Em seis meses do governo de Donald Trump, o endurecimento das políticas migratórias já afeta a rotina dos consulados americanos no Brasil. Entre janeiro e maio, a emissão de vistos de turismo e negócios para brasileiros caiu 25% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento da consultoria AG Immigration, com base em dados do Departamento de Estado, obtido com exclusividade pelo GLOBO.
O cenário tende a se agravar nos próximos meses, quando novas tarifas elevarão o custo de emissão para mais de R$ 2,3 mil — encarecendo o processo no momento em que o país registra o menor volume de visitas desde a pandemia. A retração preocupa a indústria do turismo no país, que teme o impacto das medidas no momento em que os EUA sediarão grandes eventos até o final do mandato do republicano, como a Copa do Mundo de 2026.Ao todo, 356 mil vistos de turismo e negócios (B1/B2) foram emitidos para brasileiros nos cinco primeiros meses de governo Trump, um declínio expressivo em comparação com os 480 mil registrados no mesmo período em 2024.
No entanto, não se sabe se o resultado é fruto de uma queda na procura ou de um aumento nos pedidos negados, uma vez que os dados de rejeições deste ano ainda não foram divulgados pelo Departamento de Estado. No ano passado, a taxa de recusa foi de 15%. Hoje, cerca de 90% de todos os vistos americanos solicitados no Brasil são da categoria B.
Corrida contra o tempo
Desde o mês passado, Rodrigo Costa, advogado especialista em migração nos EUA e fundador da AG Immigration, observou uma mudança no interesse pelo visto diante do anúncio de novas taxas e da crescente instabilidade entre Brasília e Washington:
— A gente percebe agora que as pessoas estão correndo por causa do aumento da tarifa e também pelo receio em relação a toda essa crise institucional que está acontecendo — afirma, em referência ao impasse envolvendo o tarifaço de Trump contra as importações brasileiras, em represália à conduta do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. — Muitas pessoas estão correndo para tirar o visto para que não sejam impactadas de alguma maneira.
Em julho, o governo Trump aprovou um superprojeto de lei “grande e bonito” que adiciona uma taxa de “integridade do visto” de US$ 250 (R$ 1.347), que deverá ser paga caso o visto seja aprovado. A tarifa se soma aos atuais US$ 185 (R$ 1.006) pagos antes de agendar a entrevista, elevando o custo total de emissão para US$ 435 (R$ 2.347), mais que o dobro do atual.
— Se essa taxa for implementada, os EUA terão uma das, senão a mais alta, taxa de visto de visitante do mundo — afirmou Erik Hansen, vice-presidente da Associação de Viagens dos EUA, que representa o setor de turismo no país, em entrevista ao jornal Washington Post. — Se quisermos manter uma posição competitiva no mercado global de viagens, é fundamental que a política de vistos dos EUA reflita tanto as prioridades de segurança nacional quanto o valor econômico significativo das visitas internacionais.
Embora a medida já tenha sido sancionada, o Departamento de Estado ainda não divulgou quando ela entrará em vigor. Especialistas ouvidos pelo GLOBO acreditam que a cobrança deva ser adotada em outubro, quando começa o ano fiscal de 2026. A Casa Branca disse que a taxa extra poderá ser reembolsada caso o visitante respeite o tempo de permanência do visto e suas diretrizes, mas não deu mais detalhes sobre o processo.
O designer José Carlos Siciliano, de 23 anos, foi um dos brasileiros que se adiantou para tirar o visto antes da mudança. Com o documento expirado há dois anos, ele perdeu o prazo para renovação e precisou passar pelos trâmites do zero no consulado do Rio de Janeiro.
O designer José Carlos Siciliano, de 23 anos, foi um dos brasileiros que se adiantou para tirar o visto antes da mudança. Com o documento expirado há dois anos, ele perdeu o prazo para renovação e precisou passar pelos trâmites do zero no consulado do Rio de Janeiro.
O tempo de espera tem variado de acordo com o estado. Informações apuradas no início de agosto pela AG apontam que, enquanto no Consulado do Rio há vagas para agendamentos ainda este mês, em São Paulo só há disponibilidade para entrevistas em dezembro.
Incerteza política
Temendo a instabilidade política, o professor Luiz (nome fictício), de 27 anos, decidiu renovar seu visto de turismo em fevereiro, quando viu as notícias sobre os brasileiros deportados dos EUA que chegaram ao Brasil algemados. Com o prazo para atualizar o documento perto do fim, ele se adiantou para garantir um processo simplificado, sem a necessidade de entrevista, mas encontrou um cenário diferente:
O tempo de espera tem variado de acordo com o estado. Informações apuradas no início de agosto pela AG apontam que, enquanto no Consulado do Rio há vagas para agendamentos ainda este mês, em São Paulo só há disponibilidade para entrevistas em dezembro.
Incerteza política
Temendo a instabilidade política, o professor Luiz (nome fictício), de 27 anos, decidiu renovar seu visto de turismo em fevereiro, quando viu as notícias sobre os brasileiros deportados dos EUA que chegaram ao Brasil algemados. Com o prazo para atualizar o documento perto do fim, ele se adiantou para garantir um processo simplificado, sem a necessidade de entrevista, mas encontrou um cenário diferente:
As restrições à entrada de turistas nos EUA têm preocupado o setor de turismo do país, que, durante o governo Trump, sediará a Copa do Mundo no ano que vem e, em 2028, os Jogos Olímpicos de Los Angeles. De acordo com um estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), os Estados Unidos se projetam para ser o único dos 184 países analisados a registrar queda nas receitas de turistas estrangeiros em 2025, mesmo com o fluxo de viajantes para o Mundial de Clubes da Fifa. Segundo a pesquisa, a economia americana deve perder ao menos US$ 12,5 bilhões (R$ 67,4 bilhões) em gastos de visitantes internacionais.