras entre religião e laicidade no Estado de Israel.
A Lei do Retorno de Israel, de 1950, estabelece que todo judeu tem o direito de migrar para Israel e obter a cidadania israelense. O país considera como judeu quem tenha ao menos algum avô ou avó judia ou que tenha se convertido à religião.
Vários bnei anussim entrevistados pela reportagem foram convertidos ao judaísmo por Chaim Amsalem, um rabino que também construiu uma carreira política em Israel.
Nascido em 1959 em uma família sefardita na Argélia, Amsalem migrou para Israel com a família na infância e foi ordenado rabino em 1980.
Ele foi membro do Parlamento Israelense entre 2006 e 2013 pelo partido religioso Shas e ganhou fama ao defender um processo mais simples para a conversão de judeus.
Para Amsalem, essa é uma questão central para a sobrevivência de Israel e do judaísmo. “Somos 20 milhões [de judeus] no mundo hoje, mas podemos nos tornar 200 milhões”, ele diz à BBC News Brasil.
“Se você é um povo grande, você é um povo mais forte.”
Amsalem diz já ter convertido entre 2 mil e 3 mil bnei anussim brasileiros, que ele considera “ovelhas desgarradas que precisamos trazer de volta ao rebanho”.
“Toda pessoa que pense que tem origem judaica pode entrar no judaísmo. Hoje, para mim, essa é a missão mais importante que pode existir no mundo judaico.”
Zera Israel – O rabino Chaim Amsalem (à esq.) com o presidente de Israel, Isaac Herzog
Disputas na Justiça
As posições do rabino, no entanto, atraíram críticas de outros religiosos, que viam seus critérios para conversões como permissivos demais, e ele acabou expulso do partido em 2012.
Desde então, Amsalem dirige a Zera Israel, fundação dedicada a trazer de volta para o judaísmo descendentes de judeus espalhados pelo mundo.
Mas o que aconteceria se todos os brasileiros com ancestralidade judaica resolvessem se converter e morar em Israel?
“Seria bom”, diz Amsalem. “Os bnei anusim não são menos importantes para o povo judeu.”
Em 2022, uma corte em Israel decidiu que uma mulher estrangeira convertida por Amsalem tinha direito à cidadania israelense — decisão que, em tese, abre o caminho para que todos os brasileiros convertidos por ele também solicitem a cidadania israelense.
Mas a decisão não mudou a postura do governo de Israel, que continua recusando as conversões de Amsalem e privilegiando os processos chancelados pelo Rabinato-Chefe do país, controlado por rabinos ortodoxos que romperam com o argelino.
Isso faz com que, para pleitear a cidadania, os convertidos por Amsalem precisem entrar na Justiça israelense ou validar a conversão em algum tribunal rabínico aceito pelo governo do país.
Segundo o rabino, as resistências a seu trabalho refletem um esforço do Rabinato-Chefe em manter um controle exclusivo sobre as conversões.
Procurado pela BBC News Brasil, o Rabinato-Chefe de Israel não respondeu as críticas de Amsalem nem sua recusa em aceitar as conversões do rabino.
Amsalem não é o único religioso em Israel a questionar o Rabinato-Chefe, cujo poder vem sendo limitado por decisões da Justiça do país.
Em 2021, a Suprema Corte de Israel considerou que conversões feitas por rabinos das correntes reformista e conservadora, ambas desvinculadas do Rabinato-Chefe, também eram válidas para a obtenção da cidadania.
Conversões proibidas
Felix Lima/BBC -Redário que abriga membros da sinagoga de Tibau (RN) durante o dia de descanso.
A conversão de milhares de bnei anussim brasileiros ao judaísmo é um tema controverso entre diferentes congregações judaicas no Brasil.
Um dos representantes no Brasil do Chabad, um dos maiores movimentos no judaísmo ortodoxo no mundo, o rabino Shamai Ende diz à BBC News Brasil que, há várias décadas, conversões estão proibidas no país — e que, portanto, ele considera inválidos os procedimentos do rabino Amsalem.
Segundo Ende, as proibições aconteceram porque muitas pessoas se converteram ao judaísmo no país com “segundas intenções”.
“Pessoas que querem fazer a conversão para serem auxiliadas pela comunidade… isso são segundas intenções”, exemplifica Ende.
Há várias organizações filantrópicas judaicas que oferecem assistência a judeus em situação vulnerável.
Ende afirma ainda que os bnei anussim são livres para viver como judeus, mas que “devem fazer tudo na comunidade deles — escolas, sinagogas etc. — para não ficarem dependendo das [nossas] comunidades ortodoxas”.
“O povo judeu não é proselitista, não fazemos questão de trazer outros para dentro do judaísmo”, diz o rabino.
Questionado sobre o caso do líder bnei anussim que diz ter sido barrado em uma sinagoga em São Paulo, Ende afirmou que as congregações não podem permitir a entrada de desconhecidos.
“Estamos vivendo uma época de antissemitismo muito grande e muitos que tentam entrar na sinagoga como judeus, na verdade, são terroristas.”
Felix Lima/BBC-Rezas nas sinagogas de Tibau são em hebraico ou ladino, antiga língua de judeus sefarditas da Península Ibérica
Em outras congregações judaicas não ortodoxas, o fenômeno bnei anussim é visto mais favoravelmente, e várias delas realizam conversões de membros do grupo, ainda que admitam não conseguir atender à demanda.
Rabino da Congregação Israelita Paulista (CIP), que segue o judaísmo liberal e se apresenta como a maior comunidade judaica do país, Ruben Sternschein diz considerar positivo que alguém queira se tornar judeu, “desde que isso seja autêntico e traga um bem para si e os que estão à volta”.
Segundo Sternschein , a CIP tem acolhido vários bnei anussim, e ele próprio esteve em Natal em 2022 para iniciar o processo de conversão de algumas famílias na cidade.
O rabino afirma, porém, que o fenômeno apresenta um grande desafio para sua congregação, “porque cada caso [de conversão] é um caso e porque a comunidade tem que cuidar de muitas outras coisas”.
Sternschein diz que, entre outras funções, os rabinos da CIP acompanham um grupo de 500 jovens e dão suporte espiritual a idosos hospitalizados.
Questionado sobre possíveis casos de preconceito contra os bnei anussim em comunidades judaicas tradicionais, ele disse que as queixas podem ter fundamento.
“Os judeus somos um dos exemplos dos coletivos minoritários mais discriminados na história da humanidade, mas nem sempre a pessoa que mais sofreu alguma coisa é a que tem mais força para evitar que isso aconteça”, diz Sternschein.
Ele afirma, porém, que essa postura não é exclusiva dos judeus: “Vivemos numa sociedade em que a desumanização é instantânea, e todos precisamos trabalhar nisso constantemente, não só os judeus”.
Profecias do fim dos tempos
Apesar das resistências em parte da comunidade judaica, o movimento de retorno ao judaísmo já viu um de seus precursores chegar ao posto de rabino.
João Fernandes Dias de Medeiros, de 91 anos, oficializou sua adesão à fé judaica nos anos 1960, após passagens pelas Igrejas Metodista e Presbiteriana.
Em 2006, ele foi aclamado rabino da sinagoga Brás Palatnik, fundada em Natal em 1925 por judeus do leste europeu.
Ainda assim, Medeiros relata que sua autoridade já foi contestada dentro da própria comunidade.
Certa vez, um integrante insistia em chamá-lo de “amigo” em vez de “rabino”. Ao questionar a postura, Medeiros ouviu do colega que, para ele, Medeiros “não era nem judeu, nem rabino”.
Diante da afirmação, diz ter reagido “com grosseria”.
“Ninguém depende, para o retorno ao judaísmo, de uma corte rabínica ou de receber autorização”, defende Medeiros.
Para ele, congregações que se recusam a acolher os bnei anussim “estão perdendo o bonde da história”.
Medeiros associa o movimento de retorno ao cumprimento de profecias judaicas sobre o fim dos tempos.
“O Eterno prometeu, como castigo aos judeus que transgrediram, que iria dispersá-los por todos os países, mas, no final dos tempos, iria trazê-los de volta”, diz.
Autoridades brasileiras participaram hoje de nova reunião da ONU pela UNFCCC, Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, para responder a críticas e questionamentos sobre problemas envolvendo a cidade-sede da COP30, marcada para novembro em Belém.
Durante a reunião, foi anunciada a criação de uma força-tarefa conjunta envolvendo integrantes da Secretaria Extraordinária de COP30 do governo federal, da presidência da COP30 e dos ministérios do Turismo, das Relações Exteriores e do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
“Hoje ficou claro que a COP30 será em Belém. E essa força-tarefa começa dando atendimento aos 72 países que fazem parte de dois grupos que têm menos recursos, nas classificações da ONU. Faremos um diálogo direto com esses países para assegurar que confirmem suas reservas tão logo quanto possível”, disse André Corrêa do Lago, presidente da COP30.
Subsídio em hospedagens negado
Segundo divulgado em coletiva de imprensa após a reunião, o Brasil negou um pedido de autoridades da ONU para contribuir com um subsídio no valor das hospedagens.
“O governo brasileiro já está arcando com custos significativos para a realização da COP, então, por isso, não há como subsidiar delegações de países e, inclusive, delegações de países que são mais ricos que o Brasil”, afirmou a secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior.
“Não cabe, do nosso ponto de vista, do governo brasileiro, não cabe aos brasileiros fazer subsídios a outros países. Reafirmamos também nosso apoio para que a ONU use o auxílio que eles já dão aos países mais pobres com o mesmo valor que eles já dão em outras cidades brasileiras”, completou a secretária.
O governo brasileiro confirmou que, até o momento, 39 países já concluíram as reservas de acomodação pela plataforma oficial e mais oito nações confirmaram a vinda negociando hospedagem de forma direta com hotéis. A expectativa é que as mais de 190 delegações, que manifestaram o interesse em participar da conferência, de fato consigam comparecer em Belém.
Intervenções no setor privado
As autoridades brasileiras também explicaram à ONU e às demais partes envolvidas na COP que existe, na legislação do país, um limite de intervenção no setor privado, que está sendo respeitado. E que, por isso, não é possível forçar uma diminuição de preços.
“Em um país da nossa característica de democracia, que tem regras de mercado, não é possível intervir, mas atuamos de acordo com a legislação. O que foi feito, no começo de junho, foi abrir um processo administrativo para apurar possíveis abusos”, disse o secretário extraordinário para a COP30, Valter Correia.
O agropecuarista Thiago da Matta Fagundes, preso desde outubro de 2024, uma diretora operacional do Sicoob (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil) e outras nove pessoas — familiares e sócios de Thiago — foram indiciados por envolvimento em um esquema de estelionato. Conforme aponta o inquérito, Thiago vendeu glebas de terra que já estavam gravadas por dívidas milionárias e, ao mesmo tempo, as usou como garantia em operações financeiras com o Sicoob Unicentro Norte Brasileiro. O grupo responde pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsificação e uso de documento público, fraude processual e estelionato.
O relatório final do Inquérito Policial nº 269/2023 foi emitido pela 4ª Delegacia Distrital de Polícia Civil de Goiânia. O Jornal Opção teve acesso ao documento, que foi obtido com exclusividade pelo Portal Compre Rural.
Em nota, a defesa de Thiago da Matta Fagundes informou que só irá se manifestar após análise da conclusão do inquérito para preservar a lisura do processo. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais citados em nem com o Sicoob Unicentro Norte. O espaço fica aberto para esclarecimentos.
Agropecuarista Thiago da Matta Fagundes | Foto: Divulgação/PC-GO
As investigações começaram em dezembro de 2023, após denúncia por conta da negociação da Fazenda Cana Brava, em Porangatu. O denunciante foi o empresário que comprou as terras, somando 1.209 hectares e avaliadas em R$ 34 milhões. A transação previa que parte do montante pago pelo empresário seria utilizada para quitar os débitos que os imóveis acumulavam, como alienações fiduciárias, hipotecas e ações judiciais.
Como garantia, Thiago se comprometeu a quitar, em até 60 dias, uma dívida de aproximadamente R$ 9 milhões junto ao Sicoob e, caso não cumprisse, deveria entregar outro imóvel rural em compensação. O contrato de compra e venda foi firmado com Thiago e sua esposa Nayanna Marcelino Vieira Fagundes. No dia 23 de junho de 2023, o empresário transferiu R$ 6,9 milhões para Thiago, acreditando que o valor seria usado para amortizar a dívida com a cooperativa. No entanto, Thiago renegociou o débito com o próprio Sicoob.
Renegociação no Sicoob
Thiago da Matta Fagundes decidiu renegociar sua dívida milionária com o Sicoob em vez de quitá-la com o dinheiro recebido do empresário. No dia 30 de junho de 2023, foi firmada a Cédula de Crédito Bancário (CCB) nº 926994, um título que representa uma promessa de pagamento, no valor de R$ 14,06 milhões. A operação além de renegociar uma dívida anterior de R$ 8,09 milhões, ainda liberava novo crédito de R$ 5,83 milhões, segundo o documento.
Para isso, Thiago ofereceu como garantia os mesmos imóveis já vendidos ao empresário. Na documentação falsa entregue ao banco, constava que os bens estavam livres de ônus. Do total liberado na operação, R$ 4,3 milhões foram transferidos diretamente ao sogro de Thiago, enquanto outros R$ 1,49 milhão ficaram retidos pelo Sicoob e foram usados para amortizar parte do saldo devedor. Em 26 de outubro de 2023, a esposa de Thiago, Nayanna Marcelino Vieira Fagundes, firmou uma nova CCB, de nº 983851, no valor de R$ 16,56 milhões. Novamente, a garantia apresentada foram os mesmos imóveis da Fazenda Cana Brava. Assim, os bens já vendidos foram usados duas vezes em renegociações diferentes com a cooperativa.
O papel da diretora do Sicoob
Segundo o documento, a investigação mostrou que a diretora operacional do Sicoob, Angélica Araújo Diniz, admitiu em depoimento que o banco tinha ciência da venda da fazenda e que existia um acordo inicial para que o valor de R$ 6,9 milhões pago pelo comprador fosse usado para amortizar a dívida de Thiago. Após o depósito, Thiago desautorizou a quitação, pedindo a renegociação. Diante disso, o Sicoob formalizou a primeira CCB ciente do problema, aponta o inquérito.
Em mensagens de WhatsApp anexadas ao inquérito, a diretora chegou a confirmar que a reestruturação da dívida havia sido feita por “insistência do próprio Thiago”, e que ele deveria aguardar o fluxo interno da instituição para acesso aos valores. Portanto, o Sicoob sabia da transação entre Thiago e o empresário e, mesmo assim, autorizou a renegociação, ampliando a dívida e mantendo a fazenda como garantia.
A diretora “manteve interlocução direta com o devedor, orientando a liberação de valores em janelas específicas “após as 18h” para evitar constrições, monitorando consultas ao BacenJud e condicionando retenções internas, tudo enquanto afirmava não intervir na negociação. Além disso, promoveu e reconheceu lançamentos internos descritos como “bloqueio judicial” e “liberação judicial” sem ordem judicial vigente, expediente usado para contornar eventuais bloqueios e dar curso às repactuações e transferências subsequentes, inclusive a liberação de montante milionário a terceiros logo após a emissão de CCB”, afirma o documento.
Enquanto ela foi indiciada pelos crimes de estelionato e fraude processual, o inquérito aponta que não há provas suficientes contra funcionários e outros diretores do Sicoob, por isso, somente Angélica responde pelo caso.
Escritura e quebra contratual
Apesar das irregularidades, em 14 de agosto de 2023 foi lavrada a escritura pública de compra e venda, transferindo a posse dos imóveis para o empresário. Porém, como as restrições não foram baixadas, ele não conseguiu registrar a propriedade em cartório. No dia 17 de agosto, venceu o prazo contratual para quitação da dívida. Sem pagamento, ele notificou judicialmente Thiago e Nayanna, exigindo a entrega de outro imóvel como compensação.
Defesa e contradições
Intimado a depor, Thiago inicialmente não compareceu. Quando foi interrogado, em 22 de janeiro de 2024, alegou ter agido de boa-fé e culpou o Sicoob por não substituir as garantias. A defesa apresentou documentos e ingressou com ação judicial contra a cooperativa, acusando-a de impor juros abusivos (28% ao ano) e de não permitir a substituição dos imóveis dados em garantia. A defesa também acusou o banco de “fraude à execução”, ao supostamente simular bloqueios judiciais de valores recebidos por Thiago.
Outros envolvidos
Além da esposa de Thiago, Nayanna Marcelino Vieira Fagundes, que emitiu uma segunda CCB, e o sogro dele que recebeu diretamente os R$ 4,3 milhões transferidos do crédito liberado pelo SICOOB, outras pessoas participaram dos crimes. Além dos já mencionados, o núcleo central é formado pelos pais de Thiago, e outros cinco sócios e parceiros usados para movimentar recursos. O inquérito ainda levantou outros processos e execuções contra Thiago e Nayanna, envolvendo cheques sem fundos, compra de gado não paga, ações de bancos e dívidas que somam milhões de reais.