Categoria: Política

  • Fraude no INSS: 11 entidades investigadas por descontos indevidos em benefícios

    Fraude no INSS: 11 entidades investigadas por descontos indevidos em benefícios

    A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram nesta quarta-feira, 23, a Operação Sem Desconto, para investigar um esquema criminoso que promoveu desvios bilionários de proventos de aposentados e pensionistas Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). A operação levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.

    Segundo a CGU e o Ministério da Justiça, os descontos começaram em 2016, mas escalaram em 2023 e 2024. Entidades de classe, como associações e sindicatos, formalizavam Acordos de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS, o que permitia o desconto em folha dos beneficiários do órgão. A autorização para o desconto, contudo, em muitos casos, era fraudada.

    “Para o desconto ser realizado, a entidade precisa da autorização expressa e individual de cada beneficiário para realizar o desconto de sua mensalidade associativa. Na investigação, foram identificadas, porém, a ausência de verificação rigorosa dessa autorização e a possibilidade de falsificação de documentos de filiação e autorização”, diz apresentação da PF.

    Segundo auditoria da CGU, 11 entidades associativas foram alvo de medidas judiciais, desde 2023, quando a controladoria deu início a uma série de apurações sobre o aumento das entidades e dos valores descontados.

    “A partir desse processo, foram feitas auditorias em 29 entidades que tinham Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS. A CGU identificou que as entidades não tinham estrutura operacional para prestar os serviços que ofereciam aos beneficiários e que, dos entrevistados, a maioria não havia autorizado os descontos. A CGU também identificou que 70% das 29 entidades analisadas não entregaram a documentação completa ao INSS”, diz a CGU.

    Os descontos eram feitos com base em benefícios supostamente oferecidos por essas entidades, como auxílio funerário, desconto em medicamentos, academias, consultas e exames, além de consultoria jurídica, entre outros. Segundo a CGU, havia descontos de associados com domicílio em outras unidades da Federação.

    “Destaca-se o fato de as entidades possuírem muitos associados domiciliados em Unidades da Federação diferentes da localização de suas sedes ou escritórios/representações. Em que pese a possibilidade de as entidades celebrarem parcerias com outras entidades, correspondentes bancários ou representantes, o acesso aos serviços ofertados seria difícil, a menos que ocorresse de forma remota, o que seria improvável, dada a falta de familiaridade dos beneficiários com recursos digitais.”

    Veja abaixo as entidades que foram alvo de medidas judiciais, segundo a CGU e o Ministério da Justiça, e os anos em que convênios com o INSS foram firmados:

    • Ambec (2017)
    • Sindnapi/FS (2014)
    • AAPB (2021)
    • AAPEN (anteriormente denominada ABSP) (2023)
    • Contag (1994)
    • AAPPS Universo (2022)
    • Unaspub (2022)
    • Conafer (2017)
    • APDAP Prev (anteriormente denominada Acolher) (2022)
    • ABCB/Amar Brasil (2022)
    • CAAP (2022)

    Procurada, a Ambec afirmou que a entidade “não pratica atividade ostensiva de captação, prospecção e afiliação de seus associados, sendo tais atividades praticadas por empresas privadas diversas, de forma que, se qualquer fraude ocorreu, a associação é tão vítima quanto seus associados”. Além disso, disse que vê “com surpresa” a operação e que já que vem cooperando, há mais de um ano, com “a Autoridade Policial, Ministério Público e Poder Judiciário”.

    O presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), Milton Cavalo, afirmou, por meio de nota, que “o Sindnapi apoia a investigação das denúncias de irregularidades nos descontos em benefícios dos aposentados. Faz parte do DNA do sindicato a defesa dos beneficiários do INSS e a luta contra golpes dos mais diversos que afetam os ganhos dessa população.”

    Como mostrou o Estadão, o diretor vice-presidente da entidade é José Ferreira da Silva, conhecido como “Frei Chico”, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    A Contag, por sua vez, diz que recepcionou “diligências” da Operação em sua sede, e que sempre atuou em conformidade com as normas legais.

    “Neste momento, a entidade reitera seu respeito às instituições democráticas e o compromisso com a legalidade em todas as suas ações, e se coloca à disposição para colaborar com as investigações em curso, defendendo a total transparência do processo investigatório e apuração devida dos fatos.”

    As outras entidades não se manifestaram.

    Afastamento da cúpula do INSS

    A operação levou ao afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e de outros quatro integrantes da cúpula do órgão. Segundo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, não houve medidas efetivas por parte do INSS para coibir as fraudes, apesar das denúncias.

    “O afastamento foi solicitado pela Polícia Federal, durante inquérito instaurado em junho de 2024. Durante esse período houve a investigação. A Justiça entendeu pelo afastamento. Houve notícias da imprensa, no final de 2023, análise do TCU, ações da CGU, reportando as sucessivas fraudes, e houve continuidade sem que houvesse ações mais efetivas no sentido contrário. Tudo isso levou ao afastamento não só do presidente, mas dos servidores citados”, afirmou.

    Auditoria da CGU também apontou que o INSS não adotou medidas para tentar mitigar o problema.

    “Mesmo conhecendo essa situação, a existência de denúncias recorrentes acerca da realização de descontos associativos não autorizados pelos beneficiários, e a falta de capacidade operacional necessária para acompanhamento dos ACT (acordos de cooperação técnica), o INSS não implementou controles suficientes para mitigar os riscos de descontos indevidos e seguiu assinando ACT após a suspensão ocorrida em 2019, com o crescimento significativo dos descontos a partir de julho de 2023?

    Estadão

  • PL e Novo ficam isolados, e Motta adia análise da urgência da anistia pelo 8 de Janeiro

    PL e Novo ficam isolados, e Motta adia análise da urgência da anistia pelo 8 de Janeiro

    O presidente da Câmara dos DeputadosHugo Motta (Republicanos-PB), informou nesta quinta-feira, 24, que o colégio de líderes decidiu adiar a análise do requerimento de urgência do projeto da anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro. Segundo Motta, líderes que representam mais de 400 parlamentares na Casa decidiram que o tema não deveria entrar na pauta da próxima semana. Somente PL e Novo defenderam que o pedido deveria ser discutido imediatamente.

    Segundo Motta, o adiamento não significa que não haverá diálogo sobre o tema, para que a Casa encontre uma saída sobre o assunto. “Já há uma sinalização, dos líderes que pediram o adiamento, que o diálogo entre os partidos pode avançar para uma solução”, indicou.

    O presidente da Câmara afirmou que, na Casa, “ninguém está concordando com penas exageradas ou é a favor de injustiça”. “Há um sentimento de convergência de que algo precisa ser feito, se houver injustiça, para que a Casa jamais seja insensível a qualquer pauta”, disse Motta.

    Segundo o deputado, o colégio de líderes não debateu a criação de uma eventual comissão especial da anistia.

    Após o pronunciamento do presidente da Casa, o líder da oposição na Casa, Zucco (PL-RS), indicou que a obstrução ensaiada por apoiadores da anistia deve ser retomada. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), sinalizou que esse será o caminho.

    “Nossa obstrução é dentro do regimento, não é total. A Casa vai votar pouquíssimo ate que se teve um calendário para o projeto”, afirmou. Segundo Sóstenes, a ideia é fazer alterações no texto para restringir o benefício a quem participou de forma comprovada, com vídeos, da depredação do patrimônio.

    Como mostrou o Estadão em 2024, o atual texto do projeto de lei da anistia, do deputado Rodrigo Valadares (União-SE), pode beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O projeto sob relatoria de Valadares quer anistiar “todos que participaram de eventos subsequentes ou eventos anteriores aos fatos acontecidos em 08 de janeiro de 2023, desde que mantenham correlação com os eventos acima citados”.

    Há uma previsão de um encontro entre Motta e Sóstenes ainda na tarde desta quinta-feira. No dia anterior, o líder do PL na Câmara foi reclamar com o senador Ciro Nogueira (PP-PI), um dos principais aliados de Motta, sobre a falta de diálogo do presidente da Câmara com o PL sobre anistia. Ciro disse que logo Motta daria um prazo a ele.

    Sobre a pauta da próxima semana, Motta indicou que deverão ser votados projetos relacionados à educação, além de temas remanescentes.

    Na segunda-feira, 21, o presidente da Câmara já havia afirmado preferir “gastar energia” em temas como saúde, educação e segurança em vez da anistia aos presos do 8 de Janeiro.

    Estadão

  • Temer abandona Bolsonaro e diz que aprovar anistia ‘vai parecer um confronto’ com o STF

    Temer abandona Bolsonaro e diz que aprovar anistia ‘vai parecer um confronto’ com o STF

    Michel Temer (MDB), que articulou um golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, agora se mostra próximo de abandonar Jair Bolsonaro (PL) ao dizer à CNN Brasil que aprovar o Projeto de Lei da Anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 soaria como uma afronta ao Supremo Tribunal Federal (STF): “vai parecer um confronto [do Legislativo] com Supremo”.

    Temer demonstrou preferência por uma solução construída diretamente no âmbito do Judiciário, sobretudo no que diz respeito à dosimetria das penas impostas aos condenados. Segundo ele, há um ambiente favorável entre os ministros do STF para a revisão das punições: “Percebo que há uma boa vontade para isso”, avaliou. Esta estratégia, porém, não beneficiaria Jair Bolsonaro, que ainda não foi condenado e que, por ser visto como líder da intentona golpista, não deve ser atingido por um abrandamento das penas.

    Alexandre de Moraes e o caso Débora Rodrigues – Como exemplo desse movimento de reavaliação, Temer citou a decisão mais recente do ministro Alexandre de Moraes, que concedeu prisão domiciliar à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos. Ela se tornou conhecida por pichar a frase “perdeu, mané” na estátua da deusa Têmis, em frente ao prédio do Supremo, durante os ataques de 8 de janeiro.

    A concessão da domiciliar ocorreu em março, e o julgamento do caso de Débora deve ser retomado em 25 de abril, após pedido de vista do ministro Luiz Fux. Moraes, responsável por decisões-chave em relação aos atos antidemocráticos, foi indicado ao STF pelo próprio Michel Temer em 2017.

    Para Temer, uma estratégia articulada entre os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), junto ao Supremo, seria o caminho mais eficaz para evitar o acirramento entre os Poderes. Ele defendeu que esse tipo de entendimento, já em curso nos bastidores, seja tornado público.

    Brasil 247

  • Orçamento 2025: quase R$ 1 trilhão para Previdência e R$ 245 bilhões para saúde

    Orçamento 2025: quase R$ 1 trilhão para Previdência e R$ 245 bilhões para saúde

    O Orçamento de 2025 prevê R$ 245 bilhões para despesas com a saúde pública e R$ 226 bilhões para a educação pública. Além disso, os destaques ficam para as despesas de R$ 972 bilhões da Previdência Social e os R$ 158 bilhões do programa Bolsa Família, programa governamental de transferência de renda. A Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2025 recebeu a numeração de Lei 15.121.

    O Benefício de Prestação Continuada (BPC) e a Renda Mensal Vitalícia (RMV) contarão com R$ 113,6 bilhões. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) abrange empreendimentos distribuídos em 16 órgãos, com total de R$ 57,6 bilhões.

    A principal peça orçamentária do país foi sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira (10), com apenas dois vetos. A LOA é a norma que prevê as receitas e define as despesas da União para o ano. Os vetos foram sugeridos pelo Ministério do Planejamento e Orçamento após análise técnica do texto aprovado pelo Congresso e encaminhado para a sanção de Lula.

    Superávit com desconto

    A LOA 2025 estima um superávit primário de R$ 14,5 bilhões, respeitando a meta de resultado primário neutro estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025. O Orçamento também observa os limites da despesa primária previstos no arcabouço fiscal (Lei Complementar 200).

    Em entrevista à Agência Senado nesta segunda-feira (14), o consultor-geral de Orçamento do Senado, Flávio Diogo Luz, afirmou que o superávit previsto é possível, principalmente, devido à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que retirou o pagamento de precatórios do cálculo do resultado primário da União. Dos R$ 52,7 bilhões de precatórios que devem ser pagos em 2025, explicou o consultor, R$ 44,1 bilhões estão fora do cálculo do resultado.

    — A decisão do Supremo de retirar os precatórios do limite do teto de gastos foi fundamental para que se pudesse acomodar as despesas. (…) O superávit trazido na LOA já contabiliza tudo que é excepcionado, ou seja, é um déficit primário, não um superávit. Ali a gente não está contabilizando, por exemplo, os precatórios (…) por isso que a meta de resultados é superavitária, mas o resultado real do governo vai ser deficitário, dificilmente será superavitário — disse Flávio.

    Outro ponto crucial no Orçamento é o aumento das despesas previdenciárias, que podem passar de R$ 1 trilhão em 2025. É uma questão que precisa de atenção dos Poderes, na avaliação do consultor.

    — Não é só a Previdência em si, os benefícios sociais também são crescentes. É uma escolha política sobre como trabalhar essa área da assistência social. (…) As despesas obrigatórias, em termos gerais, continuam aumentando. Em valores globais, a despesa obrigatória também cresceu em relação ao ano anterior, comprimindo as despesas discricionárias. É um desafio para o Congresso e para o Poder Executivo acomodar as políticas públicas e as despesas discricionárias nesse espaço que vem se reduzindo ao longo do tempo — avaliou.

    Congresso

    Durante sua análise e votação no Congresso, o texto inicial enviado pelo Executivo sofreu alterações. Houve aumento de R$ 22,5 bilhões nas estimativas das receitas. O Legislativo também incorporou nas estimativas os efeitos da Desvinculação das Receitas da União (Emenda Constitucional 135), resultando em redução de despesas vinculadas a receitas, como as do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e as relativas a transferências da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

    Emendas parlamentares

    As emendas parlamentares atingem o montante de R$ 50,4 bilhões na LOA 2025, sendo R$ 24,6 bilhões para as emendas individuais (RP 6), R$ 14,3 bilhões para as emendas de bancadas estaduais (RP 7) e R$ 11,5 bilhões para as emendas de comissões permanentes do Senado, da Câmara e do Congresso (RP 8). As despesas primárias discricionárias (RPs 2 e 3) dos órgãos do Poder Executivo, por sua vez, totalizam R$ 170,7 bilhões.

    Senadores e deputados também aumentaram em R$ 9,3 bilhões gastos sociais obrigatórios, como aposentadorias e pensões, Abono Salarial e Seguro Desemprego. Os incrementos partiram de solicitação do Poder Executivo, para adequar o orçamento às novas projeções para essas despesas, considerando o reajuste do salário-mínimo e a atualização do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que afetam diretamente os valores dos benefícios sociais.

    — Neste Orçamento a gente teve uma melhor definição das indicações das emendas parlamentares no processo no Supremo Tribunal Federal. (…) Houve esforço do Congresso em negociar com o Supremo uma forma de solucionar as críticas do ministro Flávio Dino, quanto à transparência e à rastreabilidade. A Lei Complementar 210 já é um passo, houve  alteração também de resolução, para que o Congresso tenha esse controle e dê transparência para as indicações parlamentares, e não haja mais o fracionamento de emendas de bancada, por exemplo — afirmou o consultor.

    Vetos

    Foram dois vetos do presidente Lula na LOA 2025, ambos vetos técnicos, na avaliação do consultor-geral. O presidente vetou R$ 2,9 bilhões em empréstimos para projetos de desenvolvimento tecnológico de empresas, via FNDCT. De acordo com o Poder Executivo, as regras do fundo não permitem que o valor emprestado represente mais da metade dos recursos orçados.

    O outro veto é referente a duas obras em rodovias federais. Com isso, 10 quilômetros da BR-364, no município de Ariquemes (RO), e um quilômetro da BR-101 em Pernambuco, não serão construídos ou reformados este ano. As ações são de autoria da Comissão de Infraestrutura do Senado e da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.

    Os investimentos custariam R$ 40,2 milhões. No entanto, o governo federal entendeu que as emendas não contêm a marcação obrigatória que permite a identificação das alterações feitas pelos congressistas, nem se enquadram nas exceções a essa exigência — como, por exemplo, a ação já estar prevista no projeto orçamentário original enviado pelo governo (PLN 26/2024). Essas regras são previstas desde novembro de 2024 na Lei Complementar 210, que cria limites às emendas parlamentares.

    Consultoria

    A Consultoria de Orçamentos do Senado e a Consultoria de Orçamento da Câmara elaboraram a Nota Técnica Conjunta 3/2025, que explica detalhadamente os vetos do Executivo na LOA 2025 (Veto 10/2025).

    Com informações do Ministério do Planejamento

    Fonte: Agência Senado

  • Entenda por que Michelle não quis que Bolsonaro fosse internado em SP

    Entenda por que Michelle não quis que Bolsonaro fosse internado em SP

    A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro foi responsável por escolher a nova equipe médica que realizou a cirurgia no intestino do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília, neste domingo, 13. Bolsonaro era atendido pelo médico Antônio Luiz Macedo, que fez cinco cirurgias do ex-presidente desde a facada sofrida pelo ex-chefe do Executivo em Juiz de Fora, durante a campanha presidencial de 2018.

    De acordo com aliados do ex-presidente, a decisão teria sido tomada por iniciativa de Michelle com o aval do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-chefe do Executivo. O médico Antônio Macedo foi o responsável por acompanhar o ex-presidente em cinco cirurgias decorrentes do trauma sofrido em 2018, mas por decisão de Michelle e Flávio foi substituído pela equipe médica do Hospital DF Star, liderada pelo médico pessoal da família Bolsonaro, Cláudio Birolini, especialista em cirurgia geral.

    Na sexta-feira, 11, o médico Antônio Luiz Macedo acompanhou a evolução do quadro clínico do ex-presidente desde o momento em que ele passou mal e precisou ser atendido na emergência de um hospital em Santa Cruz, no interior do Rio Grande do Norte. De lá, o ex-presidente precisou ser levado de helicóptero para Natal. E na noite de sábado, 12, foi transferido para Brasília em um avião com UTI aérea.

    Ao Estadão, o médico Antônio Luiz Macedo explicou que permanece acompanhando a evolução do quadro de saúde do ex-presidente, com medicação e observação, e que a decisão pela cirurgia em Brasília teria sido tomada pela equipe médica responsável pelo procedimento e pelo entorno familiar de Bolsonaro.

    “Nós estamos tratando com os remédios, mas sem nenhum risco para ele, de mortalidade e nada disso. (A decisão pela cirurgia em Brasília) Foi uma decisão da equipe que está tratando dele”, afirmou.

    Procurada pelo Estadão, Michelle Bolsonaro ainda não se manifestou.

    Um dos motivos para a troca, segundo pessoas próximas à família Bolsonaro, estaria relacionado à proximidade de Michelle com a deputada federal Amália Barros (PL-MT), que morreu em maio do ano passado, em decorrência do tratamento cirúrgico a que ela foi submetida para retirada de um nódulo no pâncreas. Amália foi atendida, à época, pela equipe médica do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, o mesmo estabelecimento que atendia o ex-presidente Jair Bolsonaro.

    Durante o período no hospital, a deputada enfrentou vários procedimentos médicos, sendo o primeiro deles a cirurgia para a remoção do tumor.

    Neste domingo, após 12 horas de cirurgia, a ex-primeira-dama publicou em rede social que Bolsonaro havia ido para o quarto, em referência à saída dele do centro cirúrgico e agradeceu a equipe médica pelo atendimento ao ex-presidente: “Nossos anjos aqui na Terra!”.

    Nesta segunda-feira, Michelle publicou uma foto de Bolsonaro lúcido no hospital após o procedimento cirúrgico e escreveu: “Já deu tudo certo”.

    Michelle publica foto de Bolsonaro nos stories, do Instagram, em repouso no hospital Foto: @michellebolsonaro via Instagram
    ‘Pós-operatório muito prolongado’

    De acordo com a equipe médica do Hospital DF Star, em Brasília, a recuperação do ex-presidente será longa, e não há previsão de alta. Durante coletiva de imprensa na manha desta segunda-feira, 14, os profissionais de saúde descreveram o procedimento como “complexo, trabalhoso” apesar de esperado, e o resultado, como “excelente” e “bastante satisfatório”.

    “Vai ser um pós-operatório muito prolongado. Não há previsão de alta nesta semana”, afirmou o cardiologista Leandro Echenique. Em seguida, o especialista em cirurgia geral Cláudio Birolini reforçou a sensibilidade dos próximos dias: “Não temos grande expectativas de uma evolução rápida”.

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    Estadão

  • Casa Branca congela US$ 2 bi em verbas para Harvard após recusa em acatar exigências de Trump

    Casa Branca congela US$ 2 bi em verbas para Harvard após recusa em acatar exigências de Trump

    O Departamento de Educação dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira,14, o congelamento de US$ 2,2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) em verbas para Harvard após a universidade, uma das mais prestigiadas do mundo, se recusar a acatar exigências do governo Donald Trump.

    O governo exigiu, em carta enviada na sexta-feira, 11, que Harvard reduzisse o poder de alunos e professores sobre assuntos da universidade; denunciasse imediatamente estudantes estrangeiros que cometessem violações de conduta; e contratasse uma equipe externa para garantir que cada departamento acadêmico tenha “diversidade de pontos de vista”, entre outras medidas.

    A universidade respondeu nesta segunda-feira dizendo que “nenhum governo, independentemente do partido no poder, deve ditar o que as universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir e contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”.

    FILE Ñ Harvard University campus in Cambridge, Mass, March 19, 2025. Two groups representing Harvard professors sued the Trump administration on Friday, April 12, saying that its threat to cut billions in federal funding for the university violates free speech and other First Amendment rights. (Sophie Park/The New York Times) Foto: Sophie Park/NYT
    FILE Ñ Harvard University campus in Cambridge, Mass, March 19, 2025. Two groups representing Harvard professors sued the Trump administration on Friday, April 12, saying that its threat to cut billions in federal funding for the university violates free speech and other First Amendment rights. (Sophie Park/The New York Times) Foto: Sophie Park/NYT

    Nessa sequência, o Departamento de Educação anunciou o congelamento de US$ 2,2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) em subsídios, além de contratos plurianuais no valor de 60 milhões de dólares (R$ 350,5 milhões). “A interrupção do aprendizado que afetou os campi nos últimos anos é inaceitável. O assédio a estudantes judeus é intolerável”, afirma a nota.

    Harvard, assim como outras instituições de ensino nos Estados Unidos, foi palco de protestos estudantis contra a guerra de Israel em Gaza. Ao anunciar, no mês passado, que considerava reter US$ 9 bilhões (R$52,7 bilhões) em subsídios, o governo sugeriu que a universidade não havia feito o suficiente para conter o antissemitismo no campus, sem deixar claro o que deveria ser feito.

    Enquanto o governo pressionava a universidade para atender suas demandas, alunos e professores cobravam que Harvard reagisse com mais firmeza contra interferência no ensino superior. Na carta em que se recusava a cumprir as exigências, o reitor Alan Garber declarou que a instituição “não abrirá mão de sua independência nem dos direitos que lhe são garantidos pela Constituição”.

    “A declaração de Harvard de hoje reforça a mentalidade preocupante que é endêmica nas universidades e faculdades mais prestigiadas de nossa nação: de que o investimento federal não vem acompanhado da responsabilidade de defender as leis dos direitos civis”, respondeu a Casa Branca.

    A universidade, que já havia se manifestado contra a exigência do governo para que “auditasse” as opiniões de estudantes e professores, argumenta que as demandas do governo Donald Trump “contradizem a Primeira Emenda”, referindo-se ao dispositivo da Constituição americana que garante a liberdade de expressão.

    Por razões semelhantes, o governo já cortou US$ 400 milhões (R$ 2,33 bilhões) em contribuições para a Universidade de Columbia, em Nova York, que, ao contrário de Harvard, se comprometeu a realizar reformas drásticas para tentar recuperar os recursos.

    Os subsídios federais representam 11% das receitas de Harvard, que tem um orçamento anual de US$ 6,4 bilhões de dólares (R$ 37,4 bilhões), segundo dados divulgados pela universidade./COM AFP E NY TIMES

  • Mabel: Saúde paga mais de R$ 235 milhões em dívidas deixadas pela gestão anterior

    Mabel: Saúde paga mais de R$ 235 milhões em dívidas deixadas pela gestão anterior

    A Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), quitou mais de R$ 235 milhões em dívidas herdadas da administração anterior. “Fazemos gestão com responsabilidade. Renegociamos contratos, convênios e valores em atraso, efetuando o pagamento de R$ 235 milhões a diversos fornecedores da área da saúde, porque sabemos que são dívidas que afetam diretamente o atendimento aos goianienses”, afirmou o prefeito Sandro Mabel.

    Segundo a SMS, a maior parte dos valores pagos, R$ 171,6 milhões, refere-se a contratos, convênios e serviços complementares ao Sistema Único de Saúde (SUS) que estavam em atraso. “São pagamentos de despesas do exercício anterior, e muitas delas sequer estavam empenhadas, relativas a contratos como o de fornecimento de refeições aos pacientes internados nas unidades de saúde e os serviços de limpeza da rede pública municipal”, detalhou o titular da SMS, Luiz Pellizzer.

    Esse montante também inclui repasses para hospitais, clínicas, laboratórios e entidades filantrópicas que atuam como prestadores de serviços de saúde no município, além do pagamento a instituições conveniadas, como a Fundahc, que havia paralisado a maior parte dos serviços nas maternidades municipais. “Assumimos a rede com R$ 609 milhões em dívidas e inúmeras dificuldades operacionais”, explicou Pellizzer.

    Embora a folha de servidores da pasta tenha sido paga no ano passado, a atual gestão precisou arcar com o pagamento de obrigações patronais e despesas previdenciárias, que somaram mais de R$ 63 milhões. “A gestão anterior pagou os salários líquidos, mas deixou para trás diversas outras obrigações. O pagamento aos médicos credenciados também estava em atraso”, acrescentou o médico. “Com trabalho técnico, aplicação correta de recursos públicos, transparência e compromisso com a população, estamos trabalhando para reverter o estado de calamidade na saúde”, concluiu Pellizzer.

     

    Secretaria Municipal de Saúde (SMS) – Prefeitura de Goiânia

  • Ibaneis expõe em Dubai projeto de R$ 2,5 bi para Brasília sustentável

    Ibaneis expõe em Dubai projeto de R$ 2,5 bi para Brasília sustentável

    O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), apresentou em Dubai um amplo pacote de ações ambientais e energéticas para tornar Brasília em um modelo nacional e internacional de sustentabilidade. O projeto que prevê arborização em massa e um aporte de mais de R$ 2,5 bilhões em energia limpa para a saúde, educação e Caesb foi apresentado, nesta segunda-feira (14), na Brazil Emirates Conference, promovida pelo Grupo de Líderes Empresariais (LIDE), na maior cidade dos Emirados Árabes Unidos.

    Um dos compromissos centrais anunciados por Ibaneis está o plantio de seis milhões de árvores, até 2026,  para ampliar a captação de carbono e melhorar a qualidade de vida na capital do Brasil. Também está previsto modernizar a iluminação pública, instalando 400 mil pontos de LED, e trocando a matriz energética de escolas, creches, hospitais e demais prédios públicos por energia solar.

    Serão investidos R$ 561 milhões em energia limpa na saúde e na educação, mais 300 milhões de Euros para transformar a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) totalmente abastecida por energia renovável.

    “Queremos transformar a nossa capital como um exemplo para todo o Brasil. Estamos investindo R$ 441 milhões para garantir energia sustentável em todos os prédios da saúde, além de mais R$ 120 milhões para unidades da Educação. Temos mais de 95% das residências com água potável e 98% de coleta de esgoto, com tratamento total do que é captado [pela Caesb]. Agora, queremos dar um salto com energia limpa”, destacou Ibaneis, segundo assessoria do LIDE, grupo fundado pelo ex-governador de São Paulo, João Doria.

    Veja a apresentação de Ibaneis:

    Energia verde

    O plano começou em 2020 com a isenção de IPVA para veículos híbridos e elétricos, que tornou o DF uma das unidades da federação com maior frota proporcional desses carros. Apenas em março de 2024, foram emplacados mais de 1.250 veículos elétricos ou híbridos na capital, a reboque do incentivo fiscal e da crescente rede de eletropostos.

    Um dos marcos do projeto será o primeiro eletroposto de hidrogênio verde do Brasil, fruto da parceria entre o DF e a Neoenergia, com operação prevista para o próximo semestre.

    Brasília inicia um projeto-piloto com 90 ônibus elétricos, que circularão inicialmente pelo Plano Piloto, com expansão prevista para todo o DF em até cinco anos.

    Ibaneis ressaltou que estes investimentos são resultantes de uma reorganização fiscal que permitiu captação de recursos internacionais e crescimento sem aumento de tributos. “Tivemos um crescimento de receita de 12% no primeiro trimestre de 2024, mesmo com redução de impostos como o ITBI. Isso mostra que vale a pena investir com seriedade e visão de futuro.”, concluiu (Com LIDE)

    Diário do Poder

  • Onze Minutos: Senado quer explicações da CBF

    Onze Minutos: Senado quer explicações da CBF

    O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, pode ter que prestar esclarecimentos ao Senado. O senador Eduardo Girão (Novo–CE) pediu audiência pública para tratar de possíveis irregularidades na gestão da entidade e de um suposto conflito de interesse envolvendo o STF. A pauta ganhou força após decisão do ministro Gilmar Mendes que reconduziu Ednaldo ao cargo. Ouça no Onze Minutos os detalhes da denúncia e os comentários de Pedro Pincer sobre a gangorra do futebol, o Brasileirão e o título da seleção sub-17.

    Reportagem expõe relação entre Gilmar e cúpula da CBF

    O conflito de interesses e a falta de ética pública no Judiciário brasileiro foram expostas em recente reportagem da revista Piauí.

    A matéria trouxe à tona uma série de questões envolvendo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

    Documentos e movimentações judiciais indicam que a atuação do ministro coincidiu com decisões estratégicas em favor da entidade esportiva.

    A matéria detalha a parceria estabelecida entre o IDP, instituição fundada por Gilmar Mendes e dirigida por Francisco Schertel Mendes, filho do ministro, e a CBF Academy, braço educacional da CBF responsável por cursos de formação no futebol.

    Em agosto de 2023, o IDP assumiu a gestão desses cursos, ficando com 84% (aproximadamente R$ 9,2 milhões) da receita gerada, enquanto a CBF manteve os 16% restantes. ​

    Ednaldo Rodrigues assumiu interinamente a presidência da CBF em 2021, após o afastamento de Rogério Caboclo por denúncias de assédio. Rodrigues foi eleito oficialmente presidente em março de 2022.

    No entanto, sua eleição foi anulada em dezembro de 2023 pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), que apontou irregularidades no processo, resultando em seu afastamento.

    Para articular a defesa de Ednaldo nos tribunais superiores, a CBF desembolsou R$ 6,5 milhões dos cofres da entidade ao advogado Pedro Trengrouse, que, duas semanas após receber o pagamento, atuou em Brasília para auxiliar na recondução dele. ​

    Posteriormente, uma nova ação foi movida no STF pelo PCdoB, partido do secretário-geral da CBF, Alcino Reis Rocha. Contrariando o procedimento padrão, que deveria ter remetido o recurso ao ministro André Mendonçao caso foi redistribuído e por sorteio caiu com o ministro Gilmar Mendes.

    Em janeiro de 2024, o ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar permitindo o retorno de Ednaldo ao cargo.

    Essas revelações suscitam debates sobre possíveis conflitos de interesse e a necessidade de transparência nas relações entre instituições públicas e privadas, especialmente quando envolvem figuras de destaque no cenário jurídico e esportivo nacional.

    Diário do Poder

  • O fracasso do acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha

    O fracasso do acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha

    Em 27 de junho de 1975, a imprensa brasileira foi pega de surpresa. Em Bonn, então capital da Alemanha Ocidental, representantes do governo local e da ditadura militar brasileira anunciavam a assinatura de um ambicioso acordo entre as duas nações. Negociado em segredo, o documento oficializava a transferência de tecnologia alemã para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, prevendo a construção de oito usinas nucleares nos estados do Rio (Angra 2, 3, 4 e 5) e em São Paulo (Iguapé 1, 2, 3 e 4).

    Cinquenta anos depois, o tratado ainda subsiste, mas como um elefante branco. Das oito usinas, só uma saiu do papel – Angra 2, no estado do Rio de Janeiro, em operação desde 2001. Outra, Angra 3, também no Rio, segue em construção desde 1986, tendo consumido mais de R$ 20 bilhões. Dadas as circunstâncias, é natural ligar o fracasso do programa nuclear brasileiro ao acordo com a Alemanha. Mas de quem é a culpa?

    Essa pergunta ocupou, durante seis anos, os pesquisadores Dawisson Belém Lopes e João Paulo Nicolini, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A conclusão foi publicada recentemente na revista acadêmica Science and Public Policy, de Oxford, no artigo intitulado Who’s to blame for the Brazilian nuclear program never coming of age? (De quem é a culpa pelo programa nuclear brasileiro nunca ter amadurecido?), cuja pesquisa contou com 25 entrevistas com especialistas de todo mundo e a análise de documentos históricos. A princípio, a resposta é simples.

    “Foi muito mais da gestão brasileira dos militares que de outros parceiros ou organizações internacionais”, diz Nicolini, cuja tese de doutorado, orientada por Lopes, deu origem ao artigo.

    “O maior problema foi a falta de interlocução com a comunidade acadêmica, com o empresariado e com a sociedade. Demos um passo maior que a própria perna e a falta de planejamento dos militares acarretou nisso”, explica ele à DW.

    Ambições

    O tratado foi assinado durante a gestão do general Ernesto Geisel (1974-1979), mas Nicolini também atribui os problemas aos governos de Emilio Médici (1969-1974), envolvido na negociação, e de João Figueiredo (1979-1985), também responsável pela implementação.

    Da perspectiva do contexto da época, o acordo surgia como ideal para os dois lados, o que levou a imprensa alemã a classificá-lo como o “negócio do século”, prevendo que o governo em Bonn receberia cerca de 10 bilhões de dólares com as exportações de produtos nucleares aos brasileiros. Por causa da crise do petróleo de 1973, Brasil e Alemanha Ocidental tinham visto seus respectivos “milagres econômicos” das décadas anteriores caírem por terra.

    Os europeus enfrentavam o maior desemprego em 20 anos, que passara de 500 mil em 1974 para mais de um milhão em 1975 – afetando principalmente a indústria. O Brasil, por sua vez, com uma inflação perto de 30% impactada pelo custo do petróleo, buscava a diversificação da matriz energética e, claro, um lugar ao sol junto às potências atômicas mundiais.

    Além disso, era uma jogada dos dois países também para fugir da tutela dos Estados Unidos. A Alemanha, pioneira nos estudos sobre fissão atômica nos anos 1930 durante o governo nazista, ficara para trás na corrida nuclear por imposições dos aliados após a Segunda Guerra. Já o Brasil adquirira dos americanos sua primeira usina nuclear, a de Angra 1, em 1973, num modelo conhecido como “turning key”, sem transferência de tecnologia nem troca de aprendizado.

    Logicamente, os americanos não viram com bons olhos o “drible” de brasileiros e alemães ocidentais e tentaram de todas as formas boicotar a acordo. Não era interessante para os americanos que houvesse outra nação com poderio nuclear no território de influência na América Latina, nem a de que os alemães ocidentais estivessem abocanhando parte do mercado da tecnologia nuclear, aponta Belém Lopes.

    “Naquele momento, esse movimento representava uma microrruptura. Esse canal direto entre Brasil e Alemanha Ocidental era uma forma de passar um recado para os Estados Unidos e de diminuir nossa dependência em relação a eles”, afirma o professor de política internacional da UFMG.

    A Alemanha Ocidental, inclusive, estava no radar brasileiro há pelo menos duas décadas. Em 1953, a compra de ultracentrífugas alemãs pelo Brasil tinha sido embargada por quatro anos pelos Estados Unidos e só chegou aqui quando já estava obsoleta.

    Ernesto Geisel, que assinou o acordo, e o então chanceler federal alemão ocidental Helmut Schmidt© imago/Sven Simon

    Aposta equivocada

    Foi no meio dos anos 1975, ressalta Lopes, que o jogo para a busca da tecnologia nuclear estava sendo efetivamente jogado no tabuleiro da geopolítica internacional. Naquele momento, as potências internacionais, lideradas pelos EUA, buscavam limitar o desenvolvimento da tecnologia para outros países. Uma das formas oficiais para isso era o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujos termos o Brasil só assinaria em 1998, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso.

    “O Brasil também queria conservar para si um programa nuclear que eventualmente possibilitasse o uso dual, ou seja, de bomba atômica”, diz o professor da UFMG. Esse objetivo, no entanto, aparece de forma esparsa nos documentos da época, acrescenta Nicolini. Afinal, as dificuldades já tinham começado na construção das usinas.

    Primeiramente, a pressão dos Estados Unidos recaiu sobre a tecnologia oferecida. Como a principal fornecedora de equipamentos era a Urenco, empresa de capital dividido entre Inglaterra, Holanda e Alemanha, houve pressão americana sobre o governo holandês para impedir a venda ao Brasil, diz Nicolini. Por causa disso, a Alemanha Ocidental ofereceu outra tecnologia, ainda experimental, chamada jet-nozzle. Não funcionou, e o Brasil acabou gastando mais energia do que produzindo.

    No entanto, o argumento por parte dos militares de que a tecnologia seria a principal culpada pelo fracasso do acordo é contestada por outro exemplo – a do programa nuclear da África do Sul, por volta da mesma época e que também contou com parceria alemã. “Os sul-africanos aperfeiçoaram o jet-nozzle e conseguiram enriquecer urânio e transformar em seis ogivas nucleares”, conta o cientista político.

    Uma das teses que defendem o acordo afirma que o conhecimento tecnológico aprendido com os alemães foi utilizado para a criação do programa nuclear paralelo brasileiro, mantido em segredo até a transição democrática, em 1985.

    “Mas, com a falta de interlocução com a sociedade e com o sistema de inovação brasileiro, aquilo nunca chegou a um nível que pudéssemos usar para a produção em escala industrial – enriquecimento de urânio, produção de reatores”, afirma Nicolini. Hoje, um dos frutos do programa paralelo é o submarino de propulsão nuclear, cujo projeto data da década de 1970 e cujo lançamento, em parceria com a França desde 2009, deve ser lançado só em 2040, com custo de cerca de R$ 1 bilhão por ano ao Orçamento.

    Ernesto Geisel e Walter Scheel, presidente da Alemanha Ocidental, durante uma visita do brasileiro a Bonn, em 1978© Brasilianische Präsidentschaft

    Quem lucrou com o acordo?

    A falta de transparência no Brasil sobre as negociações com a Alemanha também impediu um debate público sobre o tema. Como explica Helen Miranda Nunes, doutora em história pela FGV Rio, o acordo só prosperou por causa do caráter antidemocrático do regime militar. Segundo ela, a própria imprensa da época só divulgou a assinatura na última hora.

    “A opção pela tecnologia do jet-nozzle foi muito criticada pelos cientistas nucleares quando veio à tona. Se estivéssemos numa democracia à época, era possível que o acordo não deslanchasse, porque foi secreto e se valeu da privação de direitos da população”, diz ela, que pesquisou o tema na tese de doutorado.

    Protesto na Alemanha contra a renovação do acordo nos anos 2010© dapd

    Parte das obras do complexo de Angra dos Reis (RJ) ficou a cargo da Odebrecht, que assumiu a empreitada sem licitação. De acordo com Nunes, a empreiteira desenvolveu, a partir dessa época, um know-how na construção de obras estatais. Em 2017, durante a Operação Lava Jato, a delação de executivos da construtora acabou levando à prisão do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, conhecido como um dos pais do programa nuclear brasileiro.

    Mas, no geral, os maiores benefícios ficaram com as empresas alemãs – principalmente a Siemens, cuja subsidiária Kraftwerk Union (KTU) foi responsável por fornecer os reatores às usinas nucleares e tecnologia para Angra 2 e Angra 3. “Além disso, os bancos alemães emprestaram dinheiro para o Brasil e fizeram a festa aqui. Para a Alemanha, o acordo foi benéfico”, diz a historiadora. Segundo ela, o trato escoou a produção nuclear alemã justamente num momento em que os movimentos ambientalistas pressionavam o país contra o uso da energia nuclear.

    Não foi por acaso que o acordo ficou conhecido como “Negócio do Século”, diz Rafael Brandão, professor de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O setor nuclear alemão vinha acumulando déficits e viu no Brasil a sua salvação. Ele lembra que a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), estatal brasileira criada em 1975 com os alemães, tinha três instâncias de decisões – as duas primeiras com membros do governo brasileiro, mas a última só com integrantes alemães. “É claro que a última palavra era da KWU-Siemens”, conta.

    Em 1979, uma reportagem do Jornal do Brasil apresentou denúncias de superfaturamento nos insumos vendidos pela KWU em relação aos preços de mercado internacionais, além de críticas de envolvidos no projeto nuclear brasileiro que não havia troca de informações com cientistas alemães. Entre 1978 e 1982, suspeitas de corrupção levantadas pela revista alemã Der Spiegel já tinha levado à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Acordo Brasil-Alemanha, contando inclusive com depoimentos de Norberto Odebrecht. Terminou em pizza.

    Hoje, um movimento parecido ocorre a cada cinco anos no Parlamento Alemão, quando se abre a janela para a revogação do acordo unilateralmente – o último foi em 2024. Mesmo com pressão dos Verdes, o cancelamento nunca aconteceu. Do lado do Brasil, finalizá-lo também seria largar o projeto de Angra 3 pelo caminho. “O acordo está vivo também por uma dificuldade nossa de concluir o que estava previsto. A culpa é da ineficiência do planejamento nuclear brasileiro”, conclui João Paulo Nicolini.

    DW BRASIL