Atualmente, tem uma crise de saúde infantil que gira em torno da microbiota intestinal do bebê, molda a saúde ao longo da vida segundo a Dra. Elisa Song, pediatra e diretora médica da Tiny Health.
Com 1 em cada 2 crianças agora diagnosticadas com uma doença crônica, é importante entender que o microbioma intestinal estabelecido nos primeiros 1.000 dias de vida influencia profundamente a saúde futura e o risco de doenças, disse ela ao Epoch Times.
“Qualquer perturbação no desenvolvimento do microbioma intestinal, seja por parto cesáreo ou uso de antibióticos, pode aumentar significativamente o risco de problemas imunológicos e de saúde mental mais tarde na vida”.
Song observou que tratar a obesidade, diabetes tipo 1, distúrbios alérgicos e outras condições somente após sua ocorrência não resolve a crise de saúde pediátrica das doenças crônicas. A prevenção — especialmente nos primeiros 1.000 dias — é a única maneira de acabar com essa epidemia de doenças crônicas infantis. A chave para a prevenção envolve estimular o microbioma intestinal do bebê por meio de várias medidas, incluindo amamentação e probióticos.
Partos vaginais moldam o microbioma do bebê
O microbioma intestinal difere entre bebês nascidos por parto vaginal e por cesariana, com os primeiros tendo cepas bacterianas mais benéficas e os segundos tendo menos cepas benéficas e mais cepas potencialmente prejudiciais.
Os autores de um ensaio clínico publicado na Pediatric Allergy and Immunology descobriram que a composição do microbioma intestinal de bebês nascidos por parto vaginal tinha populações mais altas de Bifidobacterium, Parabacteroides e Bacteroides do que a de bebês nascidos por cesariana. Essas espécies bacterianas frequentemente impulsionam a decomposição dos oligossacarídeos do leite humano (HMO, na sigla científica) — um tipo de carboidrato — levando à produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC, na sigla científica), a principal fonte de energia para as células do cólon.
Os autores também observaram que bebês nascidos de cesariana são frequentemente colonizados por Staphylococcus, Enterococcus, Clostridium e Klebsiella, todas espécies que não ajudam a decompor HMOs nem a produzir SCFAs. Essas espécies bacterianas também são mais propensas a abrigar genes resistentes a antibióticos.
“Os bebês nascidos por cesariana perdem uma das exposições mais fundamentais da natureza ao microbioma”, disse o Dr. Tokunbo Akande, certificado em pediatria e fundador da Harmony 360 Health, que não participou do estudo, ao Epoch Times. “Essa via de parto vaginal fornece uma ‘dose inicial’ crítica de micróbios maternos que ajudam a semear o intestino e o sistema imunológico do recém-nascido”.
Por outro lado, os bebês nascidos de cesariana geralmente são expostos primeiro à pele e às bactérias associadas ao hospital, acrescentou ele. Esse padrão alterado de colonização precoce pode atrasar a diversidade do microbioma e atrapalhar a maturação normal do sistema imunológico.
Esses efeitos no microbioma intestinal são experimentados por uma proporção significativa de bebês nos Estados Unidos, já que aproximadamente um em cada três nasce de cesariana.
Efeitos na saúde do microbioma intestinal prejudicado
O microbioma prejudicado dos bebês nascidos de cesariana geralmente persiste até os 4 anos de idade e aumenta o risco de obesidade, diabetes tipo 1 e condições alérgicas, observaram os autores do ensaio clínico. Normalmente, as condições alérgicas envolvem uma progressão da dermatite atópica (eczema) para alergias alimentares, rinite e asma — um fenômeno conhecido como marcha atópica.
O microbioma intestinal infantil também desempenha um papel crucial no desenvolvimento do cérebro por meio do eixo intestino-cérebro, disse o pediatra Dr. Yossef Alnasser ao Epoch Times em um e-mail. O eixo intestino-cérebro se refere à associação entre o cérebro e o microbioma intestinal e como isso afeta a saúde.
O momento mais crucial para o desenvolvimento do cérebro são os primeiros três meses de vida, disse ele. Além disso, como certas estruturas do cérebro não amadurecem totalmente até os 2 anos de idade, um microbioma intestinal saudável pode melhorar o crescimento e o desenvolvimento da criança.
Como melhorar o microbioma intestinal de um bebê
O ensaio clínico descobriu que um programa de seis meses de intervenções personalizadas — incluindo testes de microbioma e recomendações personalizadas — pode melhorar a composição microbiana intestinal do bebê e reduzir a incidência de eczema. Nem todo mundo tem acesso a esse tipo de programa, então a coautora Song compartilhou as seis medidas práticas a seguir que qualquer pai ou mãe pode adotar:
1. Amamente, se possível
O leite materno contém HMOs especiais que ajudam a alimentar bactérias intestinais benéficas, como a Bifidobacterium, disse Song. Além de fortalecer o sistema imunológico do bebê, os HMOs também podem combater micróbios nocivos, como o rotavírus, que causa vômitos e diarreia aquosa em bebês. Se a amamentação não for possível ou for limitada, ela aconselha os pais a pedirem ao pediatra que recomende uma fórmula que contenha HMOs.
Uma revisão observou que a amamentação é uma das formas mais influentes de melhorar a composição do microbioma intestinal durante a infância. A diferença nos micróbios entre bebês amamentados e alimentados com fórmula sustenta a hipótese de que a amamentação é parcialmente responsável pela redução do risco de doenças infecciosas e não infecciosas no início da vida.
2. Forneça alimentos que nutrem o microbioma
Quando os bebês conseguirem comer, eles devem receber alimentos à base de plantas ricos em fibras, frutas e vegetais coloridos e alimentos fermentados, acrescentou Song. Esses alimentos aumentam as cepas bacterianas benéficas, como Bacteroides e Bifidobacterium, afirmou uma revisão.
3. Considere um probiótico
De acordo com Song, os probióticos contêm bactérias benéficas que podem estimular a função imunológica, produzir vitaminas essenciais, digerir alimentos e inibir o crescimento de bactérias nocivas. Nem todos os probióticos são iguais, então ela recomenda procurar uma marca de qualidade que contenha Lactobacillus ou Bifidobacterium específicos para bebês. Um exame de fezes pode identificar as cepas específicas de que um bebê precisa.
Uma revisão descobriu que alguns estudos que avaliam o uso de probióticos em bebês sugerem que eles podem ajudar a promover uma saúde ideal. No entanto, os autores alertaram que mais pesquisas são necessárias para avaliar completamente os riscos e benefícios dos probióticos nessa faixa etária.
4. Minimize o uso desnecessário de antibióticos
“É importante minimizar o uso desnecessário de antibióticos e reconhecer o potencial prejuízo desses medicamentos no desenvolvimento da microbiota intestinal e do sistema imunológico”, disse Song. “Se os antibióticos forem realmente necessários, como quando um bebê tem uma infecção bacteriana potencialmente grave, converse com um pediatra sobre probióticos e medidas adicionais para restaurar a flora intestinal do bebê”.
Um estudo recente analisou os efeitos dos antibióticos de amplo espectro em bebês tratados por sepse após o nascimento e descobriu que o tratamento reduziu a população de Bifidobacterium. Os antibióticos também aumentaram as populações das bactérias não benéficas Klebsiella e Enterococcus. Além disso, a amoxicilina mais cefotaxima causou a maior perturbação do microbioma, enquanto a penicilina mais gentamicina causou a menor perturbação — indicando que a escolha dos antibióticos, quando necessária, é importante.
5. Mantenha contato pele a pele próximo
Song observou que colocar um bebê contra o peito ou corpo, especialmente nas primeiras semanas, traz benefícios notáveis para a mãe e o bebê. A exposição próxima também reduz o estresse e promove o vínculo.
Pesquisas descobriram que o contato pele a pele melhorou a composição do microbioma na primeira infância, bem como seu desenvolvimento no início e no final da infância. A intervenção diminuiu a volatilidade do microbioma, definida como a extensão das mudanças na composição microbiana ao longo do tempo. Os autores levantaram a hipótese de que o benefício da volatilidade pode decorrer da capacidade do contato pele a pele de aliviar o estresse.
6. Incentive a diversidade e deixe os bebês brincarem
“Promover um microbioma intestinal resiliente em um bebê requer a exposição a uma diversidade de ambientes”, disse Song. “Permita que a criança brinque na terra, toque em animais de estimação e visite fazendas locais”.
Um estudo recente descobriu que a exposição a animais de estimação domésticos na infância aumentou as populações de Ruminococcus e Oscillospira, cepas bacterianas que podem proteger contra alergias e obesidade infantil. A exposição também diminuiu a população de bactérias estreptocócicas, o que pode reduzir o risco de alergias infantis e doenças metabólicas.