O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo deve revisar a faixa de isenção do imposto de renda novamente em 2024. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já determinou que sejam feitos estudos sobre o tema.
“Nós vamos fazer uma nova revisão neste ano, até por conta do aumento do salário mínimo”, disse em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
No ano passado, o governo elevou a faixa de isenção para R$ 2,6 mil. Durante a campanha, Lula havia prometido que a isenção seria de R$ 5 mil reais.
O governo também pretendia avançar na reforma da renda em 2024, mas Haddad já reconheceu que o calendário eleitoral pode interferir neste processo.
Nova política industrial e BNDES
Na mesma entrevista, Haddad disse que não há um paradoxo entre o trabalho de ajuste fiscal da equipe econômica e a nova política industrial lançada pelo governo, que prevê subsídios e mais financiamento ao setor no Brasil.
Segundo ele, o que foi apresentado pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) já está “contratado e orçado”, e não foge da atuação histórica do BNDES.
“O que foi feito hoje (segunda-feira, 22) foi a apresentação de um trabalho que está contratado, orçado. O BNDES emprestar R$ 75 bilhões, R$ 100 bilhões, por ano, é parte da missão histórica”, disse. “Não há paradoxo. O que foi feito hoje foi prestação de contas do que foi encaminhado ao Congresso, que permitiu ao BNDES voltar à ativa. O BNDES estava sendo depauperado, escanteado, com acusações injustas”, respondeu o ministro.
Reservas cambiais
Haddad disse ainda que, quando defendeu a formação de reservas cambiais no País, acreditou que elas por si só diminuiriam a volatilidade, mas com o passar do tempo viu que o problema permanecia.
É por isso que o País também entrou na discussão de um mecanismo de hedge cambial (operação para proteger investimentos das variações de moedas estrangeiras), para operações de longo prazo envolvendo projetos verdes. A ideia foi apresentada por ele no começo do mês, em entrevista ao jornal O Globo.
“O que estamos discutindo é que tanto Banco Central e Tesouro quanto organismos internacionais têm de ter instrumentos novos que permitam você ‘hedgear’ operações de longo prazo, sobretudo de investimentos que têm prazo longo de maturação. Investidores e pensadores com quem conversei fora do País concordam que esse é um bom diagnóstico do que poderia ser resolvido para atrair investimentos ao Brasil, no momento em que o País passa a ter vantagens competitivas”, disse.
Presidência do Banco Central
O ministro afirmou que ainda não tratou com o presidente Lula sobre a indicação de quem será o próximo presidente do Banco Central, uma vez que o mandato do atual chefe da autarquia, Roberto Campos Neto, acaba no fim deste ano. Ele foi questionado sobre o tema após comentar a melhora na relação entre o governo e Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que se manteve na direção do BC amparado pela lei de autonomia do órgão.
“Agora Campos Neto não sai do churrasco da Granja, já foi convidado para o Alvorada, está tudo em paz”, brincou Haddad. A perspectiva de Haddad é que a sucessão da presidência do BC seja um assunto para a metade do ano. “Não conversei com presidente ainda sobre nome”, respondeu o ministro, que não descartou que um dos quatro diretores indicados por Lula seja escolhido para assumir a presidência do BC, nem que o indicado possa ser um nome de fora, que ainda não está na diretoria do banco.
Durante a entrevista, apesar de dizer que a autonomia do BC não está em discussão, o ministro citou, por sua vez, que a regra foi especialmente desafiadora no Brasil. “Foi uma transição entre governos muito diferentes”, explicou Haddad. O ministro ainda defendeu que a decisão do Banco Central de iniciar os cortes da Selic em agosto do ano passado no patamar de 0,5 ponto porcentual, e não de 0,25, só foi possível em razão das informações repassadas à autoridade monetária pelo Ministério da Fazenda.
Estadão