O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou à CNN que o pedido de prisão de Edmundo Gonzalez é “muito negativo” para a tentativa de diálogo em que Brasil e Colômbia vinham se empenhando.
A Justiça da Venezuela atendeu a uma solicitação feita pelo Ministério Público do país e determinou a prisão de González.
A CNN mostrou na semana passada que a eventual prisão do oposicionista dificultaria a atuação dos governos do Brasil e da Colômbia na crise desatada pela falta de transparência na divulgação dos resultados eleitorais na Venezuela.
Apesar da intenção de manter abertos os canais de diálogo com o governo venezuelano, integrantes do governo brasileiro consideram que seria difícil não haver um posicionamento do Brasil caso González seja preso.
A ordem de prisão foi percebida como “inaceitável” e “péssimo sinal” por interlocutores próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O governo brasileiro avalia soltar uma nota oficial, nesta terça-feira (3), demonstrando preocupação com o aumento das tensões.
Na prática, a apreensão é com a escalada autoritária do governo de Nicolás Maduro, mas assessores presidenciais apontaram um “dilema” para o Palácio do Planalto e o Itamaraty.
Ao mesmo tempo em que se pretende indicar claramente uma insatisfação com os últimos passos de Maduro, o objetivo é não levar a Venezuela para um isolamento internacional ainda maior e não romper completamente o diálogo.
O Brasil continuará sem reconhecer a vitória de Maduro e exigindo a apresentação das atas eleitorais, mas endurecer a estratégia — declarando a Venezuela uma ditadura ou tratando González como presidente legítimo – está fora de cogitação.
Auxiliares de Lula listam pelo menos três fatores para justificar a necessidade de manter pontes com o governo Maduro:
- Brasil e Colômbia têm amplas fronteiras com a Venezuela. Podem sofrer com uma leva de emigração e o aumento de tensões geopolíticas na região;
- A embaixada da Argentina em Caracas, onde estão refugiados seis oposicionistas perseguidos pelo governo venezuelano, está sob custódia do Brasil neste momento. É necessário ter máxima cautela diante da responsabilidade de proteger esses cidadãos;
- Enquanto houver uma chance de saída negociada, por menor que seja, preservar a capacidade de diálogo com Maduro pode ser um ativo mais adiante. A capacidade de diálogo também pode ser necessária em caso de um agravamento ainda maior da situação política, tornando o Brasil um dos poucos países do Ocidente capazes de lutar pelo respeito a direitos mínimos de opositores do líder venezuelano.
Hoje, no Planalto e no Itamaraty, a percepção é de que Maduro não se dispõe a negociar e está convencido – com o aval de todo seu entorno – a manter-se no poder.
É uma diferença em relação à expectativa, alimentada após as eleições no dia 28 de julho, de que ele poderia abrir espaço para algum tipo de saída negociada em caso de confirmação de sua derrota.
CNN