A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que começa oficialmente seus trabalhos nesta terça-feira (26), pretende avançar nas investigações sobre o advogado Nelson Wilians, um dos mais famosos do país. Senadores apresentaram requerimentos para que ele seja convocado a depor e tenha seu sigilo bancário quebrado.
O motivo são transações financeiras consideradas suspeitas pelo Coaf e encaminhadas à PF (Polícia Federal), que apontam movimentações do seu escritório na ordem de R$ 4,3 bilhões entre 2019 e 2023, além de sua relação com o empresário Maurício Camisotti e com a Ambec — uma das principais entidades investigadas —, ambos clientes de Wilians. Camisotti também é alvo de seis pedidos de convocação e outro requerendo a quebra de seu sigilo.
O montante bilionário de R$ 4,3 bilhões justifica o pedido de convocação de Nelson Wilians, feito, por exemplo, pela deputada Bia Kicis (PL-DF).
“Segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o escritório do advogado Nelson Willians movimentou cerca de R$ 4,3 bilhões em operações suspeitas no período de 2019 a 2024. Grande parte das transações envolveu o empresário Maurício Camisotti, alvo da operação da Polícia Federal, sendo investigado como um dos beneficiários finais das fraudes dos descontos indevidos no contracheque dos aposentados”, afirma ela no requerimento.
Os pedidos foram feitos apesar de o advogado não ter sido alvo direto da operação que revelou as fraudes na entidade. Mas diante da suspeita dos investigadores de que tenha havido lavagem de dinheiro, os senadores passaram a mirar o escritório.
“Longe de ser um personagem periférico, o Sr. Willians emerge das investigações da Polícia Federal e de relatórios de inteligência como um possível epicentro financeiro de uma complexa rede sob suspeita. (…) Ignorar um sinal de tamanha magnitude seria uma grave omissão desta Comissão, que tem o dever de seguir o rastro do dinheiro para desvendar a arquitetura completa da fraude bilionária que lesou milhões de aposentados”, diz um dos requerimentos, apresentado pelo senador Izalci Lucas (PL-DF).
Ele menciona especificamente o pagamento de R$ 15,5 milhões de Wilians a Camisotti.
“As justificativas para tal transação são conflitantes e inverossímeis: enquanto Willians alega a compra de um imóvel e um incomum adiantamento de honorários, Camisotti afirma tratar-se de um empréstimo”, começa o parlamentar.
“Essa flagrante contradição é mais do que uma simples inconsistência; é um forte indício de uma tentativa deliberada de ofuscar a real natureza de uma transação que pode representar desde a distribuição de lucros ilícitos até a lavagem de capitais em larga escala. A única forma de penetrar essa cortina de fumaça é através da análise detalhada de seus dados bancários e fiscais”, continua.
Procurado pela CNN, o escritório de Nelson Wilians afirmou que o advogado não é investigado em nenhum processo judicial, bem como não possui vínculo ou participação com a investigação.
“A relação profissional com o Sr. Maurício Camisotti sempre se deu nos limites estritos da advocacia: cliente e advogado, sem qualquer vínculo societário ou comercial. Negócios privados, como um empréstimo anteriormente realizado e a aquisição de um imóvel em 2022, foram operações legais, devidamente declaradas e sem relação com a atividade do escritório, além de anteriores ao objeto da investigação”, diz a nota.
O comunicado ainda descarta haver crime na menção no relatório do Coaf. “As movimentações mencionadas foram legítimas e compatíveis com a estrutura do escritório, com mais de 25 anos de atuação. O valor referido abrange um período de seis anos, contemplando débitos e créditos.”
“Quanto à AMBEC, a atuação do escritório restringiu-se a demandas consumeristas, em contrato que durou aproximadamente 90 dias e foi encerrado no início de 2023”, acrescenta.
Ainda na nota, os representantes reiteram compromisso com a legalidade e a ética, colocando-se a disposição para demais esclarecimentos.
A CNN também procurou Maurício Camisotti e aguarda uma posição.
CNN