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Milei acata exigências de Trump e promete reformas para negociar redução tarifária

O presidente argentino se tornou o primeiro chefe de Estado a abordar o “tarifaço” com o governo norte-americano. Javier Milei também viajou a West Palm Beach com a intenção de um encontro pessoal com Donald Trump para uma ajuda política a favor da Argentina no FMI.

O presidente argentino, Javier Milei, aceitou a política de reciprocidade tarifária imposta por Donald Trump e prometeu atender as condições para tentar zerá-las nos 50 produtos mais exportados pela Argentina aos Estados Unidos.

“A Argentina vai avançar para readequar a sua normativa para cumprir com os requerimentos da proposta de ‘tarifas recíprocas’, elaborada pelo presidente Donald Trump. Já cumprimos com 9 dos 16 requerimentos necessários e dei instruções para avançarem com os requerimentos restantes”, anunciou Milei num breve discurso durante o evento de gala “Americanos Patriotas” (American Patriots, em inglês), realizado na noite desta quinta-feira (3), em Mar-a-Lago.

“Estamos comprometidos a tomar medidas necessárias para resolvermos a assimetria com os Estados Unidos num prazo breve. Vamos avançar com a harmonização das tarifas de uma cesta de 50 produtos para fluírem mais livremente entre as nossas duas nações”, afirmou o presidente argentino, convidado pelos organizadores para receber o prêmio “Leão da liberdade”(“Lion of liberty award”) para personalidades dedicadas à liberdade econômica, ao livre mercado e aos valores conservadores.

As “assimetrias” às quais Milei se refere são sobretaxas, proibições, restrições comerciais, barreiras alfandegárias e sanitárias e direitos de propriedade intelectual.

Pague primeiro

A repentina viagem de Milei a West Palm Beach aconteceu enquanto o seu chanceler, Gerardo Werthein, se reunia, em Washington, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e com Jamieson Greer, chefe da agência responsável pelas tarifas, a United States Trade Representative.

Nessa reunião, Argentina e Estados Unidos começaram uma negociação para atenuar ou neutralizar o impacto do “tarifaço” de Trump que impôs um aumento generalizado de 10% em todas as exportações argentinas. A negociação tem uma premissa simples: primeiro a Argentina acata as exigências, depois tenta uma redução tarifária.

“Todas as assimetrias que puderem ser corrigidas serão. Quando corrigirmos isso, sentaremos para conversar”, disse o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Gerardo Werthein, na saída da reunião.

Apoio político no FMI

Em Mar-a-Lago, Milei tinha a esperança de um encontro informal com Donald Trump, que não aconteceu na noite de gala. O presidente argentino viajou com o seu ministro da Economia, Luis Caputo, com a intenção de obter um apoio político na reta final da negociação por um acordo financeiro com o Fundo Monetário Internacional. Os Estados Unidos são o principal acionista do FMI e a pressão política de um presidente norte-americano é capaz de superar questões técnicas.

A Argentina negocia um acordo por U$ 20 bilhões com o FMI, mas esse montante engloba U$ 14 bilhões da atual dívida a serem refinanciados. Apenas U$ 6 bilhões seriam dívida nova, um número visto pelo mercado como insuficiente. O governo Milei quer que os U$ 20 bilhões sejam dívida nova, totalizando um acordo por U$ 34 bilhões, além de outros U$ 5 bilhões com o Banco Mundial e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, antecipou que aceitaria desembolsar de entrada 40% do montante, quando normalmente o organismo multilateral de crédito só antecipa 20 ou 30% do total, deixando o restante condicionado ao cumprimento de metas. O governo argentino quer um desembolso inicial de 75%, considerando as necessidades de conter uma desvalorização descontrolada do peso argentino e que as metas fiscais já foram alcançadas.

Uma desvalorização acelerada do peso argentino teria impacto na inflação cuja queda é a principal bandeira política de Javier Milei para as eleições legislativas de outubro, quando o governo pretende uma vitória eleitoral para ampliar a sua base parlamentar, condição para avançar com suas reformas estruturais. A diretoria do FMI só deve aprovar o acordo entre os dias 21 e 26 de abril, quando se reunirá em Washington.

“Muy amigos”

Javier Milei celebrou que Trump “só” tenha aplicado um aumento tarifário de 10% sobre a Argentina. Chegou a publicar nas redes sociais a canção do grupo Queen, “Friends will be friends” (Amigos serão amigos), em alusão à sua amizade com Donald Trump que o governo argentino define como “relação estratégica”.

Porém, apesar da sintonia ideológica e da amizade política entre Milei e Trump, a administração norte-americana impôs à Argentina os mesmos 10% de tarifa que recebeu a maioria dos países sul-americanos como Brasil, Colômbia, Chile e Bolívia, com governos ideologicamente distantes de Trump.

“Esta medida confirma que Trump não é precisamente protecionista, mas que faz geopolítica com as tarifas. Pelo contrário, acreditamos que o critério de Trump é pró-comércio pois sobe tarifas para os países que considera protecionistas”, defendeu o porta-voz de Milei, Manuel Adorni.

“Claro que fomos beneficiados. Basta ver a tabela com as tarifas aplicadas a outros países. É motivo de satisfação termos conseguido tarifas mais baixas e vamos continuar a trabalhar por esta relação maravilhosa (com os Estados Unidos)”, indicou Adorni, evitando responder em qual medida a amizade com Trump beneficiou a Argentina, já que os países vizinhos receberam a mesma tarifa.

Em apenas um ano e três meses de governo, esta é a décima viagem de Milei aos Estados Unidos e a terceira em dois meses e meio de governo Trump. Milei foi à posse do novo presidente em janeiro e participou da Conferência de ação conservadora, em fevereiro, em Washington, na qual o presidente norte-americano também estava presente.

RFI

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