O presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira (25) que a China precisa fornecer ímãs aos Estados Unidos ou ele terá de “cobrar uma tarifa de 200% ou algo parecido” sobre produtos chineses. A fala ocorreu em meio à disputa comercial e tecnológica entre os dois países.
A China tem demonstrado maior preocupação com as terras raras e o controle de sua oferta. Em abril, incluiu diversos itens desse setor — entre eles os ímãs — na lista de restrições de exportação, em resposta ao aumento das tarifas impostas pelos EUA.
- 🔎 As terras raras formam um grupo de 17 elementos químicos presentes em diversos países. A maior parte das reservas conhecidas está concentrada na China e no Brasil. Esses elementos são fundamentais para a produção de smartphones modernos, carros elétricos e outras tecnologias avançadas, o que os torna estratégicos para a indústria global.
Os ímãs mais potentes costumam ser produzidos com ligas que contêm elementos de terras raras, como neodímio e samário. Em algumas aplicações, adiciona-se disprósio para aumentar a estabilidade térmica, especialmente em usos industriais e tecnológicos de alto desempenho.
No Fantástico deste domingo, o jornalista Felipe Santana mostrou como a China se consolidou como potência global no setor automotivo. Ele explicou, de forma didática, a importância estratégica dos ímãs e como funcionam nos motores de carros elétricos. (veja o vídeo abaixo)

Disputa comercial e tecnológica
Tarifaço reduz déficit, mas encolhe economia dos EUA
O tarifaço de Trump deve reduzir o déficit total dos EUA em US$ 4 trilhões até 2035. Por outro lado, tende a frear investimentos e produtividade, além de enfraquecer o poder de compra de famílias e empresas.
A nova ameaça de Trump é mais um capítulo da disputa comercial e tecnológica entre as duas maiores economias do mundo. O conflito se intensificou no segundo trimestre, após o anúncio do tarifaço pelo republicano. Mais recentemente, os países chegaram a acordos para reduzir tarifas.
Em 11 de agosto, o Ministério do Comércio da China prorrogou por 90 dias a suspensão de tarifas adicionais sobre produtos dos EUA. A decisão foi tomada após Trump assinar uma ordem executiva que estendeu a trégua tarifária.
Em comunicado, o governo chinês informou que manterá, durante esse período, a tarifa de 10% sobre produtos norte-americanos.
Na prática, os países apenas prorrogaram o acordo firmado em 12 de maio, que estava prestes a vencer. Veja os principais pontos:
- As tarifas dos EUA sobre importações chinesas caíram de 145% para 30%.
- As taxas da China sobre produtos americanos foram reduzidas de 125% para 10%.
Quase o acerto não seguiu em frente. Duas semanas depois, Trump acusou os chineses de descumprirem o compromisso: “A má notícia é que a China, talvez sem surpresa para alguns, violou totalmente seu acordo conosco”, escreveu em suas redes sociais.
Em resposta, a China pediu que os EUA suspendam as “restrições discriminatórias” contra Pequim e que ambos os países mantenham o consenso alcançado nas negociações de alto nível realizadas em maio, em Genebra, na Suíça.
Desde que anunciou o tarifaço — para reduzir o déficit comercial dos EUA e ampliar seu poder de barganha em negociações geopolíticas —, Trump vem enfrentando críticas, inclusive de aliados. O confronto com o governo chinês agravou ainda mais a situação.
A análise é do Congressional Budget Office (CBO), órgão independente do Congresso dos EUA. Segundo relatório publicado na sexta-feira (22), a redução do déficit total do país — o saldo negativo das contas públicas, incluindo juros da dívida — deverá ocorrer da seguinte forma:
- O dinheiro arrecadado com as tarifas ajudará a diminuir o déficit primário (diferença entre receitas e despesas do governo) em US$ 3,3 trilhões até 2035.
- Com isso, a menor necessidade de empréstimos federais deve cortar os gastos com juros da dívida em US$ 700 bilhões, totalizando um impacto de US$ 4 trilhões no período.
“Devido às recentes mudanças nas tarifas, essas estimativas são maiores do que a redução de US$ 2,5 trilhões nos déficits primários e a diminuição de US$ 500 bilhões nos gastos com juros que projetamos no início de junho”, diz o CBO.
Apesar do impacto positivo sobre a dívida, o CBO estima que as recentes mudanças nas tarifas de importação — tanto dos EUA quanto de seus parceiros comerciais — vão reduzir o tamanho da economia americana.
“Os efeitos negativos de tarifas mais altas se manifestam na redução de investimentos e produtividade”, afirma o CBO, acrescentando que bens de consumo e de capital (usados pelas empresas na produção) ficarão mais caros, o que diminuirá o poder de compra no país.