Categoria: Colunistas

  • De volta para o futuro no projeto de lei que reforma o Código Civil, por Luis Felipe Salomão

    De volta para o futuro no projeto de lei que reforma o Código Civil, por Luis Felipe Salomão

    O título deste artigo faz referência ao icônico filme que conta a história de um adolescente e um cientista que viajam acidentalmente no tempo, projetando para o espectador o que foi o passado e o que representa o futuro. Nesse sentido, tramita no Congresso, desde 31 de janeiro de 2025, o Projeto de Lei (PL) nº 4, de 2025, apresentado pelo então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, objetivando a reforma do Código Civil (CC), elaborado por comissão de juristas de extrema competência e reconhecidos civilistas.

     

    Spacca

     

    O mundo vive uma transformação jamais vista. Há quem defenda a personalidade jurídica para robôs; como qualificar a responsabilidade civil em acidente com carro não tripulado; controle das notícias falsas, trolling e bolhas nas redes sociais. Além disso, os algoritmos, o metaverso e a internet das coisas são alguns exemplos desse fenômeno. Os novos modelos contratuais, a engenharia genética e os arranjos familiares foram catalisados pela expansão do acesso à internet no início deste século, o que impactou profundamente relações interpessoais, trabalho, negócios, lazer, educação e acesso à informação.

    O projeto objetiva atualizar as disposições do Código Civil de 2002 a partir do entendimento consolidado dos Tribunais, sobretudo do STF e STJ, da comunidade jurídica, da legislação de outros países, dos avanços tecnológicos e das crescentes demandas sociais.

    A despeito de estar previsto para iniciar em breve as discussões no Senado, a modernidade do anteprojeto apresentado pela Comissão de Juristas já tem orientado a solução de demandas judiciais que estão tramitando.

    Casos concretos

    O STF finalizou em 27/6/2025 o julgamento do Tema nº 987, de repercussão geral (RE nº 1.037.396/SP), que discutiu a constitucionalidade do artigo 19 da Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) relacionada à responsabilização civil de provedor de internetwebsites e gestores de aplicativos de redes sociais por danos decorrentes de atos ilícitos praticados por terceiros.

    O voto do relator, ministro Dias Toffoli, traz como fundamento a proposta contida no projeto “(…) assegurado a todos o direito a um ambiente digital seguro e confiável, baseado nos princípios gerais de transparência, de boa-fé, da função social e da prevenção de danos”, acrescentando ainda que “as plataformas digitais devem demonstrar a adoção de medidas de diligência para garantir a conformidade dos seus sistemas e processos com os direitos de personalidade e os direitos à liberdade de expressão e de informação, incluindo a realização de avaliações de riscos sistêmicos para a mitigação e prevenção de danos”(livro novo de Direito Digital).

    No STJ, ao apreciar o Tema Repetitivo nº 1.200, de relatoria do ministro Marco Aurélio Bellizze, afetado para decidir o termo inicial do prazo prescricional para pretenso filho ajuizar ação de petição de herança, o Colegiado concluiu que se conta da abertura da sucessão, que não é impedida, suspensa ou interrompida pela ação de reconhecimento de filiação, tese que guarda identidade com a proposta apresentada no anteprojeto da Comissão (§§ 1º e 2º do artigo 1.824).

    O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), ao apreciar apelação em ação de divórcio (1.0000.24.091561-1/001), entendeu que a demanda deveria prosseguir mesmo após a morte de uma das partes no curso do processo. O acórdão referenciou a sugestão contida no anteprojeto da Comissão de acrescentar o § 4º no artigo 1.571 do CC, nestes termos.

    O projeto de reforma do Código Civil apresenta, dentre importantes temas, avanços no enquadramento jurídico dos animais de estimação, bem como busca conferir tratamento adequado ao compartilhamento da companhia. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), ao examinar recurso sobre modificação de cláusula envolvendo a convivência dos tutores com uma cadela (0019906-34.2024.8.19.0000), pontuou que “atualmente os ‘pets’ assumiram, em nossa sociedade, relevante papel de afeto e suporte psicológico, tanto que o anteprojeto de reforma do Código Civil os considera ‘seres vivos sencientes e passíveis de proteção jurídica própria, em virtude da sua natureza especial’”.

    Esses são alguns poucos exemplos de como a proposta apresentada no Senado para atualização do diploma civil pode transformar para melhor a vida das pessoas, um texto fruto do debate amplo e democrático que ocorreu no âmbito da comissão de juristas, com conteúdo moderno e científico, e está madura para ser apreciada pelo Congresso, que saberá a importância de avançar na análise das proposições e produzir a final um texto atualizado e que atenda às novas necessidades e desafios da sociedade brasileira.

    • Luis Felipe Salomão- é ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e presidente da Comissão de Juristas do Senado que atualiza o Código Civil.
      Fonte: Consultor Jurídico
  • Brilha Goiânia avança e se aproxima de 100 mil luminárias de LED instaladas na capital

    Brilha Goiânia avança e se aproxima de 100 mil luminárias de LED instaladas na capital

    O programa Brilha Goiânia já modernizou mais de 65 mil pontos de iluminação pública e trabalha, atualmente, na instalação de cerca de 28 mil novas luminárias na Região Oeste. A iniciativa da Prefeitura de Goiânia, por meio da Parceria Público-Privada (PPP) que é considerada o maior investimento já realizado na capital, deve beneficiar diretamente mais de 700 mil moradores após a conclusão desta etapa.

    “Estamos dando uma nova cara à nossa capital, que está mais bonita, limpa, organizada e segura para todos. O Brilha Goiânia é exemplo de como investir em tecnologia e eficiência, trazendo benefícios reais para a população”, afirma o prefeito, ao detalhar que a Parceria Público-Privada (PPP) já passou pelas regiões Central, Noroeste, Norte, Leste e Oeste.

    A próxima etapa contemplará os bairros da Região Sul. A substituição das lâmpadas convencionais por LED proporciona uma redução de até 65% no consumo de energia elétrica, o que deve gerar uma economia superior a R$ 40 milhões por ano aos cofres públicos. As novas luminárias garantem luminosidade super branca, pelo menos 30% maior (até 216 lúmens por watt) do que as lâmpadas tradicionais, além de vida útil de mais de 10 anos de operação contínua.

    O programa também visa implantar centenas de pontos de iluminação de destaque na capital em parques, praças, prédios públicos, viadutos e elevados, entre outros. O contrato também prevê a instalação de central de administração da rede de iluminação que vai monitorar remotamente (via internet) todos os pontos de iluminação. “O programa vai além da iluminação, vamos modernizar a cidade e deixar ela mais tecnológica”, conclui o prefeito.

    Secretaria Municipal de Comunicação

  • Organizações sociais transformam vidas, por Diogo Marquez

    Organizações sociais transformam vidas, por Diogo Marquez

    Em um país marcado por desigualdades históricas, as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos (ONGS) emergem como pilares fundamentais na promoção dos direitos básicos: saúde, educação e lazer. Essas entidades, movidas por um compromisso filantrópico, atuam onde o Estado muitas vezes não alcança, oferecendo soluções práticas e eficazes para comunidades em situação de vulnerabilidade.

    O Brasil conta com mais de 815 mil organizações sem fins lucrativos, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Mapa das OSC – Seja bem-vind@. Essas entidades desempenham um papel crucial na implementação de políticas públicas e na oferta de serviços essenciais.

    A atuação dessas organizações é potencializada por recursos provenientes de emendas parlamentares, especialmente as impositivas, que destinam verbas públicas para projetos sociais. Dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), divulgados recentemente, mostram que em 2024, as emendas representaram 27% das despesas discricionárias da União, alcançando R$ 40,89 bilhões — um crescimento real de 12% em relação a 2023 . Esses recursos permitem a expansão de programas de saúde, educação e lazer, garantindo que iniciativas bem-sucedidas possam ser replicadas em diferentes regiões.

    Na ACB – Associação Comunidade Batista, temos testemunhado o impacto transformador dessas parcerias. Por meio de cursos profissionalizantes, atividades culturais e esportivas, conseguimos oferecer oportunidades reais de desenvolvimento para milhares de pessoas. Essas ações não apenas capacitam indivíduos, mas também fortalecem comunidades inteiras, promovendo inclusão e cidadania.

    É fundamental reconhecer e valorizar o papel das organizações sem fins lucrativos na consolidação dos direitos básicos da sociedade. Elas são agentes de mudança, capazes de transformar realidades e construir um futuro mais justo e igualitário para todos.

    Sobre o autor: Diogo Marquez é diretor-geral da ACB – Associação Comunidade Batista, organização da sociedade civil sem fins lucrativos com sede em Goiânia (GO), que atua na promoção da qualificação profissional, assistência social e fortalecimento de vínculos familiares.

    Por Diogo Marquez, diretor da ACB – Associação Comunidade Batista

    Fonte: GIRO COMUNICAÇÃO

  • Entenda a importância da ambidestria no conselho consultivo, por Carlos Moreira

    Entenda a importância da ambidestria no conselho consultivo, por Carlos Moreira

    A busca constante pela inovação ao mesmo tempo em que se pensa no hoje e nas possibilidades que os recursos existentes podem promover, essa é a ambidestria organizacional, fundamental a toda empresa que deseja alcançar a longevidade no mercado.

    Diante da dificuldade de grande parte das empresas brasileiras em alinhar a inovação com a eficiência operacional, o conselho consultivo se torna fundamental para promover a ambidestria, mas já adianto: antes de tudo, o conselho consultivo precisa ser ambidestro!

    Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, auxiliando e orientando empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos, Carlos Moreira aborda sobre a ambidestria no conselho consultivo e o quanto este conceito é essencial, ainda mais à empresa familiar brasileira.

    Ambidestria organizacional – por que é essencial?

    Lidar com os desafios de hoje, sem tirar os olhos do futuro, essa é a essência do conceito de ambidestria organizacional e, sem vivenciar essa realidade, muitas empresas arriscam a sua sustentabilidade em um cenário corporativo regido por constantes mudanças e eventos inesperados.

    O termo ambidestria ganhou notoriedade em meados de 2004, tratando do dilema da maioria das empresas de administrar suas estruturas atuais, mas ao mesmo tempo, olhar para o futuro.

    A empresa que não observa os principais movimentos que ocorrem na atualidade seja ligado ao desenvolvimento de novas tecnologias, as tendências econômicas, transformações políticas, entre muitos outros fatores, corre o risco de comprometer o seu futuro.

    É necessário ser adaptável a mudanças e continuamente alinhar conceitos em sua própria gestão para que a empresa brasileira tenha sucesso em longo prazo.

    Grandes empresas brasileiras já praticavam a ambidestria organizacional, mesmo antes de o conceito ser amplamente discutido. Entre os exemplos estão:

    Natura

    Enquanto a empresa concentra esforços em uma gestão eficiente em sua cadeia de suprimentos e produção sustentável, também investe em inovação, principalmente ligada ao desenvolvimento de novos produtos com tecnologias avançadas a partir de ingredientes naturais da biodiversidade brasileira.

    Magazine Luiza

    Essa empresa familiar também é destaque em ambidestria organizacional. Mesmo mantendo um modelo de operação tradicional e robusto, também investe em inovação, principalmente ligada ao e-commerce e integração omnichannel.

    Embraer

    No setor aeronáutico, essa empresa é uma importante referência. Além de prezar por sua eficiência operacional, a Embraer investe em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias como, por exemplo, aviões elétricos e soluções de mobilidade urbana eVTOLs, conhecidos popularmente como “carros voadores”.

    Grupo Jacto

    Essa empresa familiar referência em longevidade e destaque no segmento de máquinas agrícolas e soluções tecnológicas para o agronegócio, além de manter uma operação sólida também investe consistentemente em tecnologias de ponta como é o caso de pulverizadores autônomos e soluções de agricultura de precisão.

    Grupo Gerdau

    Considerada uma das maiores empresas siderúrgicas do mundo, a Gerdau mantém a gestão marcada por alto padrão de qualidade e a inovação por meio do investimento em transformação digital e em soluções ligadas à sustentabilidade, como é o caso da produção de aço com menor impacto ambiental.

    Ambidestria no conselho consultivo como papel estratégico nas organizações

    Dentre os principais benefícios da ambidestria no conselho consultivo, estão:

    Direcionamento no curto e longo prazo

    O conselho consultivo ambidestro ajuda a promover o alinhamento para operações mais eficientes no presente com estratégias inovadoras com foco no futuro.

    Além disso, apoia o desenvolvimento de soluções de curto prazo, sem que se perca a visão acerca das transformações necessárias para o alcance da longevidade empresarial.

    Exploração de recursos existentes e de novas oportunidades

    A ambidestria no conselho consultivo permite a exploração de novas oportunidades de mercado e de novas tecnologias que são tendência na atualidade.

    Também possibilita que os recursos existentes e processos sejam otimizados, garantindo a sustentabilidade e competitividade.

    Melhorias na tomada de decisão

    A diversidade de experiências e background profissional e pessoal no conselho consultivo permite que os profissionais ofereçam insights diversificados que ajudam no equilíbrio entre riscos e oportunidades.

    A ambidestria no conselho consultivo também auxilia na identificação das principais tendências de mercado, assim como para maior capacidade adaptativa das empresas às contínuas mudanças que ocorrem no cenário nacional e global, o que facilita a tomada de decisões estratégicas.

    Fortalecimento da governança corporativa

    O conselho consultivo ambidestro também contribui para uma governança mais robusta e para o aumento da confiança entre os stakeholders.

    O órgão também possibilita o contínuo diálogo entre sócios, executivos e demais envolvidos, minimizando a incidência de conflitos internos e alinhando as expectativas entre os envolvidos na gestão organizacional, estabelecendo assim, uma estrutura sólida para o crescimento sustentável da empresa.

    Redução de riscos

    A ambidestria no conselho consultivo ajuda a empresa na antecipação de riscos estratégicos, financeiros e operacionais.

    A visão ampla por parte dos profissionais ajuda na identificação de ameaças iminentes e na criação de estratégias que ajudam a proteger a empresa em situações de adversidades futuras, ou seja, a empresa torna-se mais preparada frente a crises inesperadas.

    Apoio à sucessão empresarial e longevidade

    Um dos maiores desafios entre as empresas familiares brasileiras é a sucessão empresarial e o conselho consultivo ambidestro auxilia na orientação estratégica para a transição de liderança bem-sucedida, assegurando que as decisões sejam realizadas com base em planejamento estruturado e alinhado aos objetivos da empresa.

    A participação do conselho consultivo também se estende à definição de papéis claros a cada um dos sócios e gestores.

    Aumento da capacidade de adaptação

    O mercado em constante mudança exige das empresas resposta ágil e ampla capacidade adaptativa. A ambidestria no conselho consultivo capacita a empresa para identificar as principais mudanças rapidamente, assim como para ajustar estratégias a fim de manter sua vantagem competitiva.

    O equilíbrio entre a inovação e preservação dos valores da empresa

    Muitas empresas, especialmente as familiares, têm receio quanto a novas práticas de gestão e tecnologia por temer a perda da identidade central do negócio. Este é um temor que pode ser deixado de lado quando se tem um conselho consultivo ambidestro atuante na empresa.

    Os conselheiros atuam como mediadores entre as principais demandas atuais do mercado e os valores internos e inegociáveis da empresa.

    A inovação pode ser explorada sem que relacionamentos construídos ao longo dos anos sejam afetados negativamente.

    A ambidestria no conselho consultivo ajuda na criação de uma cultura organizacional que valoriza tanto a longevidade quanto as importantes transformações que ocorrem no mercado. Essa abordagem combina a busca por melhorias e o respeito à história e legado empresarial.

    E para concluir, é essencial promover a ambidestria no conselho consultivo para que a empresa permaneça competitiva no presente, sem perder de vista a construção de sua longevidade.

    Carlos Moreira – Há mais de 37 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.
  • Comércio goiano apresentou crescimento de 8,1% em outubro

    Comércio goiano apresentou crescimento de 8,1% em outubro

    O comércio goiano apresentou crescimento de 8,1% em outubro, na variação interanual, na comparação com o mesmo mês de 2023. O resultado fez com que o setor atingisse a marca de 11 meses com crescimento consecutivo, sequência não vista desde 2014, conforme apuração do Instituto Mauro Borges (IMB).

    Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também revela que o bom desempenho foi impulsionado pela venda de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (40,7%), seguido por artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (23,6%).

    Comércio goiano cresce 8,1% e registra alta pelo 11° mês consecutivo
    Comércio de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos apresentou crescimento de (23,6%)

    Nas variações acumuladas no ano e em 12 meses, o crescimento foi de 6,2% e 5%, respectivamente, com altas puxadas pelos artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos e hipermercados e supermercados. Em relação à média nacional, o Brasil obteve crescimento de 6,5%, 5% e 4,4% nas variações interanual, acumulada no ano e em 12 meses, respectivamente.

    Varejo ampliado

    Outro destaque da pesquisa foi a alta do comércio varejista ampliado, cujo crescimento foi de 11,2%. O bom desempenho levou Goiás para a posição de terceiro estado que mais cresce no país no indicador, ficando atrás apenas da Paraíba (11,8%) e Amapá (18,2%). A venda de veículos, motocicletas, partes e peças (27,8%) foi a responsável pelo bom desempenho.

    A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) produz indicadores que permitem acompanhar o comportamento conjuntural do comércio varejista no país, investigando a receita bruta de revenda nas empresas formalmente constituídas, com 20 ou mais pessoas ocupadas, e cuja atividade principal é o comércio varejista.

     

  • Roberto Brant: Para além das eleições municipais

    Roberto Brant: Para além das eleições municipais

    As eleições municipais estão se aproximando, mas a população ainda não se mostrou muito interessada porque, salvo algo inesperado, tudo continuará como sempre, qualquer que sejam os resultados. Não se pode dizer o mesmo da classe política, pois a eleição municipal determina a sorte das futuras eleições parlamentares, que determinam a sorte dos próximos governos.

    Nosso sistema eleitoral é fortemente inclinado para a preservação das forças dominantes e muito pouco favorável às mudanças, principalmente pela exclusividade do financiamento público das campanhas. Os fundos eleitorais são calculados com base nas bancadas federais dos partidos e como o dinheiro é um fator decisivo nas eleições, os partidos dominantes têm possibilidades muito maiores de continuar dominantes.

    O sistema político brasileiro está construído para se autoperpetuar e, por isso, a composição das assembleias estaduais e da Câmara dos Deputados praticamente não se altera em termos políticos, mesmo diante de mudanças nos sentimentos da população. Nas eleições para presidente da República, graças ao seu caráter plebiscitário, os ventos de mudança costumam prevalecer, mas o poder dos presidentes acaba se diluindo diante do Parlamento e dos tribunais, neutralizando qualquer veleidade de reforma.

    Mas o planeta está mudando e vai mudar ainda mais, e mais depressa do que estamos acostumados, o que pode nos deixar num fuso histórico diferente do resto do mundo desenvolvido ou mesmo em desenvolvimento.

    A nova competição geopolítica que está rapidamente se desenhando é diferente da que opunha os países ocidentais, sob a liderança dos Estados Unidos, à antiga União Soviética. Essa era exclusivamente política e militar. A de agora é predominantemente econômica e tecnológica, envolvendo todos os aspectos da vida. A corrida pela hegemonia tecnológica entre os EUA e a China vai atingir o livre comércio e a globalização, e ainda provocar um recuo na cooperação internacional.

    Questões centrais

    A política internacional das grandes potências terá uma ênfase maior nas questões econômicas e tecnológicas, misturando questões de Estado e interesses corporativos. O cenário externo, na política e na economia, será muito diferente daquele em que vivemos até agora. E tudo indica que aqui, tanto o governo quanto o Parlamento continuarão a viver como se nada estivesse acontecendo.

    Até a Europa, com todo o seu poder econômico e político, está se colocando em estado de alerta. Um relatório de Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, por encomenda da Comissão Europeia, expôs as fragilidades do continente diante das novas realidades da economia e da geopolítica. Propôs mudanças radicais nas áreas de defesa, comércio e políticas de apoio à inovação e à competitividade das empresas.

    Essas mudanças visam propiciar à Europa autonomia na área de defesa e protagonismo nas novas tecnologias, apoiando o setor privado com menos regulação e mais investimento público. Seria uma reviravolta completa na vida europeia, visando a própria sobrevivência. Se esses planos se concretizam, é uma questão em aberto, mas, até agora, ninguém foi capaz de sugerir outro manual de sobrevivência.

    Enquanto isso, no Brasil, governo e Parlamento não demonstram o menor conhecimento ou preocupação estratégica diante das mudanças tectônicas que estão em andamento e que influirão diretamente no modo como a economia e a vida vão funcionar. Para termos um futuro de relevância, mesmo sabendo das nossas limitações, temos que, pragmaticamente, mudar algumas das nossas concepções. O ponto básico é que teremos que admitir uma maior interdependência entre a prosperidade das empresas e o poder do Estado. Separados, nem o Estado nem o setor privado têm os meios para competir. A China usa todo o poder do Estado para promover suas empresas e conquistar mercados. Os EUA já estão despertando para fazer as mesmas coisas. Agora é a União Europeia que sonha em seguir o mesmo caminho.

    E nós? Vamos continuar brincando de esquerda e direita ou vamos para o jogo dos adultos?

    Correio Braziliense

  • A nova Lei dos concursos públicos, por Karla Oliveira e Ingrid Tainá*

    A nova Lei dos concursos públicos, por Karla Oliveira e Ingrid Tainá*

    Foi sancionada neste mês, aos 09 de setembro de 2024, a nova lei dos concursos públicos, a Lei n. 14.965. A nova Lei aplica-se, obrigatoriamente, aos concursos federais a partir de 1º de janeiro de 2028, no entanto, os estados, municípios e o Distrito Federal poderão, desde já, adotar as especificações.

    Por meio da recente legislação, a Administração Pública Federal busca assegurar a legalidade dos concursos públicos, com o objetivo de reduzir o elevado índice de judicialização, já que o Poder Judiciário enfrenta diariamente ações relacionadas a supostas irregularidades nos processos seletivos.

    Entretanto, algumas das alterações previstas para promover a democratização dos concursos dependem de regulamentação específica e de um esforço rigoroso da Administração Pública para garantir a segurança do processo, especialmente em relação a modalidade de prova, total ou parcialmente, à distância.

    Importante ressaltar, conforme artigo 8º, parágrafo único, da Lei n. 14.965, a regulamentação das provas à distância poderá ser geral para o ente da Federação ou específica de cada órgão ou entidade, mediante consulta pública prévia e observância aos padrões de segurança da informação previstos em lei.

    Nesse sentido, é comum que as leis prevejam a necessidade regulamentação para sua aplicação, o que que pode atrasar a efetividade da norma. No entanto, neste caso, uma nova lei regulamentar pode ser o melhor caminho, considerando as dificuldades de implementação das provas digitais, tanto para evitar fraudes quanto para organizar os órgãos públicos responsáveis pelos concursos.

    Adicionalmente, a nova lei estabelece que a autorização para a realização de concursos deve ser expressamente motivada, com a demonstração de inexistência de concurso público anterior válido para os mesmos cargos e/ou empregos públicos, com candidato aprovado e não nomeados. Caso haja candidatos aprovados e não nomeados, a abertura excepcional de um novo certame só será possível mediante a demonstração da insuficiência de candidatos diante das necessidades da administração pública (artigo 3°, parágrafo único).

    A Lei n. 14.965/2024 também prevê a exclusão da obrigatoriedade de suas novas regras para concursos destinados a cargos de Magistrado, Defensor Público, membro do Ministério Público e das Forças Armadas, assim como para empresas públicas e das sociedades de economia mista que não recebam recursos da União, Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio.

    Por fim, destacam-se a inovação trazidas nas três modalidades de provas na Lei n. 14.965/2024: conhecimentos (incluindo provas escritas, objetivas ou dissertativas, e provas orais, que podem abranger conteúdos gerais ou específicos); habilidades (como elaboração de documentos, simulação de tarefas próprias do cargo e testes físicos); e competências (avaliação psicológica, exame de saúde mental ou teste psicotécnico).

    Em suma, o objetivo da nova lei é garantir a segurança das provas, análise das habilidades e competências necessárias ao desempenho dos candidatos, assegurando um desempenho eficiente nas atribuições do cargo ou emprego público.

    Para consultar a íntegra da Lei Federal n. 14.965/2024, acesse: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2024/lei/l14965.htm

    *Karla Oliveira é advogada administrativista e Coordenadora no Gonçalves, Macedo, Paiva & Rassi Advogados Associados (GMPR). Pós-graduanda em Políticas Públicas e Aluna Especial do Mestrado, na linha de pesquisa Administração Pública e Políticas Públicas, pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

    *Ingrid Tainá é estagiária em Direito Público no Gonçalves, Macedo, Paiva & Rassi Advogados Associados (GMPR). Graduanda em Direito pelo IPOG,

  • A outra face da psicopatia, por Kléber Oliveira Veloso

    A outra face da psicopatia, por Kléber Oliveira Veloso

    Esse epifenômeno é uma disfunção neurocognitiva grave, fazendo a pessoa se comportar contrariamente aos padrões sociais. É uma variação mórbida da personalidade, uma deformação das qualidades morais do caráter. Esse distúrbio psicoemocional é sinônimo de personalidade antissocial ou dissocial. Sua existência acompanha a humanidade e seu conceito é recente. Ela alcança, em maior ou menor escala, a população mundial na proporção de 4%. Ou seja, uma em cada cem pessoas tem essa neuropatologia. Desse percentual, 1% é do sexo feminino e 3% do sexo oposto, diferença semiológica que necessita ser melhor esclarecida. Essa entidade nosológica é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e rotula a Classificação Internacional de Doenças (CID).

    O córtex órbito-frontal e o córtex pré-frontal, áreas encefálicas que modulam o juízo moral e o sistema límbico, responsável pela amplitude e adequação das emoções e dos sentimentos, hospedam esse embotamento afetivo-emocional. A deficiência da amígdala cerebelar, órgão mais importante do sistema límbico, ao se comunicar com os hemisférios cerebrais, desencadeia a sociopatia. Ao estabelecer as conexões entre a amígdala e os lobos frontais, por meio dos impulsos eletromagnéticos, ocorre um deficit conectivo e, face à baixa atividade neural nos lobos pela hipofunção da amígdala, elabora-se um comportamento lógico, mas despido de sentimentos. Não há, por esse motivo, uma perfeita sintonia entre as emoções, elaboradas no sistema límbico e a sua razoabilidade, formada nos lobos frontais, área cerebral que rege o comportamento consciente.

    Essa síndrome, além de inativar o sistema nervoso simpático, exime o comportamento de constrangimento moral, em nítido contraste àquele aceitável. Face a essa insuficiência neurológica, a pessoa não elabora sentimentos como altruísmo, amor ao próximo, compaixão, culpa, empatia, gratidão, solidariedade ou vergonha e, por isso, não consegue estabelecer relações emocionais com o próximo. Observem, portanto, o que isso quer dizer!

    A semiologia dessa entidade nosológica se estabelece pela ausência de um comportamento neurocognitivo pró-social, pois o mecanismo psíquico do seu portador diverge daquele de uma pessoa normal, situando-o à margem do equilíbrio neurocognitivo. O sociopata é incapaz de se emocionar, de aprender com a experiência e de obstar os seus impulsos associais, apesar de essas conformações variarem entre os seus portadores, pois lhe falta o julgamento ético. Ele não processa os estímulos sentimentais e, por isso, não se emaranha num legado transpessoal. É, portanto, imperturbável e indiferente às emoções alheias face ao seu embotamento psicoemocional.

    Essa disfunção neurocognitiva provoca um egocentrismo patológico no seu portador, fazendo-o buscar a satisfação dos seus interesses sórdidos. O psicopata se encontra em todas as camadas sociais. Constitui família e, não raras vezes, desfruta de significativos atributos pessoais. Ele tem consciência das suas capacidades e da vulnerabilidade emocional de suas vítimas, por isso as manipula para delas se aproveitar. Utiliza-se dos seus predicados para ludibriá-las, conjugando, por exemplo, dotes intelectuais, profissionais ou artísticos, com um desequilíbrio real de afetividade.

    Por isso, o sociopata é incapaz de se colocar no lugar do outro, de sentir afeto e emoção, de modo que o sofrimento alheio não lhe diz respeito. Por causa dessa dinâmica neurocognitiva, ele não relaciona as suas palavras às suas emoções. Daí a impossibilidade de o psicopata se deprimir ou possuir baixa auto-estima. Ele fala qualquer coisa, envolve pessoas, mas permanece alheio àquelas emoções provocadas nos outros.

    Investigações etiopatogênicas mostram que os sintomas dessa psicopatologia se manifestam ao longo da vida pessoal. Eles se iniciam na infância, tonificam-se na adolescência e perpassam a vida adulta. O distúrbio pode ser abúlico, amoral, astênico, compulsivo, delinquente, explosivo, fanático, hipocondríaco, histérico, inadaptável, inseguro, ostensivo, sexual, dentre outros. Os perfis leve e moderado de gravidade do distúrbio, se identificados precocemente, podem ter o seu avanço impedido por meio de regras educacionais e religiosas, podendo ou não a modulá-los. O perfil severo é incorrigível e, se a pessoa tiver traços perversos e indômitos, pode evoluir para o canibalismo, dentre outras degenerescências.

    Na infância, essa neuropatogia se manifesta por meio de alterações comportamentais perceptíveis: afeição a brigas, às intimidações, às humilhações e à violência física contra amigos e a pequenos animais; assédio psicológico; caráter dissimulado; desrespeito à autoridade dos pais e dos professores; desapego aos sentimentos familiares; fácil colerização; fúria incontrolável; imediatismo; indisciplina; mentiras contumazes; raivas gratuitas; reduzida tolerância à frustração; trapaças para obter vantagens em jogos pueris, dentre outras.

    A adolescência é o estágio em que esse desequilíbrio psicoemocional mais se evidencia. Potencializa-se pelos seguintes comportamentos: abandono frequente do lar; ausência de remorso por um erro praticado contra alguém e de empatia com os sentimentos alheios; baixo controle da impulsividade; comportamento fantasioso, buscando adaptar a realidade à imaginação; exacerbado zelo com os interesses pessoais e nenhum com os alheios; fascínio pelo poder, daí a busca por profissões que “trazem” autoridade; incapacidade de elaborar sentimentos nobres; iniciação ao uso das drogas; insensibilidade emocional; megalomania; mitomania; prática de atos de vandalismo; procura de excitação; propensão a falecer prematuramente por meios violentos; rebeldia; sexualidade exaltada; trapaças pelo prazer, para citar alguns.

    Esse embotamento psíquico, no adulto, mantém uma cadência comportamental, sendo: agressões diversas; ausência de alucinações, de ansiedade, de baixa auto-estima, de delírios, de depressão, de neuroses, de sentimentos éticos e altruístas; chantagem emocional; desembaraço comportamental; dificuldades conjugais face à promiscuidade sexual; dificuldade para construir e manter amizades; estilo de vida parasita; frieza e calculismo ao se comportar; incapacidade de se responsabilizar por suas ações, em especial pelos compromissos financeiros e morais; inconstância nos empregos; loquacidade; manipulação de estados mentais alheios para alcançar o que se deseja; obsessão pelas mais variadas fantasias; prática de crimes bárbaros; quando pais, eles utilizam os filhos para alcançar seus objetivos, não lhes respeitando as escolhas; reduzida intuição; violência doméstica; voz monocórdica; vivência isolada e, quando realizada em grupo, procura lhe exercer o domínio.

    O Direito brasileiro não considera esse distúrbio uma doença para os fins de exculpar o seu portador. Se o psicopata cometer ilícito, civil ou penal, será responsabilizado. Ele tem a capacidade de entender – libertas intellectus – e a de se determinar – libertas propositi – sobre o ato que pratica, apesar de não se autodeterminar com relação às emoções face aos deficits neurocognitivos existentes no lobo frontal. Tem, portanto, hígida a sua curvatura cognitiva e a exata consciência do seu comportamento anormal, não apresentando deficiência algorítmica. Em função dessa desorganização afetivo-emocional, ele tem a sua própria lógica, “definindo” o que é lei, o certo e o errado, no seu mundo distorcido. Ele consegue maquiar a sua índole infratora.

    Cesare Lombroso (1835-1909), estudando antropologia criminal, etiquetou essa neuropatologia como oriunda de um determinismo biológico. Brilhantemente, em parte, acertou! Nessa linha de raciocínio, indaga-se: a pessoa nasce criminosa? Sim, o psicopata é o exemplo e, ao mesmo tempo, a exceção. Seguramente, alguns crimes violentos são praticados por ele, como: brutalidade sexual, corrupção, crueldade, depravação, homicídios em escala (atos praticados pelos serial killers), latrocínio, liderança de crimes organizados, rituais de sadismo, sequestros, terrorismo, torturas, tráfico e vício em drogas, além de muitos outros. Os serial killers, particularmente, são criminosos capazes de atos brutais, de mutilações e de pura maldade, enfim, de atos incompreensíveis. Em busca do seu objetivo mórbido, às vezes com carisma e charme fatais, têm a necessidade incontrolável de matar, além de sentirem prazer com o sofrimento da vítima. Os seus cérebros não têm respostas emocionais, pois é reduzida a atividade neural no córtex pré-frontal. Além da ausência das emoções primárias (amor ao próximo, empatia e piedade), não possuem emoções secundárias (ansiedade, alterações do ritmo cardíaco, calafrios, medo, respiração ofegante e transpiração alterada), face à inativação do sistema nervoso simpático. Nem todos os psicopatas são criminosos e a recíproca é verdadeira. A maioria deles não é violenta e se comporta dentro de padrões estreitos de tolerabilidade face às trágicas consequências psicológicas e financeiras provocadas nas suas vítimas.

    Na senda criminal não há alcance psicológico se o sociopata for apenado. Ele não possui conexões cerebrais necessárias para associar a reprimenda que cumprir à eliminação do comportamento ilícito, apesar de dimensionar, subjetivamente, o dolo e a culpa. Noutra verve, ele sabe que o seu comportamento é errado, mas, face à baixa atividade neural nos lobos frontais, ele não consegue atingir um significado mais profundo de seu comportamento ilícito. Por causa dessa síndrome ele é incapaz de aprender, de se intimidar e de modificar a sua atitude com a pena que cumprir! Daí as reincidências criminais. Na esfera cível, de igual modo, não há resultado efetivo e, condenado a indenizar a vítima, ele continuará agindo pernosticamente face à sua insuficiência afetivo-emocional.

    Como a arqueologia do saber envolve multifacetários vieses, estudos filogenéticos do distúrbio, aliados aos recentes avanços de investigação neurológica, por meio de imagens por ressonância nuclear magnética funcional (IRMf), têm permitido melhor análise da fisiologia cerebral. O IRMf atua medindo as oscilações do  fluxo sanguíneo cerebral, obtendo imagens com alta resolução espacial e temporal. Esse instrumento consegue, em tempo real, precisar o nível de conexão ou de repulsão emocional da pessoa perante um estímulo visual. Um exemplo interessante e atual da performance do IRMf é o detector de  mentiras. Como mentir exige esforço cerebral, esse esforço provoca um aumento do fluxo sanguíneo em determinada área cerebral e, por isso, é denunciado pelo IRMf. Essa circunstância mostra que a pessoa submetida ao IRMf está mentindo! Ou seja, ele registra e quantifica a atividade cerebral, da cognição ao comportamento.

    Com ele, pode-se examinar o campo magnético do tecido neural ao rastrear as ondas cerebrais em tempo real, gerando imagens em qualquer plano. Assim, foi possível mapear, topograficamente, os cérebros de alguns psicopatas. Descobriu-se que eles têm menor atividade cerebral nas áreas envolvidas no julgamento moral, possuindo alterações homeopáticas na sua arquitetura cerebral. Além da constatação dessas discrepâncias morfológicas, localizaram-se as regiões onde residem as deficiências. Essas notáveis descobertas permitem intervenções farmacológicas para atenuar, modular ou eliminar o distúrbio. Possibilitam, ainda, estimular as regiões cerebrais específicas para se alterar comportamentos, face à neuroplasticidade cerebral. É possível, também, microcirurgias neurofrontotalâmicas. As tentativas de tratamento – e aqui se incluem as terapias – nem sempre potencializam efeitos concretos, pois os sociopatas não lhes são responsivos.

    Pesquisas pós-modernas sugerem multideterminados e importantes fatores responsáveis por esse embotamento psicoemocional. Dentre eles se destacam os sociais (extrínsecos – maus tratos na infância, traumatismo cranioencefálico). Sabe-se, também, que lesões no lobo frontal podem apagar as conexões cerebrais que definem os comportamentos coerentes, provocando perda do auto-controle, impulsividade e violência. Destacam-se, ainda, os fatores biológicos (intrínsecos – causas psicogênicas, doenças mentais, forças neurobiológicas, do amor ao vício, tumores cerebrais) e os fatores genéticos (genótipo). Estes fatores, isolados ou em conjunto, e aqui se inclui o poliformismo (variação fenotípica num grupo, seja ou não com fundo genético), provocam alterações na capacidade de julgamento da pessoa. Os fatores genéticos, entretanto, prevalecem sobre os epigenéticos, pois se vinculam à manutenção do código vital pela transmissão bioquímica dos caracteres hereditários, de modo que filhos de psicopatas têm cinco vezes mais chances de desenvolver o mesmo distúrbio. Apesar disso, a etiologia desse distúrbio neurocognitivo merece esclarecimentos, mesmo em se tratando de uma referência nosológica que sempre interessou aos neurocientistas.

    O Brasil, na contramão de países mais bem sedimentados culturalmente, ainda não elaborou procedimentos capazes de identificar os portadores dessa síndrome e ajudá-los por intermédio de um planejamento institucional, inclusive de lhes obstar o ingresso em determinadas profissões. Esse embotamento neurocognitivo é complexo e muito mais grave do que se imagina, pois, além do rastro de destruição e desalento deixado por seus portadores, é crescente em todos os tecidos sociais.

    Eis aí outro desafio a ser ultrapassado pelas ciências!

    KLÉBER OLIVEIRA VELOSO

    * Pós-doutor em Direito Penal pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil. Doutor e Mestre em Direito Penal pela Universidade de Barcelona, Espanha. Especialista em Direito Penal e em Direito Processual Penal pela Universidade Federal de Goiás (UFGO), Brasil. Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Goiânia, Brasil. Diretor Editorial da Revista Odisseia da Medicina. Membro das Comissões do MEC/SESu/INEP para avaliação, autorização, supervisão, credenciamento e reconhecimento dos cursos de graduação e de pós-graduação em Direito, Brasil. Membro Fundador da Academia Goianiense de Letras. Escritor. Professor.

     

  • Moraes manda soltar coronel do Exército alvo de investigação sobre trama golpista

    Moraes manda soltar coronel do Exército alvo de investigação sobre trama golpista

    O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu liberdade provisória ao coronel do Exército Bernardo Romão Corrêa Neto, um dos alvos da operação da Polícia Federal que investigou uma tentativa de golpe para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder.

    Bernardo foi solto sob medidas cautelares, mas o Supremo não divulgou quais são elas. A decisão está sob sigilo.

    Quando a operação Tempus Veritatis foi deflagrada, em 8 de fevereiro, Corrêa Neto estava em missão nos Estados Unidos prevista para durar até 2025, e voltou ao Brasil para se entregar às autoridades no dia 11.

    Ele ficou preso, à época, no Batalhão da Guarda Presidencial.

    Corrêa foi alvo de prisão após a Polícia Federal encontrar mensagens trocadas com Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro, sob suspeita de prepararem um golpe de Estado.

    Ele falava com Cid sobre o planejamento e os desdobramentos da minuta do golpe.

    Na operação, agentes prenderam ex-assessores de Bolsonaro e cumpriram mandados de busca e apreensão contra ex-ministros. O próprio ex-presidente foi obrigado a entregar seu passaporte.

    Em sua decisão que autorizou a operação, Moraes afirma que Bolsonaro teve acesso e pediu modificações na chamada “minuta do golpe”.

    Bolsonaro teria recebido do ex-assessor Filipe Martins e do advogado Amauri Feres Saad uma minuta de decreto para executar um golpe de Estado, com a decretação de prisão de várias autoridades, como do próprio Moraes e do ministro Gilmar Mendes, também do STF, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

    Segundo as informações coletadas pelas investigações, foram realizadas alterações no texto a pedido de Bolsonaro, permanecendo a determinação de prisão de Moraes e a realização de novas eleições.

    FOLHA DE SÃO PAULO

  • Voa Brasil: de ideia genial a uma armadilha para o governo, por Fernando Nakagawa*

    Voa Brasil: de ideia genial a uma armadilha para o governo, por Fernando Nakagawa*

    Antes pressionadas a ingressar no programa, empresas aéreas agora pedem benesses e prometem passagem a R$ 200 como uma “contrapartida”

    O “Voa Brasil” foi prometido para começar em agosto de 2023. Antes da data, porém, adiaram para setembro. O ministro mudou, e a data também.

    O que nasceu como um programa com grande apelo popular está se transformando numa verdadeira armadilha para o governo federal. E, hoje, o programa governamental para compra de passagens aéreas a R$ 200 tem chances não desprezíveis de simplesmente ser cancelado, como um voo de um avião repleto de problemas.

    Nascido na gestão do ex-ministro de Portos e Aeroportos Márcio França, o programa já nasceu torto e gerou reações negativas — inclusive do chefe dele, o presidente da República.

    Dias após o ex-ministro França anunciar o programa em diversas entrevistas — inclusive nesta CNN, Lula disse na abertura da reunião dos 100 primeiros dias do governo que “qualquer genialidade que alguém possa ter é importante que, antes de anunciar, faça uma reunião com a Casa Civil”.

    Era a senha de que o Palácio do Planalto havia sido pego de surpresa e estava incomodado com o que ocorrera. Já era tarde.

    O “Voa Brasil” já estava na internet e a promessa de voar por R$ 200 circulava como um vírus no WhatsApp dos brasileiros que não pisam em um aeroporto há anos ou sonham em voar pela primeira vez.

    O setor aéreo é um dos mais regulados de qualquer economia. A necessidade de regras rígidas e padrões internacionais de segurança de voo geram uma enorme quantidade de leis e normas — e basicamente todas determinadas pelo governo federal.

    Por isso, não foi de se estranhar que a reação inicial das empresas aéreas tenha sido tão amigável. Departamos de comunicação divulgaram notas com elogios e interesse das companhias em participar da empreitada.

    A avaliação nos bastidores, porém, sempre foi diferente.

    A estranheza começava pelo simples fato de que uma parte das passagens já é vendida nesse patamar mágico do “Voa Brasil”. Em 2023, 14,9% de todos os passageiros pagaram até R$ 200. O dado é da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e indica que cerca de 12 milhões de passageiros domésticos pagaram bilhetes até esse valor.

    A estranheza crescia no fato de que o setor aéreo tem um dos modelos de precificação mais complexos de toda a economia. Com o uso de algoritmos sofisticados, as aéreas trabalham 24 horas por dia para, basicamente, tentar encher os aviões com o máximo de passageiros pagando o maior preço possível.

    Nesse contexto, um programa com regras e preços fixos para públicos específicos parecia algo difícil.

    O argumento do ex-ministro era de que o plano é ocupar a ociosidade dos voos domésticos. É verdade, há assentos vazios. O dado mais recente mostra que os aviões voam com cerca de 13% dos lugares desocupados. Parte desses assentos vazios, porém, pode ser considerado “quase intencional”.

    É como uma reserva para as aéreas que têm a oportunidade de vender as passagens a passageiros de última hora com preços, obviamente, astronômicos.

    Mas o jogo parece que mudou. Diante do interesse público, o programa nunca foi esquecido. E, agora, o queijo e a faca parece que mudaram de mãos.

    O setor aéreo — que ainda não se recuperou da crise da pandemia — começa a ver no programa uma maneira de conquistar benesses do governo federal. Para as empresas, vender passagens a R$ 200 pode ser uma “contrapartida” à materialização de uma lista de pedidos.

    E a lista é grande.

    *Fernando Nakagawa

    Repórter econômico desde 2000. Ex-Estadão, Folha de S.Paulo, Valor Econômico e Gazeta Mercantil. Paulistano, mas já morou em Brasília, Londres e Madri