A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, renunciou nesta segunda-feira (05/08), em meio a uma violenta onda de protestos que já provocou centenas de mortes e que culminou numa invasão da residência oficial da chefe de governo.
Após renunciar, Hasina, que comandava o país havia 15 anos, fugiu do país, segundo o Comando das Forças Armadas. Os militares anunciaram ainda a formação de um governo interino. O paradeiro da agora ex-premiê é desconhecido, mas, segundo a imprensa local, Hasina deve buscar refúgio na vizinha Índia.
Após os confrontos de domingo, o Ministério do Interior decretou um toque de recolher obrigatório por tempo indeterminado, em todo o país, a partir das 18 horas locais.
Na semana passada, os manifestantes voltaram às ruas em grande número, no que foi caracterizado como um movimento de “não-cooperação” com o objetivo de paralisar o governo e exigir a renúncia da primeira-ministra.
Milhares de manifestantes se aglomeraram na Praça Shahbagh, no centro de Dhaka. Em determinado momento, segundo a polícia, grupos atacaram um importante hospital público dessa região, incendiando vários veículos.
No bairro de Uttara, em Dhaka, a polícia disparou gás lacrimogêneo para dispersar centenas de manifestantes que bloquearam uma estrada principal.
Pelo menos 91 pessoas morreram em todo o país, segundo a polícia e os serviços de saúde. Há “pelo menos 14 policiais” entre os mortos e outros 300 agentes feridos, disse o porta-voz da polícia Kamrul Ahsan.
Além do toque de recolher, também no domingo, o governo anunciou um feriado de segunda a quarta-feira no país. Os tribunais foram fechados por tempo indeterminado.
O serviço de internet móvel foi cortado e o Facebook e os aplicativos de mensagens, incluindo o WhatsApp, ficaram fora do ar. Domingo é um dia útil em Bangladesh, mas muitas lojas e bancos em Dhaka não abriram.
O que disse o chefe da ONU para direitos humanos?
O chefe das Nações Unidas para os direitos humanos, Volker Turk, afirmou no domingo que a “violência chocante” no país asiático precisa ter fim. Ele também instou o governo a parar de atacar os manifestantes pacíficos.
“Apelo urgentemente à liderança política e às forças de segurança para que cumpram com suas obrigações de proteção do direito à vida e da liberdade de reunião e expressão pacíficas”, afirmou Turk.
“O governo deve deixar de visar os manifestantes que participam pacificamente dos protestos, deve libertar imediatamente as pessoas detidas arbitrariamente, restabelecer o pleno acesso à internet e criar condições para um diálogo significativo”, acrescentou o representante da ONU.
“Os esforços contínuos para suprimir o descontentamento popular, nomeadamente através do uso excessivo da força e da disseminação deliberada de desinformação e incitamento à violência, devem cessar imediatamente.”
Quais as reivindicações dos manifestantes?
Os protestos estudantis eclodiram há cerca de dois meses contrários a um antigo sistema de cotas para empregos no setor público. Ele favorecia os descendentes de ex-militares que, em 1971, lutaram pela independência de Bangladesh do Paquistão, além de outros grupos.
O governo tinha suspendido esse sistema de cotas, mas um recurso judicial abriu caminho a sua reintrodução até que uma decisão da Suprema Corte ordenou que a cota dos ex-militares fosse reduzida de 30% para 5%.
Além desses 5%, o tribunal decidiu que 93% dos postos de trabalho deveriam ser atribuídos com base no mérito, sendo os 2% restantes reservados a grupos minoritários.
Depois disso, os protestos abrandaram durante vários dias, mas em seguida se transformaram em um movimento antigoverno mais amplo e os estudantes também passaram exigir justiça para as vítimas da brutalidade policial durante a repressão aos protestos.
No último mês, mais de 200 pessoas morreram, milhares ficaram feridas e cerca de 10 mil foram detidas nas manifestações.
Críticos e grupos de defesa dos direitos humanos acusaram o governo de Hasina de usar força excessiva para reprimir os protestos — o governo negou.
Hasina, de 76 anos, vinha governado o país com mão de ferro desde 2009. Ela é acusada por grupos de defesa dos direitos humanos de utilizar indevidamente as instituições do Estado para aumentar seu poder e reprimir a oposição
IstoÉ