Sanae Takaichi: primeira mulher premiê do Japão é fã de heavy metal e motos

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Sanae Takaichi, líder do Partido Liberal Democrata do Japão, foi eleita a primeira mulher primeira-ministra do Japão pelo Parlamento nesta terça-feira (21), em um momento marcante para o país historicamente patriarcal, onde tanto a política quanto os locais de trabalho são dominados por homens mais velhos.

Durante a maior parte de sua vida, Takaichi amou heavy metal.

Desde que tocava bateria em uma banda da faculdade, a política de 64 anos continua fã de grupos como Black Sabbath e Iron Maiden. Ela costumava tocar com tanta intensidade que carregava quatro pares de baquetas como reserva, caso quebrassem, segundo relatos da mídia japonesa.

Mas, ao contrário da maioria dos metaleiros que se acalmam com a idade, a recém-eleita primeira-ministra do Japão continua uma entusiasta. Ela tem uma bateria elétrica em casa e toca músicas sempre que está estressada.

Essa mesma energia vibrante marcou sua ascensão política constante, embora nada convencional.

A conservadora convicta e parlamentar veterana conquistou a presidência do partido governista do Japão em 4 de outubro, tornando-se a primeira mulher a garantir o cargo, após a terceira tentativa.

Como a primeira mulher a ser primeira-ministra no Japão, ela herdará uma lista de desafios.

Aspirações da “Thatcher do Japão”

Takaichi há muito defende políticas conservadoras, enraizadas em ideais nacionalistas e tradicionalistas. Sua vitória, um triunfo surpreendente no sistema político profundamente patriarcal do Japão, sinaliza aos eleitores do PLD que o conservadorismo tradicional está vivo e bem.

Membro proeminente do grupo de lobby ultranacionalista Nippon Kaigi, ela promove uma educação patriótica. A nova premiê também apoiou a revisão da constituição pacifista do Japão, particularmente o Artigo 9, que renuncia à guerra e proíbe o uso de forças militares.

Ao contrário de muitos de seus pares masculinos, Takaichi não vem de uma dinastia política. Ela nasceu na província de Nara, filha de um pai que trabalhava para uma montadora e de uma mãe que era policial.

Antes de entrar na política, ela estagiou para uma congressista democrata dos Estados Unidos e trabalhou como comentarista de TV, “usando minissaias, pilotando motocicletas e se apresentando de uma forma animada e nada convencional, que contrastava fortemente com os típicos comentaristas masculinos mais velhos”, disse Hajime Kidera, professor da Faculdade de Ciência Política e Economia da Universidade Meiji, à CNN.

Mas Takaichi abriu mão de sua amada motocicleta Kawasaki Z400GP após se tornar deputada em 1993, aos 32 anos, supostamente para evitar acidentes que pudessem atrapalhar seu trabalho.

Sua primeira experiência na política foi como deputada independente no parlamento japonês. Nessa época, ela conheceu o cabeleireiro que cuidaria de seus cabelos pelas três décadas seguintes. Desde o início, Yukitoshi Arai disse à CNN que Takaichi aspirava ser como Margaret Thatcher.

Quando Arai soube que Takaichi havia conquistado a liderança do PLD, ele disse: “Fiquei tão feliz que me arrepiei”.

Sanae Takaichi em Tóquio • 27/09/2024 Hiro Komae/Pool via REUTERS
Sanae Takaichi em Tóquio • 27/09/2024 Hiro Komae/Pool via REUTERS

Ele lembrou com carinho como, após as primeiras lutas políticas, Takaichi ingressou no PLD em 1996. “Decidimos expressar sua determinação renovada com o cabelo e o cortamos curto”, relembrou o cabeleireiro. Assim nasceu o icônico “corte Sanae” — elegante e prático para um político ocupado.

Desde que entrou para o partido Takaichi foi reeleita nove vezes. Ela ocupou vários cargos ministeriais, incluindo o de igualdade de gênero e questões demográficas, e presidiu o Conselho de Pesquisa Política da sigla. Mais recentemente, atuou como ministra da Segurança Econômica no governo de Fumio Kishida.

Takaichi se casou em 2004. Em uma entrevista recente, ela disse que concordou em se casar com o marido, um colega parlamentar do PLD, sem nunca ter tido um encontro.

Ele a pediu em casamento por telefone, dizendo que estava de olho nela “há algum tempo”. Segundo ela, o marido era um bom partido — ele é um chef de cozinha, disse.

“Ele me disse: ‘Você nunca vai passar um dia sem comer uma boa comida’. Então, eu simplesmente me arrisquei”, ela riu, admitindo que não é muito boa cozinheira.

Nova líder enfrenta desafios

Os problemas econômicos e demográficos do Japão representam desafios imediatos para Takaichi.

A queda na taxa de natalidade do país significa uma força de trabalho cada vez menor, sobrecarregada com o sustento de uma população idosa crescente. A inflação recorde e o iene desvalorizado também estão pressionando as famílias e elevando o custo de vida.

Logo após sua eleição como líder do PLD, o iene atingiu uma nova mínima em meio às expectativas de um grande estímulo fiscal. Takaichi propôs gastos em larga escala e inflação baixa sob sua própria bandeira, “Sanaenomics”, ecoando a “Abenomics” de seu mentor Shinzo Abe.

“Esse tipo de discurso pode enfraquecer ainda mais o iene e aumentar as preocupações com os níveis de dívida do Japão. Para as pessoas comuns que já lutam com a alta dos preços, também é uma preocupação séria”, disse Kidera, professora de política da Universidade Meiji.

As relações comerciais com Washington podem ser complicadas, principalmente em relação ao acordo de investimento de US$ 550 bilhões entre Japão e Estados Unidos, anunciado em setembro, que Takaichi já havia dito que poderia revisitar.

Atualmente, o investimento japonês nos EUA tem como alvo setores como semicondutores, energia, produtos farmacêuticos e construção naval, além de comprar US$ 8 bilhões anualmente em produtos agrícolas americanos. Em troca, os governo Trump reduziu as tarifas sobre produtos japoneses, incluindo automóveis, para um patamar de 15%.

Com poucos detalhes disponíveis sobre o acordo de investimento de US$ 550 bilhões, e dada a natureza volátil do presidente Donald Trump, Takaichi parece estar esperando para ver como ele se desenrola, disse Rintaro Nishimura, associado sênior da consultoria The Asia Group, sediada em Tóquio.

Seu primeiro teste com Washington pode vir em breve — ela pode se encontrar com Trump poucos dias após o início de seu mandato.

Mas, apesar de sua curta trajetória, comparações entre os dois líderes conservadores já estão sendo feitas. Como protegida de Abe, que mantinha um relacionamento próximo com Trump, espera-se que Takaichi siga o manual diplomático de seu mentor.

Assim como Abe, Takaichi pediu aumentos acentuados no orçamento de defesa do Japão, uma medida que provavelmente será bem recebida pelo governo Trump, que pediu a Tóquio que se aproximasse da meta de 5% da OTAN.

CNN

 

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