Categoria: Saúde

  • O Brasil enfrenta uma epidemia de ‘burnout’?

    O Brasil enfrenta uma epidemia de ‘burnout’?

    A jornada de trabalho que chegava a durar 16 horas por dia, o excesso de responsabilidades e o sentimento de viver em função do emprego foram cruciais para que Juliana Ramos de Castro, de 41 anos, desenvolvesse uma síndrome de burnout. Situação também registrada no Brasil.

    Os primeiros sinais apareceram, em 2020, quando a nutricionista trabalhava como autônoma.

    “Na época, acreditava que o que estava sentido era crise de ansiedade e fui levando o consultório até conseguir um trabalho em uma empresa em meados de 2022”, conta Juliana.

    Quando assumiu um cargo de gerente, com uma jornada de trabalho extenuante, os sintomas, que até então oscilavam, tornaram-se frequentes.

    “Comecei a sentir um cansaço fora do normal, onde mesmo descansando o fim de semana todo, não me recuperava”, diz ela.

    “Ao mesmo tempo, eram constantes as dores no peito, tontura, crises de choro, confusão mental e isolamento social. Não havia um gatilho para acontecer, simplesmente vinha, em qualquer lugar e momento.”

    Ao procurar ajuda médica, Juliana descobriu que o que acreditava ser ansiedade era, na verdade, burnout.

    Essa síndrome ocupacional é causada por um estresse crônico na vida profissional e se caracteriza também, além da exaustão, por um sentimento de negatividade em relação ao trabalho e uma piora do desempenho.

    “Fiquei surpresa, fui afastada pelo médico psiquiatra do trabalho por 60 dias. E quando voltei, resolvi pedir demissão e mudar de área”, conta Juliana, que hoje trabalha como analista de um escritório de advocacia, um ambiente de trabalho que ela considera “mais saudável”.

    Em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout — é o maior número dos últimos dez anos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social.

    O aumento ocorreu, principalmente, durante a pandemia do coronavírus. De 178 afastamentos por burnout, em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um aumento de 136%.

    Em uma década, o número de afastamentos por este motivo cresceu quase 1.000%, como mostra o gráfico abaixo.

    Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, três fatores ajudam a explicar este crescimento de diagnósticos de burnout no país:

    • Maior conhecimento da população sobre transtornos e síndromes relacionados ao trabalho, principalmente, a partir do reconhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) do burnout como uma síndrome ocupacional;
    • Maior nível de cobrança sobre trabalhadores no ambiente organizacional, o que culmina em pressão e estresse, desencadeadores de transtornos e síndromes;
    • E confusão de especialistas na hora de identificar se o paciente tem burnout ou outros transtornos mentais relacionados ao trabalho.

    Hoje, estima-se que 40% das pessoas economicamente ativas sofram de burnout, aponta Alexandrina Meleiro, médica psiquiatra e porta-voz da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).

    “Mas nem todos os casos são identificados”, diz a especialista.

    No Brasil, as únicas estatísticas oficiais disponíveis em relação à síndrome de burnout são contabilizadas pelo Ministério da Previdência Social, que apenas afere os afastamentos do trabalho por mais de 15 dias.

    Os afastamentos por burnout por menos tempo não são contabilizados nas estatísticas oficiais.

    Além disso, segundo Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), atualmente, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) estabelece que o médico é obrigado a provar que há uma relação entre o trabalho e o esgotamento profissional.

    “Assim, pelo CFM, o médico psiquiatra somente pode afirmar que o paciente tem burnout se visitar pessoalmente o local de serviço e fizer nexo causal”, diz Silva.

    Juliana Ramos de Castro
    Trabalhando 16 horas por dia, a nutricionista Juliana Castro teve ‘burnout’

    “Atendimentos apenas em consultórios não podem fazer tal diagnóstico.”

    O que explica o aumento de diagnósticos?

    Bruno Chapadeiro Ribeiro, pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Psicologia, Organizações, Saúde, Trabalho e Educação (Laposte) da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que o Brasil enfrenta atualmente uma epidemia não apenas de burnout, mas também de transtornos mentais relacionados ao trabalho — o INSS contabiliza casos de burnout e de transtornos mentais e comportamentais saparadamente.

    “Nota-se essa maior incidência não só clinicamente, mas também nas pesquisas científicas que fazemos e nas perícias trabalhistas”, afirma Ribeiro.

    “A judicialização sobre a questão, por exemplo, aumentou 72% na pandemia.”

    Dados do Ministério da Previdência Social apontam que, no ano passado, 27 trabalhadores foram afastados por dia devido a transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho.

    Um total de 10.028 auxílios doenças foram concedidos por este motivo.

    Para Ribeiro, o aumento de diagnósticos de burnout e de transtornos mentais relacionados ao trabalho ajuda a explicar um segundo fenômeno que ocorre no Brasil: o do crescimento de pedidos de demissão.

    “Temos atravessado um momento histórico em que mais uma vez as relações e formas de trabalho têm sido questionadas, principalmente, por uma juventude de classe média insatisfeita com as formas com que o trabalho se organiza”, afirma Ribeiro.

    “Nesse sentido, assistimos a fenômenos tais com o quiet quitting ou great resignation — termo utilizado para descrever a onda de demissões voluntárias do pós-pandemia — em que jovens altamente escolarizados pedem demissão de seus trabalhos por não verem mais sentido do trabalho e estarem à beira de um colapso por exaustão.”

    Meleiro avalia que isso ocorre devido a uma maior demanda por performance sobre os trabalhadores, em um curto espaço de tempo.

    “A política econômica globalizada reduz custos com enxugamento de profissionais na empresa, assim, quem fica acaba trabalhando mais”, explica Meleiro.

    “Além disso, com a expansão da informatização, sem o funcionário ter tempo de se atualizar, um duplo estresse emocional e físico é gerado no trabalhador. Isso acaba por gerar um aumento de diagnósticos de transtornos mentais relacionados ao trabalho.”

    Descrito pela primeira vez em 1974, pelo médico psicanalista alemão-americano Herbert Freudenberger, o termo burnout é oriundo de “burn out”, que, em inglês, significa “queimar por completo” ou “esgotamento”.

    Ficou mais conhecido entre os trabalhadores a partir de 2022, quando a síndrome foi incorporada à lista de classificação internacional de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS).

    Entrou na lista como um dos fatores que influenciam o estado de saúde de uma pessoa ou a leva a buscar os serviços de saúde — mas que não são classificados como doenças ou condições de saúde.

    Agora, quem é diagnosticado com burnout tem as mesmas garantias trabalhistas e previdenciárias previstas para doenças do trabalho, como lesão por esforço repetitivo (LER) e transtornos de ansiedade.

    “Assim, o que anteriormente era entendido com um quadro de ansiedade aguda ou crônica relacionado ao trabalho, hoje, muitas vezes com o reconhecimento oficial da OMS, médicos diagnosticam como burnout”, ressalta Meleiro.

    “Isso faz com que tenhamos essa impressão de mais casos.”

    Segundo Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), organização dedicada à pesquisa, prevenção e tratamento do estresse, há um segundo fator: os diagnósticos equivocados de burnout.

    “É muito comum vermos situações em que o burnout é confundido com a depressão no trabalho. Isso faz com que esse aumento de burnout também seja reflexo desse número de diagnósticos equivocados”, afirma Rossi.

    Sintomas e tratamento do ‘burnout’

    Rossi explica que, para ser burnout, primeiro, os sintomas precisam estar relacionados ao trabalho.

    “Dessa forma, um estudante ou gestante que não esteja no mercado de trabalho, por mais que estejam exaustos ou com sintomas similares aos da síndrome, não podem ter burnout, mas, sim, outros transtornos mentais, como a depressão.”

    A especialista explica que, para o burnout ser diagnosticado, o paciente precisa ter ao menos uma das três dimensões que caracterizam a síndrome:

    • Exaustão emocional: um cansaço profissional excessivo. Ocorre quando a pessoa percebe não tem mais a energia que seu trabalho requer.
    • Despersonalização: uma perda de sentimentos em relação a outras pessoas no trabalho, equipe ou clientes. É uma dimensão típica do burnout que o diferencia do estresse.
    • Reduzida realização profissional: sensação de insatisfação que a pessoa passa a ter com ela própria e com a execução de seu trabalho, gerando sentimentos de incompetência e baixa autoestima.

    Elton Kanomata, médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que essas dimensões podem ser identificadas pelo próprio paciente a partir de sintomas físicos, cognitivos e emocionais.

    “Dentre os sintomas físicos, é comum os pacientes com burnout terem fadiga persistente, insônia, tensão e dores musculares, cefaleia, sintomas gastrointestinais e aumento ou perda de apetite”, explica Kanomata.

    Com relação aos problemas cognitivos, o psiquiatra ressalta a dificuldade de concentração e raciocínio, sensação de estafa mental e lapsos de memória.

    “Já na esfera emocional, é comum o paciente ter esgotamento emocional, baixa autoestima com relação às competências e capacidades, sentimento de fracasso, desânimo, desmotivação, impaciência, irritabilidade, diminuição ou perda de interesses antes prazerosas, sintomas ansiosos e fóbicos em relação ao ambiente de trabalho ou a pessoas e elementos que remetam ao trabalho”, diz Kanomata.

    O tratamento da síndrome de burnout é feito com o apoio de profissionais por meio de psicoterapia e medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos).

    Segundo especialistas, os primeiros efeitos são sentidos pelo paciente, entre um e três meses após o início do tratamento.

    “Por isso, o tratamento deve ser individualizado e estruturado após uma avaliação detalhada da saúde física e mental de um profissional da saúde”, diz Elton Kanomata, do Albert Einstein.

    Antônio Geraldo da Silva, da ABP, também ressalta quem tão importante quanto a terapia e o uso de medicamentos, é a mudança no estilo de vida do paciente.

    “Praticar esportes, desenvolver estratégias para gerenciar o estresse, ter uma boa qualidade de sono, realizar atividades de lazer e ter tempo de qualidade com familiares e amigos é muito importante neste processo”, pontua Silva.

    O especialista ressalta que, quando não tratado, o burnout pode levar ao desencadeamento de outros transtornos mentais.

    ‘Muitos achavam que era frescura’

    Além dos sintomas físicos, cognitivos e emocionais, é comum que pessoas com burnout enfrentem durante o tratamento o preconceito contra síndromes e transtornos mentais — a chamada psicofobia.

    A pedagoga Kátia Aparecida Mantovani Corrêa, de 45 anos, diz que, quando sentiu os primeiros sintomas de burnout, foi comum enfrentar comentários de pessoas ao seu redor dizendo que ela queria chamar atenção.

    “Era difícil para muita gente entender que a Kátia proativa, polivalente sempre pronta e disposta para agir em qualquer situação, de repente deu pane. Muitos achavam que era frescura e que eu queria chamar a atenção”, diz a pedagoga.

    O diagnóstico veio em 2023. Acostumada a trabalhar sem parar, no início, ela achou que os sintomas que sentia há cerca de um ano eram devido ao cansaço e estresse diário. Mas, nas férias, percebeu que aquilo não era normal.

    “Lembro que não conseguia desligar meus pensamentos, mesmo de férias. Minha cabeça estava a milhão. Foi quando resolvi procurar ajuda”, conta Kátia.

    Trabalhando desde os 12 anos de idade, ela diz que, em um primeiro momento, não admitiu ter burnout.

    “Levei quase um ano para esse processo de autoconhecimento, aceitação e renovação. Hoje, levo a vida mais tranquila e mais concentrada. Digo que aprendi a importância de dizermos não.”

    Outro problema comum são empresas que lidam negativamente com um diagnóstico de burnout, pontuam especialistas.

    Isso faz com que muitos trabalhadores procurem ajuda especializada tardiamente, quando os sintomas estão mais graves ou desencadeando outros transtornos mentais, como a depressão.

    O gerente de projetos Lucca Zanini, de 26 anos, diz que, quando foi afastado do trabalho pela primeira vez por não estar bem mentalmente, sua preocupação só aumentou.

    “Sabia que a empresa não veria isso com bons olhos e meu maior medo era de ser demitido assim que eu voltasse”, diz Lucca.

    Temor que se confirmou. Ao voltar ao trabalho, ele conta que os colegas passaram a tratá-lo de forma diferente. “Não demorou para eu ser desligado.”

    A demissão fez Lucca procurar ajuda especializada. Hoje, em um novo emprego, ele diz que a vida é outra.

    Atualmente, além dos medicamentos e atividades físicas semanais, Lucca diz que separa um tempo somente para família e outro para o trabalho.

    Lucca Zanini com a esposa
    Lucca Zanini, de 26 anos, se amparou na família após ser demitido do trabalho depois de ser diagnosticado com transtornos mentais e comportamentais

    “Aprendi a falar não. Não aceito mais atividades que excedam minha capacidade de trabalho. Foco em minhas responsabilidades pessoais e dou a devida importância ao que vale a pena.”

    Alexandrina Meleiro, da ANAMT, ressalta que, se for comprovado que a empresa ajudou a desencadear o burnout, pode ser responsabilizada judicialmente.

    “O grande desafio é comprovar isso. Algumas empresas já são penalizadas por causarem burnout no funcionário, principalmente na Europa, mas ainda é muito difícil estabelecer o nexo causal”, ressalta Meleiro.

    No Brasil, em 2022, uma operadora de turismo foi condenada pela Justiça do trabalho a pagar indenização de R$ 20 mil por danos morais a uma profissional que teve burnout.

    De acordo com os autos, a profissional afirmou que se sentia sobrecarregada com o volume excessivo de atividades e pelas cobranças insistentes por parte dos chefes a qualquer momento, o que foi comprovado por meio de mensagens.

    Para Bruno Ribeiro, da UFF, é necessário um maior engajamento das empresas brasileiras para prevenir o burnout.

    “A prevenção envolve mudanças na cultura da organização do trabalho, estabelecimento de restrições à exploração do desempenho individual, diminuição da intensidade de trabalho, diminuição da competitividade e busca de metas coletivas que incluam o bem-estar de cada um.”

    BBC

  • Instituição de caridade da Nova Zelândia pede desculpas após distribuir doces com metanfetamina

    Instituição de caridade da Nova Zelândia pede desculpas após distribuir doces com metanfetamina

    Uma instituição de caridade da Nova Zelândia pediu desculpas nesta quarta-feira (14) por distribuir dezenas de doces com sabor de abacaxi que continham quantidades potencialmente letais de metanfetamina.

    A Auckland City Mission, que doa pacotes de itens essenciais para neozelandeses que não podem comprar comida, disse que tomou conhecimento do problema na tarde de terça-feira, quando alguns destinatários reclamaram dos doces de gosto ruim.

    Três pessoas — uma criança, um adolescente e um trabalhador de caridade — procuraram tratamento médico após provar os doces fervidos, embora nenhuma esteja atualmente no hospital, disse o inspetor-detetive Glenn Baldwin, da polícia de Auckland, aos repórteres.

    Não houve nenhuma sugestão de irregularidade por parte da instituição de caridade, ele acrescentou.

    “Dizer que estamos devastados é pouco”, disse a Missão em um comunicado.

    O doce, que foi doado por um membro desconhecido do público, foi testado pela instituição de caridade New Zealand Drug Foundation, que descobriu que ele continha 3 gramas de metanfetamina potencialmente letal.

    “Uma dose comum para engolir é entre 10-25 mg, então este pirulito contaminado continha até 300 doses”, disse a diretora-executiva da fundação, Sarah Helm.

    A polícia acreditava que os doces eram o subproduto de uma operação internacional de tráfico de drogas e pediu que eles fossem entregues às autoridades. Eles também estão investigando como os doces entraram no país, disse Baldwin.

    CNN

  • Vírus paralisante mata oito pessoas em três locais da Europa

    Vírus paralisante mata oito pessoas em três locais da Europa

    Um vírus que pode causar paralisia já infectou um total de 69 pessoas em oito países da Europa, de janeiro a 31 de julho deste ano. O continente registra ainda oito mortes pelas doença, conhecida como febre do Nilo Ocidental.

    Cinco óbitos ocorreram na Grécia, dois na Itália e um na Espanha, de acordo com dados do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.

    Casos humanos foram relatados na Áustria, Croácia, França, Hungria, Romênia e Sérvia.

    O maior número de casos foi registrado na Grécia, onde foram confirmados 31 casos, seguida da Itália (25) e da Espanha (5).

    Áustria, Hungria e Sérvia relataram dois casos cada, enquanto França e Romênia detectaram um.

    A Croácia relatou seu primeiro caso em agosto.

    Autoridades dizem que o número total de casos relatados em 2024 está dentro da “faixa esperada”, mas os dados sugerem que é maior do que em anos anteriores.

    Em 2023, houve 709 casos relatados em nove países europeus, incluindo 67 mortes.

    Esse número caiu em relação aos 1.116 registrados em 2022, mas mais regiões foram afetadas pela disseminação do vírus em 2023 do que em qualquer outro ano desde 2018.

    O que é o vírus Nilo?

    O vírus do Nilo Ocidental é transmitido por meio da picada de mosquitos infectados, principalmente do gênero Culex (pernilongo).

    Os hospedeiros naturais são algumas espécies de aves silvestres, que atuam como amplificadores do vírus e como fonte de infecção para os mosquitos.

    O vírus também pode infectar humanos, equinos, primatas e outros mamíferos. O homem e os equinos são considerados hospedeiros acidentais e terminais, pois não transmitem o vírus de volta aos mosquitos.

    Embora raro, o vírus pode ser transmitido através de transfusões de sangue, transplantes de órgãos, e, em casos muito raros, de mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação.

    Quais os sintomas da infecção pelo vírus Nilo?

    A maioria das pessoas (cerca de 80%) infectadas pelo vírus do Nilo Ocidental não desenvolve sintomas. Quando os sintomas aparecem, eles podem variar de leves a graves:

    • Forma leve: febre, dor de cabeça, dores no corpo, erupções cutâneas e inchaço dos linfonodos. Esta forma é conhecida como febre do Nilo Ocidental e geralmente se resolve sem tratamento específico.
    • Forma grave: em casos raros (menos de 1%), o vírus pode causar doenças neurológicas graves, como encefalite, meningite, ou paralisia flácida aguda. Os sintomas incluem dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço, confusão, tremores, convulsões e, em casos extremos, coma ou morte.

    CATRACA LIVRE

  • Superbactéria que pode desencadear pandemia está em 16 países

    Superbactéria que pode desencadear pandemia está em 16 países

    Uma superbactéria hipervirulenta, que pode potencialmente desencadear a próxima pandemia, foi detectada em pelo menos 16 países.

    Em um comunicado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou sobre o impacto da bactéria pouco conhecida chamada Klebsiella pneumoniae.

    O patógeno foi identificado no Reino Unido, nos EUA, Argélia, Argentina, Austrália, Canadá, Camboja, China, Índia, Irã, Japão, Omã, Papua Nova Guiné, Filipinas, Suíça e Tailândia.

    Desses países, 12 — incluindo o Reino Unido — relataram uma cepa específica preocupante que se tornou uma superbactéria, resistente a todos os antibióticos usados ​​para tratá-la.

    Créditos: galactarte/DepositPhotos

    Potencial de causar a próxima pandemia

    Esses casos ocorrem enquanto um relatório separado dos chefes da OMS nomeou a Klebsiella pneumoniae como um patógeno de “alto risco” que pode desencadear a próxima pandemia.

    As cepas de Klebsiella pneumoniae são consideradas hipervirulentas em comparação com as cepas clássicas. Isso porque, segundo a OMS, ela tem uma capacidade maior de deixar pessoas saudáveis ​​gravemente doentes, não apenas grupos como idosos ou indivíduos imunocomprometidos.

    Ainda segundo o relatório da OMS, além de ser resistente a medicamentos de última linha, esse patógeno tem o poder de gerar surtos e infectar mais pessoas, o que traz ainda mais preocupação.

    O que é a Klebsiella pneumoniae?

    A Klebsiella pneumoniae é uma bactéria Gram-negativa que faz parte da flora normal do trato gastrointestinal humano.

    No entanto, quando fora de controle ou em outras partes do corpo, pode se tornar patogênica, causando infecções graves.

    Esta bactéria é uma das principais causadoras de infecções adquiridas em ambientes hospitalares, e está associada a uma variedade de doenças, como pneumonia, infecções do trato urinário, septicemia, e infecções de feridas.

    Catraca Livre

  • Análise de DNA ajuda a explicar fim dos neandertais

    Análise de DNA ajuda a explicar fim dos neandertais

    A descoberta em 2010 de que os primeiros humanos e os neandertais procriaram entre si foi uma bomba científica — a revelação de um legado genético que, desde então, desempenha um grande papel na vida das pessoas modernas, influenciando os ritmos biológicos, a função do sistema imunológico e até a maneira como algumas pessoas sentem dor. Cientistas, no entanto, descobriram que é surpreendentemente difícil juntar as peças do fluxo genético na direção oposta: como a mistura entre os dois grupos pode ter influenciado os neandertais, que foram extintos há cerca de 40.000 anos.

    Com a ajuda de novas técnicas, um novo estudo está jogando luz sobre essa questão. A análise, publicada em 12 de julho na revista Science, mostrou que os dois grupos trocaram DNA em vários pontos ao longo dos últimos 250.000 anos, esclarecendo como os neandertais desapareceram e potencialmente reescrevendo a história de como e quando nossos ancestrais Homo sapiens deixaram a África. “Até o momento, a maioria dos dados genéticos sugere que os humanos modernos evoluíram na África há 250.000 anos, permaneceram lá pelos 200.000 anos seguintes e então decidiram se dispersar para fora da África há 50.000 anos e se estabeleceram no resto do mundo”, disse Joshua Akey, professor do Instituto Lewis-Sigler da Universidade de Princeton e autor sênior do estudo. “Mas a genética é essencialmente cega a qualquer coisa que não deixe ancestralidade para as populações atuais. O que eu acho meio legal sobre esse [artigo] é que ele fornece percepções genéticas sobre essas dispersões para fora da África que antes não conseguíamos ver”, disse Akey. As descobertas sugerem que a história humana primitiva era complexa, e os humanos modernos provavelmente cruzaram com os neandertais — e com outros tipos de humanos arcaicos, incluindo os enigmáticos denisovanos — com muito mais frequência do que se sabia anteriormente desde o nosso surgimento como espécie, há cerca de 250.000 a 300.000 anos.

    Vários episódios de acasalamento

    Ao comparar sequências de DNA em bancos de dados, os cientistas podem reconstruir relacionamentos entre diferentes populações ou espécies e, como as mudanças genéticas ocorrem em uma taxa constante ao longo de uma geração, os geneticistas podem calcular o tempo decorrido entre o momento em que dois grupos trocaram DNA — como o tic-tac de um relógio molecular. O estudo descobriu que os humanos deixaram a África, encontraram e cruzaram com os neandertais em três ondas: uma há cerca de 200.000 a 250.000 anos, não muito depois dos primeiros fósseis de Homo sapiens aparecerem na África; outra há 100.000 anos; e a última há cerca de 50.000 ou 60.000 anos. O episódio mais recente é amplamente reconhecido e foi identificado pela primeira vez em 2010, quando o primeiro genoma neandertal foi sequenciado pelo geneticista ganhador do Prêmio Nobel Svante Pääbo. No entanto, a nova pesquisa mostrou que as duas primeiras ondas diferiram significativamente da terceira — uma migração arrebatadora que, por fim, levou os humanos modernos a residirem em todos os cantos do globo.

    Os cientistas descobriram que a porcentagem de DNA do Homo sapiens no genoma neandertal pode ter chegado a representar 10% há mais de 200.000 anos e foi diminuindo ao longo do tempo; em média, foi de 2,5% a 3,7%. Um estudo semelhante publicado no ano passado identificou traços genéticos de um encontro entre os dois grupos há cerca de 250.000 anos, mas a contribuição do DNA do Homo sapiens para os neandertais há cerca de 100.000 anos é uma descoberta nova, disse Laurits Skov, geneticista e pesquisador de pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Berkeley, que não estava envolvido no estudo. “O que parece certo, porém, é que a história humana e a dos neandertais estão muito mais interligadas do que pensávamos anteriormente”, disse ele por e-mail.

    Detetive genético Durante as duas ondas anteriores de cruzamento, a população neandertal absorveu genes humanos e os descendentes permaneceram dentro dos grupos neandertais, de acordo com o novo estudo. Esses primeiros episódios de acasalamento, resultado de pequenos grupos de Homo sapiens pioneiros migrando — mas não estabelecendo uma base sólida — para fora da África, deixaram poucos registros na genética das populações humanas modernas, mas tiveram um grande impacto no genoma neandertal, explicou Akey. “Acho que a explicação mais simples é que isso reflete mudanças no tamanho da população ao longo do tempo”, acrescentou.

    “No início, os humanos modernos (iniciais) estavam saindo da África, e as populações de neandertais eram grandes o suficiente para que eles pudessem essencialmente absorver essas dispersões iniciais de humanos e seus genes dentro da população de neandertais”, explicou Akey. No entanto, quando o Homo sapiens deixou a África há cerca de 60.000 anos em uma migração duradoura ao redor do mundo, os descendentes resultantes dos encontros entre Homo sapiens e neandertais cresceram dentro das populações humanas modernas e sua assinatura genética permaneceu nos genes humanos, influenciando nossas vidas até hoje, ele acrescentou.

    No estudo, a equipe usou técnicas de aprendizado de máquina para decodificar e sequenciar genomas dos restos mortais de três neandertais, que datavam de 50.000 a 80.000 anos atrás e foram encontrados em três locais diferentes: Vindija, Croácia, e nas cavernas Denisova e Chagyrskaya nas Montanhas Altai.

    Os pesquisadores então compararam esses dados com os genomas de 2.000 humanos atuais. “Desenvolvemos uma estrutura para determinar se ocorreu o fluxo gênico de humanos para neandertais, estimar quanta sequência humana moderna há nos genomas neandertais e identificar os lugares específicos no genoma neandertal que carregam… sequências humanas modernas”, disse Akey. Mistério do desaparecimento dos neandertais Há um punhado de fósseis de Homo sapiens que podem refletir as primeiras e menos bem-sucedidas jornadas da espécie da África para o Oriente Médio e Europa, disse Chris Stringer, líder de pesquisa em evolução humana no Museu de História Natural de Londres, que não estava envolvido no estudo. Essas relíquias incluem um fóssil de Homo sapiens encontrado na Caverna Apidima, no sul da Grécia, datado de 210.000 anos atrás, e restos encontrados nos sítios israelenses de Skhūl e Qafzeh.

    Os fósseis de Homo sapiens encontrados em Israel tinham “traços primitivos”, como sobrancelhas maiores, crânios mais achatados e queixos variáveis. “Eu interpretei essas características como retidas de ancestrais não-neandertais mais primitivos, mas elas poderiam ser sinais de fluxo genético de neandertais, e talvez tais características devam ser analisadas novamente agora, à luz deste novo trabalho”, disse Stringer. A dinâmica populacional identificada nesta pesquisa pode ser uma das principais razões pelas quais os neandertais desapareceram há 40.000 anos, observou Akey.

    A análise dos pesquisadores sugere que o tamanho da população neandertal na época era 20% menor do que se pensava anteriormente. “As populações humanas eram maiores e, como ondas quebrando na praia, acabaram erodindo os neandertais”, com a genética neandertal provavelmente absorvida pela população humana na última onda de cruzamento, disse Akey. “A extinção é complicada, então acho que hesitaria em dizer que essa é a única explicação… mas acho que a absorção de neandertais em populações humanas provavelmente explica uma parcela significativa do motivo pelo qual os neandertais desapareceram”, acrescentou. Stringer disse concordar que a última fase do cruzamento pode ter contribuído para a extinção dos neandertais, com a população neandertal se tornando ainda menor e menos diversa à medida que o DNA neandertal passou a fazer parte do pool genético humano.

    “Acho que esse é um ponto importante”, disse Stringer. “Fatorar o aumento da diversidade genética neandertal a partir do cruzamento com sapiens também reduz significativamente seu tamanho populacional efetivo, adicionando mais evidências de que os últimos neandertais podem já ter sido uma espécie ameaçada, mesmo sem a competição de uma população de Homo sapiens em expansão.”

    CNN

  • Saúde investiga surto de diarreia aguda em 12 cidades goianas

    Saúde investiga surto de diarreia aguda em 12 cidades goianas

    Desde a semana passada o número de casos de doença diarreica aguda têm aumentado significativamente no município de Campos Belos, interior de Goiás.  Após o possível surto da bactéria, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) juntamente com a Saneago, a Semad e prefeituras estão conduzindo investigações e implementando medidas para combater esses surtos de diarréia em 12 localidades.

    Foram recolhidas amostras de água de diferentes locais e encaminhadas para avaliação. Até agora, um total de 2.363 casos foram registrados nas cidades. Conforme o acompanhamento de doenças intestinais, prevê-se um aumento de ocorrências nos meses de agosto e setembro. O município mais afetado é Campos Belos, que contabiliza 1.130 casos de junho a agosto.

    A Secretaria de Saúde organizou grupos para examinar prováveis responsáveis pela enfermidade, vigiar a situação e aplicar ações de contenção. Os surtos começaram no mês de junho deste ano, atingindo inicialmente as localidades de Campos Belos, Cavalcante e Monte Alegre. Atualmente, 12 municípios estão enfrentando surtos ativos, incluindo Minaçu, São Miguel do Araguaia, Nova Crixás, Aruanã, Britânia, Diorama, Palmeiras de Goiás, Cachoeira Alta e Goiatuba, além dos três primeiros.

    Para chegar a detecção da presença da bactéria Escherichia coli em amostras de água indica a possibilidade de ela ser uma das responsáveis pela ocorrência dos surtos. Contudo, outras causas, como a infecção pelo rotavírus, também estão sendo investigadas. A identificação da Escherichia coli alerta para a inadequação da água para o consumo humano.

    Além de selar os poços clandestinos localizados em propriedades privadas, os donos foram formalmente comunicados para regularizarem a situação. Apenas em Campos Belos, cinco poços foram desativados. As equipes também estão à procura de outras fontes de água, como rios nas proximidades, bem como as possíveis fontes de contaminação desses poços, como depósitos de lixo e indústrias que fazem uso de substâncias químicas. Outra possibilidade em análise é a contaminação nos recipientes onde a água é armazenada. O controle da Doença Diarreica através do monitoramento dos casos prossegue.

    Os resultados das investigações ainda estão sendo analisados, mas os primeiros dados indicam que a contaminação da água pode ter sido uma das causas principais responsáveis pelo surto em Campos Belos. A SES continua trabalhando em parceria com os municípios para controlar a situação e evitar a ocorrência de novos casos, assim como mantém a investigação de outras possíveis causas, por meio da coleta de fezes de pacientes doentes para identificação de bactérias e vírus.

    Para prevenir a DDA, é fundamental adotar algumas medidas simples, como:  Lavar as mãos com frequência, principalmente antes das refeições e após usar o banheiro; Consumir água tratada e alimentos bem cozidos; Manter os alimentos em locais adequados e protegidos de insetos; Buscar atendimento médico em caso de sintomas como diarreia, vômitos, febre e dor abdominal.

    A DDA é uma doença que pode ser prevenida e controlada com medidas simples de higiene e saneamento básico. A colaboração entre a população e as autoridades de saúde é fundamental para garantir a saúde de todos.

    Diante da gravidade da situação, a saúde de Goiás adotou diversas medidas para conter o surto, incluindo o monitoramento constante dos casos de DDA em todo o estado, com o objetivo de identificar novos focos e avaliar a eficácia das medidas adotadas. (Especial para O Hoje)

     

     

  • Médico que defendeu cloroquina é eleito representante do CFM em SP

    Médico que defendeu cloroquina é eleito representante do CFM em SP

    O médico Francisco Cardoso, que ficou conhecido por defender o tratamento com cloroquina para Covid-19 durante a pandemia, foi eleito como novo representante do Conselho Federal de Medicina (CFM) em São Paulo para os próximos cinco anos. As eleições foram realizadas em todo Brasil na terça (6) e quarta-feira (7).

    Pouco mais de 424 mil médicos votaram remotamente para um conselheiro federal efetivo e outro suplente. Em São Paulo, mais de 126 mil profissionais votaram. O suplente de Francisco Cardoso é Krikor Boyaciyan Veja como ficou a votação no estado: Força Médica (chapa 2) – 37,98% Consciência CFM (Chapa 3) – 34,13% Juntos por uma Categoria Médica Mais Forte (Chapa 1) – 15,25% Experiência e Inovação (Chapa 4) – 12,64% Defesa da cloroquina Em depoimento à CPI da Pandemia em junho de 2021, Cardoso afirmou que, quando surgiram os primeiros estudos sobre fármacos para o tratamento da Covid-19, a cloroquina e a hidroxicloroquina apresentaram melhor desempenho. “Em medicina, a prática de utilizar fármacos homologados em tratamento para outras doenças se chama uso ‘off-label’, ou seja, fora da bula oficial.

    Em alguns casos, o uso ‘off-label’ se torna tão benéfico que acaba sendo incorporado depois pelas agências”, disse. Em março do mesmo ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que a hidroxicloroquina não funciona no tratamento contra a Covid-19 e alertou ainda que seu uso pode causar efeitos adversos. Depois da vitória no CFM, Cardoso escreveu, em suas redes sociais, que foi uma eleição disputada e que sofreu “ataques vis de pessoas sem caráter ou honra”. “São Paulo elegeu um médico a favor da vida, da ciência, da autonomia, da ética e do respeito”, completou.

    A chapa eleita vai representar o órgão até setembro de 2029. Nesta quinta-feira (8), Cardoso compartilhou em uma rede social um print de uma crítica feita por um opositor à sua vitória na eleição e escreveu: “Se esquerdopata não gostou, é porque estamos no caminho certo.” Polêmica na eleição Durante a campanha, médicos relataram ter recebido uma mensagem, via SMS, instigando o voto na Chapa 2 por ser a “única chapa anti-(L 13)”, conforme escrito no texto. O SMS teria sido enviado no último dia 22 de julho, cerca de duas semanas antes do início das votações.

    A infectologista Luana Araújo denunciou o recebimento nas redes sociais. “Em SP, aparentemente, tem gente que quer que você, médico(a) paulista, fique preso(a) para sempre nessa cretinice criminosa de polarização partidária. Para esse pessoal, vale tudo – inclusive agir contra a ética e a lei geral de proteção de dados”, relatou. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por LUANA (@drluanaaraujo) A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) do CFM informou que esteve à frente de todo o processo eleitoral e que o pleito foi marcado por tranquilidade, eficiência e segurança.

    CNN

  • ‘Doping corporativo’: a venda ilegal de remédio para TDAH que invadiu a Faria Lima

    ‘Doping corporativo’: a venda ilegal de remédio para TDAH que invadiu a Faria Lima

    São inúmeras as consequências do “doping corporativo” na prescrição de remédios. Marta lutava contra o cansaço no dia a dia. Sem foco para enfrentar atividades do trabalho, numa grande empresa em São Paulo, e ganhando peso, ela achou uma boa ideia quando recomendaram um endocrinologista famoso que poderia ajudá-la.

    “A consulta custou R$1.200 e durou apenas 5 minutos. Eu e meu marido saímos com a mesma receita: Ozempic para emagrecer e Venvanse para ter foco — uma combinação que ele aparentemente prescreve para todos.”

    Ela conta que tentou argumentar se aquele caminho, medicamentoso, seria o único possível para resolver suas queixas. Mas acabou seguindo a receita.

    “A experiência com o Venvanse foi a mais impactante. De amor e ódio, eu diria. No primeiro dia, senti um hiperfoco e bem-estar incríveis, fui mais produtiva e motivada, mas sabia que isso era efeito do remédio.”

    Os comprimidos, prescritos para TDAH e compulsão alimentar, aumentam a liberação dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina nas sinapses, que são as conexões entre os neurônios.

    Essas substâncias, deficientes em quem tem os quadros citados, são cruciais para a regulação do humor, atenção e comportamento impulsivo.

    “Mas em organismos onde os níveis já são adequados, o aumento pode causar efeitos indesejáveis, como insônia, ansiedade, irritabilidade, impaciência e até agressividade. Casos mais graves incluem convulsões e problemas cardiovasculares”, diz Marcos Gebara, psiquiatra e professor convidado do curso de Pós-Graduação de Psiquiatria da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

    “Em pessoas predispostas a problemas psíquicos, esses efeitos podem piorar significativamente.”

    Gebara e outros médicos consultados pela reportagem afirmam que o uso dos comprimidos por pessoas sem diagnósticos que o justifique tem sido cada vez mais comum, e que muitos usuários não sabem ou ignoram que o Venvanse contém anfetamina, uma substância que pode causar dependência.

    “O uso requer um acompanhamento médico, sempre. A dependência é um risco, especialmente se a pessoa aumentar as doses sem indicação.”

    Com medo justamente de que pudesse ficar dependente da ‘sensação de superpoder’, Marta expressou suas preocupações, mas o médico insistiu que o uso era seguro.

    “Foi aí que busquei outro profissional, que me ajudou a parar com o remédio, entendendo minha preocupação com os efeitos a longo prazo. Foi difícil aceitar a vida sem Venvanse. Me senti deprimida por algumas semanas.”

    Amanda também teve acesso ao remédio por prescrição médica e sem ter nenhum dos diagnósticos para os quais a droga é indicada.

    Foi ela que, se sentindo esgotada e incapaz de dar conta dos dois empregos que levava, pediu a uma nutróloga que receitasse Venvanse. Ela conta que a médica pediu exames, e com os resultados em dia, forneceu a receita.

    “Eu usava os comprimidos esporadicamente, apenas nos dias em que precisava de um desempenho melhor no trabalho. Percebi que me dava um foco e energia extras, mas no dia seguinte estava extremamente cansada e precisava dormir mais para compensar.”

    Depois que as últimas caixas acabaram, Amanda cogitou pular a fase da consulta médica e comprar os comprimidos direto no mercado ilegal.

    “Tinha colegas que me indicaram os caminhos: por grupos nas redes sociais e até com esquemas diretamente com farmácias de rua”, conta.

    Mas por fim, assim como Marta, ela também relata ter parado de usar o remédio por medo de uma dependência da qual não conseguisse mais voltar atrás.

    ‘Doping corporativo’pessoa colocando pílula na boca

    Ambas as mulheres têm mais de 30 anos e trabalham em grandes empresas – do ramo de tecnologia e comércio – em São Paulo. Elas relataram que o uso de Venvanse ‘off label’ – com e sem receita médica – é algo comum no ambiente corporativo.

    “É mais banalizado do que eu imaginava, e o uso desses remédios cria uma competição desleal, já que levam a um desempenho melhor.”

    “Trabalho em uma empresa com cultura americana, onde a competição é intensa, e sei que sou comparada a colegas que usam esses medicamentos. Isso aumenta a pressão para ter alta performance, um dos pontos que me levou a tomar”, diz Marta.

    Os psiquiatras ouvidos pela BBC News Brasil reiteram que há uma ‘onda’ de busca por maior produtividade no trabalho, e o medicamento tem sido usado sem rigor.

    Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra e professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), explica que, embora quem tome sem ter TDAH ou compulsão alimentar possa ter uma sensação de melhora na produtividade, o efeito é ilusório.

    “A sensação de estar mais alerta e produtiva é subjetiva – a pessoa não fica mais inteligente nem necessariamente produz mais. Testes cognitivos mostram que o desempenho de uma pessoa sem transtorno de atenção não é superior com o uso do Venvanse.”

    Ana, também empregada em uma grande empresa de tecnologia, acabou desistindo da ideia, mas conta que considerou tomar Venvanse ao observar o desempenho dos colegas.

    “Eu digo que era um doping corporativo. Eu via a diferença nas pessoas que conhecia; quem usava realmente parecia mais focado no trabalho. Não falavam abertamente porque não era muito bem visto, mas depois de um tempo a conversa fluía, e eu percebi que eram muitas pessoas usando”, lembra.

    Para o psiquiatra Dartiu Xavier de Silveira, esse uso de Venvanse por quem não precisa realmente do remédio reflete a procura desenfreada por performance na sociedade atual.

    “Há uma pressão constante para se destacar e ser bem-sucedido, e pressão, muitas vezes, leva as pessoas a colocar a produtividade à frente da saúde, o que considero um reflexo de um ideal de sucesso muito doentio”, avalia.

    E as queixas de quem faz o uso indiscriminado podem não ser resolvidas com o remédio para TDAH ou até pioradas por ele.

    “Muitos dos pacientes que usam dizem usar porque estão desanimados e querem melhorar a performance”, complementa Silvia Brasiliano, psicóloga e coordenadora do Programa da Mulher Dependente Química (PROMUD) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

    “Eu sempre os encaminho a um psiquiatra para avaliar se realmente precisam do medicamento. Venvanse não é para qualquer um, não é um remédio que melhora a performance de qualquer pessoa sem efeitos colaterais. Pode causar ansiedade e dificuldade para dormir, por exemplo.”

    Brasiliano afirma que o uso tem se tornado cada vez mais comum. “Busco explicar que essa droga pode causar dependência e deve ser usada especificamente para transtorno de atenção. Se alguém está desmotivado, pode ser um quadro de depressão, burnout… Para cada situação, é necessário um tratamento diferente.”

    A psicóloga afirma, ainda, que há pouca informação na literatura científica sobre o abuso de Venvanse. “Há alguns alertas e estudos americanos, mas faltam dados sobre o contexto brasileiro.”

    Outro uso indevido que tem se tornado cada vez mais comum, de acordo com os médicos, é o recreativo. Por ser um estimulante, há quem compre o Venvanse para usar em festas.

    “Venvanse com álcool ou outras drogas estimulantes, como cocaína ou MDMA, é uma combinação muito perigosa. Os riscos incluem problemas cardíacos, pressão alta, derrame e quadros psicóticos”, alerta Silveira, que é um dos fundadores do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD).

    A reportagem da BBC News Brasil encontrou grupos no Telegram onde caixas do remédio são vendidas por mais do que o dobro do preço legal e onde até prescrições médicas falsas são oferecidas.

    Como funciona a venda ilegal de Venvanse

    conversa de chat do telegram que mostra vendedores ofertando remédios controlados
    Remédios controlados são oferecidos sem receita por diferentes vendedores via Telegram

    Em farmácias, com uma receita legal, o Venvanse já tem um preço considerado alto em comparação a outros remédios psiquiátricos.

    De acordo com as regras da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que limita o preço máximo de medicações no Brasil, uma caixa de 28 comprimidos de 30mg de Venvanse deve custar, na maioria dos estados brasileiros, no máximo R$ 365,38.

    Para as versões de 50mg e 70mg, o valor pode chegar a R$443,07.

    Em um grupo de Telegram onde se vendem, ilegalmente, caixas de Venvanse e outras substâncias controladas, como diferentes remédios psiquiátricos e até drogas anabolizantes, o remédio chega a custar R$850 na dosagem mais alta.

    A BBC News Brasil perguntou ao Telegram se a plataforma estava ciente e se tomariam medidas para tentar evitar o comércio ilegal, mas não recebeu retorno até o momento da publicação desta reportagem.

    Os atendentes do canal também oferecem ajuda para falsificar receitas amarelas, o tipo exigido em farmácias para o Venvanse.

    A falsificação de receita médica é crime previsto no art. 298 do Código Penal com pena de um a cinco anos e multa. Nesses casos, o risco todo fica a cargo de quem vai tentar usar o documento falso na farmácia.

    Receitas falsas usadas para comprar medicamentos ilegalmente são vendidas via Telegram
    Receitas falsas usadas para comprar medicamentos ilegalmente são vendidas via Telegram

    Para ter acesso ao receituário amarelo, os profissionais – sejam eles médicos, veterinários ou cirurgiões-dentistas – devem se cadastrar previamente na Autoridade Sanitária local.

    Após o cadastro, o órgão de vigilância fornece ao prescritor um talonário com uma quantidade específica e numeração dos receituários. Estes profissionais precisam estar devidamente inscritos nos seus respectivos Conselhos profissionais.

    gráfico

    A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou à reportagem que há 15 dossiês investigativos relacionados ao comércio ilegal, em sites sem a devida autorização e sem receita médica, do Venvanse.

    A agência reitera que todos os seus canais de atendimento podem ser usados para denúncias de venda ilegal.

    A única responsável pela produção de Venvanse atualmente, a farmacêutica Takeda, afirmou à reportagem que “firmemente rechaça qualquer iniciativa que estimule o uso de medicamentos sem prescrição médica. Por isso, os medicamentos da Takeda são vendidos exclusivamente nos canais devidamente autorizados.”

    Venvanse para quem precisa de Venvanse

    O Venvanse passou a ser comercializado no Brasil em 2010, a princípio recomendado apenas para quem tem diagnóstico de TDAH, um dos distúrbios mentais mais comuns, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).

    O transtorno afeta de 5 a 8% das crianças, principalmente meninos, e frequentemente persiste na vida adulta.

    As causas exatas ainda não são totalmente compreendidas, mas alguns fatores que podem desempenhar um papel incluem: genética, já que o TDAH pode ser hereditário; experiências traumáticas significativas na infância; nascimento prematuro; lesão cerebral; além de a mãe fumar, consumir álcool ou sofrer de estresse extremo durante a gravidez, ou ser exposta ao chumbo durante a gestação.

    O diagnóstico é principalmente clínico.

    “É baseado em sintomas principalmente do período da infância, atentando para déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade e considerando o contexto familiar de cada um”, afirma o psiquiatra Luiz Sperry, de São Paulo.

    Além do Venvanse, a Ritalina é outro remédio bastante comum para o transtorno.

    “Ambos aumentam a dopamina na região frontal do cérebro. Algumas pessoas se adaptam melhor a um do que a outro. A principal diferença é que o tempo de duração do efeito da ritalina é curto, cerca de 4 horas, enquanto o Venvanse dura de 8 a 12 horas”, afirma Dartiu Xavier da Silveira.

    Dez anos depois, em 2021, o Venvanse também passou a ser indicado para compulsão alimentar, um quadro caracterizado por episódios de ingestão excessiva de alimentos em pouco tempo, acompanhados por sensação de perda de controle e seguidos por sentimentos de culpa e vergonha.

    “Para esses casos, o remédio também pode ajudar porque é a anfetamina presente no comprimido reduz o apetite. Dá a sensação de saciedade, como se a pessoa tivesse comido há pouco tempo”, diz Sperry.

    A droga não substitui, no entanto, outros tipos de tratamentos que podem ser recomendados para o quadro, como acompanhamento com psicólogo e psiquiatra.

    Quebra de patente

    Atualmente, a farmacêutica Takeda detém a patente do Venvanse, o que impede a produção de versões genéricas (com a mesma formulação, mas sem a marca) por outras empresas.

    A quebra da patente estava prevista para 2024, mas a Takeda pediu uma extensão, alegando que a Anvisa demorou mais do que o previsto para conceder a patente no passado. A decisão está em processo judicial.

    Com o vencimento da patente, espera-se maior disponibilidade do tratamento para quem precisa – mas, com o preço mais baixo, também é possível que o uso indiscriminado aumente, segundo especialistas.

    BBC

  • HDT orienta sobre pneumonia silenciosa

    HDT orienta sobre pneumonia silenciosa

    A pneumonia silenciosa, também conhecida como pneumonia assintomática ou subclínica, pode ser particularmente perigosa porque não apresenta os sintomas típicos da pneumonia, como febre alta, tosse intensa e dor no peito.

    Tradicionalmente, a pneumonia mais prevalente era causada pelo pneumococo, uma bactéria comum. No entanto, em algumas regiões brasileiras, tem-se observado um aumento na incidência de pneumonias causadas por bactérias atípicas, como a Mycoplasma pneumoniae.

    O Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), uma unidade do Governo de Goiás gerida pelo Instituto Sócrates Guanaes (ISG) em Goiânia, presta atendimento a pacientes encaminhados via Regulação, incluindo aqueles com doenças tropicais e respiratórias graves.

    De janeiro a junho de 2024, foram atendidos 42 pacientes com diagnóstico de pneumonia bacteriana e outras pneumonias. No mesmo período do ano passado, o número foi de 58. Ao longo de todo o ano de 2023, foram registrados 111 casos.

    De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), no período de janeiro a julho deste ano foram registradas 9.526 internações por pneumonia nas unidades da rede estadual, sendo:

    • 731 internações em janeiro,
    • 996 em fevereiro,
    • 1.433 em março,
    • 1.784 em abril,
    • 1.802 em maio,
    • 1.474 em junho
    • e 1.306 em julho.

    O tempo seco e a amplitude térmica são fatores que favorecem o aumento dessas doenças. Para se prevenir, a infectologista do HDT, Marina Roriz, destaca a importância das vacinas disponíveis para algumas bactérias específicas que causam pneumonia.

    “Além disso, manter uma boa saúde geral, com alimentação adequada, sono suficiente e exercícios moderados, ajuda a proteger contra a pneumonia”, pontua.

    Orientações

    Segundo a infectologista, a pneumonia silenciosa geralmente apresenta sintomas menos intensos e pode durar mais tempo. O paciente pode ter uma tosse persistente que não melhora com antibióticos e a condição pode não ser identificada imediatamente.

    Outros sintomas observados incluem febre, falta de ar, indisposição e falta de apetite. Em crianças, é importante observar a diminuição da diurese (menos urina) e sinais de prostração, sonolência ou confusão. Em idosos, os sintomas podem ser menos evidentes e mais difíceis de identificar.

    É importante destacar que a enfermidade pode afetar qualquer pessoa. Os principais grupos de risco são idosos, crianças, pessoas com doenças pulmonares pré-existentes, e aqueles com imunossupressão, como pacientes com HIV, em tratamento de quimioterapia ou em uso de medicamentos imunossupressores.

    O diagnóstico da pneumonia silenciosa pode ser feito de forma simples com o painel molecular, que examina o muco ou o catarro do paciente. Também é possível usar exames de cultura para identificar as bactérias envolvidas.

    “Os exames de painel molecular, que procuram o DNA da bactéria, são geralmente rápidos. As culturas podem levar mais tempo, mas o painel molecular é bem ágil,” explica Roriz.

    O tratamento de suporte, como oxigênio e cuidados gerais, é semelhante em diferentes formas de pneumonia. No entanto, o tipo de antibiótico pode variar.

    “O tratamento pode exigir antibióticos específicos para essas bactérias atípicas”, pontua a médica.

    A infectologista destaca a importância de procurar ajuda médica sempre que houver sintomas persistentes, especialmente se o quadro não melhorar com o tratamento. Ela recomenda buscar atendimento médico se a febre durar mais de 48 horas ou se, após cinco dias de tratamento, não houver melhora.

    Secretaria da Saúde – Governo de Goiás

  • Surto de mpox na África: OMS avalia declarar nova emergência

    Surto de mpox na África: OMS avalia declarar nova emergência

    O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que considera convocar o comitê de emergência da entidade para avaliar o cenário de surto de mpox na África. Ele deu declarações neste domingo (4).

    – À medida em que uma variante mais mortal da mpox se espalha por diversos países africanos, a OMS, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África, governos locais e parceiros intensificam suas respostas para interromper a transmissão da doença – escreveu Tedros Adhanom em seu perfil na rede social X.

    PlenoNews