A Anglo American anunciou, em maio de 2024, uma reestruturação estratégica para concentrar suas atividades em cobre, minério de ferro premium e fertilizantes. Como parte do plano, a mineradora decidiu se desfazer dos ativos de níquel no Brasil, incluindo as unidades de Barro Alto e Codemin, em Goiás, além dos projetos Jacaré (PA) e Morro Sem Boné (MT). Veja nota completa ao fim da matéria.
Segundo a empresa, o processo de venda foi competitivo, com propostas de diversas companhias globais. A escolha pela MMG ocorreu pelo valor maior oferecido em dinheiro, condições mais realistas de pagamento, estrutura corporativa sólida e histórico de investimentos sustentáveis em mineração.
A MMG, listada em bolsa e avaliada em cerca de US$ 4,7 bilhões, foi considerada pela Anglo American como a compradora mais capaz de manter e expandir as operações no Brasil, garantindo benefícios para empregados, fornecedores, comunidades locais e para a economia brasileira.
Com a transação, a Anglo American reforça sua estratégia global de concentrar investimentos em ativos considerados de classe mundial, deixando gradualmente os negócios de níquel, carvão metalúrgico e diamantes (De Beers).
Barro Alto
Barro Alto, município localizado no norte goiano, no Vale do São Patrício, entrou no centro de uma disputa internacional envolvendo grandes grupos da mineração. Com cerca de 11 mil habitantes e uma renda mensal estimada em R$ 10 milhões, a cidade é considerada estratégica devido à riqueza em níquel e bauxita, minerais que movimentam a economia local e atraem investidores de diversas partes do mundo.
A polêmica ganhou força após a mineradora sul-africana Anglo American anunciar a venda de suas quatro plantas de extração de níquel no Brasil, entre elas a de Barro Alto. O negócio foi fechado com a chinesa MMG, gigante do setor que tem expandido sua presença em países da América Latina e da África. O acordo reforça o interesse da China em ampliar o controle sobre insumos estratégicos para a indústria global.
Entretanto, a negociação não passou despercebida por concorrentes. A holandesa Corex Holding denunciou que teria oferecido mais que o dobro do valor pago pela MMG para adquirir as plantas de níquel da Anglo American. Mesmo com uma proposta considerada mais vantajosa, a empresa europeia afirma ter sido preterida, levantando suspeitas de favorecimento na operação.
A denúncia trouxe à tona discussões sobre o crescente poder da China no mercado internacional de ferro-níquel, matéria-prima essencial para a produção de aço inoxidável e baterias. Para especialistas, o episódio evidencia como a disputa por minerais estratégicos vai além da economia local, inserindo cidades como Barro Alto em um tabuleiro geopolítico global.
Enquanto isso, a população do município acompanha com expectativa os desdobramentos. Apesar da movimentação bilionária, comerciantes e moradores relatam que a riqueza da mineração pouco circula na cidade, refletindo um cenário de dependência econômica e desafios sociais que persistem. A definição do futuro das plantas de níquel em Barro Alto, portanto, terá impactos que vão muito além das fronteiras do município.
Nota da mineradora
Em maio de 2024, a Anglo American anunciou uma ampla transformação estratégica para concentrar seu foco em ativos de classe mundial nas áreas de cobre, minério de ferro premium e fertilizantes. Com isso, a empresa decidiu desinvestir seu portfólio de níquel[1] no Brasil, que inclui duas unidades de produção – Barro Alto e Codemin (localizados em Goiás) – e dois projetos a serem desenvolvidos: Jacaré e Morro Sem Boné (localizados no Pará e Mato Grosso, respectivamente).
O processo de venda foi competitivo e recebemos propostas de diversas empresas globais. Após uma análise criteriosa de todas as ofertas recebidas, a decisão de vender para a MMG foi baseada na qualidade geral da proposta, incluindo o valor ofertado em dinheiro, as garantias apresentadas, o histórico operacional e a capacidade de gestão de longo prazo. A MMG é uma empresa de capital aberto, com valor de mercado de aproximadamente US$ 4,7 bilhões e reconhecida como uma operadora segura e responsável, com capacidade financeira e técnica para operar as unidades de produção e desenvolver os projetos.
A proposta da MMG apresentou:
- Pagamento inicial significativamente maior;
- Do valor total da proposta, apenas uma pequena parcela era condicionada ao preço futuro da commodity, sendo a mesma sujeita a condições significativamente mais realistas e alcançáveis;
- Valores independentes de volumes de produção futura de projetos a serem desenvolvidos;
- Estrutura corporativa clara e estabelecida, capaz de sustentar o desempenho atual e futuro, oferecendo maior certeza de que os interesses de todas as partes serão preservados;
- Histórico demonstrado de realizar transações com empresas listadas em bolsa;
- Histórico demonstrado de manter operações por meio dos ciclos de commodities, com investimentos significativos após as aquisições.
Todo o processo seguiu as melhores práticas de governança, que levaram a escolher um comprador que possa manter e investir nos ativos de forma sustentável, dando continuidade a um legado positivo construído ao longo dos mais de 40 anos, baseado no diálogo com todas as partes interessadas, e beneficiando empregados, comunidades, fornecedores, clientes, e a economia goiana e brasileira como um todo.
Nossas operações no Brasil produzem ferroníquel, utilizado na indústria de aço inoxidável, diferente daquele utilizado para baterias. Nossa produção anual de 40.000 toneladas representa cerca de 15% da produção global de ferroníquel e menos de 1% da produção total de níquel no mundo. As reservas combinadas e os recursos minerais potenciais dos ativos operacionais e dos projetos a serem desenvolvidos representam menos de 1% das reservas e recursos minerais de níquel conhecidos globalmente.
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