quinta-feira, novembro 14, 2024
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Morre Mauricinho Hippie, um dos criadores da Feira Hippie em Goiânia

Um dos fundadores da Feira Hippie em Goiânia, Maurício Vicente de Oliveira (Mauricinho Hippie) morreu neste domingo (10), aos 84 anos. Conhecido popularmente como Mauricinho Hippie, ele era uma figura considerada icônica na história e memória de muitos goianienses.

Mauricinho Hippie agitou e coloriu Goiânia entre os anos de 1960 e 1990. Suas roupas extravagantes, seus animais e sua bicicleta coloridas fizeram dele um personagem inesquecível para quem viveu na cidade, nessa época.

Mauricinho Hippie: Mineiro que trouxe alegria as ruas de Goiânia

Maurício Vicente de Oliveira, mais conhecido como Mauricinho Hippie, personalidade conhecida em Goiânia e um dos criadores da Feira Hippie, sempre foi lembrado por muitos goianienses pela sua autenticidade no jeito de se comunicar, se vestir e andar pelas ruas da cidade, de forma sempre muito irreverente em sua bicicleta cor de rosa, na companhia de seu cachorro poodle.

Nascido em Araguari (MG), o Mauricinho se mudou para Goiânia quando ainda era criança, aos 9 anos. Maurício era artista plástico e um dos primeiros hippies da cidade. Fazia artesanato, tocava sanfona, andava pela cidade de bicicleta, declamava poesias, fazia performances corporais e atuava em defesa dos direitos dos homossexuais em uma época conservadora.

Maurício era uma pessoa com muitos talentos: entre artista plástico, músico, compositor, ativista, ele ainda fabricava as próprias roupas. Aos 12 anos, influenciado pela família, foi estudar acordeom em uma escola badalada na época, a Academia Mascarenhas, e ficou lá por seis anos.

Ainda fez teoria e solfejo no antigo Conservatório da UFG e iniciou o curso livre de artes, na Escola de Belas Artes, mas parou no primeiro ano.  Ao final dos estudos, tocava piano, acordeom, órgão e violão.

“Mauricinho ‘abalava’ sempre que aparecia publicamente nos idos anos 1960 e 1970 em Goiânia, em uma época em que os jovens, no mundo inteiro, por meio da ‘contracultura’, puseram em xeque a cultura ocidental de origem mediterrânea e a supremacia do homem-branco-macho-adulto-sempre-no-comando.

Quem teve o privilégio de ver Mauricinho em uma de suas “aparições” (até os anos de 1990, quando um acidente o força interromper os atos), certamente não tem dúvidas de que esteve diante de um fenômeno artístico ou de uma obra de arte. Das suas inúmeras aparições restaram algumas imagens que dão uma pálida noção da força que nutria suas ações, embora forneçam delas um valioso registro por meio do qual Maurício Vicente de Oliveira ficará para sempre gravado na história desta cidade como o Mauricinho Hippie – artista e criador da feira Hippie”, diz trecho do texto “Maurício Hippie, o homem que coloriu Goiânia, de Carlos Brandão, para o Jornal da Imprensa, em 2011”

Acidente deixou Mauricinho Hippie mais recluso

Em 1995, Maurício sofreu um acidente e perdeu um pé. A partir daí, mesmo tendo colocado uma prótese, passou a ficar em casa e quase não saía de sua residência.

Em entrevista em 2011, ao Jornal da Imprensa, Mauricinho falou sobre a reclusão: “O Maurício esfuziante morreu.” Ele disse, ainda, que tinha consciência da importância que teve para Goiânia. Argumentou que era uma época muito criativa e sentia que as pessoas gostavam dele, guardava boas lembranças, mas não sentia saudades da época e nem guardava nada daqueles tempos. Nem roupas, nem músicas, nem pinturas, nem a bicicleta. Nada.

“Desde que passei a ficar em casa, tenho saído apenas para festas e reuniões na casa de alguns amigos”, disse na época ao jornal. Nos últimos anos, estava magro, alto, cabelos brancos e com roupas menos chamativas. Mauricinho, então, optou por uma vida mais reservada, convivendo com familiares na região central de Goiânia.

Veja como surgiu o Mauricinho Hippie que encantou Goiânia

Em 1965, o pai de Maurício, insatisfeito com os caminhos artísticos que o filho resolveu seguir, pegou seus poemas, letras de músicas, partituras, telas e desenhos e queimou tudo numa fogueira. No mesmo instante, Maurício pegou todas as suas “roupas caretas” e também queimou em uma fogueira ao lado da feita pelo pai.

Tudo aconteceu antes do movimento Tropicália. Começava aí o Maurício esfuziante. “A partir daquele ato de queimar minhas roupas normais, eu passei a fabricar as roupas que vestia”, explica Mauricinho. Ele pintava seus cachorros e saía com eles pela cidade. Mas explicava: “Uso violeta de genciana, que não agride o animal.”

Nascia ali o Mauricinho Hippie que agitou e coloriu Goiânia por mais de 20 anos. Suas roupas extravagantes, seus animais e bicicleta, ambos coloridos, fizeram dele um personagem inesquecível para quem viveu na cidade, naquela época.

Feira Hippie

Considerada a maior feira ao ar livre da América Latina, a Feira Hippie começou nos anos 1960, com um grupo de jovens hippies que queriam vender suas criações artesanais. No início, eles montavam suas barracas na região do Mutirama, depois se mudaram para a Praça Universitária, e finalmente se estabeleceram na Praça do Trabalhador, onde a feira funciona até hoje.

“A gente expunha as mercadorias, somente artesanato e artes plásticas, no Parque Mutirama. Foi lá que começou a Feira Hippie. Eram cerca de 20 a 30 pessoas. Me lembro que o artista plástico Tancredo Araújo era um deles. Depois, a Feira se mudou para a Praça Cívica e, em seguida, para a Avenida Goiás. Eu fui até a fase da Avenida Goiás. Depois parei, quando a feira deixou de ser hippie”, disse Mauricinho em entrevista ao Jornal da Imprensa, em 2011.

Exposição sobre Mauricinho Hippie

Em 2023, o Museu de Arte de Goiânia (MAG), vinculado a Secretaria Municipal de Cultura (Secult) de Goiânia, promoveu a exposição “Mauricinho Hippie – Entre arte e vida, ser ou não ser”. Imagens e história desse ícone que ficará marcado na memória de muitos goianienses continua disponível no site da exposição e pode ser acessada em https://museudeartedegoian.wixsite.com/expovirtual.

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