Na tarde de sábado, dia 30 de março, chegou à imprensa a informação de que o empresário Sandro Mabel faria uma live para se pronunciar sobre a resposta dada ao convite do governador Ronaldo Caiado para ser o pré-candidato da base governista à Prefeitura de Goiânia. A informação deixou um receio pairando no ar. Afinal, a resposta – positiva – de Mabel era esperada para o dia seguinte, e a antecipação repentina dela abria brecha para especulações: teria o empresário recuado e decidido recusar o pedido do governador?
Com a definição de Mabel como o pré-candidato que vai representar a base governista na eleição, demais pré-candidatos passaram a reorganizar suas estratégias e alianças em adaptação às movimentações do empresário
Era o que os demais ‘jogadores’ estavam esperando. Após meses de rumores e tests drives, a aposta de Caiado para o Paço Municipal estava finalmente posta, permitindo aos demais pré-candidatos se reorganizarem e articularem. Por óbvio, aqueles interessados em disputar o Paço vinham se movimentando desde o ano passado, mas só agora é que a disputa toma um rumo menos nublado.
Explico: as pesquisas de intenção de voto divulgadas do final de 2023 até março deste ano serviram como nada mais do que um termômetro, um “ensaio” para formar a ideia de quem o eleitor goianiense projetava como possível candidato à prefeitura. Entre os cotados estavam desde nomes que não podiam (e não podem) disputar, como Gustavo Mendanha (em razão da PEC do Terceiro Mandato), até aqueles que manifestavam desejo, mas não certeza, como o senador Vanderlan Cardoso. No entanto, a “caixa” com o nome que levaria o apoio do governador do Estado na disputa seguia vazia.
O requisito principal imposto pela base era: teria que ter perfil gestor – um apelo do goianiense, conforme indicado nas pesquisas qualitativas. Foram vários os nomes colocados em teste: Bruno Peixoto, presidente da Assembleia Legislativa; Jânio Darrot, ex-prefeito de Trindade; José Vitti, empresário e ex-deputado, e até alguns que já haviam se colocado como pré-candidatos por outra sigla, como Gustavo Gayer (PL) e o atual prefeito Rogério Cruz (Republicanos). No final, a conversa com nenhum deles decolou.
Na época, o Jornal Opção apurou que o governador tinha alguns nomes “dos sonhos”. Um deles, Gustavo Mendanha, que teria sido incentivado até o último minuto a tentar, junto à Justiça Eleitoral, o aval para se candidatar. O que não aconteceu. O outro seria a advogada Ana Paula Rezende, filha de Iris, que esteve diversas vezes no Palácio em reuniões com o governador. Mas ela estava irredutível e teria dito que, por enquanto, não era sua vontade.
O nome escolhido veio de surpresa. Após um evento no Palácio que contou com a presença de Mabel, o empresário foi chamado pelo governador para uma conversa e recebeu um “ultimato”: “Quero você como meu candidato”. Mabel, que mais tarde revelou que já havia sido sondado por interlocutores do governador e recusado a proposta, não pôde negar desta vez, mas deixou claro: “Só aceitei porque foi um pedido do governador”.
Mesmo sinalizando que havia aceitado o desafio por “livre e espontânea pressão”, o pré-candidato articulou em uma semana o suficiente para compensar meses. Entre reuniões com empresários, representantes de entidades classistas, sindicatos, presença em eventos de filiação ao União Brasil, confirmação de sua própria entrada ao partido e conversas para a escolha de sua vice na chapa, Mabel parece estar disposto a mostrar que, agora que entrou no jogo, entrou pra valer.
Com isso, todo o cenário político que havia sido construído até então, voltou quase à estaca zero. Partidos que antes eram dados como certos na disputa com cabeças de chapa, agora, são cotados para comporem com Sandro Mabel, como é o caso do PL e PSD (mesmo que as vozes que dizem que a candidatura de Vanderlan é irreversível ainda ecoem alto). Pré-candidatos que haviam ousado colocar seus nomes à disposição agora fecham alianças com o pré-candidato do governo, com o vereador Lucas Kitão exemplificando a situação. Nomes que antes eram vistos como desafetos políticos agora se reaproximam e fazem as pazes, conversas que antes eram tidas como frias, quase mortas, agora são reavivadas.
A definição e o início dos trabalhos do pré-candidato da base caiadista, inclusive, faz com que as pesquisas, a partir de agora, deixem de ser “ensaios de projeção” e passem a ser bússolas que começam a apontar realmente quem tem as maiores chances de liderar a corrida eleitoral.
O governador Ronaldo Caiado levou tempo para fazer seu movimento no tabuleiro do xadrez político goianiense, mas quando o fez, foi sem sombra de dúvidas. Vale lembrar que, caso sua aposta seja exitosa, o pavimento de seu caminho até 2026, quando pretende se lançar na corrida ao Palácio do Planalto, fica ainda mais sólido.
Enquanto a indefinição de um beneficiava e deixava em stand by vários outros, o jogo era um. Agora, é outro totalmente diferente. Que comece a partida, onde a teoria da seleção natural vai – como sempre – prevalecer.