Categoria: Destaque

  • Fernandinho Beira-Mar é transferido de Mossoró para outra unidade federal

    Fernandinho Beira-Mar é transferido de Mossoró para outra unidade federal

    Fernandinho Beira-Mar, uma das principais lideranças do Comando Vermelho, foi transferido do presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, na última semana. A mudança se deu após o local registrar a primeira fuga de detentos de uma unidade de segurança máxima.

    O Brasil reúne cinco presídios de segurança máxima sob coordenação do Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), do Ministério da Justiça. Essas unidades estão situadas em Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Porto Velho (RO), Mossoró (RN) e Distrito Federal.

    São prisões construídas para receber lideranças do crime organizado e condenados de alta periculosidade. Ao todo, os cinco presídios abrigam 489 presos. Não foi informado para qual presídio Beira-Mar foi transferido.

    Além de Fernandinho Beira-Mar, a lista reúne Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, identificado como líder do PCC; e Marcelo Valle Silveira Mello, um dos criadores do Dogolachan, fórum extremista que já foi considerado a maior rede de ódio do país.

    Tais presídios são equipados com modernos sistemas de vigilância, com câmeras escondidas e sensores para detectar pessoas e drogas. Cada preso tem uma cela individual.

    Os presídios também contam com equipamentos para atendimentos médico, odontológico, psicológico e de enfermagem, com o intuito de evitar a transferência dos presos.

    O primeiro deles foi inaugurado em Catanduvas (PR), em junho de 2006. Logo no mês seguinte a unidade recebeu Fernandinho Beira-Mar, que também passou pelo presídio em Campo Grande e, hoje, está na unidade em Mossoró.

    A transferência de presos entre as unidades ocorre com certa frequência e raramente é divulgada, por questões de segurança e até mesmo sigilo judicial.

    CRIMINOSOS QUE CUMPREM PENA OU JÁ PASSARAM POR PRESÍDIOS FEDERAIS

    CAMPO GRANDE (MS)

    Marcinho VP

    Márcio dos Santos Nepomuceno é apontado como chefe do Comando Vermelho e responsável pelos pontos de venda de drogas no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

    Marcelo Valle Silveira Mello

    Preso por ameaças terroristas, divulgação de pornografia, incitação à violência e racismo, entre outros crimes.

    Juan Carlos Abadía

    Líder de cartel de drogas na Colômbia e fugitivo da polícia norte-americana, foi preso em Barueri (SP) e deportado para os Estados Unidos.

    CATANDUVAS (PR)

    Marcelo Piloto

    Marcelo Pinheiro Veiga, considerado uma das lideranças do Comando Vermelho, tem extensa ficha criminal: homicídios, roubos, incêndio, porte ilegal de armas e formação de quadrilha.

    Elias Maluco

    Elias Pereira da Silva foi um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro e responsável pelo assassinato do jornalista Tim Lopes. Foi encontrado morto em sua cela no presídio de Catanduvas em setembro de 2020.

    MOSSORÓ (RN)

    Fernandinho Beira-Mar

    Luiz Fernando da Costa é considerado um dos principais traficantes de armas e drogas da América Latina.

    Élcio de Queiroz

    Expulso da Polícia Militar em 2015 e acusado de atuar em milícias, ele confessou participação na execução da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, em 2018.

    Ronnie Lessa

    Também acusado da participação na morte de Marielle Franco. Segundo Élcio de Queiroz, que dirigia o veículo usado no crime, foi Lessa quem atirou contra a vereadora e o motorista Anderson Gomes.

    PORTO VELHO (RO)

    Marcola

    Marcos Camacho, apontado como líder do PCC, cumpriu pena na Papuda, no Distrito Federal, e hoje está em Porto Velho. Já havia estado no DF antes, mas foi transferido quando surgiram indícios de um plano para resgatá-lo, assim como outras lideranças do PCC.

    DISTRITO FEDERAL

    Cesare Battisti

    Ativista italiano condenado à prisão perpétua pela Justiça de seu país, Battisti morava no Rio de Janeiro em 2007, quando teve a prisão preventiva decretada, e foi transferido para Papuda.

    Folha de S.Paulo

  • Traficante condenado ‘Pancadão’ pede de US$ 2 mi para ‘usufruir o que construiu’

    Traficante condenado ‘Pancadão’ pede de US$ 2 mi para ‘usufruir o que construiu’

    Condenado a penas que passam de 100 anos de prisão por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, Ricardo Cosme Silva dos Santos, conhecido como DJ Superman Pancadão ou Ricardo Pancadão, pediu ao Supremo Tribunal Federal que desbloqueie mais de dois milhões de dólares apreendidos pela Polícia Federal. O objetivo da liberação seria o pagamento de tratamento de saúde para o detento, que passou por uma cirurgia em dezembro após ingerir um palito de dente.

    A solicitação foi encaminhada ao ministro Gilmar Mendes, que já foi relator de outros pedidos feitos pela defesa de Ricardo Pancadão. O advogado Marcos da Silva Borges pede não só a liberação dos valores depositados em juízo, mas também o desbloqueio das contas de seu cliente.

    Ao STF, a defesa de ‘Pancadão’ narra que ele sofreu ‘apreensão indevida’ de US$ 1.899.700,00, além de US$ 161 mil após sua prisão, 2015. O condenado por tráfico foi alvo da Operação Hybris, que ainda capturou outros 39 investigados à época. Segundo os advogados, Ricardo ‘sofre restrição de seus bens, o que lhe acarreta inúmeras problemáticas, como a possibilidade de custear um tratamento médico de qualidade’.

    Antes de recorrer à Corte máxima, Ricardo acionou o Tribunal de Justiça de Mato Grosso para que sua prisão – atualmente em cumprimento na Penitenciária Central do Estado – fosse substituída por uma prisão domiciliar humanitária. A defesa chegou a conseguir uma liminar em favor do réu, mas ela foi cassada.

    Segundo a defesa, ‘Pancadão’ precisa do tratamento, ‘tanto pela intervenção médica cirúrgica, quanto pela necessidade de tratamento médico de outras patologias’. Os advogados sustentam que, no cárcere, o estado de saúde do réu apenas se agrava.

    “A penitenciária não proporciona ambiente adequado à melhoria do estado de saúde de Ricardo, ao revés, se revela cada dia um cenário totalmente insalubre e propício aos agravamentos clínicos. Destaca-se que em que pese Ricardo possua valores (lícitos, como será demonstrado), hoje está à mercê de sua própria sorte, sem qualquer condição financeira de custear um tratamento médico adequado”, registra o pedido encaminhado ao decano no STF.

    Relatório apresentado à Corte máxima recomenda um período de seis meses para o tratamento das patologias de Ricardo. De acordo com o documento, o acusado está acometido de hepatopatia esteatótica grave, hiperferritinemia e síndrome metabólica. A primeira condição pode levar à cirrose, segundo os médicos. No caso da segunda, parte do tratamento seria a realização de sangrias.

    Os advogados dizem que o pedido de Ricardo é o ‘de viver’. Argumentam que, se o réu for ‘tolhido de custear um tratamento médico pertinente, poderá ter sua vida suprimida’.

    “As patologias que acometem Ricardo, se não tratadas, poderão leva-lo à óbito; ele necessita de uma rotina saudável, dieta especial, prática regular de atividades físicas em ambiente propício, com acompanhamento regular e ajuda de nutricionista, endocrinologia, cardiologista e gastroenterologia para promover sua saúde e bem-estar, ou seja, ambiente totalmente divergente daquele onde se encontra segregado de sua liberdade ambulatorial”, dizem os advogados.

    A defesa pede o desbloqueio dos valores apreendidos sob o argumento de que não pode o Estado ‘manter a impossibilidade de Ricardo usufruir do que construiu ao longo de sua vida, sob a pífia alegação de que os valores apreendidos são fruto de atividade ilegal’. “O requerente é preso provisório, não ostenta em seu desfavor qualquer condenação penal definitiva”, frisam os advogados.

    “É sabido que o Estado deve garantir a todos os cidadãos o acesso à saúde e se os valores que se encontram apreendidos destinam-se a custear o tratamento médico de Ricardo, não pode o Estado manter o bloqueio sob alegação de persecução da culpa”, diz a petição encaminhada a Gilmar.

    IstoÉ Dinheiro

  • Mais de 10 banhistas são atacados por piranhas em prainha do interior de SP

    Mais de 10 banhistas são atacados por piranhas em prainha do interior de SP

     Onze banhistas foram atacados por piranhas e precisaram ser socorridos entre este domingo (3) e sábado (2), em uma prainha em Pereira Barreto, no interior de São Paulo.

    As pessoas foram atacadas na região dos pés. O Corpo de Bombeiros fez o resgate dos banhistas, que foram levados ao pronto-socorro, durante o final de semana na Praia Municipal Pôr-do-Sol.

    A identidade dos feridos não foi informada. Lilian Lima, assistente administrativa do município, contou que presenciou dois dos ataques, em que uma mulher e um homem foram alvos das piranhas.

    Os ataques ocorrem devido ao desequilíbrio ambiental, pesca irregular e alimentos que são jogados na água. Além disso, esta época do ano é o momento de desova da espécie, informou a prefeitura.

    Avisos serão colocados nesta segunda-feira (4) para proibir a entrada na praia temporariamente.

  • Assassinato de presidenciável no Equador foi planejado em prisão

    Assassinato de presidenciável no Equador foi planejado em prisão

    O assassinato do presidenciável no Equador Fernando Villavicencio, morto com três tiros em agosto do ano passado, foi planejado em uma prisão, disse o MP equatoriano.

    Segundo a promotoria, a gangue “Los Lobos” foi a “autora intelectual” do assassinato. O MP afirmou que a morte foi planejada por criminosos que estão detidos no presídio da cidade de Latacunga, a cerca de 95 quilômetros de Quito.

    Os executores seriam cidadãos colombianos que cumpriam pena em uma penitenciária em Guayaquil. Eles foram mortos dentro da própria prisão após serem condenados pela morte de Villavicencio, afirmou a promotora Ana Hidalgo. Os corpos deles foram encontrados com sinais de asfixia em um pavilhão desocupado em outubro.

    O setor de inteligência do MP encontrou armas na casa de um dos suspeitos de matar o político equatoriano. Essa residência, de acordo com a promotoria, foi localizada após as autoridades policiais vasculharem as câmeras de segurança de uma padaria perto do local onde Villavicencio foi baleado.

    Segundo o MP, esse suspeito é conhecido como “Chupado”. Ele teria sido visto nas imagens gravadas pelo estabelecimento fugindo do local do crime. As investigações apontam que “Chupado” estava acompanhado de outro homem, que depois o MP descobriu se tratar do autor dos disparos que mataram Villavicencio. Esse segundo homem, identificado como David, e morreu em uma troca de tiros com a polícia minutos após o ataque contra o presidenciável.

    Arsenal na casa de “Chupado” incluia fuzil, metralhadora, quatro pistolas e três granadas de uso militar. Os armamentos estavam em uma maleta, acompanhados de 384 cartuchos de munições, dentro de um carro sem placa estacionado na garagem.

    VILLAVICENCIO FOI MORTO EM AGOSTO DE 2023

    O político foi assassinado depois de sair de um encontro político na cidade de Quito. Ele chegou a ser socorrido para a Clínica da Mulher, hospital mais próximo do local do crime, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no centro de saúde.

    Candidato recebia ameaças de grupo criminoso. Antes de ser morto, Villavicencio denunciou publicamente uma tentativa de intimidação de desconhecidos após ele manifestar repúdio a grupos criminosos. As ameaças partiram de um grupo conhecido como Fito, ou “Los Choneros”, que já estava sendo investigado pela Procuradoria Geral do Estado.

    Folha de São Paulo

  • PF investiga se milhares de munições compradas nos EUA seriam usadas para alimentar o crime organizado em GO

    PF investiga se milhares de munições compradas nos EUA seriam usadas para alimentar o crime organizado em GO

    Segundo a Polícia Federal, a compra do material precisa de autorização prévia do Exército Brasileiro, o que os suspeitos não tinham. Investigados foram presos.

    A Polícia Federal investiga o destino das munições apreendidas em uma operação que prendeu goianos, que possuem o registro de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC), suspeitos de comprá-las nos Estados Unidos e transportar em contêineres ao Brasil. A investigação apura se as armas e as munições seriam usadas para abastecer o crime organizado em Goiás.

    “Essa quantidade de munição é um volume que não condiz com a prática do esporte por eles praticado. Vamos fazer uma análise […] de qual o destino dessa quantidade de munições, pode ser que ela teria um destino diferente com o qual o adquirente fez a compra”, explicou o delegado Rodrigo Teixeira.

    Os nomes dos suspeitos não foram divulgados e, por isso, o g1 não localizou a defesa deles até a última atualização desta reportagem.

    A investigação começou em 2021, após a apreensão de mais de 12 mil munições no Porto de Santos, em São Paulo. Neste ano, a PF cumpriu sete mandados de busca e apreensão contra os goianos em Goiânia e Trindade, na Região Metropolitana da capital, e um mandado de busca e um de prisão na cidade de São Francisco (Califórnia), nos EUA.

    “A partir de agora vamos fazer uma análise do que foi apreendido, imputar a responsabilidade a cada um dos envolvidos a medida da sua responsabilidade, da sua culpabilidade, e procurar quem mais está envolvido com o tráfico”, completou o delegado.

    A operação prendeu duas pessoas e apreendeu armas e dinheiro:

    • 15 armas apreendidas
    • R$ 12 mil reais
    • 61,7 mil dólares

      Investigação

      A investigação começou em 2021, durante uma fiscalização da Receita Federal no Porto de Santos, em São Paulo. No local, foram encontradas 12 mil munições dentro de um contêiner que havia saído dos EUA com destino a Goiânia.

      Segundo a PF, as munições eram adquiridas em nome de pessoas que residiam na capital de Goiás. A partir dessa apreensão, a PF e a Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI), identificaram que dezenas de outros contêineres, que também saiam dos Estados Unidos, eram destinados a moradores de Goiás. Eles adotaram o mesmo padrão de remessa nos meses seguintes.

  • ‘Eram meu rosto e minha voz, mas era golpe’: como criminosos ‘clonam pessoas’ com inteligência artificial

    ‘Eram meu rosto e minha voz, mas era golpe’: como criminosos ‘clonam pessoas’ com inteligência artificial

    Poucas horas depois de ver a filha sair de casa para trabalhar, a advogada aposentada Karla Pinto recebeu uma chamada de vídeo em seu celular.

    Do outro lado do vídeo, sua filha, a advogada criminalista Hanna Gomes, pedindo uma transferência via pix de R$ 600.

    Três fatores fizeram a aposentada desconfiar da situação: na chamada de vídeo sua filha estava com uma blusa diferente da que havia saído de casa; a conta para a qual o dinheiro deveria ser transferido seria de uma amiga da filha e não a dela própria e, principalmente, a filha não havia chamado a mãe pelo apelido carinhoso que as duas comumente usam entre elas.

    Ao notar essas situações desconexas, a aposentada decidiu checar se realmente era Hanna que aparecia no vídeo e perguntou qual era o nome do cachorro da família e do vizinho que mora em frente à casa delas. Depois disso, a chamada foi desligada.

    “Eram o meu rosto, meu cabelo e a minha voz. O único detalhe é que a voz estava um pouco em descompasso com o vídeo, mas sabemos que isso pode acontecer devido à conexão com a internet. É assustador ver a evolução desse tipo de golpe”, diz Hanna à BBC News Brasil.

    Hanna sorrindo para foto em retrato
    Hanna Gomes relata que sua família foi vítima de golpe usando deep fake

    A advogada explica que acredita que criminosos tenham usado inteligência artificial (IA) para criar um “clone” dela e tentar aplicar golpes com sua imagem.

    Esses conteúdos são produzidos em softwares que usam IA para recriar a voz de pessoas, trocar o rosto em vídeos e sincronizar movimentos labiais e expressões.

    “Tenho diversos conteúdos de aulas online e vídeos nas redes sociais que facilmente podem ter sido usado pelos criminosos para criar essa deep fake. E mesmo a gente tomando alguns cuidados como salvar os contatos dos familiares pelo nome, e não como pai e mãe, não foram suficientes para driblar a ação de criminosos”, conta a advogada.

    A família registrou o caso na Delegacia de Crimes Virtuais da Polícia Civil do Distrito Federal (DF), que investiga o ocorrido. Segundo a Polícia Civil do DF não estatísticas fechadas sobre esse tipo de crime usando IA.

    Estelionatos por meio eletrônico cresceram no Brasil

    Golpes como o que os criminosos tentaram aplicar na mãe de Hanna e que exigem transferências bancárias por aplicativos de celular ou no ambiente virtual entram na categoria do estelionato eletrônico.

    Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023 mostram que no ano passado foram registrados 200.322 casos de estelionato por meio eletrônico, número 65% maior do que o registrado em 2021, quando esse número foi de 120.470.

    Os Estados com mais casos desse tipo de golpe são Santa Catarina (64.230), Minas Gerais (35.749), Distrito Federal (15.580) e Espirito Santo (15.277).

    Segundo o levantamento, os Estados de Bahia, Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo não disponibilizaram dados sobre esse tipo de crime até a conclusão da pesquisa.

    Uso de IA para aplicar golpes

    Idoso segurando cartão e celular
    CRÉDITO,GETTY IMAGES – Uma das recomendações para se proteger de golpes é fazer perguntas específicas

    Com o avanço da tecnologia e da IA, é cada vez mais comum surgirem softwares que conseguem reproduzir a imagem de uma pessoa com voz dela, criando frases completas e imitando até mesmo os trejeitos de fala e sotaque.

    Para fazer essa criação basta ter acesso a poucos segundos de imagem ou da voz da pessoa — como, por exemplo, um vídeo postado nas redes sociais ou até mesmo um áudio enviado em aplicativos de mensagem.

    “Uma pessoa curiosa, que busca tutoriais sobre essas ferramentas, consegue fazer isso em poucos minutos. Não precisa ser um especialista em tecnologia. Hoje temos filtros que a pessoa consegue falar e a voz dela é alterada em tempo real”, explica Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e Inovação. Esses são os chamados vídeos deep fake.

    Já no caso das chamadas de vídeo fake, realizadas em tempo real como no caso da Hanna, a criação é um pouco mais complexa. Para isso é necessário um computador um pouco mais potente e programas mais avançados.

    “É como se você pudesse criar um personagem de videogame que pode falar e agir como uma pessoa real, usando a voz e a imagem de alguém. Essa tecnologia pode ser usada para fazer chamadas de vídeo, onde parece que você está conversando com alguém, mas, na verdade, é uma versão criada por IA dessa pessoa. No entanto, isso exige tecnologia mais avançada e pode não estar tão facilmente disponível para todos”, explica Rogério Guimarães, diretor-executivo da Covenant Technology.

    Distinguir se um conteúdo é verdadeiro ou criado pela tecnologia é um desafio. Mas segundo os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, algumas características desses vídeos e imagens pode ajudar a verificar se ela é real ou não.

    “A falta de naturalidade na movimentação da pessoa pode levantar suspeitas, assim como a inconsistência da iluminação e a falta de sincronização. É importante, em caso de dúvidas, buscar comprovar a identidade da pessoa. Perguntar coisas que somente esta pessoa seria capaz de responder e até mesmo pedir para filmar algo da casa”, ensina Rafael Sampaio, gerente nacional da NovaRed, conglomerado ibero-americano de cibersegurança.

    Veja 7 dicas para se proteger de golpes que usam IA

    Fique atento: tenha consciência que esse tipo de golpe existe e desconfie de qualquer tipo de conteúdo em vídeo, áudio ou imagem;

    Use o telefone ou fale pessoalmente: na dúvida se é realmente a pessoa que está interagindo por uma chamada de vídeo ou em um vídeo use o telefone e ligue direto para aquele contato ou tente falar com ele pessoalmente;

    Atenção aos detalhes: analise detalhes de movimentações dos olhos e da boca, eles podem indicar algumas inconsistências e falta de naturalidade;

    Qualidade da conexão: se a imagem ou o som parecem perfeitos demais, ou, ao contrário, artificialmente distorcidos, pode ser um sinal;

    Perguntas específicas: faça perguntas a respeito de situações que só você e a pessoa vivenciaram ou criem uma frase, ou palavra-chave para confirmar a autenticidade de quem está do outro lado da chamada;

    Mude de assunto: se você suspeitar que algo está errado durante uma ligação ou chamada de vídeo, tente mudar de assunto, perguntando como está no trabalho. Muitos golpistas acabam desligando nessas situações;

    Atenção redobrada em pedidos de dinheiro: ⁠casos que envolvam pedidos de dinheiro, seja por PIX ou outras transferências eletrônicas, redobre a atenção. Nesses casos existe uma chance muito grande de ser um golpe.

    BBC

  • Cliente expulso de padaria em SP por usar notebook é preso em operação da PF contra fraude de criptomoedas

    Cliente expulso de padaria em SP por usar notebook é preso em operação da PF contra fraude de criptomoedas

    Ao todo, oito mandados foram cumpridos em Santa Catarina e no Paraná; procurada, defesa diz “estar comprometida em demonstrar inocência” de empresário acusado

    O cliente que foi expulso de uma padaria em Barueri, na região metropolitana de São Paulo, por usar notebook, foi preso temporariamente nesta terça-feira (27), em Curitiba, após operação da Polícia Federal que mirava suspeitas de fraude em criptomoedas.

    Na ação, apelidada de Operação Fast, que cumpriu dois mandados de prisão e seis mandados de busca e apreensão, nas cidades de Balneário Camboriú, Itajaí, Londrina e Curitiba, a PF teve o objetivo de combater uma quadrilha suspeita de atuar em projetos fradulentos à criação de criptomoedas e NFTs (“Non Fungible Tokens”).

    O empresário Allan Barros foi preso na tarde desta terça-feira (27) em Curitiba. Por telefone, o advogado Leonardo Dechatnik, que faz a defesa de Allan afirmou à CNN que o cliente jamais foi intimidado ou avisado sobre a investigação.

    “Os integrantes do grupo responderão pela prática de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, associação criminosa e lavagem de dinheiro, cujas penas máximas totais previstas podem chegar a 28 anos de reclusão”, diz a nota da PF sobre a operação.

    Ainda por telefone, o advogado que defende Allan declarou que seu cliente “quer provar sua inocência” e que para ele, a operação “foi uma surpresa”.

    Segundo o Leonardo, o mandado de prisão foi cumprido na casa de Allan.

    Vídeo – relembre o caso da padaria

     

    Operação fast

    A Polícia Federal estimou que as vítimas podem chegar a 20 mil no Brasil e no exterior que perderam, ao todo, aproximadamente R$ 100 milhões.

    A ação mirou o grupo sediado desde 2022 em Balneário Camboriú. A PF detalhou que os golpes partiam da mesma premissa: oferta de uma criptomoeda desenvolvida por eles mesmos e que prometia lucros acima do mercado a partir de parcerias com empresas.

    Para dar credibilidade ao negócio e atrair novos clientes, o lançamento da nova moeda foi promovido em uma feira de criptoativos em Dubai.Cliente expulso de padaria de SP por usar notebook é preso em operação contra suspeita de fraude de criptomoedas : r/brasil

    A partir do não cumprimento dos altos lucros, as vítimas denunciaram o caso à Polícia Federal, que através do canal oficial para recebimento e tratamento de informações sobre pirâmides financeiras, começou a investigar o caso.

    Leia a nota na íntegra

    A defesa de Alan Deivid de Barros e da empresa Unimetaverso Gestão de Ativos Digitais e Marketing LTDA., representada pelo Dr. Leonardo Bueno Dechatnik, vem a público esclarecer informações a respeito da Operação Fast, na qual nosso cliente é investigado.

    Desde o início das investigações, temos mantido uma postura colaborativa com as autoridades, buscando esclarecer os fatos da forma mais transparente e eficaz possível. É importante salientar que o processo corre em segredo de justiça, o que nos impede de divulgar detalhes específicos sobre o caso neste momento. No entanto, é do interesse de nosso cliente que a verdade seja plenamente esclarecida.

    Refutamos categoricamente a alegação de que nosso cliente tenha subtraído a quantia de R$ 100.000.000,00 ou que tenha prejudicado entre 5 a 22 mil pessoas. Esses números, mencionados no relatório policial, são baseados em suposições da autoridade policial, sem comprovação efetiva. Até o momento, somente um número ínfimo dessas supostas vítimas efetuou denúncias formalmente, sendo a maior parte destas ex-colaboradores e concorrentes no setor empresarial.

    Nosso cliente e sua empresa nunca foram objeto de processos por parte de investidores. Ademais, no relatório policial, identifica-se o caso de um indivíduo que se passou por vítima, mas que cometeu furtos de ativos virtuais da empresa e admitiu ter hackeado a plataforma. Sua confissão foi devidamente documentada em ata notarial, que foi anexada ao Boletim de Ocorrência e à notícia-crime, apresentada à delegacia de crimes cibernéticos de Curitiba.

    Quanto à alegação de que os recursos subtraídos alcançam a cifra de R$ 100.000.000,00, é questionável a metodologia usada para chegar a tal conclusão, baseada em evidências frágeis como capturas de tela de conversas em aplicativos de mensagens e comentários não verificados.

    Ressaltamos que a decisão de decretar prisão preventiva parece desproporcional, considerando que o caso não envolve violência ou grave ameaça, e que existem medidas cautelares mais adequadas para assegurar o andamento do processo. Alan Deivid de Barros, réu primário, profissional dedicado, não representa risco à sociedade.

    A defesa está atuando de maneira criteriosa no acompanhamento da operação, e medidas judiciais estão sendo adotadas para corrigir o que consideramos ser uma arbitrariedade.

    Estamos comprometidos em demonstrar a inocência de nosso cliente e esclarecer os fatos, sempre respeitando o processo legal e colaborando com as autoridades para a justa resolução deste caso.

    CNN

  • Governo de SP espera propostas de empresas chinesa e brasileira em leilão de trens

    Governo de SP espera propostas de empresas chinesa e brasileira em leilão de trens

    O governo de São Paulo tem grande expectativa da possibilidade de duas empresas enviarem uma proposta competitiva no leilão do trem intercidades hoje, apurou a CNN.

    Uma delas seria a chinesa CRRC, a China Railway Rolling Stock Corporation. Eles entregaram em janeiro o trem mais rápido da América Latina, com capacidade de bater 160 km/h, ferrovia que conecta Santiago e Curicó, no Chile.

    O vice-governador Felicio Ramuth esteve na China em viagem oficial pelo governo do estado para buscar investimentos.

    Também é esperada a proposta de uma empresa brasileira, a Comporte, ligada à GOL, que já opera o VLT da Baixada Santista.

    O leilão começa às 15 horas e deve ser rápido. Estão programados quinze minutos para propostas e deve terminar com a batida de martelo de Tarcísio de Freitas.

    CNN

  • No dia da reunião com Lula, Maduro vai anunciar “acordo nacional” sobre eleições

    No dia da reunião com Lula, Maduro vai anunciar “acordo nacional” sobre eleições

    Com chancela do PT e PCdoB, Foro de São Paulo apoia partido de Maduro e defende pleito

    A Autoridade Eleitoral Venezuelana vai receber nesta sexta-feira (1º) um documento do parlamento do país assinado por dezenas de partidos no qual serão sugeridas 27 datas para o pleito.

    Redigido por um grupo batizado como “Mesa de Diálogo Nacional”, o Acordo Nacional Sobre Princípios Gerais e Garantias Eleitorais será protocolado no mesmo dia da reunião entre o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo relatos feitos à CNN por auxiliares diretos do petista, Lula pretende falar com Maduro sobre a importância de se fixar uma data para as eleições presidenciais na Venezuela ainda em 2024, conforme estabelecido pelo Acordo de Barbados.

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se encontrar com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, à margem da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, que ocorrerá nesta sexta-feira (1º), em São Vicente e Granadinas. O acordo, celebrado em outubro do ano passado, prevê a realização de eleições transparentes e a libertação de oposicionistas presos. Em troca, os Estados Unidos suspenderam parcialmente suas sanções econômicas contra a Venezuela.

    O acordo assinado por diversos partidos venezuelanos ignora a perseguição de Maduro a oposicionistas, prega a defesa da “soberania nacional”, defende a “integridade territorial” do país com a Guiana Essequiba e rechaça o “paralelismo institucional promovido por movimentos antidemocráticos”.

    Apoio brasileiro
    “Há problemas, mas a Venezuela não abandonou o Acordo de Barbados. Eles estão fazendo uma negociação interna. Maduro vai argumentar com Lula que o acordo precisava de uma negociação interna, que foi feita agora”, disse à CNN Ana Prestes, secretária de Relações Internacionais do PCdoB e integrante do Foro de São Paulo.

    A dirigente disse que respeita o processo interno da Venezuela e que o caso de Maria Corina Machado, líder da oposição na Venezuela que teve a candidatura para as eleições presidenciais no país barrada pelo Supremo Tribunal local em 26 de janeiro, é anterior ao acordo. “Esse caso já estava em curso na Justiça. O que existe na Venezuela é uma guerra de informações. Há uma disposição ao diálogo e ao debate”, disse Prestes.

    Segundo o documento obtido pela CNN, a data mais próxima para a eleição é 1° de maio e a mais distante em 8 de dezembro.

    CNN

  • O renomado neurocientista que não acredita no livre arbítrio: ‘Somos a soma do que não podemos controlar’

    O renomado neurocientista que não acredita no livre arbítrio: ‘Somos a soma do que não podemos controlar’

    Em uma sociedade construída para que as pessoas se sintam culpadas por coisas que não podem controlar, acreditar que não existe o livre arbítrio poderia ser libertador.

    É isso que pensa o neurologista americano Robert Sapolsky, professor de Biologia e Neurologia da Universidade de Stanford, nos EUA. Para ele, o livre arbítrio é uma ilusão.

    Considerado um dos cientistas mais venerados da atualidade pela revista New Scientist, Sapolsky passou três décadas estudando babuínos selvagens no Quênia, o que lhe permitiu descobrir interações sociais complexas.

    Suas pesquisas ajudaram a compreender aspectos do comportamento humano e o impacto do estresse na saúde.

    Mas sua posição é minoritária entre pensadores contemporâneos.

    Sapolsky é autor de vários livros, entre eles de Comporte-se: A biologia humana em nosso melhor e pior (Cia das Letras) e de Determined: A Science of Life Without Free Will (Determinado: A ciência da vida sem livre arbítrio, em tradução livre), lançado no final do ano passado nos EUA e ainda sem edição em português.

    No livro mais recente, Sapolsky afirma que “detrás de cada pensamento, ação e experiência há uma cadeia de causas biológicas e ambientais, que se estende desde o momento em que surge o neurônio até o início de nossa espécie e mais além. Em nenhuma parte desta sequência infinita há um lugar onde o livre arbítrio pode desempenhar um papel”.

    Sapolsky conversou com a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, sobre o livro.

    O que é livre arbítrio?

    Segundo o pesquisador, a melhor forma de explicar o livre arbítrio é explicando o que não é livre arbítrio.

    “É onde as pessoas cometem o maior erro. Circunstâncias onde tomamos uma decisão existem todos os dias, por exemplo, onde escolher o que comer. Mas não é disso que falamos quando falamos em livre arbítrio”, explica.

    “Para tomar uma decisão, estamos conscientes, temos uma intenção e agimos em conformidade. Sabemos qual será o resultado provável, sabemos também o que temos ou o que não temos que fazer, temos alternativas e, para a maioria das pessoas, intuitivamente isso seria ter livre arbítrio.”

    “Nos Estados Unidos, todo o sistema jurídico é baseado na ideia de que as pessoas têm escolhas e, conscientemente, poderiam ter tomado outra decisão.”

    Mas, segundo Sapolsky, sua perspectiva vai muito além disso.

    “Como você se tornou o tipo de pessoa que tende a ter esse tipo de intenção ou a tomar certo tipo de decisão? Como isso aconteceu? E aqui é onde o livre arbítrio simplesmente não existe, aí é onde ele evapora.”

    Outra área onde as pessoas tendem “emocionalmente e intuitivamente” a ver o livre arbítrio está em grandes conquistas, diz Sapolsky.

    Por exemplo, quando você olha para alguém que talvez não fosse tão talentoso em determinadas áreas e, ainda assim, com muito trabalho e autodisciplina, se destacou.

    “Quando a pessoa poderia estar curtindo a vida com os outros, ela ficou estudando. E isso é muito inspirador. Talvez ela não tivesse uma ótima memória ou uma grande mente lógica ou analítica, mas teve muita tenacidade.”

    Quando alguém tem muito talento mas os outros consideram que a pessoa “os disperdiçou”, também tendem a pensar em livre arbítrio – a pessoa teria escolhido não agir.

    “Essas são duas áreas onde as pessoas simplesmente decidem que é onde está o livre arbítrio, mas ele não está lá. Não acho que esteja em lugar nenhum.”

    Determinismo

    Sapolsky propõe que quando o nosso cérebro gera um comportamento particular, ele é determinado por algo que aconteceu pouco antes, que por sua vez é determinado por algo que existia antes disso, numa longa cadeia.

    “Para mim, é como se cada momento fosse resultado do que veio antes”, afirma ele, explicando o que é determinismo. “Este é um mundo em que não há nada que aconteça sem explicação, sem um precedente.”

    “O que aconteceu, aconteceu por causa do que aconteceu antes e isso se aplica a todos os mecanismos que nos tornam quem somos.”

    Sapolsky parou de acreditar no livre arbítrio quando era adolescente.

    “Tem sido um imperativo moral para mim ver os humanos sem julgá-los e sem acreditar que alguém merece algo especial. Isso é viver sem odiar e sem acreditar que mereço privilégios”, escreve ele no livro.

    “Se você aceita que não existe livre arbítrio, que somos nada mais nada menos que a soma da biologia e do meio ambiente, se você realmente acredita nisso, a culpa e a punição não fazem sentido, a menos que você os entenda em termos instrumentais”, explica ele à BBC Mundo.

    Por exemplo, diz ele, se pegarmos a aplaysia, um caracol marinho que tem sido objeto de extensos estudos no campo da neurociência, sabemos que se batermos na cabeça dele, isso causará uma reação.

    “Você faz isso para entender o comportamento. Você não bate nele porque acha que ele é mau”, explica.“Da mesma forma, elogios e recompensas não têm sentido em si. Eles podem ser usados ​​instrumentalmente, mas não são virtudes em si.”

    “E se for esse o caso, ninguém tem o direito de ter as suas necessidades consideradas mais importantes do que as necessidades dos outros. E odiar alguém faz tanto sentido quanto odiar o coronavírus.”

    “Algo precisa ser feito sobre o fato de que todos nós fomos criados para aceitar que algumas pessoas são tratadas muito melhor do que outras por coisas sobre as quais elas não tiveram nenhum controle”, afirma.

    “Da mesma forma, alguns são tratados de forma muito pior por coisas sobre as quais não tiveram controle. O maior problema é que tratamos isso com naturalidade na maior parte do tempo.”

    Teias de Aranha

    Na discussão sobre o livre arbítrio, há uma questão que para Sapolsky é fundamental: de onde vêm nossas intenções?

    Não se fazer essa pergunta – diz ele – é como acreditar que tudo o que é preciso para avaliar um filme é ver apenas os últimos três minutos.

    Para me explicar o significado dessa pergunta, ele pega uma caneta e diz que está fazendo esse ato conscientemente, que o ato de segurá-la é “cheio de intenção”.

    “É inconcebível para mim imaginar todas as coisas que levaram a este momento, seria muito difícil fazê-lo”, afirma.

    Além disso, “nossa intenção ao fazer algo parece tão poderosa que não podemos imaginar que não podemos tomar não tomar aquela decisão se não quisermos”.

    Ou em, outras palavras: nosso desejo de fazer algo é tão forte que não passa pela nossa cabeça que não podemos não desejar o que desejamos.

    O pesquisador descreve outro cenário: imagine um homem que assassinou um grupo de pessoas.

    Aos 10 anos, esse indivíduo havia sofrido um acidente de carro que destruiu 75% de seu córtex frontal, área do cérebro importante para a interpretação, expressão e regulação das emoções.

    “Por que essa pessoa se tornou quem é? Um único acontecimento [o acidente] foi como um terremoto” em sua vida, diz ele. “Agora olhe para o resto de nós. Imagine que existem milhões e milhões de teias de aranha invisíveis, pequenos fios, que trouxeram você até este momento e fizeram de você quem você é.”

    O acidente de trânsito no caso do criminoso ou a altura do corpo de um astro do basquete são “causas únicas” e são “muito fáceis de entender”.

    Os problemas surgem – explica o especialista – quando abordamos a “causalidade distribuída”.

    “Quando falamos sobre quem somos, na maioria dos casos são milhões desses pequenos fios invisíveis Juntos, isso é tão determinístico quanto ter seu córtex frontal destruído em um acidente de carro.”

    O argumento científico

    Sapolsky explica que qualquer neurônio (célula do sistema nervoso) funciona como resultado do que os outros milhares de neurônios ao seu redor estão fazendo.

    “Ele poderia ter conexões com até 50 mil outros neurônios, não é uma ilha. O que quer que esteja fazendo se enquadra nesse contexto.”

    Como argumento em defesa de sua tese, ele pede que lhe seja mostrado “um neurônio (ou um cérebro) cuja geração de comportamento é independente da soma de seu passado biológico”.

    O professor nos convida a pensar na nossa adolescência, na nossa infância, em quando estávamos no útero.

    “Os seus neurônios são compostos pelos genes com os quais você começou quando era uma célula.”

    E muito antes disso: “Os seus antepassados ​​eram pastores ou agricultores? Viveram numa floresta tropical ou no deserto? Porque isso será transmitido século após século e o trabalho de cada geração é esculpir o cérebro dos seus filhos para que eles tenham os mesmos valores culturais”.

    O mesmo vale para outros mecanismos de funcionamento do corpo.

    O trifosfato de adenosina (ATP), por exemplo, é uma molécula que as células utilizam para obter energia.

    Se você não dormiu bem na noite passada ou não comeu, certas células apresentarão menos ATP do que o normal.

    “Anos atrás, meu laboratório mostrou que se você estiver sob estresse enquanto dorme, acumulará menos ATP no cérebro do que se não estivesse estressado.”

    Outro exemplo são os hormônios. Se tivermos um nível mais elevado de um determinado hormônio, isso pode influenciar se, por exemplo, nos sentiremos mais irritados ou mais abertos a correr riscos, e também o quão sensível será o nosso cérebro a determinados estímulos externos.

    Sapolsky nos lembra que os hormônios regulam os genes e que, por sua vez, os genes têm muito a ver com a encruzilhada da tomada de decisões.

    Com tudo isso em mente, ele coloca o desafio: “vá e mude todos esses fatores. Se o neurônio fizer exatamente a mesma coisa, isso é livre arbítrio.”

    “Mostre-me que seu cérebro apenas produziu um comportamento independente de tudo isso, e se você fizer isso, estará demonstrando livre arbítrio”, diz ele.

    Para o neurobiólogo, no século 21 temos muito conhecimento científico que tem mostrado o quão importante são os genes, a parte hormonal, o meio ambiente como peças que, juntas, nos tornam quem somos.

    “Não me cabe provar que livre arbítrio não existe. Acho que o ônus da prova recai sobre as pessoas que insistem que existe livre arbítrio”, diz ele. “Mostre-me hormônios que fazem o oposto do que normalmente fazem. Mostre-me que você acabou de mudar sua sequência de DNA. Faça isso e depois vamos falar sobre livre arbítrio.”

    Visão pessimista

    Mas essa não seria uma visão um pouco pessimista? Afinal, qual seria o sentido de nos esforçarmos para tomar as melhores decisões se no final, como ele diz em seu livro, “não somos nem mais nem menos do que a soma do que não podemos controlar”: a nossa biologia, o nosso ambiente e a interação entre os dois.

    Ele diz que é essa visão, na verdade, que é pessimista – mas esclarece que não é a pessoa certa para responder essa pergunta.

    “Porque tive sorte na vida, as coisas correram bem para mim por motivos que não controlo.”

    Ele afirma que muitas pessoas não tiveram a mesma sorte e que a culpa não é delas ou que lhes falta autocontrole. Por exemplo, “se o seu córtex frontal se desenvolveu desta forma e não daquela, não é que você seja preguiçoso”.

    “Para a maioria das pessoas, isso deveria ser uma ótima notícia, porque é toda uma sociedade que foi construída em torno da ideia de que você deveria se sentir muito mal consigo mesmo ou com coisas sobre as quais não tem controle”.

    Na verdade, ele acredita que a ideia de que não somos os donos do nosso destino pode ser uma visão bastante “libertadora e humana”.

    Reações

    Embora ao longo da história tenha havido alguns céticos do livre arbítrio, também há muitos que, dentro e fora da academia, defendem a sua existência.

    O livro de Sapolsky gerou reações distintas.

    Adam Piovarchy, pesquisador da Universidade de Notre Dame, escreveu um artigo no site de notícias científicas The Conversation intitulado: “Professor de Stanford diz que a ciência prova que o livre arbítrio não existe. Veja por que ele está errado.”

    Piovarchy sustenta que Sapolsky comete o erro de assumir que as questões sobre o livre arbítrio “são respondidas simplesmente observando o que a ciência diz”, e ele acrescenta que o livre arbítrio é também uma questão metafísica e moral, algo que os filósofos vêm estudando há muito tempo.

    John Martin Fischer, filósofo e professor da Universidade da Califórnia, especialista em livre arbítrio, também questiona a abordagem do neurocientista.

    “Sapolsky deseja abrir nossos olhos para o que ele considera nossas falsas crenças de que somos livres e moralmente responsáveis, e até mesmo agentes ativos, três aspectos centrais e fundamentais da vida humana e de nossa navegação através dela”, escreveu Fischer em uma resenha publicada pela Universidade de Notre Dame. Segundo ele, o cenário é muito diferente se o problema é abordado pela perspectiva da filosofia. “A ciência, claro, é relevante; mas isso não torna o livre arbítrio uma questão científica.”

    Sapolsky não vê as coisas dessa forma: “de certa forma, só a ciência tem algo a dizer sobre isso”, ele me diz, pois é o que nos ajuda a “entender como você se tornou a pessoa que é agora”.

    Para o escritor Oliver Burkeman, o autor demonstra em sua obra que enfrentar a inexistência do livre arbítrio “não precisa nos condenar à amoralidade ou ao desespero”.

    Em resenha do livro, publicada no The Guardian, Burkeman afirma que quando o cientista aborda como deveríamos viver sem livre arbítrio, sua “visão de mundo humanista vem à tona”.

    “Alguns argumentam que perceber que nos falta liberdade pode nos transformar em monstros morais. Mas ele argumenta de forma comovente que é na verdade uma razão para viver com perdão e compreensão, para ver ‘o absurdo de odiar alguém por qualquer motivo’.”

    Keiran Southern escreveu no The Times que “se as ideias de Sapolsky fossem amplamente aceitas, elas levariam a mudanças sociais profundas, principalmente no sistema de justiça criminal”.

    Talvez Sapolsky queira convencer de que o livre arbítrio não existe, mas se não conseguir, pelo menos convida a pensar que é possível que haja menos livre arbítrio do que se supõe.

    “Já sabemos o suficiente para compreender que o número infinito de pessoas cujas vidas são menos afortunadas que as nossas não merecem ser ignoradas”, escreveu o cientista.

    BBC