O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou muito ao falar pouco na sua última passagem por Goiás. Até porque ficou doente, por falta de repouso e de não seguir recomendações médicas. Jair Bolsonaro poderia ter dito: “Está fechado. O senador Wilder Morais será o candidato a governador de Goiás pelo PL”. Ao não dizer isto, o ex-presidente sugeriu, sem dizê-lo, que há uma negociação política em curso com a base do governador Ronaldo Caiado, do União Brasil.
Noutras palavras, Jair Bolsonaro e o bolsonarismo podem apoiar Daniel Vilela para governador — bancando um dos candidatos a senador na chapa do líder do MDB.
Recado de Jair pra Vitor Hugo serve para Gayer
Antes da visita ao Estado de Goiás, Jair Bolsonaro mandou um recado: o vereador Major Vitor Hugo — seu primeiro-amigo em Goiás — deve ser candidato a deputado federal, e não a senador.
Atendendo a determinação, Major Vitor Hugo recuou e disse que será candidato a deputado federal.
Mas qual é mesmo a mensagem real do ex-presidente? Na verdade, ele disse apenas, com seu estilo enviesado, que é preciso esperar um pouco mais. Por quê? Porque, se o deputado federal Gustavo Gayer ficar inelegível — seus processos devem ser julgados entre setembro e dezembro deste ano —, Major Vitor Hugo poderá voltar ao cenário — sim, como candidato a senador.
Se Gustavo Gayer sair do jogo para o Senado, o PL tem dois outros nomes — Fred Rodrigues, o pupilo do deputado, e o ex-senador Demóstenes Torres. Mas, insistindo, sem Gustavo Gayer, o jogo volta a ficar aberto.
Projeto de Wilder não é o do PL e do Jair
Quanto a Wilder Morais: o que fazer com o senador de 57 anos? Jair Bolsonaro e, sobretudo, Valdemar Costa Neto têm apreço pelo político de Taquaral de Goiás. A infraestrutura que o presidente do PL em Goiás mobiliza para os aliados é sempre a maior possível. Daí sua força.
Wilder Morais quer ser candidato a governador, porque, sendo senador, nada tem a perder. Mas sabe também que seu projeto é pessoal, não é o do Partido Liberal, não é o do Jair Bolsonaro.
O ex-presidente opera, neste momento, para conquistar o apoio político de Ronaldo Caiado e sua federação, União Brasil & pP, para um projeto eleitoral único das direitas para a disputa da Presidência da República.
Então, há um projeto de Wilder Morais e há um projeto de Bolsonaro e das direitas — que correm por vias diferentes. A tendência é que o senador abra espaço para o projeto coletivo — deixando seu projeto individual para 2030.
Schreiner pode dividir bolsonarismo para Daniel
Se eleito em 2026, Daniel Vilela, tendo assumido o governo de Goiás em 4 de abril deste ano, não poderá disputar o governo em 2030. Abre-se, portanto, uma avenida para Wilder Morais e outros postulantes, como Bruno Peixoto, do União Brasil.
No caso de uma aliança entre o União Brasil, o MDB e o PL em Goiás, a tendência é que a chapa majoritária seja esta: Daniel Vilela (MDB) para governador, Gustavo Mendanha (PSD) ou Adriano Rocha Lima na vice e Gracinha Caiado e Gustavo Gayer para senador. Trata-se de uma chapa forte, de cariz popular.
Porém, se Wilder Morais insistir em ser candidato a governador, contrariando o bolsonarismo, as coisas poderão mudar de configuração.
Se a polarização se der entre Daniel Vilela e Wilder Morais, as chapas terão nova configuração, em parte.
O vice de Daniel Vilela, no caso, não será mais nem Gustavo Mendanha e tampouco Adriano da Rocha Lima (ou Pedro Sales). Será, isto sim, José Mário Schreiner (MDB) ou o presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto (União Brasil).
Schreiner é presidente da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), vice-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), é produtor rural e foi deputado federal. Tem peso tanto eleitoral quanto presença respeitável na sociedade civil.
Na vice de Daniel Vilela, Schreiner — assim como o ex-prefeito de Rio Verde Paulo do Vale (União Brasil), igualmente produtor rural e popular no Sudoeste, dada sua competência político-administrativa — contribuiria, possivelmente, para dividir os votos do bolsonarismo.
A direita rural poderia marchará, ao menos em parte, com Daniel Vilela — por meio do presidente da Faeg.
Há, por fim, o caso de Bruno Peixoto, que está se tornando um fenômeno político, tanto que é cobiçado inclusive por Wilder Morais para ser o seu vice.
Popular, com forte vinculação com prefeitos, vereadores e deputados, Bruno Peixoto, se indicado para a vice, pode atrair mais votos para Daniel Vilela.
Para Daniel Vilela e Bruno Peixoto, é crucial que parem de ouvir os fofoqueiros de plantão — cujos interesses em regra são mesquinhos e pessoais — e gestem, desde já, uma aliança. Ambos podem crescer juntos.
Não se faz política tão-somente com figuras adoráveis. Política se faz com os seres que existem, os possíveis.
Daniel Vilela é jovem, competente, experiente e tão decente quanto Ronaldo Caiado. Não se enganem com sua discrição. Ela tem a ver com o fato de que, sendo Ronaldo Caiado governador, ele respeita o espaço do líder maior.
Porém, Daniel Vilela acompanha o governo, de ponta a ponta, e participa de tudo. Ao assumir, além de manter o governo azeitado, certamente dará sua própria contribuição.
Na área de segurança, por exemplo, Daniel Vilela tende a manter o mesmo rigor da gestão de Ronaldo Caiado. Ele tem boa formação, estuda com atenção as coisas centrais do governo e do país. É posicionado.
Pesquisas mostram que a identificação entre Ronaldo Caiado e Daniel Vilela terá um peso decisivo na disputa eleitoral de 2026. Jair Bolsonaro sabe disso.
Jair Bolsonaro sempre faz referências às duas derrotas do PL para as prefeituras de Goiânia e Aparecida de Goiânia.
A força de Ronaldo Caiado nas duas cidades foi decisiva para as vitórias de Sandro Mabel, do União Brasil, e Leandro Vilela, do MDB, e para as derrotas de Fred Rodrigues e Professor Alcides Ribeiro, ambos filiados ao PL (Ribeiro saiu logo depois da perda eleitoral).
Se alguém está dormindo, acreditando apenas na força do dinheiro, este não é Jair Bolsonaro. O ex-presidente — assim como Ronaldo Caiado e Daniel Vilela — está acordadíssimo. (E.F.B.)
Jornal Opção