Todos os anos, entre estradas de terra, poeira e cânticos de fé, o som dos cascos e o ranger das rodas de madeira anunciam a chegada de centenas de carros de boi à cidade de Trindade (GO). Em 2025, a cena se repetirá no dia 3 de julho, quando cerca de 500 veículos rústicos tomarão a Praça da Igreja Matriz para receber a tradicional bênção dos missionários redentoristas.
A tradição dos carros de boi na Romaria remonta às origens da festa, por volta de 1840, segundo o historiador Paulo Afonso. “Naquela época, o carro de boi era o principal meio de transporte. Famílias inteiras viajavam dias levando mantimentos, promessas e sua fé. O que era uma necessidade acabou se tornando um ritual carregado de simbolismo espiritual”, explica.
As comitivas seguem de várias partes do estado e até de regiões de Minas Gerais e Mato Grosso, atravessando longas distâncias a um ritmo lento – cerca de 15 a 20 km por dia – para que seja respeitado o tempo dos animais. Durante o trajeto, os peregrinos montam acampamentos improvisados em fazendas amigas, onde dormem em barracas, redes ou até mesmo nos próprios carros de boi. As refeições são feitas em fogões rústicos, com pratos típicos como arroz com pequi, paçoca e carne seca.
Atualmente, cerca de 1,2 mil carros de boi participam da Romaria ao longo dos 10 dias de festa. Mais do que uma viagem, o trajeto é uma experiência coletiva de fé, sacrifício e união. “É bonito de ver: gente simples, famílias inteiras, jovens e idosos, todos juntos por uma causa maior”, observa padre João Bosco de Deus, que todos os anos realiza a bênção dos carreiros na chamada Quinta-feira dos Carros de Boi.
Após a bênção na Matriz, os carreiros seguem em desfile pelas ruas de Trindade até o Carreiródromo Ada Cyra, um espaço reservado especialmente para homenagear essa tradição que resiste ao tempo. No sábado (5), o encontro dos carreiros, cavaleiros e muladeiros reforçará ainda mais os laços entre fé, cultura e identidade goiana.
Para o historiador Paulo Afonso, os carros de boi funcionam como verdadeiros altares ambulantes. “Eles carregam promessas, histórias e esperanças. Representam o esforço coletivo e a devoção de um povo que, mesmo diante da modernidade, se recusa a abandonar suas raízes”, afirma.
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