Vários grupos de ultradireita ativos na França foram dissolvidos na quarta-feira (26) pelo Conselho de Ministros, a pedido do governo francês, poucos dias antes do primeiro turno das eleições legislativas. Uma associação islâmica, “Jonas Paris”, também foi extinta.
“Acabamos de dissolver associações de ultradireita, incluindo o GUD, e islâmicas radicais”, escreveu o ministro do Interior, Gérald Darmanin, no X. “O ódio dos extremos deve ser combatido pela República”, acrescentou.
O Groupe union défense, GUD, um dos mais polêmicos, é um sindicato estudantil de ultradireita, baseado em Paris, criado na década de 1970 e reativado há um ano e meio, depois de ter ficado inativo entre 2017 e 2023.
Além dele, entre as estruturas dissolvidas, três são da cidade de Lyon (sudeste): Les Remparts, apresentada como uma “organização não declarada”, e duas associações, La Traboule e Top Sport Rhône, que administram um bar e um ginásio onde seus membros se reúnem, no centro antigo da cidade.
As dissoluções constituem “um sinal de firmeza” por parte do governo que mostra “por razões políticas que está preocupado com os distúrbios à ordem pública que estes movimentos podem causar”, sublinha o cientista político especialista da extrema direita, Jean-Yves Camus.
São também uma forma, segundo ele, de constranger o partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) “ao evidenciar os supostos vínculos” da sigla com esses grupos. Na semana passada, Darmanin indicou que iria propor a dissolução do GUD a Emmanuel Macron, acusando o grupo de ser “amigo” de “gente” do RN.
O GUD tem “quase 40 membros”, “a maioria dos quais” provenientes de outra organização, os Zouaves Paris, dissolvida em janeiro de 2022. O pequeno grupo, por sua vez, denunciou a dissolução com “motivos falsos”, alertando que continuaria a “luta”.
Apesar de pequeno, o grupo “provoca” “ações violentas contra as pessoas”, segundo o decreto, que menciona ataque a uma manifestação estudantil em Paris, em março de 2023, e a condenação de quatro de seus membros por um ataque homofóbico, em 12 de junho, na capital francesa, enquanto “celebravam” a vitória do RN nas eleições europeias. Entre eles, Gabriel Lousteau, 23 anos, figura do GUD e filho de Axel Lousteau, um conhecido ex-ativista da organização e ex-vereador do RN, próximo da ex-candidata a presidente pelo partido, Marine Le Pen.
Outro ex-membro do grupo, conhecido pela violência é Loïk Le Priol. Ele é o principal suspeito do assassinato, em março de 2022, do jogador da seleção argentina de rugby Federico Martin Aramburu, que jogava no clube francês Biarritz Olympique.
O grupo “também publicou mensagens direcionadas contra pessoas ou membros de grupos apresentados como antifascistas incitando implicitamente a cometer violência contra eles”, continua o decreto, citando como exemplo a publicação no X da foto e do nome de um jornalista do Libération .
“Governo demonstrou responsabilidade”
Quanto aos Remparts, grupo constituído sobre as cinzas da Génération identitaire, dissolvida em 2021, ele “provoca ódio, discriminação e violência contra estrangeiros”, ao “desenvolver um discurso centrado na defesa da raça e na incompatibilidade entre o Islã e a civilização ocidental”, segundo o decreto.
“Longe de se limitarem a comentários e mobilização, as provocações à violência por parte do grupo foram seguidas com efeitos”, prossegue o decreto, que se refere ao ataque a um bar associativo de Lyon onde se realizou uma conferência sobre a Palestina, em novembro de 2023.
O grupo anunciou que iria ao Conselho de Estado para contestar sua dissolução. “Não vamos aceitar esta decisão arbitrária”, disse Antoine Durand, porta-voz do Remparts.
Lyon é um dos redutos dos movimentos de ultradireita e tem entre 300 e 400 ativistas, segundo as autoridades locais.
“O governo finalmente demonstrou responsabilidade, era urgente agir pela segurança dos habitantes de Lyon”, disse Grégory Doucet, prefeito ecologista da cidade.
Vários pequenos grupos de ultradireita foram dissolvidos nos últimos meses pelo governo. O último, em fevereiro, foi a associação de Lille (norte) La Citadelle, que tinha sido proibida de organizar uma noite intitulada “Que eles voltem para a África”, um ano antes.
(Com AFP)