Em entrevista após a instalação de uma tornozeleira eletrônica, na Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que as medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra ele são uma “suprema humilhação”. Bolsonaro desceu do carro para falar com jornalistas ao deixar o local, após ter o equipamento colocado. Ele afirmou que nunca pensou em sair do país ou se asilar em alguma embaixada de Brasília, acrescentando ainda que “sair do país é a coisa mais fácil que tem”.
Ao impor as medidas, o ministro Alexandre de Moraes deu como uma das justificativas o risco de fuga do ex-presidente, que teve seu passaporte apreendido em fevereiro de 2024, em razão do avanço da ação penal sobre uma tentativa de golpe de Estado que teria sido liderada por ele.
“A suspeita [de fuga] é um exagero”, afirmou Bolsonaro. “O inquérito do golpe é um inquérito político, nada de concreto existe ali”, acrescentou.
“O julgamento espero que seja técnico e não político, no mais nunca pensei em sair do Brasil , nunca pensei em ir para embaixada.”
Questionado sobre os motivos para a imposição de medidas cautelares contra ele, Bolsonaro respondeu que “no meu entender o objetivo é a suprema humilhação”.
Sobre a apreensão de US$ 14 mil e R$ 8 mil em espécie na sua casa, no bairro do Jardim Botânico, em Brasília, Bolsonaro disse que sempre guardou dólar em casa, e que pode comprovar a origem de todo o dinheiro.
Ele não respondeu a respeito de um pen drive apreendido em um banheiro de sua casa: “Não tenho conhecimento.”
Pelas medidas impostas por Moraes, além da tornozeleira eletrônica, Bolsonaro está proibido de deixar a comarca do Distrito Federal, deve ficar em recolhimento domiciliar entre as 19h e as 6h, e integralmente nos finais de semana. Ele também não pode acessar as redes sociais ou se comunicar com seu filho Eduardo ou embaixadores e diplomatas de outros países.
A Polícia Federal cumpre na manhã desta sexta-feira (18) dois mandados de busca e apreensão em endereços relacionados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ele foi conduzido à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária para colocar tornozeleira eletrônica.
Pela decisão, Bolsonaro, além de precisar usar tornozeleira, está proibido de utilizar as redes sociais.
Ele precisará ficar em casa entre as 19h e as 6h, além de estar proibido de se comunicar com outros réus ou com embaixadores e diplomatas de outros países. Além disso, não poderá se ausentar da comarca do DF.
O ex-presidente já teve o passaporte apreendido em fevereiro de 2024.
Defesa
Em nota, a defesa do ex-presidente afirmou ter recebido “com surpresa e indignação” a aplicação de tais medidas cautelares.
“A defesa do ex-Presidente Jair Bolsonaro recebeu com surpresa e indignação a imposição de medidas cautelares severas contra ele, que até o presente momento sempre cumpriu com todas as determinações do Poder Judiciário. A defesa irá se manifestar oportunamente, após conhecer a decisão judicial”.
Em post publicado nas redes sociais o líder do Partido Liberal (PL) na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante, lamentou a decisão da Justiça que determina o uso da tornozeleira eletrônica.
O PL também divulgou nota e manifestou “estranheza e repúdio” diante da operação da PF. Segundo a nota, assinada pelo presidente do partido, Valdemar Costa Neto, Jair Bolsonaro “sempre esteve à disposição das autoridades”.
A deflagração da operação foi informada em uma nota curta pela PF, divulgada nesta sexta-feira (18).
De acordo com a nota, “dois mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, em cumprimento a decisão do Supremo Tribunal Federal, no âmbito da PET n.º 14129”.
Entenda
Bolsonaro é réu em uma série de investigações relacionadas à trama golpista que culminou nos atos criminosos cometidos no 8 de janeiro de 2023, com o intuito de impedir o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-presidente teria, inclusive, participado da redação do documento conhecido como “minuta do golpe”, que previa a decretação de estado de sítio no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Esse documento foi apreendido na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, bem como na sede do partido de Bolsonaro (PL) e no celular do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.
Há ainda acusações de que ele teria “pleno conhecimento” do plano intitulado “Punhal Verde Amarelo”, que planejou ações para assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Ele é também acusado de difundir notícias falsas contra o sistema eleitoral brasileiro. De acordo com a investigação, o ex-presidente chegou a determinar ao ex-ministro da Defesa Paulo Sergio Nogueira a produção de um relatório insinuando possíveis fraudes nas urnas eletrônicas.
Em outras investigações, Bolsonaro foi obrigado a devolver à União joias que teria recebido de presente de autoridades estrangeiras, quando ainda era presidente. Algumas dessas joias deveriam ser encaminhadas ao acervo da Presidência da República, mas acabaram sendo vendidas, segundo Mauro Cid.
De acordo com o STF, a venda dessas joias configuram crime de peculato, caracterizado pela apropriação de bens públicos para proveito próprio.
Mais recentemente, Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro foram acusados de articular, com o governo dos EUA, medidas punitivas ao Brasil caso o STF insista nas investigações contra o ex-presidente. Essa articulação teria resultado nas taxações anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, contra produtos brasileiros.
O cantor Lucas Lucco e seu pai foram indiciados por estelionato pela Polícia Civil de Goiás, nesta quarta-feira (16), após um empresário acionar a Justiça alegando que o artista e seu pai venderam duas Porsches com dívidas em troca de uma outra Porsche que não possuía pendências.
Conforme a investigação, o empresário goiano ajuizou uma Ação de Conhecimento com Pedido de Tutela de Urgência contra Lucco, um intermediário (que seria seu advogado) e suas empresas por suposto estelionato e fraude envolvendo a compra e venda dos veículos de luxo.
Em novembro de 2023, o cantor teria comprado uma Porsche Cayman GT4 do empresário e pago com a permuta de duas Porsches Panamera. Segundo o empresário, esses veículos apresentavam “pendências graves” como impostos atrasados e gravame de alienação fiduciária. O empresário alega ter sofrido “prejuízo milionário” e estar impedido de comercializar e circular com os veículos.
A ação judicial ainda aponta um “contrato de permuta simulado” entre um intermediário e Lucas Lucco, assinado em 2024, mas datado de 2023, e “comunicados de venda fraudulentos” registrados no sistema SENATRAN (Secretaria Nacional de Trânsito, anteriormente Departamento Nacional de Trânsito) em nome da Lucas Lucco Produções Ltda. e ALL Motors Shopping Car Ltda. Tais atos são classificados pelo empresário como “fraude registral” e “indício de estelionato”.
O que dizem as partes
A defesa de Lucas Lucco declara que o cantor e seu pai “jamais participaram dos crimes perpetrados pelo intermediário” e que ele agiu como “falso advogado”, utilizando “falsificação de assinatura digital do cantor, falsificação de documentos perante a Justiça do Estado de Goiás e outros artifícios”.
Eles afirmam ter sofrido “grande prejuízo financeiro” e atualmente “não estão na posse ou propriedade de veículo algum”.
O empresário, através de sua assessoria, informou que “não se manifestará publicamente neste momento, em respeito ao sigilo das investigações”, mas reiterou sua “confiança plena na Justiça”. O caso segue sendo investigado.
O presidente americano, Donald Trump, disse que a Coca-Cola concordou em usar açúcar de cana para adoçar suas bebidas vendidas nos Estados Unidos.
Atualmente, a Coca-Cola usa xarope de milho em seus produtos americanos, mas o secretário de Saúde de Trump, Robert F. Kennedy Jr., manifestou preocupação com os impactos do ingrediente na saúde.
“Tenho conversado com a Coca-Cola sobre o uso de açúcar de cana de verdade na Coca nos Estados Unidos, e eles concordaram em fazer isso”, escreveu Trump nas redes sociais. “Gostaria de agradecer a todos aqueles em posição de autoridade na Coca-Cola.”
Sem confirmar explicitamente o ajuste da receita, um porta-voz da Coca-Cola disse que eles “agradeciam o entusiasmo do presidente Trump”, e que “mais detalhes sobre novas ofertas inovadoras em nossa linha de produtos Coca-Cola serão compartilhados em breve”.
Enquanto a Coca-Cola vendida nos EUA é normalmente adoçada com xarope de milho, a Coca-Cola em outros países, como México, Reino Unido, Austrália e Brasil, tende a usar açúcar de cana.
Em abril, o CEO da Coca-Cola, James Quincey, disse aos investidores que “continuamos a avançar na redução do açúcar em nossas bebidas”.
Ele afirmou que a empresa sediada em Atlanta “fez isso mudando as receitas, assim como usando nossos recursos globais de marketing e rede de distribuição para aumentar a conscientização e o interesse em nosso portfólio em constante expansão”.
Mas qualquer decisão de usar açúcar de cana em vez de xarope de milho pode deixar um gosto amargo para os agricultores de milho americanos.
John Bode, presidente e CEO Associação de Refinadores de Milho, disse em um comunicado: “Substituir o xarope de milho com alto teor de frutose por açúcar de cana custaria milhares de empregos americanos na fabricação de alimentos, reduziria a renda agrícola e aumentaria as importações de açúcar estrangeiro, tudo isso sem nenhum benefício nutricional”.
O secretário de Saúde dos EUA e seu movimento Make America Healthy Again (“Torne a América saudável novamente”, em tradução livre) tem defendido que as empresas removam de seus produtos ingredientes como xarope de milho, óleos de sementes e corantes artificiais, associando-os a uma série de problemas de saúde.
Kennedy Jr. também tem sido crítico em relação à quantidade de açúcar que os americanos consomem e, segundo relatos, planeja atualizar as diretrizes alimentares nacionais em breve.
Trump toma regularmente Diet Coke — que usa o adoçante artificial aspartame. Ele mandou instalar, inclusive, um botão na mesa dele no Salão Oval da Casa Branca para solicitar que o refrigerante seja servido.
Denúncia grave: uma nova e fraudulenta entrada de Filipe Martins foi inserida no sistema de imigração dos EUA. O documento mostra a data de quinta-feira – 16/07/2025.
O nome inserido segue com a grafia errada: FELIPE, e os dados do passaporte também são do passaporte antigo e cancelado há mais de 3 anos.
Os advogados de Filipe Martins foram avisados pelas autoridades americanas, e outros policiais, inclusive o FBI, já foram acionados.
Também hoje: – Fábio Shor, delegado da Polícia Federal no caso de Martins em 2023, não compareceu para depor na audiência de hoje porque Alexandre de Moraes se recusou a intimar as testemunhas de defesa. Shor se encontra “de férias”. (Talvez na Flórida?) – Não houve a intimação judicial e necessária para Shor e, em tom de deboche, Moraes disse ao advogado de Filipe Martins, Dr Chiquini, para que ele pegasse a testemunha pela mão e a levasse para a audiência. Sigam. Até melhorar e esse regime cair de vez, as coisas podem piorar um pouco. Mas sigam apostando alto. Quanto mais alto…
Familiares do deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) são os alvos de busca e apreensão na quinta fase da operação Overclean nesta quinta-feira (17), por suspeita de desvio de emendas.
Entre eles, estão Elmo Nascimento, irmão do deputado, e Francisco Nascimento, ex-vereador de Campo Formoso e primo de Elmar.
Ao todo, estão sendo cumpridos 18 mandados de busca e apreensão. O próprio deputado, entretanto, não conta na lista dos alvos desta fase da operação.
Francisco Nascimento é o mesmo que, segundo a PF, jogou dinheiro pela janela durante uma operação no ano passado. Seria uma tentativa de se livrar de provas. Agora, ele é alvo novamente por suspeita de intermediar contratos fraudulentos com a prefeitura local.
Outros alvos
O empresário Alex Parente também é alvo da operação. Ele foi preso na primeira fase e é alvo de bloqueio de bens. Ele é investigado nessa fase porque as empresas dele ganharam contratos em Campo Formoso.
Marcos Moura, conhecido como Rei do Lixo, também é alvo de bloqueio de bens. A PF não viu necessidade de pedir buscas contra ele novamente.
O ex-presidente da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf) também é alvo de buscas. Havia afastamento do cargo contra ele, mas o investigado foi exonerado antes.
A CNN tenta contato com os citados, mas ainda não teve retorno.
O deputado Kim Kataguiri (União-SP) e a deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG) discutiram, na madrugada desta quinta-feira (17), durante uma sessão na Câmara dos Deputados, que resultou no acionamento da Polícia Legislativa.
No momento do bate-boca, a Casa debatia o projeto de lei que altera o texto do licenciamento ambiental.
Kataguiri defendeu que haveria muitos parlamentares contra a proposta por questões financeiras: “Agora eu quero falar aqui para esse Plenário qual é a verdadeira razão de ter tanta oposição para o direito do licenciamento ambiental: é dinheiro, é grana, é esquema”.
Xakriabá contestou a alegação do deputado e o chamou de deputado “estrangeiro” e “reborn”.
“Primeiro esse deputado estrangeiro, esse deputado reborn que acabou de falar e quer ter o direito de falar da questão indígena. O senhor não sabe da história, portanto o senhor fica quieto, o senhor é estrangeiro aqui, tinha de pedir perdão para os povos indígenas”, declarou a parlamentar, que teve o seu microfone cortado por falta de tempo.
Kataguiri rebateu e disse que a parlamentar estaria fazendo “cosplay” de pavão, em referência ao cocar da deputada, que é indígena.
“Determinada deputada me chamou de ‘deputado estrangeiro’. E, ali, próximo de onde estão meus ancestrais, tem o pavão, um animal lá da Ásia. Não tem nada a ver com tribo indígena aqui no Brasil, mas tem gente que parece que gosta de fazer cosplay”, alegou o parlamentar.
O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) também fez referência à Xakriabá, quando a denominou de “pavão misterioso”.
“Já que o assunto é o pavão misterioso, queremos saber do licenciamento ambiental do pavão aqui presente. Nossa, se para abrir uma estrada, abrir um empreendimento precisa de um licenciamento, para abater um animal também precisa de licenciamento ambiental”, disse Nogueira.
Por fim, a deputada pediu direito de resposta ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que lhe concedeu permissão.
“As pessoas podem ter bancadas inteiras para defender seu interesse, mas atacar uma mulher indígena pelo que se veste, eu não tenho problema de saber de onde eu venho, eu não preciso chamar de cosplay, porque isso é um racismo televisionado daqui e certamente eu tomarei as medidas necessárias”, a deputada afirmou até ter novamente seu microfone cortado por Motta.
Célia Xakriabá continua sua fala mesmo inaudível, mas logo é silenciada por aplausos da oposição. Uma discussão intensa se inicia entre os parlamentares na Casa e Motta solicita a intervenção da Polícia Legislativa na tentativa de manter a ordem da sessão.
A sessão encerrou com a aprovação do projeto de lei que altera as regras para a emissão de licenciamento ambiental no país. A proposta recebeu 267 votos favoráveis e 116 contrários.
A comitiva liderada pelo governador Ronaldo Caiado, em missão comercial no Japão, tem consolidado a posição do estado de Goiás como polo atrativo para empresas estrangeiras de diversos segmentos. Ao longo de três dias, o governo recebeu a sinalização de investimentos privados de R$ 2,7 bilhões, com projeção de aportes ainda maiores nos próximos anos.
“Esta proximidade entre o Japão e o Brasil chega hoje aos 130 anos de uma aliança consolidada, baseada em princípios de liberdade e democracia, que somos parceiros e simpáticos àquilo que é o avanço com o Japão”, afirmou Caiado. E acrescentou que o país é considerado um parceiro estratégico e que, por isso, Goiás está “de portas abertas” para fortalecer as relações bilaterais.
Logo na segunda-feira (15/07), o governador acompanhou a assinatura de um contrato que viabiliza a exportação de veículos produzidos na fábrica da HPE, subsidiária da Mitsubishi Motors localizada em Catalão, para países da América Latina.
Até então, a unidade só podia fabricar carros para o mercado brasileiro. Recentemente, a montadora havia anunciado um aporte de R$ 4 bilhões até 2032 para ampliar a atividade no estado.
O governo também conheceu a tecnologia utilizada pela startup japonesa Tsubame para a geração de amônia verde, matéria-prima para a produção de fertilizantes agrícolas. Segundo a empresa, será destinado um total de R$ 200 milhões para a implantação de uma fábrica em Mineiros, dentro de uma planta do grupo Atvos. A expectativa é de que a construção comece em 2026, com início da operação em 2027.
Fábrica da Mitsubishi em Catalão poderá exportar para América do Sul (Foto: Júnior Gumarães)
Terras raras
Além de garantir investimentos privados, o governador apresentou ao governo japonês as potencialidades de Goiás para a exploração de elementos de terras raras (ETRs). Isso porque o território goiano possui jazidas promissoras nas regiões Nordeste (Nova Roma, Monte Alegre, Cavalcante) e Oeste (Iporá). Além disso, já está em atividade uma grande mineradora em Minaçu, com foco exclusivo nesse tipo de produto.
Os ETRs são utilizados em veículos elétricos, baterias, equipamentos militares e data centers (estruturas físicas de processamento de dados), por exemplo.
O ministro da Economia, Comércio e Indústria do Japão, Ogushi Masaki, explicou que o país compra o produto majoritariamente da China e deseja diversificar a importação. Ele confirmou que há empresas interessadas em se instalar em Goiás e que uma comitiva virá ao estado na segunda quinzena de agosto.
Outras agendas no Japão
Uma reunião com lideranças do Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC) tratou do início da operação da instituição em Goiás. O JBIC, que pertence ao governo japonês e atua no financiamento de projetos internacionais, tem relacionamento no Brasil desde 1958, mas nunca chegou ao território goiano. No encontro, houve uma manifestação de apoio aos projetos localizados no estado.
Caiado teve audiência ainda com a ministra dos Negócios Estrangeiros do Japão, Arfiya Eri, para dialogar sobre a abertura do mercado japonês à carne bovina goiana.
Ele destacou que o estado foi reconhecido, neste ano, como livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Em junho, o Brasil bateu um recorde no abate de carne bovina, com mais de 1 milhão de animais, e o estado ficou na 3ª posição no ranking nacional.
Etanol
Enquanto cumpria agendas no país asiático, o governador Ronaldo Caiado recebeu a confirmação positiva de uma negociação que estava em curso no Brasil, com a biorrefinaria Inpasa. Com apoio da Prefeitura de Rio Verde e do Estado, a maior fabricante de etanol de milho do Brasil vai instalar sua primeira unidade goiana nesse município.
O aporte será de R$ 2,5 bilhões para a construção de uma usina, com expectativa de geração de cerca de 3 mil empregos.
O Senado aprovou a medida provisória que reajustou o soldo dos militares das Forças Armadas a partir de abril último. A MP 1.293/2025 segue para promulgação.
O soldo é o vencimento básico dos militares e varia conforme posto e graduação. O texto apresentado pelo Poder Executivo estabelece o reajuste em duas parcelas de 4,5%: uma que entrou em vigor em abril deste ano e outra para janeiro de 2026.
O impacto orçamentário estimado é de R$ 3 bilhões no primeiro ano e R$ 5,3 bilhões no segundo. Segundo o governo, o reajuste beneficia aproximadamente 740 mil pessoas, abrangendo militares da ativa, da reserva e pensionistas.
A medida reajusta os chamados “soldos”, ou seja, os salários-base pagos aos integrantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, além de pensionistas. O impacto estimado pelo governo é de R$ 3 bilhões neste ano e R$ 5,3 bilhões em 2026.
No topo da tabela, conforme o texto aprovado, está o soldo pago ao almirante de esquadra, ao general de exército e ao tenente-brigadeiro do ar, que passará de R$ 13.471 para R$ 14.711 após a aplicação das duas parcelas.
No piso da tabela, o soldo de R$ 1.078 chegará a R$ 1.177 em janeiro. Nesta faixa, estão marinheiro-recruta, recruta, soldado, soldado-recruta, soldado de segunda classe (não engajado) e soldado-clarim ou corneteiro de terceira classe.
Durante a tramitação, MP proposta pelo governo não sofreu mudanças; medida reajusta os “soldos” dos militares em 9% e tem impacto estimado de R$ 3 bi em 2025
Dulcineia Luz, 47, saiu de Rondonópolis, Mato Grosso, e passou dois dias viajando de ônibus rumo a Ubá, em Minas Gerais, uma cidade que nunca havia visitado — e da qual, até poucas semanas antes, nunca sequer havia ouvido falar.
Foram vídeos no TikTok que a apresentaram, por acaso, à cidade de cerca de 100 mil habitantes que, nas redes sociais, se vende como a “capital das plásticas”.
“Minha irmã já tinha feito cirurgia e ficou maravilhosa. Eu não pensava em fazer também, mas quando vi no TikTok… Olhei para minha barriga caída e pensei: ‘Tô precisando’. Aí eu vim realizar esse sonho.”
O principal atrativo que faz com que vídeos de mulheres recém-operadas dançando, ainda com suas cintas e drenos pós-cirúrgicos, somem milhões de visualizações e atraiam pessoas como Dulcineia, é o preço acessível.
João da Mata/BBC News Brasil -Dulcineia Luz fotografada durante sua estadia na Casa das Irmãs Condé, local que oferece cuidados pós-operatórios para mulheres que vêm de outras cidades para realizar cirurgias em Ubá
Em Ubá, é possível encontrar, por exemplo, a famosa cirurgia “x-tudo” (que consiste em elevação dos seios, remoção de gordura das costas com retirada do excesso de pele e gordura da barriga e possível aumento dos glúteos) por um total de R$ 18 mil — um valor que, em muitas capitais brasileiras, corresponde apenas ao custo de internação em hospitais de alto padrão.
Também há ofertas de mastoplastia (cirurgia nas mamas) por menos de R$ 11 mil, incluindo custos de hospital e anestesista, e abdominoplastia (cirurgia no abdômen), por menos de R$ 9 mil — um preço mais de 50% abaixo da média em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A depender do profissional escolhido, a única opção é pagar em dinheiro vivo.
Diariamente, mulheres de diferentes partes do Brasil — e até algumas brasileiras morando no exterior — chegam a Ubá atraídas pela chance de renovar a autoestima por um preço acessível.
Mas, para algumas pacientes, o que era um sonho se transformou em pesadelo, com resultados muito diferentes de suas expectativas, infecções e falta de assistência médica.
Hoje, pelo menos seis cirurgiões plásticos realizam procedimentos diariamente em Ubá. Dois deles — Maurino Grossi e Júlio Cesar Ferreira, considerados pioneiros da especialidade na cidade — acumulam, cada um, mais de 30 processos na Justiça.
Ao investigar o histórico de Júlio Cesar, a reportagem encontrou cerca de 40 ações contra ele. As acusações se concentram principalmente em supostos erros médicos, especialmente em mamoplastias. Dos 16 processos que já tiveram sentença, ele foi condenado em 7. Em outros 4 casos, o processo foi extinto — por acordo ou desistência do paciente — e 5 foram julgados improcedentes.
Já contra Maurino Grossi, a BBC News Brasil localizou cerca de 40 processos. Dos 28 já sentenciados, ele foi condenado em 5. Outros 2 foram considerados improcedentes. Nos 21 restantes, o processo foi extinto, seja por desistência dos pacientes ou por acordo entre as partes.
A BBC News Brasil procurou ambos e foi recebida por Maurino Grossi em seu consultório, em dezembro de 2024, como descreveremos ao decorrer do texto.
Júlio Cesar Ferreira não aceitou dar entrevista, mas foi contatado por mensagem com questionamentos sobre os casos relatados aqui e enviou uma nota por meio de seu advogado, descrita ao longo deste texto.
João da Mata/BBC News Brasil – O cirurgião Maurino Grossi com a paciente Claudineia Dias
‘Uma máfia que deu certo’
Pelas ruas de Ubá, nada indica que a cidade, mais famosa pela venda de móveis de madeira, esteja tão economicamente aquecida pela cirurgia plástica. Mas as redes sociais fizeram com que o engajamento nas redes se convertesse, de fato, em negócios.
A fama criada online impulsionou uma rede de novos trabalhos: motoristas especializados no transporte de pacientes, lojas de material hospitalar, casas de cuidado e até uma modalidade financeira voltada especialmente para quem deseja operar.
Lucilene Queiroz é a responsável pela Pag Crédito Ubá, que tem atraído clientes com um financiamento programado, pensado especificamente para cirurgias estéticas.
Ela recebeu a reportagem em um coworking e contou como as redes sociais têm feito com que ela receba mais de 80 mensagens de interessadas por dia e quais são as opções das clientes.
“Funciona basicamente como um consórcio: a cliente escolhe o plano, começa a pagar as parcelas e já sabe quando vai operar — sem lance e sem sorteio”, explica Lucilene.
João da Mata/BBC News Brasil – Lucilene Queiroz, responsável pela Pag Crédito Ubá
Segundo ela, é possível aderir ao programa mesmo com o nome negativado, com valores que variam entre R$ 5 mil e R$ 100 mil e parcelamento fixo que pode chegar a até 120 vezes.
“Muitas vêm só pela curiosidade, mas ainda assim o movimento é grande. Nos meses de férias, temos uma média de 40 mulheres operando por mês só pelo plano, fora as que vêm com recurso próprio.”
Lucilene relata que esse movimento começou há cerca de um ano e meio, quando as casas de cuidados pós-operatório e fisioterapeutas que oferecem esse serviço começaram a viralizar no Instagram e, principalmente, no TikTok, com posts sobre o quão baratas são as cirurgias na cidade.
“Não foram nem os médicos que apareceram primeiro — foram elas que puxaram todo mundo junto, e aí virou esse boom que até hoje impressiona.”
“Eu brinco que é uma máfia que deu certo, uma máfia ‘do bem’. A gente já consegue girar tudo em torno da cidade — do médico a essas casas que recebem as mulheres no pós-operatório, que é tão importante quanto a cirurgia em si.”
A Casa das Irmãs Condé
No Whatsapp, dezenas de grupos com os nomes dos cirurgiões — mas, usualmente, sem a presença deles — compartilham fotos de “antes e depois”, expectativas, indicações de serviços (como as casas de cuidados) e orçamentos.
Há também dicas de como levar o dinheiro vivo — no caso de médicos que não aceitam pix ou cartão.
Algumas mulheres colocam as notas em fraldas, pochetes, ou avisam o banco antecipadamente para conseguir sacar as quantias altas depois de chegar à cidade.
Grupos das casas de cuidados também são usados para divulgar seus serviços, e alguns compartilham arquivos em PDF com informações detalhadas sobre médicos.
“A gente não indica médico, tá? Hoje temos vários aqui em Ubá. O que eu faço é orientar: temos um grupo no WhatsApp onde as meninas postam fotos de antes e depois, comentam sobre as cirurgias, e cada uma escolhe com base nessas trocas. Sempre falo que é uma decisão muito pessoal. Para ajudar, até montei um guia com o trabalho de todos os médicos — assim, cada uma pode olhar e dizer: ‘é com esse que eu quero operar’”, diz Ana Paula Condé, uma das donas da casa de cuidados conhecida como Casa das Irmãs Condé.
Ela, enfermeira, e sua irmã gêmea, Juliana, que é fisioterapeuta, recebem mulheres de diferentes lugares e, em alguns meses, têm uma fila de espera.
Há outros estabelecimentos na cidade que parecem também receber muitas pacientes, como a Casa de Cuidados Shekinah e o Spa de Cuidados Fernanda Varella. As responsáveis pelas casas disseram “não ter interesse” em conversar com a reportagem.
Quando questionadas sobre por que a cirurgia em Ubá é tão mais barata, as irmãs Condé dizem que, para quem é da cidade, o preço não é barato, mas simplesmente o valor que se cobra usualmente.
“Eu falo pra vocês, gente: fiz minha cirurgia há 13 anos, abdômen e mama, e paguei R$ 3.600. Pra gente, aqui em Ubá, isso é um preço normal. Normal! Aí as meninas comentam: ‘Na minha cidade custa R$ 100 mil!’ Gente, como assim? Cem mil por uma plástica? Pra gente, isso não existe. Não sei se é pela cidade, pela economia local… mas esse é o valor aqui em Ubá”, diz Juliana.
Ana Paula conta que a demanda já cruzou o país — e até o oceano.
“A gente recebe pessoas do mundo inteiro. Tem gente de Londres, da Guiana, do Suriname — vem bastante gente de lá, muitas vezes com pepitas de ouro. E do Brasil todo: Paraná, Mato Grosso, Bahia, Acre, Belém, Tocantins, Belo Horizonte… Mato Grosso, então, tem vindo demais. É o Brasil inteiro e um pouquinho do mundo.”
Apesar das origens diferentes, na “pousada”, a reportagem encontrou algo em comum entre as dezenas de mulheres que se recuperavam das cirurgias e aceitaram conversar sobre suas experiências: a visão da cirurgia plástica como um sonho e como resgate da autoestima.
João da Mata/BBC News Brasil -Casa das irmãs Condé recebe mulheres de diferentes lugares e, em alguns meses, tem fila de espera
A reconstrução da autoestima
Talita, 25, natural de Niterói, no Rio de Janeiro, acompanhava o trabalho de uma cirurgiã que atua em Ubá há 4 anos, até que conseguiu ter dinheiro para realizar diferentes procedimentos de uma vez: mamoplastia com aumento, abdominoplastia e lipo com enxerto de glúteo.
“Bastante coisa, né? Meu sonho mesmo era só o abdômen, mas já que eu vinha, falei: ‘vou recauchutar tudo e nunca mais entro em centro de cirurgia’. Agora é atividade física e manter uma vida mais saudável.”
O total saiu por cerca de R$ 34 mil.
Para ela, a vontade de mudar o corpo surgiu depois do nascimento de suas duas filhas.
“Depois das gestações, fiquei com uma diástase enorme, o que abalou muito minha autoestima. Claro que foi por um bom motivo — minhas filhas são tudo para mim. Mas queria voltar a me sentir confortável usando um biquíni”, diz.
Claudineia Dias tem 33 anos e foi de Rondônia até Minas Gerais para conseguir realizar a cirurgia, um sonho que cultivava há dois anos.
“Eu queria muito fazer, mas queria fazer na minha cidade, no meu Estado — só que lá era muito caro, e eu não tinha o dinheiro. Aí engravidei, tive meu bebê, esperei um tempo… agora ele tá com um ano e dois meses. Foi quando conheci a casa das irmãs Condé, com os médicos e tudo mais, e pensei: agora eu consigo.”
Para fazer uma abdominoplastia e mamoplastia com o cirurgião Maurino Grossi, ela viajou por mais de um dia, entre avião e ônibus.
“Foi cansativo, mas valeu a pena. Nossa, como valeu a pena! Meu Deus! Eu faria tudo de novo. Tem mulheres que dizem: ‘Ah, eu fiz cirurgia plástica, mas nunca mais faria’. Eu não. Eu faria novamente, passaria por todo o processo outra vez, sem pensar duas vezes.”
‘O barato sai caro’
João da Mata/BBC News Brasil – Gelva Consuelo acusou médico de ter feito lipoaspiração ‘ultra superficial’ em suas costas
Já Gelva Consuelo, 56, diz que a cirurgia com o mesmo médico, feita em 2016, não valeu a pena. Ela acusou Maurino Grossi de ter feito uma lipoaspiração “ultra superficial” em suas costas.
“Decidi operar em Ubá depois de ouvir muitas propagandas sobre os cirurgiões de lá, que eram maravilhosos, e porque o preço estava mais acessível do que aqui em Belo Horizonte, onde moro. Mas, infelizmente, não deu certo.”
O médico ofereceu outra cirurgia, reparadora, e Gelva aceitou — mas continuou insatisfeita após o procedimento, que ocorreu no ano seguinte, em 2017.
Os prontuários hospitalares dos procedimentos mostram que o primeiro durou 15 minutos, e o segundo, 25 minutos.
“Eu sou esteticista há 20 anos, trabalho muito com drenagem pós-cirúrgica e eu mesma já tinha feito uma lipo de costas antes, então eu sei reconhecer quando uma cirurgia não foi bem feita. Eu percebi que a cânula só passou pela camada superficial.”
Gelva decidiu levar o caso à Justiça, e chegou a um acordo com o médico. Ele devolveu o dinheiro que ela investiu na cirurgia.
À reportagem, ela mostrou fotos de seu antes e depois como um indicativo de que não houve mudança.
“Se eu não tivesse essas fotos e não soubesse do assunto, eu seria só mais um caso perdido, como milhares de mulheres que esperam que a cirurgia seja a solução para tudo. E sabe o que ele diz para elas? ‘Foi o melhor que eu pude fazer por você, porque você estava muito ruim’.”
A reportagem questionou Maurino Grossi, cirurgião plástico especialista pelo Hospital Barata Ribeiro, no Rio de Janeiro, sobre o caso de Gelva. Ele disse que não se lembra especificamente da paciente, e que é impossível que uma lipo de costas tenha durado apenas 15 minutos.
“Não, isso não existe. Olha, deixa eu te falar — eu não sei exatamente do que estão falando, mas é o seguinte: às vezes, a paciente volta para fazer algum retoque, corrigir uma irregularidade, entende? Por exemplo, se for uma correção de lipo e a queixa for pequena, aí o tempo de cirurgia pode variar. Mas uma lipo nas costas em 15 minutos? Isso não existe.”
Quando questionado sobre os mais de 30 processos em seu nome, Grossi respondeu:
“Eu tenho 20 anos de profissão, devo ter feito quase 10 mil cirurgias. Você acha essa estatística tão alta assim? Hoje em dia, é muito fácil para uma paciente dizer ‘meu médico errou’ e levar o caso para a Justiça. Mas quem decide isso não é o paciente, nem o advogado — é o perito. É ele, um médico indicado, que vai avaliar se houve ou não erro médico. Só ele.”
Nos processos, também é possível ver que Grossi optou por acordo, como fez com Gelva, com várias das pacientes.
“Hoje, não faço mais. Porque quanto mais a gente faz acordo, mais eles acham que a culpa é do médico, que é fácil tirar algum dinheiro. Já cheguei a receber muitas ameaças de paciente, sabe? Agora eu não faço mais. Se quiser levar pra Justiça, pode levar. Porque senão vira chantagem — casos que seriam simples de resolver viram uma tentativa de conseguir o dinheiro de volta à força.”
Além de Gelva, a reportagem conversou com mais mulheres que ficaram insatisfeitas com o resultado das cirurgias performadas por Grossi. A maioria delas não quis levar o caso à Justiça. Muitas relatam que acreditam que o médico realizava várias cirurgias no mesmo dia, com duração curta, mas não apresentaram evidências.
A isso, Grossi responde que hoje faz uma ou duas cirurgias no dia — e que, no passado, fazia, no máximo, quatro.
“Quanto mais cirurgias você faz, mais cansativo é — e maior a chance de complicações. Então, foi uma escolha que eu fiz. Já são 20 anos operando, e agora eu quero menos complicações. Quero viver uma vida mais tranquila.”
A reportagem também encontrou casos mais graves de complicações por cirurgias realizadas na cidade.
Rosimar Cordeiro Messias, 53, foi atraída pelos preços baixos de Ubá antes da fama chegar às redes sociais.
Em 2015, circulava por Crucilândia, sua cidade natal, a cerca de cinco horas de Ubá, a notícia de cirurgias plásticas acessíveis — e com resultados considerados excelentes.
“Quando eu fiz 40 anos, já tinha passado por três gestações, e minha barriga ficou bem grande. Era um sonho meu ter uma barriga bonita. Com o tempo, fui juntando dinheiro pra fazer essa cirurgia lá em Ubá, com o doutor Júlio Cesar. Era o meu sonho, porque eu ia pra praia em janeiro, e operei no dia 2 de novembro — achei que até lá já estaria tudo bem. Achei que a cirurgia ia ser maravilhosa, só que não foi. Era um sonho meu ficar com o corpão bonito, sabe? Mas nada deu certo. Fiz também a retirada do excesso dos seios, e também deu errado, ficou torto.”
João da Mata/BBC News Brasil – Rosimar Cordeiro, fotografada em sua casa, em Crucilândia (MG), a cerca de cinco horas de carro de Ubá
Rosi, como é conhecida, sabia de duas vizinhas que já tinham passado pelo procedimento e, animada com os relatos, decidiu embarcar na jornada com outras duas amigas.
“Uma dessas vizinhas teve um problema e ficou sem jeito de me contar. Era uma coisa simples, uma inflamação, mas ela ligava lá e ninguém dava atenção. Meses depois, quando ela viu o que aconteceu comigo… Teve um dia que ela me ligou chorando, dizendo que ficou com muito remorso por não ter me contado.”
O que aconteceu com Rosi começou também, aparentemente, como uma inflamação simples. Mas se tornou um quadro sério que a deixou de cama durante sete meses.
As duas cirurgias escolhidas por ela, mamoplastia (para tirar excesso dos seios) e abdominoplastia (para diminuir a gordura e excesso de flacidez na região), custaram um total de R$ 6.400.
“Eu achei muito barato, mas só não sabia que esse barato ia ficar muito, muito caro no final.”
“Depois da cirurgia, senti dor a noite inteira. Quando foi no outro dia, na hora de tirar o curativo, minha barriga já estava vermelha. A enfermeira me deu alta e disse como eu precisava limpar, se não teria uma infecção. Eu respondi: ‘Mas eu não tô bem, como é que eu vou embora? Vou viajar assim?’. E ela disse: ‘Ué, você quer morar aqui?’. Ela era sempre grosseira. Eu fiquei sem reação.”
Dias após a abdominoplastia, a região operada começou a se abrir. Em pouco tempo, a incisão se transformou numa ferida profunda, com secreção amarelada e sinais claros de infecção. Rosi relata que sentia dor extrema, não conseguia trabalhar ou se alimentar.
Por e-mail, uma de suas filhas enviava imagens e pedia orientações ao consultório do cirurgião. As respostas, assinadas por uma secretária do médico, mostram indicação de limpar o local com gaze e soro, e recomendação de remédios para dor.
Procurado pela BBC News Brasil, o advogado do médico Júlio Cesar Ferreira argumentou que pontos se abrem em razão de a paciente não obedecer ao repouso absoluto orientado no momento da alta ou se a paciente não toma os devidos cuidados após voltar para casa.
Ele disse ainda que, para que ocorra o acompanhamento pós-cirúrgico, é necessário que a paciente retorne ao consultório nas datas pré-agendadas, mas que algumas pacientes que não moram na cidade se recusam a retornar.
Rosimar diz que voltou quatro vezes para consultas pós-operatórias e afirma que seguiu os cuidados indicados pela equipe do médico no pós-operatório.
Ao pesquisar o histórico do doutor Júlio Cesar, a reportagem descobriu que ele é alvo de dezenas de processos na Justiça.
Neles, ele é acusado principalmente de erros médicos, em especial em mamoplastias. Muitos ainda estão em andamento, mas dos 16 processos em que a sentença já foi proferida, ele foi condenado em sete. Em outros quatro casos, o processo foi extinto ou porque houve um acordo, ou porque os pacientes desistiram. E cinco processos foram considerados improcedentes, ou seja, não houve condenação.
A BBC News Brasil também questionou o médico sobre esses processos.
Na mesma nota, o advogado disse que “alguns já tiveram proferida a sentença de improcedência”.
João da Mata/BBC News Brasil – Rosimar Cordeiro mostra sua cicatriz pós-cirúrgica
“Foi só piorando. A gente mandava foto pro doutor todo dia. Quando comecei a chorar de tanta dor, a Carla tentou de novo o contato com o consultório, mas eles só diziam que era normal.”
Rosi conta que chegou a voltar a Ubá duas vezes para ser avaliada pessoalmente pelo médico, encarando novamente viagens de 10 horas de carro, ida e volta. Em uma das visitas, relata ter sido atendida apenas pela enfermeira, que chegou a cortar uma parte da gordura que saía da ferida, sem que o cirurgião a visse.
Durante esse período, a recuperação foi marcada por dor intensa, secreção com mau cheiro e tentativas de aliviar o sofrimento com medicamentos fortes e chás caseiros. “Quando fui ao clínico geral, ele olhou e disse: ‘Você devia processar esse médico. Não tem condição. Ele deveria ter te internado’. Eu viajei daquele jeito, com dor, e ele ainda mandou eu ir embora. Eu não aguentava nem fazer o curativo. Quando colocavam a gaze, ela entrava no buraco e a dor era insuportável. Tiveram que usar compressa aberta. Se colocasse gaze, ela ficava lá dentro.”
Após meses de tratamento, Rosi conseguiu fechar a ferida com sessões de laser, que ajudam a regenerar a pele e a estimular a cicatrização. Ela conta que precisou gastar grande parte de suas economias para arcar com os custos do procedimento e dos cuidados posteriores.
Quando estava melhor, Rosi procurou o médico Júlio Cesar pessoalmente. “Eu disse que queria o meu dinheiro de volta para poder consertar essa cicatriz. Aí ele falou que ele mesmo poderia fazer isso, mas eu jamais confiaria nele de novo”, diz.
Na saída do consultório, desabafou com outras mulheres que aguardavam atendimento.
“O lugar estava sempre lotado. Eu estava nervosa e gritei: ‘Vocês vão ter coragem de fazer cirurgia com esse médico? Ele não dá atenção. Se passar mal, se não der certo, ele não tá nem aí.’”
Rosi chegou a considerar uma ação judicial. “Eu falei que ia processar. Ele me desafiou a tentar, dizendo que tinha mais de cinco advogados. Aí eu desisti, fiquei desanimada. Mas ainda penso em tanta gente que continua fazendo cirurgia com ele…”
Em nota, o advogado de Júlio Cesar Ferreira afirma que o médico jamais disse que Rosimar não poderia entrar na Justiça porque ele teria “uma variedade de advogados à sua disposição”.
A cicatriz profunda na barriga não foi a única marca deixada pela experiência. Cerca de um mês após a cirurgia, Rosi parou de se alimentar e precisou de atendimento médico. Ela relata que desenvolveu depressão em decorrência do trauma.
“Tinha um mês, mais ou menos, que eu realmente não comia. Fui ao posto de saúde e tive que ficar no soro. Achei que ia morrer, porque já não tinha força física ou mental nem pra sair da ambulância e entrar no posto. Estava muito fraca, sabe? Foi uma fase em que eu pensei que não ia dar conta. Não mesmo.”
A reportagem também conversou com mulheres que ficaram satisfeitas com o resultado de cirurgias feitas pelo doutor Júlio Cesar. Uma delas é Daniela Vieira, de 45 anos, que foi de Primavera do Leste, no Mato Grosso, até Ubá, para ser operada pelo médico.
“Eu fiquei muito feliz com o resultado, foi exatamente o que eu esperava. Não tive nenhum problema na cirurgia, graças a Deus. Em 2023, eu fiz abdominoplastia, redução de mama com prótese e lipoaspiração — tudo com o doutor Júlio, que foi o médico que eu escolhi pra mim. A experiência foi excelente, fiquei realmente muito satisfeita.”
O que considerar antes de optar por uma cirurgia plástica
Tanto Rosi como Gelva recomendam que, antes de decidir pela cirurgia em Ubá ou em qualquer outra cidade, a pessoa interessada faça muita pesquisa e não se deixe atrair tanto pelo preço.
“É um barato que pode sair caro”, diz Gelva.
O médico Marcelo Sampaio, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, indica que há fatores importantes a se considerar na hora de escolher um procedimento cirúrgico.
“O primeiro passo para uma cirurgia segura é buscar indicações confiáveis. Quem te indicou? Conhece alguém que já operou com esse médico? Como foi a experiência no pré e no pós-operatório? Depois, é importante confirmar se o profissional é habilitado para o procedimento. Dá pra checar no site do CRM ou da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.”
Na consulta, diz Sampaio, o médico precisa te explicar os resultados possíveis e também os riscos.
“Se ele só mostra o lado bom, desconfie. Por fim, veja onde ele opera. É um hospital autorizado, com estrutura adequada e registrado na Anvisa? Tudo isso faz diferença na sua segurança.”
Consultado pela BBC News Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) disse que não há nenhum processo administrativo em curso contra os dois médicos citados na reportagem.
O CFM alerta que, por vezes, valores atrativos podem ocorrer às custas da supressão de condições mínimas de segurança para o paciente e precariedade da estrutura dos estabelecimentos assistenciais onde os procedimentos são realizados. E diz que tais práticas colocam em risco a vida, a saúde e a segurança das pessoas.