À medida que o cenário eleitoral de 2026 começa a se delinear em Goiás, o vice-governador Daniel Vilela (MDB) tem dado sinais cada vez mais evidentes de que apostará na narrativa da continuidade para alavancar sua candidatura ao Palácio das Esmeraldas no ano que vem. Herdeiro político natural do atual governador Ronaldo Caiado (UB), Vilela tem incorporado ao seu discurso os mesmos eixos que marcaram o governo do padrinho político, numa tentativa de mostrar aos goianos que seu nome será sinônimo de manutenção das políticas que vêm sendo implementadas desde 2019.
Nos bastidores, a aposta no discurso da continuidade é vista como estratégica. Afinal, Caiado chega ao fim do segundo mandato com índices sólidos de aprovação e um legado que, segundo aliados, deve ser defendido e perpetuado. É justamente nesse vácuo que Daniel Vilela busca se projetar. O vice-governador tem intensificado sua presença em eventos públicos e aproveitado as oportunidades para falar em nome do governador, reforçando o alinhamento com as diretrizes do atual governo.
Um desses momentos ocorreu recentemente na Assembleia Legislativa, durante encontro que reuniu mais de 600 vereadores de diversas regiões do estado. Representando Caiado, Vilela discursou em tom municipalista, valorizando a importância do trabalho conjunto entre o Executivo estadual e os representantes das Câmaras Municipais. O gesto, além de simbólico, também sinaliza a tentativa de Vilela de consolidar uma base política capilarizada, mirando o apoio das lideranças locais — um ativo importante em qualquer disputa eleitoral.
Mas o vice-governador vai além dos bastidores da política. Em evento recente ligado à segurança pública, durante a formatura de mais de 300 sargentos da Polícia Militar, Daniel Vilela não apenas representou o governador: assumiu o tom e as palavras que têm marcado o discurso de Caiado ao longo dos últimos anos. “Em Goiás, o cidadão de bem caminha de cabeça erguida. Quem tem medo é o bandido”, declarou, em frase que ecoa diretamente a retórica do atual governo estadual, notadamente dura.
Esse alinhamento discursivo não parece acidental. Ao adotar as mesmas bandeiras de Caiado — municipalismo, segurança pública e discurso firme contra a criminalidade —, Daniel Vilela se coloca como a figura da continuidade, tentando ocupar o espaço de herdeiro legítimo do projeto político que, segundo o discurso oficial, transformou o estado em áreas como saúde, educação e finanças públicas.
No entanto, a estratégia também carrega seus desafios. Vilela, que tem origem política distinta da de Caiado e que construiu sua carreira dentro do MDB, precisa provar que não é apenas um vice decorativo ou um nome coadjuvante. A missão de se firmar como sucessor legítimo exige mais do que repetir palavras de ordem: requer mostrar identidade própria, ainda que ancorada na herança caiadista.
A julgar pelos últimos movimentos, Daniel Vilela está disposto a encarnar esse papel com afinco. Aos poucos, vai deixando de ser apenas o vice de Caiado para se tornar o porta-voz de uma continuidade que, nos bastidores, é vista como sinônimo de estabilidade e firmeza administrativa. A eleição ainda está distante, mas o tom da campanha do MDB em Goiás começa a se desenhar com clareza — e ele ecoa, com força, o que já se ouviu nos últimos sete anos no Palácio das Esmeraldas.
Jornal O HOJE