Desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia em 2022, as empresas chinesas de leasing — arrendamento mercantil — de aeronaves sofreram perdas de bilhões de dólares, já que mais de 70 jatos alugados para companhias aéreas russas permanecem retidos na Rússia, de acordo com a mídia estatal chinesa.
Uma onda de desdobramentos jurídicos foi desencadeada por uma decisão histórica do Tribunal Superior do Reino Unido em junho, que favoreceu os arrendadores de aeronaves. Esses incidentes reacenderam as preocupações sobre o impacto a longo prazo sobre os arrendadores chineses e sua capacidade de recuperar o valor das aeronaves ainda retidas na Rússia.
A Avmax Group Inc., uma locadora canadense controlada pela China, garantiu um acordo de US$ 29 milhões com as seguradoras lideradas pela Liberty, anunciou sua empresa controladora, Shanhe Intelligent Equipment Group, em 11 de agosto. Após as taxas, o valor líquido recebido foi de US$ 22,97 milhões — equivalente a 172,92% do lucro líquido da Shanhe no ano fiscal anterior.
Em resposta às sanções ocidentais abrangentes que exigiam que empresas globais de leasing cancelassem todos os contratos com companhias aéreas russas e retomassem suas aeronaves, Moscou aprovou uma lei de emergência bloqueando a devolução de aeronaves de propriedade estrangeira. Em vez disso, o governo decidiu registrar novamente as aeronaves como ativos russos, reservando aproximadamente US$ 1,23 bilhão para comprá-las.
Entre as mais afetadas está a BOC Aviation, subsidiária do Banco da China, que teve 17 aeronaves apreendidas na Rússia. A empresa reduziu o valor total desses ativos em 2022, totalizando US$ 804 milhões em perdas por redução ao valor recuperável.
A Avolon, unidade de leasing da Bohai Leasing, relatou no primeiro trimestre de 2022 um prejuízo de US$ 298 milhões depois que 10 de suas aeronaves ficaram presas na Rússia.
A China Aircraft Leasing, subordinada ao China Everbright Bank, divulgou que duas de suas aeronaves permanecem na Rússia e relatou US$ 55,8 milhões em perdas de ativos em seu relatório financeiro de 2022.
Outras empresas de leasing chinesas afetadas incluem a China Development Bank Leasing, a ICBC Leasing e a AviaAM Leasing, uma joint venture entre o Henan Civil Aviation Development and Investment Group e uma empresa de leasing lituana. Embora a extensão das perdas nessas empresas varie, todas têm aeronaves ainda paradas na Rússia.
Algumas empresas começaram a recuperar indenizações limitadas por meio de seguros, e outras continuam envolvidas em batalhas jurídicas.
A Airwork, uma empresa de leasing sediada na Nova Zelândia e de propriedade da Zhejiang Rifa Precision Machinery, arrendou seis cargueiros Boeing 757-200 para operadores russos. Até o momento, apenas um foi recuperado. A empresa registrou uma perda por redução ao valor recuperável de US$ 103 milhões em 2022 e está processando a seguradora QBE no Tribunal Superior de Auckland para recuperar os prejuízos causados pela aeronave apreendida.
A CDB Aviation arrendou 15 aeronaves para companhias aéreas russas, das quais apenas seis foram devolvidas. As nove aeronaves restantes resultaram em uma perda de US$ 336 milhões. No entanto, a empresa foi uma das primeiras a obter indenização parcial do seguro, recebendo US$ 218 milhões por cinco das aeronaves retidas até o final de 2023.
A BOC Aviation recebeu dois acordos separados por 12 de suas aeronaves paralisadas, totalizando US$ 269 milhões no final de 2023, de acordo com um relatório de junho de 2024 do Insurance Journal. A empresa retomou vários cargueiros Boeing 747-8 da Rússia no início de 2024.
Devido à interpretação complexa das cláusulas de “risco de guerra” em contratos de seguro, vários locadores chineses — incluindo BOC Aviation, Bohai Leasing e Zhejiang Rifa Precision Machinery — recorreram a litígios em tribunais no Reino Unido, Irlanda e Nova Zelândia, com processos ainda em andamento.
De acordo com o Instituto de Pesquisa de Transporte Aéreo da Academia Chinesa de Ciência e Tecnologia da Aviação Civil, quase todas as principais empresas de leasing chinesas — incluindo BOC Leasing, CDB Leasing, ICBC Leasing, Avolon e AviaAM — foram impactadas.
Esses incidentes desencadearam uma mudança mais ampla no setor, com empresas de leasing restringindo os termos dos contratos e reavaliando a exposição ao risco em mercados geopoliticamente sensíveis.
Epoch Times Brasil -Li Jing contribuiu para esta reportagem.