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Regulamentação da reforma tributária prevê cashback e imposto zero para carne e peixe

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Com a aprovação no Senado do texto do projeto de lei complementar que regulamenta a reforma tributária no Brasil, a proposta volta para análise da Câmara dos Deputados, que vai dar a palavra final sobre as mudanças feitas pelos senadores à redação da matéria. Os deputados não podem mais alterar o mérito da proposta ou incluir novidades e vão apenas confirmar ou rejeitar os pontos que foram incorporados pelo Senado.

O texto aprovado pelos senadores definiu os parâmetros de como vai funcionar o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O sistema tributário brasileiro vai substituir cinco tributos (ICMS, IPI, ISS, PIS e Cofins) pelo IVA, que será formado pela CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços, a nível federal), pelo IBS (Imposto sobre Bens e Serviços, a nível estadual e municipal), e pelo Imposto Seletivo (a nível federal).

Haverá um período de transição entre os atuais impostos e os que serão criados. Isso vai começar em 2026 e terminar em 2033. No primeiro ano, será implementada uma alíquota-teste da CBS e do IBS, ainda sem a cobrança efetiva dos tributos. Depois, os novos impostos serão cobrados de forma gradual, ao passo que os tributos que existem atualmente serão extintos aos poucos.

O objetivo é que o novo sistema entre em vigor de forma definitiva em 2033 e consiga manter a arrecadação de ICMS, IPI, ISS, PIS e Cofins. Para que não haja uma alta excessiva na carga tributária, haverá um teto para as alíquotas da CBS e do IBS.

O projeto de lei em análise pelo Congresso prevê medidas como cashback de impostos pagos por famílias que vivem com renda mensal de até meio salário-mínimo por pessoa, imposto zero para alimentos que compõem a cesta básica, desconto e isenção de impostos para remédios e isenção a carros para pessoas com deficiência ou com transtorno do espectro autista.

A proposta também estabelece o Imposto Seletivo, chamado de “imposto do pecado”, que foi introduzido na reforma com o intuito de aplicar um tributo adicional ou diferenciado a produtos ou serviços considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, como bebidas alcoólicas e cigarros.

Cesta básica e outros alimentos

O texto mantém a redução a zero das alíquotas do IBS e da CBS sobre carnes e alimentos da cesta básica, como arroz e feijão. Outros alimentos tiveram a redução de 60% das alíquotas, entre eles óleo de soja, pão de forma e cereais.

Produtos destinados à alimentação que terão redução a zero das alíquotas do IBS e da CBS

  • Arroz das subposições;
  • Leite;
  • Leite em pó;
  • Fórmulas infantis;
  • Manteiga;
  • Margarina;
  • Feijões;
  • Café;
  • Óleos de babaçu;
  • Farinha de mandioca;
  • Farinha, grumos e sêmolas, de milho;
  • Grãos de milho;
  • Farinha de trigo;
  • Açúcar;
  • Massas alimentícias;
  • Pão francês;
  • Grãos de aveia;
  • Farinha de aveia;
  • Carnes bovina, suína, ovina, caprina e de aves e produtos de origem animal (exceto foies gras);
  • Carne caprina;
  • Miudezas comestíveis de ovinos e caprinos;
  • Peixes e carnes de peixes (exceto salmonídeos, atuns, bacalhaus, hadoque, saithe e ovas e outros subprodutos);
  • Queijos tipo mozarela, minas, prato, queijo de coalho, ricota, requeijão, queijo provolone, queijo parmesão, queijo fresco não maturado e queijo do reino;
  • Sal;
  • Mate;
  • Produtos hortícolas, frutas e ovos
  • Plantas e produtos de floricultura relativos à horticultura e cultivados para fins alimentares, ornamentais ou medicinais;
  • Raízes e tubérculos;
  • Cocos

Produtos alimentícios que terão redução de 60% das alíquotas do IBS e da CBS

  • Crustáceos (exceto lagostas e lagostim) e moluscos;
  • Leite fermentado, bebidas e compostos lácteos;
  • Mel natural;
  • Farinha;
  • Grumos e sêmolas de cereais;
  • Grãos de cereais;
  • Amido de milho;
  • Óleos de soja, milho, canola e demais óleos vegetais;
  • Sucos naturais de fruta;
  • Polpas de frutas;
  • Massas alimentícias;
  • Pão de forma;
  • Extrato de tomate;
  • Frutas, produtos hortícolas e demais produtos vegetais, sem adição de açúcar ou de outros edulcorantes;
  • Cereais e sementes e frutos oleaginosos;
  • Produtos hortícolas, mesmo misturados entre si, apenas pré-cozidos ou cozidos em água ou vapor, sem adição de sal ou de quaisquer outros produtos e substâncias;
  • Fruta de casca rija regional, amendoins e outras sementes, mesmo misturados entre si, apenas torrados ou cozidos, sem adição de sal ou de quaisquer outros produtos e substâncias

Remédios sem imposto

Os remédios das seguintes categorias terão isenção:

  • Tratamentos oncológicos;
  • Doenças raras;
  • DST/AIDS;
  • Doenças negligenciadas;
  • Vacinas e soros;
  • Medicamentos para diabete mellitus

Itens básicos à saúde menstrual também ficarão isentos. Já itens de higiene pessoal, serviços de educação e insumos agropecuários terão redução de 60% da alíquota.

Cashback

Famílias de baixa renda inscritas no CadÚnico, com renda familiar mensal per capita declarada de até meio salário-mínimo, terão direito a devolução de 100% do CBS, e 20% do IBS, nos seguintes casos:

  • Aquisição de botijão de até 13 kg de gás liquefeito de petróleo;
  • Nas operações de fornecimento domiciliar de energia elétrica, abastecimento de água, esgotamento sanitário e gás canalizado e nas operações de fornecimento de telecomunicações

Outros bens e serviços também poderão ter 20% de cashback para a CBS e para o IBS, mas as regras serão definidas caso a caso.

“Imposto do pecado”

O regramento aprovado deixou de forma armas e munição, além de refrigerantes, do Imposto Seletivo. Mas itens como cigarros e bebidas alcoólicas serão sobretaxados com o “imposto do pecado”. Veja os itens:

  • Veículos;
  • Embarcações e aeronaves;
  • Produtos derivados do tabaco;
  • Bebidas alcoólicas;
  • Bens minerais;
  • Concursos de prognósticos e fantasy sport

Pessoas com deficiência poderão adquirir carros com alíquotas zero

Foram reduzidas a zero as alíquotas do IBS e da CBS de carros quando eles forem adquiridos por motoristas profissionais, pessoas com deficiência física, visual ou auditiva, deficiência mental severa ou profunda ou transtorno do espectro autista.

Produções culturais e atividades turísticas com redução das alíquotas

Produções culturais e artísticas que envolvam serviços de sonorização, iluminação, figurino, cenografia e videografia para atuações artísticas ao vivo terão redução em 60% das alíquotas do IBS e da CBS.

Bares, restaurantes, hotéis, parques de diversão, parques temáticos e agências de turismo terão redução de 40%.

Terão redução de 60% das alíquotas serviços funerários, de cremação e de embalsamamento e serviços médicos veterinários.

R7

Equipe médica atualiza estado de saúde do presidente Lula após segunda cirurgia

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Nesta quinta-feira (12), a equipe médica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu jornalistas no auditório do Hospital Sírio-Libanês para divulgar informações sobre sua saúde.

O presidente passou hoje por sua segunda cirurgia, uma embolização das artérias meníngeas (procedimento de cateterismo na região da cabeça).

De acordo com os profissionais de saúde, Lula apresentou sintomas semelhantes aos de uma gripe, acompanhados de febre.

Sobre a cirurgia

O procedimento começou por volta de 7h25, durou cerca de uma hora, e aconteceu sem intercorrências. Segundo o cardiologista Roberto Kalil Filho, Lula está acordado e conversando.

A nova cirurgia consiste na embolização da artéria meníngea média, ou seja, um procedimento pouco invasivo que bloqueia o fluxo sanguíneo em áreas específicas do cérebro.

O presidente segue na UTI e não tem previsão de ser transferido para o quarto. Mais detalhes sobre o estado médico do presidente devem ser dados durante uma coletiva de imprensa às 10h.

O presidente, que estava em Brasília, foi transferido às pressas na noite de segunda (9) para a unidade de São Paulo do hospital Sírio-Libanês, após apresentar dores de cabeça e sonolência associadas a um acidente doméstico ocorrido em outubro.

 JETSS.

Entenda as mudanças na legislação para a saída temporária de presos

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Conteúdo analisado: Mensagem com um alerta de que a “última saidinha” temporária de presos vai acontecer “a partir de hoje até o dia 18?. O texto diz “que tem 50 mil presos saindo da prisão”, que o alerta foi “um aviso de todas as polícias e delegados na reunião da Conseg de ontem”, e conclui: “Isso afeta a capital e interior também. Repassem aos parentes e amigos”.

Onde foi publicado: X, Instagram, Threads, Facebook e WhatsApp.

Contextualizando: Em tom de alarme, diversas publicações nas redes sociais alegam que 50 mil presos deverão deixar a prisão por conta do benefício de saída temporária até o dia 18 de dezembro. O Comprova contextualiza o assunto mostrando o que diz a legislação sobre o tema.

A Lei 14.843, de 11 de abril de 2024, restringiu a saída temporária somente a presos que estejam cursando supletivo profissionalizante, ensino médio ou superior e define condições para o benefício. No entanto, presos que começaram a cumprir pena anteriormente não são alcançados pela norma e podem, cumpridos os pré-requisitos, ter saída temporária autorizada no Natal.

Segundo o advogado criminalista Henrique Attuch, consultado pelo Comprova, não há como estabelecer com antecedência um número de presos beneficiados. A medida não é concedida automaticamente, sendo necessária a avaliação dos critérios estabelecidos na Lei de Execução Penal, caso a caso.

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Estado com a maior população carcerária do País, disse ao Projeto Comprova que ainda não há definição de quantos detentos terão direito à saída temporária no Natal. “Os juízes avaliarão caso a caso, frente à alteração legislativa. Não é possível adiantar futuras decisões, porque a concessão dos benefícios segue alguns requisitos que serão verificados pelos magistrados no momento oportuno, assim como serão analisados os reflexos da lei para cada sentenciado”, esclarece o TJ-SP.

No Natal de 2023, segundo levantamento do G1, a saída temporária beneficiou pouco mais de 52 mil presos no País. Desses, 49 mil (95%) retornaram à prisão no período estipulado.

Calendários definidos por Estados para a saída temporária de Natal e notícias do benefício mostram que ela acontece às vésperas do feriado, e não até o dia 18, como alegam as postagens nas redes sociais.

O que diz a Lei de Execução Penal e quem tem direito à saída temporária?

A Lei 7.210/84 (Lei de Execução Penal), sancionada em 1984, estabeleceu as bases do sistema penitenciário brasileiro, incluindo as regras para a concessão de saídas temporárias. Ela foi modificada este ano pela Lei 14.843, de 11 de abril, para restringir a saída temporária de presos apenas aos casos em que o apenado esteja cursando supletivo profissionalizante, ensino médio ou superior. Apesar de, na prática, a lei extinguir a liberação temporária em feriados e datas comemorativas, ela não alcança presos condenados anteriormente à sua vigência. Segundo jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e Superior Tribunal de Justiça (STJ), “as normas mais gravosas não podem retroagir para prejudicar o executado”.

Mantêm, portanto, o direito ao benefício os presos que estão no regime semiaberto e já cumpriram, no mínimo, um sexto da pena total, se forem réus primários, e um quarto, se forem reincidentes. Além disso, eles devem manter uma boa conduta dentro do sistema penitenciário e não podem ter sido condenados por praticar crime hediondo ou com violência, ou grave ameaça contra pessoa.

Há um calendário para a saída de presos?

Henrique Attuch explica que o calendário para a saída temporária de presos é definido por alguns Estados, o que acaba ficando a cargo das unidades prisionais ou dos juízes da execução. Em São Paulo, por exemplo, a Portaria nº 2/2019 define que a saída no Natal deve ocorrer entre o dia 23 de dezembro e 3 de janeiro do ano seguinte. No Distrito Federal, do dia 23 ao dia 27 de dezembro. No Maranhão, entre 20 e 26 de dezembro. No fim de 2023, a saída de Natal no Rio de Janeiro foi do dia 24 ao dia 30 de dezembro. Já em Minas Gerais, há registros de saídas entre 18 de dezembro de 2023 e 1º de janeiro de 2024.

O Comprova não encontrou registros de saídas temporárias de Natal anteriores ao dia 18, como consta na mensagem que circula nas redes sociais.

Comissão de Segurança Pública (CSP) realiza reunião com 4 itens. Entre eles, o PL 2.253/2022, que dispor sobre a monitoração eletrônica do preso, prever a realização de exame criminológico para progressão de regime e extinguir o benefício da saída temporária. Bancada: senador Jorge Seif (PL-SC); senador Eduardo Girão (Novo-CE) em pronunciamento; senador Sergio Moro (União-PR). Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Qual é o percentual de evasão após saída temporária?

A mensagem diz que muitos detentos não vão voltar para a prisão. O não retorno de presos que recebem o benefício da saída temporária é uma realidade, porém dados recentes mostram que os percentuais são baixos.

Segundo o Relatório de Informações Penais (Relipen), que reúne os dados fornecidos pelas Secretarias de Administração Prisional de todos os Estados, do Distrito Federal e do Sistema Penitenciário Federal, o total de saídas temporárias entre janeiro e junho, em presídios masculinos e femininos, foi de 173.577 em todo o País. Minas Gerais e São Paulo foram os estados com mais saídas temporárias, 66.246 e 64.410, respectivamente.

Os dados apontam que o total de abandonos foi de 6.055, ou 3,4% do total. O Estado de São Paulo é o primeiro no ranking em números absolutos, com 2.591 presos que não retornaram. Em segundo lugar está Minas Gerais, com 723, e em terceiro, Santa Catarina, com 631.

Já em relação ao Natal do ano passado, levantamento do g1 mostrou que 95% dos presos que tiveram direito à saída temporária no país voltaram para a cadeia no período estipulado.

O que são os Consegs?

A sigla Conseg se refere a Conselhos Comunitários de Segurança, grupos formados por membros da sociedade civil e da área de segurança pública nos bairros e municípios para discutir temas locais. Há exemplos em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Curitiba. É enganosa, portanto, a referência que as mensagens postadas nas redes sociais fazem a uma suposta reunião do Conseg cujo resultado afetaria capital e interior.

Fontes consultadas: O Comprova consultou a Lei de Execução Penal e a Lei 14.843/2024, que a alterou, e sua tramitação no Congresso Nacional. Consultou o advogado criminalista Henrique Attuch, fez buscas sobre calendários de saídas temporárias nos estados e jurisprudência sobre o tema. A equipe ainda fez contato com a Secretaria Nacional de Políticas Pens (Senappen), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os tribunais de Justiça de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, estados com a maior população carcerária, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. Somente a Senappen e o TJ-SP responderam, com os dados de saídas temporárias nos estados compilados pelo Relipen.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O UOL Confere e o Boatos.org concluíram que a mensagem que circula nas redes sociais é falsa. Em junho deste ano, a AFP mostrou ser enganosa uma mensagem com texto similar. O Comprova já esclareceu também que o auxílio-reclusão é garantido por lei desde 1960 e seu valor é equiparado ao salário mínimo, que prisão de Putin em possível vinda ao Brasil depende do Judiciário e não de Lula e que projeto de lei não prevê prisão para quem se recusar a tomar vacina contra a covid-19.

Estadão

Toffoli envia relatório com pente-fino na Lava Jato a TCU, governo e Congresso

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O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o compartilhamento de relatórios sobre a atuação da operação Lava Jato com órgãos de controle, como a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Tribunal de Contas de União (TCU).

O material também será enviado à Advocacia-Geral da União (AGU), ao Ministério da Justiça e às presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. O despacho do ministro foi dado em procedimento aberto no STF para apurar a atuação da organização não governamental (ONG) Transparência Internacional no Brasil e supostas ilegalidades em de cooperação firmada com o Ministério Público Federal (MPF).

Os documentos enviados aos órgãos federais envolvem a inspeção feita pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato. Esse pente-fino na operação concluiu que houve conluio entre procuradores e juízes que atuaram na Lava Jato para desviar R$ 2,5 bilhões de recursos públicos.

O documento, de 10 de abril, constata que o senador Sergio Moro (União-PR), o ex-deputado Deltan Dallagnol e a juíza afastada Gabriela Hardt atuaram para desviar cerca de R$ 2,5 bilhões do estado brasileiro com o objetivo de criar “uma fundação voltada ao atendimento a interesses privados”. Os três negam as suspeitas.

A correição feita na vara de Curitiba também identificou uma “gestão caótica” no controle de valores oriundos de acordos de colaboração e de leniência firmados com o Ministério Público Federal e homologados pela Justiça. O relatório também identificou irregularidades na tramitação de informações entre órgãos brasileiros e internacionais em acordos firmados entre MPF, Petrobras e o Departamento de Justiça norte-americano, em decorrência de investigação realizada nos Estados Unidos.

Segundo a inspeção, o governo dos Estados Unidos obteve irregularmente provas contra a Petrobras sem que os procuradores da Lava Jato tentassem impedi-lo. Toffoli também enviou aos órgãos de controle uma manifestação da empresa J&F Investimentos pedindo que se investigue uma suposta “parceria escusa” entre o MPF e a Transparência Internacional.

A ONG disse no processo que a manifestação da companhia foi feita fora do prazo e que há “nítida tentativa de instrumentalização do Judiciário pela empresa para silenciar críticos”. A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu o arquivamento do caso por entender “ausentes elementos mínimos de convicção que justifiquem a continuidade das investigações”.

CNN

Ministros do Supremo criticam Congresso em nova etapa da crise entre poderes

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Ministros do Supremo Tribunal Federal criticaram abertamente o Congresso Nacional nesta quinta-feira (12). Enquanto isso, deputados estudam uma forma de colocar na Constituição regras que contrariam o que o STF determinou para o uso de emendas parlamentares. O ministro Luiz Fux foi o primeiro a criticar abertamente o legislativo nesta quinta-feira, enquanto reclamava da insegurança jurídica causada por mudanças nas regras tributárias. “É fator de insegurança jurídica a orgia legislativa.

Se todos os dias o profissional tem quatro leis tributárias, tem que ter um conhecimento enciclopédico inimaginável e isso gera efetivamente uma insegurança jurídica na elaboração do planejamento financeiro-econômico das empresas”, disse Fux. Ainda no mesmo evento, Flávio Dino rebateu as críticas de parlamentares que acusam o Supremo de invadir atribuições do Congresso “Como é que um poder fica dando escândalo toda vez que o outro decide. Eu já tinha visto democracia constitucional, social, liberal, mas democracia do piti eu nunca tinha visto. É o que está posto”, afirmou Dino.

A tensão entre Supremo e Congresso se acirrou após a corte determinar regras mais rígidas para o pagamento de emendas parlamentares. A percepção no legislativo é de que há uma dobradinha informal entre o tribunal e o Planalto para garantir vitórias estratégicas ao governo na disputa pelo orçamento da União. A crise fez com que deputados e senadores adiassem a análise de medidas consideradas prioritárias para o governo. Entre elas, a PEC de corte de gastos que tramita na Câmara.

Agora, lideranças partidárias avaliam incluir na proposta um dispositivo que defina novas regras para execução de emendas. Esse conjunto de normas seria mais favorável aos parlamentares do que o implementado pelo Supremo. O relator da PEC, deputado Moses Rodrigues, do União Brasil do Ceará, disse a interlocutores que deve adicionar ao texto a referência para o reajuste do valor disponível para emendas.

O cálculo que define o aumento dos repasses já está na decisão do Supremo que liberou o pagamento das emendas. Mas a corte implementou uma conta mais rígida, o que desagradou os parlamentares.

CNN

‘Sem votos’ para ajuste fiscal, Câmara foca em projetos que anistiam armas ilegais e libera posse para investigados

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No início da semana, a previsão em Brasília era que a Câmara votaria o pacote de ajuste fiscal enviado pelo governo. No lugar disso, os deputados decidiram levar adiante uma pauta sobre segurança pública, que envolve alguns projetos polêmicos, como o que anistia armas de fogo ilegais adquiridas desde 2008 e o que libera armas para pessoas investigadas por crimes.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse em entrevista a jornalistas nesta terça-feira (10) que o governo não tem votos suficientes para aprovar o pacote do ajuste fiscal. Esses textos são prioridade para o governo neste fim de ano. O objetivo é economizar R$ 370 bilhões em despesas no Orçamento até 2030 e buscar um equilíbrios das contas públicas.

O mercado financeiro também vê a necessidade de um ajuste fiscal — ainda que tenha achado o pacote do governo pouco ambicioso. Enquanto algum ajuste não é aprovado, o dólar sobe, assim como a inflação e os juros.

Para Lira, as propostas do governo são delicadas — diminuição do ritmo de crescimento do salário mínimo, por exemplo.

Mas o pano de fundo é que os deputados estão insatisfeitos com as novas regras impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para pagamento de emendas parlamentares.

As emendas são pagas pelo governo a deputados e senadores, que encaminham o dinheiro para obras em seus estados. O STF entendeu que as regras para distribuição e o rastreio do dinheiro estavam pouco transparentes. O Congresso viu nas exigências do STF uma “interferência” combinada com o governo.

Assim, no lugar do pacote fiscal, esta semana — a penúltima antes do recesso — está sendo dedicada a uma pauta de segurança pública defendida pele chamada “bancada da bala” da Câmara, formada por deputados ligados a forças policiais.

Armas ilegais

Especialistas em segurança pública identificaram, no meio do pacote da Câmara, uma proposta patrocinada pela bancada da bala, que, nas palavras dos estudiosos “desmonta o estatuto do desarmamento” e “concede anistia para quem desde 2008 tem arma ilegal”.

A proposição prevê, entre outros itens, uma espécie de anistia para portadores de armas ilegais.

O Estatuto do Desarmamento previa a regularização de armas até 2008. Portanto, hoje, quem ainda ostenta armamento não regularizado está com porte ou posse ilegal. O projeto bancado por Lira muda essa determinação.

Portadores de armas ilegais há mais de dez anos, por exemplo, poderiam, segundo o texto, regularizar o armamento “a qualquer tempo”. Para especialistas ouvidos pelo blog da Daniela Lima, trata-se de uma anistia que pode beneficiar principalmente o crime organizado.

A proposta prevê ainda a ampliação da validade do registro de armas 3 para 10 anos, dilatando portando os prazos para revisão dos dados do portador.

Armas para investigados

O texto ainda acaba com a restrição a posse de armas para quem responde a inquéritos — limitando a vedação a condenados não por qualquer crime, mas por dispositivos específicos, como crime hediondo.

Um dos textos aprovados prevê um cadastro nacional de monitoramento de facções criminosas e inclui as milícias no rol de organizações fiscalizadas. O texto segue para o Senado.

A proposta original não englobava as milícias, mas uma emenda do deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) incluiu os grupos criminosos no escopo do projeto.

Um acordo costurado pelo PSOL junto ao relator, deputado Da Cunha (PP-SP), incluiu a palavra na proposta e ajudou na votação simbólica do texto – quando a aprovação é feita por acordo, sem registro de votos.

Esse texto ainda tem que passar pelo Senado.

Um outro projeto aprovado criminaliza a violação, adulteração, troca de bagagem ou etiqueta em viagens de avião ou de ônibus para traficar drogas. Também vai ao Senado ainda.

Segundo o texto, poderá pegar de 5 a 15 anos de prisão quem violar, corromper, adulterar, falsificar, alterar ou trocar bagagem, etiqueta ou outro dispositivo identificador de bagagem de passageiro usuário do transporte aéreo ou rodoviário para traficar drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à sua preparação.

A pena poderá ser aumentada em um sexto se o agente praticar o crime na prestação dos serviços de transporte aéreo ou rodoviário.

G1

Lula passará por complementação da cirurgia na cabeça nesta quinta

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passará nesta quinta-feira (12) pela manhã por uma complementação da cirurgia na cabeça, segundo boletim da equipe médica que acompanha o petista.

De acordo com o comunicado, Lula será submetido a um procedimento endovascular, de embolização de uma artéria.

Após o procedimento, os médicos concederão uma entrevista de imprensa sobre a complementação da cirurgia.

Ainda de acordo com a equipe médica, o petista passou esta quarta-feira (11) “bem” e “sem intercorrência”. O petista fez fisioterapia, caminhou e recebeu visitas de familiares.

O petista, que tem 79 anos, passou por uma cirurgia de emergência na madrugada de terça-feira (10) para drenar um hematoma na cabeça – ainda em decorrência da queda que sofreu no banheiro de casa em outubro.

Leia a íntegra do comunicado da equipe médica de Lula:

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva permanece sob cuidados intensivos no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Passou o dia bem, sem intercorrências, realizou fisioterapia, caminhou e recebeu visitas de familiares.

Como parte da programação terapêutica, fará complementação de cirurgia com procedimento endovascular (embolização de artéria meníngea média) amanhã, pela manhã.

Outras atualizações serão dadas durante coletiva de imprensa a ser realizada amanhã às 10 horas.

O Presidente segue sob acompanhamento da equipe médica, sob os cuidados do Prof. Dr. Roberto Kalil Filho e da Dra. Ana Helena Germoglio.

G1

Caiado, condenado à inelegibilidade por oito anos, vai ficar fora da disputa à Presidência em 2026?

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A decisão em primeira instância da juíza Maria Umbelina Zorzetti de condenar o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), a oito anos de inelegibilidade, pode atrapalhar os planos do chefe do Executivo goiano de disputar a Presidência da República em 2026. A magistrada acompanhou o entendimento do Ministério Público Eleitoral de Goiás de que Caiado cometeu abuso de poder político durante as eleições municipais deste ano ao utilizar a sede do Palácio das Esmeraldas para beneficiar o prefeito eleito de Goiânia Sandro Mabel (União Brasil).

A inelegibilidade determinada pela magistrada não entrará em vigor imediatamente. Por ser uma decisão individual de primeira instância, Caiado poderá recorrer ao colegiado do TRE-GO. Caso a sentença seja mantida, a inelegibilidade do governador é confirmada e o prefeito eleito afastado. Procurado pelo Estadão, Caiado ainda não se manifestou.

Uma decisão colegiada de inelegibilidade – que incide a Lei da Ficha Limpa – no entanto, não encerra as possibilidades de Caiado, como explica o especialista em Direito Eleitoral e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Fernando Neisser. De acordo com ele, a partir da confirmação da sentença de primeira instância, Caiado já será considerado inelegível, mas poderá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e retomar os direitos políticos.

“Se o TRE de Goiás, ao julgar o provável recurso do governador, mantiver a sentença, Caiado e o prefeito eleito estão inelegíveis. A partir desse momento também seria determinado o afastamento do prefeito eleito. A partir da decisão colegiada, Caiado deverá recorrer ao TSE. Ele pode pedir uma liminar, uma tutela, para suspender a inelegibilidade até o julgamento do TSE, mas do ponto de vista ordinário ele já estaria inelegível. Ele precisaria conseguir uma nova decisão, ainda que uma decisão liminar de quem for sorteado para relatar o processo no TSE, para suspender a inelegibilidade”, explica.

Com a decisão confirmada no TRE-GO, a última chance de Caiado de se cacifar como candidato à Presidência seria tentar reverter a decisão no TSE a tempo das eleições de 2026. Neisser explica que, caso o TSE rejeite as apelações do governador, a inelegibilidade seria novamente confirmada e os oito anos seriam contados a partir do primeiro turno das eleições municipais deste ano – e se encerraria apenas em 2032.

“Nada disso afeta o atual mandato que o Caiado exerce. O governador não tem risco de ser afastado do mandato atual por uma prática realizada na eleição municipal. Se essa condenação for confirmada pelo TRE nos próximos dois anos, antes da próxima eleição, ele não poderá se candidatar”, afirma.

Entenda a decisão contra Caiado

A condenação atende a um pedido da coligação do candidato derrotado no segundo turno da eleição, o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL). A queixa do ex-candidato foi ratificada pelo Ministério Público Eleitoral.

De acordo com a juíza Maria Umbelina Zorzetti, Caiado usou o Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, para realizar um evento de campanha para Mabel e pressionar os presentes a mobilizarem esforços pela eleição do candidato a prefeito do União Brasil. A prática configura abuso de poder político e é vedada pela legislação eleitoral.

Os jantares denunciados pela coligação de Fred Rodrigues ocorreram nos dias 7 e 9 de outubro, no início do segundo turno do pleito, e contaram com a presença de vereadores eleitos, suplentes e lideranças políticas de Goiânia.

Na ocasião, Caiado pediu para que os presentes mobilizassem suas “credenciais” em favor da campanha de Mabel. “Vocês não estão aqui como pessoa física não, vocês estão aqui como líderes que vocês são e vocês colocaram seus nomes para disputar uma eleição municipal! Então se vista desta credencial e volte com muita humildade: ‘Olha, agradecer o voto. Não fui eleito, mas você pode saber que eu continuarei na luta política porque eu ao ter o Sandro Mabel lá na prefeitura’”, disse o governador no evento.

Durante o processo, as defesas de Caiado e de Mabel alegaram que os eventos foram de caráter institucional, a portas fechadas e sem pedido de votos.

Estadão

Está na hora de Augusto Nardes, do TCU, contar o que sabe

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O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes pode até passar, como tem passado, abaixo do radar das investigações da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF), mas ao jornalismo não é permitido esquecer seu papel no dramático final do ano de 2022.

Com as novas revelações sobre o plano golpista de bolsonaristas contra a eleição e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, é necessário reconhecer: Augusto Nardes era uma das pessoas mais informadas da República naquele momento. A pergunta é: como ele sabia?

(Vou logo avisando: Nardes e o TCU foram procurados na semana passada, mas olimpicamente se recusaram a enviar qualquer resposta aos questionamentos.)

Em 20 de novembro de 2022 veio a público, pela coluna da jornalista Monica Bergamo da Folha de S.Paulo, um áudio que teria sido enviado por Nardes para “um amigo do agronegócio”. Ouvido agora à luz do que já sabemos, o conteúdo de seus 8 minutos e 19 segundos é ainda mais impressionante. Fica evidente que Nardes tinha ao seu alcance informações gravíssimas cuja veracidade agora está comprovada em (quase) toda a sua extensão.

O propósito da mensagem foi comentar um vídeo com o relato de um caminhoneiro que aparentemente fazia um desabafo sobre a política no Brasil. Naquele momento, centenas de caminhoneiros bolsonaristas estavam interditando avenidas e rodovias país afora com o objetivo de pressionar as Forças Armadas a dar um golpe de Estado.

Sob o pretexto de comentar o vídeo para um amigo chamado de “Sartori”, Nardes vai passando as informações que chegaram ao seu conhecimento. Ele primeiro diz que aquele seria “o pior momento que a nação vai viver, mas talvez seja importante para poder recuperar […]”.

Na parte mais crítica da mensagem, Nardes afirmou: “Demoramos, mas felizmente acordamos. O que que vai acontecer agora? Está acontecendo um movimento muito forte nas casernas. Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana ou duas, ou talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. Imprevisíveis, imprevisíveis. […] Vamos [como país] perder? Sim, vamos perder alguma coisa, mas a situação para o futuro da nação poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que deveremos ter nos próximos dias ou nas próximas horas”.

Mais adiante, ele reitera que haveria “um confronto decisivo” e “um conflito social na nação brasileira”. Eram palavras perturbadoras: segundo esse ministro do TCU, um “movimento” militar estava prestes a deflagrar uma crise com desdobramentos que ainda não poderiam ser previstos, mas que seria decisiva, muito embora um “pior momento” do país.

Com o avanço das investigações da PF, hoje temos a confirmação de que, na mesma exata época em que Nardes gravou a mensagem, na segunda quinzena de novembro, o plano dos militares de impedir a posse de Lula já estava em pleno andamento. A chamada “minuta do golpe” já tinha sido redigida e, pelo menos uma vez, o plano “Punhal Verde e Amarelo” fora impresso dentro do Palácio do Planalto (no dia 9 de novembro) pelo general da reserva Mário Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais do Exército.

À página 840, o relatório final da PF descreve:

“A análise da dinâmica dos fatos evidenciou que o planejamento [do golpe] se iniciou no início do mês de novembro de 2022, após a derrota eleitoral do presidente Jair Bolsonaro. Nesse sentido, o plano das ações clandestinas foi apresentado pelos denominados kids pretos na reunião realizada no dia 12 de novembro de 2022 na residência do general Braga Netto. A partir da aprovação pela organização criminosa, os militares começaram a implementar a logística necessária para a execução das ações.”

Ainda segundo a PF, “as operações de monitoramento do ministro Alexandre de Moraes começaram a ser implementadas a partir do dia 21 de novembro de 2022”.

Poucos dias antes da divulgação do áudio do ministro, o major do Exército Rafael Martins de Oliveira também enviou, em 15 de novembro, para o auxiliar de Bolsonaro, Mauro  Cid, um documento protegido por senha intitulado “Copa 2022” que, segundo a PF, “seria uma estimativa de gastos para subsidiar, possivelmente, as ações clandestinas que seriam executadas em novembro e dezembro”.

Ainda conforme a PF, um dos principais conspiradores do golpe, o general Fernandes começou a frequentar manifestações golpistas “nos primeiros dias de novembro, logo após o resultado das eleições”.

Também no início de novembro, o então comandante do Exército Freire Gomes aparentemente relutava em dar seu aval à ideia da deflagração do golpe, segundo indicam as mensagens coletadas pela PF. Em 9 de novembro, portanto 11 dias antes da mensagem de Nardes, o então presidente Bolsonaro chamou, para uma reunião no Palácio do Planalto, o general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, então comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter) do Exército. Para a PF, Theophilo “de forma inequívoca anuiu com o golpe de Estado” e a reunião foi uma tentativa de Bolsonaro de contornar a paralisia de Gomes.

Todo esse cenário efervescente “nas casernas” guarda total coerência com o ponto central do áudio de Nardes. No mínimo, uma enorme e estranha coincidência.

Quando o áudio veio a público, o ministro entrou em licença médica no TCU. Antes, limitou-se a emitir à imprensa uma curta declaração para que, segundo ele, “não pairassem dúvidas”. Afirmou que “repudia peremptoriamente manifestações de natureza antidemocrática e golpistas, e reitera sua defesa da legalidade e das instituições republicanas”.

Imagina, que isso. Quando ele falou, no áudio, que “felizmente acordamos”, quando disse “conheço todos os passos que temos que fazer”, quando citou o desencadeamento de algo de “forma positiva”, certamente ele falava sobre receita culinária de arroz carreteiro, o prato típico da sua cidade natal, Santo Ângelo (RS).

A nota alegou ainda que Nardes “em momento algum falou em golpe militar”. Então, quando ele descreveu “movimento muito forte nas casernas”, devia estar se referindo às provas de equitação que os militares adoram fazer como hobby no Centro Hípico do Exército em São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

Além de distorcer o que o próprio ministro disse no áudio, a nota do TCU nada esclareceu sobre a origem das informações que Nardes diz ter recebido. O tempo passou e o ministro nunca explicou – e, se explicou algum dia, tal alegação nunca veio a público – as principais dúvidas trazidas pelo áudio.

Na gravação, Nardes deu algumas pistas sobre suas fontes. Ele disse ter falado, naquela semana, “longamente com o time” de Bolsonaro. Afirmou ainda que “julga muitas coisas do que está acontecendo no Brasil, praticamente muita coisa passa pelo TCU”. Nardes também tem profundas conexões com o agronegócio. Ele próprio se declara, no currículo oficial do TCU, como “produtor rural desde 1975”, além de diretor de uma empresa agrícola no Rio Grande do Sul.

Seu irmão, José Otaviano Nardes, é uma das principais lideranças ruralistas na região de Primavera do Leste (MT). Descobriu-se, em 2021, que durante o governo Bolsonaro os dois Nardes manifestaram apoio à ideia do governo Bolsonaro de colocar em prática um plano de exploração comercial de terras indígenas Xavante em Mato Grosso.

Nardes é um conhecido aliado de Bolsonaro. Como notou o jornalista Evandro Éboli, suas biografias se confundem. Ambos apoiaram a ditadura militar (Nardes começou a vida política na direitista Arena, que dava sustentação ao regime). Na Câmara dos Deputados, ambos conviveram nas mesmas legendas por 12 anos: PPR (1995-1999), PPB (1999-2003) e, de novo, o PPB (2003-2007).

Quando foi escolhido para ser o relator, no TCU, no caso das joias que envolve Bolsonaro, Nardes optou por não determinar o confisco dos bens, apenas orientou que o ex-presidente deixasse de usá-los.

As pistas que mostram as relações do ministro com o universo bolsonarista, contudo, são incapazes de identificar as fontes de informação de Nardes no áudio de 2022.

Em agosto de 2023, a Folha de S.Paulo indagou ao TCU o que o tribunal havia feito desde a divulgação do áudio para apurar seu conteúdo, porém nada foi respondido. Nardes também nada falou. E assim ficamos até os dias atuais.

Ao longo das 884 páginas do relatório final da PF sobre o plano de golpe, o nome de Augusto Nardes não foi citado nenhuma vez. Está na hora de o ministro, se realmente tem algum apreço pela democracia como ele disse ter na nota de 2022, ajudar a fortalecê-la revelando tudo o que ouviu e principalmente como foi que ouviu.

A forma pela qual Nardes descreveu tudo o que estava acontecendo nos bastidores do governo e dos quartéis, fatos que só seriam plenamente conhecidos dois anos depois, se inscreve como um grande mistério da política nos últimos anos.

Aos 72 anos, o produtor rural Nardes já foi muitas coisas na vida. Depois da Arena militarista, passou para o seu sucessor, o PDS. Foi deputado federal por três mandatos, até conseguir a indicação da Câmara para o cargo no TCU, que, aliás, foi apoiado, ironicamente, pelo próprio presidente Lula em 2005.

Mas não constam, no extenso currículo de Nardes, as atividades de profeta, cartomante ou vidente.

Agência Pública

Alckmin assume agenda, mas Lula permanece presidente

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está internado em uma UTI, em São Paulo, se recuperando de uma cirurgia que fez na cabeça. Apesar disso, continua à frente da Presidência da República.

Lula decidiu não se licenciar do cargo. Apenas transferiu parte da agenda ao vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).

É o caso da recepção ao primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, que ocorreu na manhã desta terça-feira (10).

O presidente, segundo os médicos que o acompanham, está proibido de realizar atividades de trabalho até se recuperar completamente.

No entanto, ainda de acordo com a equipe médica, deve permanecer lúcido e em observação nos próximos dias. A previsão é que ele retorne a Brasília no início da próxima semana.

A Constituição define as situações específicas em que o presidente deve transferir o exercício do cargo ao vice.

Um exemplo são as viagens ao exterior. O artigo 83 complementa que presidente e vice não poderão se ausentar do país por período superior a 15 dias, sem licença do Congresso Nacional.

Nos casos envolvendo saúde, a legislação não é clara. Apenas diz que “no caso de impedimento” do titular, o vice assumirá a função.

Há ainda situações previstas de impedimentos momentâneos, como processos judiciais e de impeachment. Durante o afastamento determinado no trâmite da ação, o vice assume o cargo.

Bolsonaro

Assim que assumiu a Presidência em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro (PL) passou por uma cirurgia e ficou 18 dias no hospital.

Na ocasião, tirou licença médica apenas nos dois primeiros dias, período em que passou temporariamente o cargo para seu vice, Hamilton Mourão (Republicanos).

A situação se repetiu em setembro do mesmo ano, quando o vice assumiu a função por cinco dias, metade do período de internação.

Já em 2021, quando Bolsonaro foi internado de emergência devido a uma obstrução no intestino, a avaliação foi que Mourão não precisava assumir o cargo e o então vice-presidente manteve uma viagem para Angola, onde participou da Cúpula da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

CNN